António Luís Rafaelparte 12 de 15 António Luiz Rafael conversa com Júlia Leitão de Barros. Registado por Paulo Barbosa em Évora a 27 de Março de 2017. |
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A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M0S – O que é que acha que tem, que sido, que foi mais compensador para si, na, no seu trabalho como jornalista e como, como locutor. O que é que, o que é que lhe trouxe… mais… rico?
A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M20S – O mais rico foi, foi sempre ter, fui sempre uma pessoa modesta, fui sempre uma pessoa humilde, tive a noção que fiz coisas muito bem feitas e que foram elogiadas, e julgo que foram bem elogiadas, mas isso eu guardo pra mim cá pra dentro. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M32S – Mas até ia lhe perguntar isso, que é que gostava que recordassem de si? A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M37S – A única coisa que eu gosto é o respeito e a consideração que na generalidade toda gente sempre teve por mim. E a estima. Senti-me sempre uma pessoa estimada. E até na própria televisão, passado aqueles primeiros momentos, não sei quê, ainda hoje se fala lá no Rafael. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M49S – Sim. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M49S – Não para dizer que eu era um génio e que fazia coisas bestiais, olha era um gajo porreiro o Rafael era um gajo porreiro. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 0M54S – Ia pergunta-lhe também o que que gostava mais no seu trabalho, o que gostava menos. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M1S – O que eu gostava mais era a rádio. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M1S – Gostou mais da rádio. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M1S – Ah sim, indiscutivelmente fui um homem da rádio. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M1S – Mas por quê? A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M1S – A intimidade da rádio. A intimidade da rádio. Tipo estar metido num estúdio, é uma coisa, é uma experiên… A rádio como se fazia no meu tempo, estar metido num estúdio, era um prazer. Estar a pôr o disco, e a tirar o disco, a falar. Saber que estava a ser ouvido. Embora alguém dissesse que esse gajo é um chato e não sei quê, porque havia quem não, não éramos todos génios. A rádio… A televisão, a televisão tem…a televisão… sempre foi, mas hoje com maior incidência, uma casa, uma actividade, onde as pessoas, perdoem-me, perdoem-me a exp, a expressão, onde as pessoas tentam subir pelas costas do parceiro. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M52S – Sentia…mais competição, é isso? A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 1M52S – Ou seja, ou seja, aquela coisa que o, que o zé povinho diz há muito tempo, se eu quiser aquele quadro na parede, mas para ter aquele quadro tenho que matar um operador, assim não sei o quê, eu mato-o porque o que eu quero é o quadro. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M5S – Uma grande competição, é isso? A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M9S – Mas uma competição desleal. Intriga. Intriga. E coisas que se passam, coisas que se passam nas cortinas, para além das cortinas, Não são nada abonatórias, mas isso são outra… A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M20S – Mas isso não quer falar. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M20S – Mas isso como diz o Joel Cleto, no, no Canal Porto, lá no programa que ele tem, isso, isso é outra história. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M25S – Isso é o que gostou menos, não é? Portanto. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 2M29S – É o ambiente de intriga, não, não sou intriguista, não sou, não sou coscuvilheiro. Eu sei que os jornalistas em certos aspectos tem que ser coscuvilheiro tem que cavar a notícia, tem, tem que ir lá buscá-la, mas tem que coscuvilhar com seriedade. Tem talvez até que demonstrar às pessoas que não lhe tá a passar uma rasteira, que está naquela fala, mas que ela, ela aquilo que lhe é dito é transmitido com respeito não é para achincalhar. Se é para criticar, a língua portuguesa é vasta, temos termos pra criticar sem ofender, sem agredir, hoje é desbragada a escrita, não há gosto no português. O Peça dizia: aprendam o português. Tinha razão. Tinha razão. Mas isso é assim. Sempre me senti, é uma pequena vaidade. Sempre me senti estimado, acarinhado, muitas vezes elogiado, algumas vezes criticado no meu grupo mais íntimo, porque os outros também, temos em Portugal muito esse costume, que é o batermos nas costas mas depois a seguir damos a facada, não é? Tive muitos que me batiam nas costas, mas depois eu, por intrepostas pessoas vinha a saber que noutros sítios tinham manifestado a opinião precisamente ao contrário daquilo que tinham dito. Mas isso são, isso são… A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 3M42S – E tá a dizer isso tudo com um sorriso. Não sei se tá.. visto… com um sorriso… A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 3M51S – O que eu quero dizer na minha é que isso é um, é um jogo em que eu tive que aderir. E é, é uma situação que eu sabia que ia passar. Eu não me podia ofender por dizerem mal. Por, às vezes nem era dizer mal, era criticar o que é que era mal dito. Porque eu tinha que admitir que me iam criticar, então mas eu agora sou o fulano, tal, sou impositivo, tá dito tá dito, o Rafael disse, o Rafael fez, e não sei, não, é impossível. O Rafael deve ter, deve ter feito asneiras ao longo da minha vida, fi-las. Algumas tenho a noção que fiz, fiz, fiz muita porcaria, fiz, fiz coisas assim, do género, como se costuma dizer, com os pés, não é? Porque era preciso. Às vezes também a pressa, a pressa cortava um bocado o, o engenho. Mas enfim, terei a ideia que o saldo foi positivo. Mas, o Rafael não é nenhuma figura de referência neste país. Que entrei nesta profissão, nesta profissão porque gostei dela e tentei , tentei fazê-la com honestidade, com seriedade e com honradez. E hoje vejo coisas que efectivamente… Mas também tenho 84 anos. Naturalmente minha mentalidade está a mudar… A minha cabeça funciona bem, devo-lhe dizer, e é o que eu espero. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 4M56S – Tá bem, tá bem. Nós estamos aqui a ver bem isso. E o que eu espero é que minha cabeça, quando deixar de funcionar, então eu levante voo para outro, para outro lado, porque será uma grande tristeza uma pessoa que foi foi sempre muito mexida, que fazia… eu fui operado ao coração há 4 anos. Julguei que ia ser naquela altura, mas o São Pedro acho que na agenda dele eu ainda não constava. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 5M29S – Eu tinha aqui quais eram as suas características, ou as suas competências que acha que tiveram mais importância para ter tido sucesso, apesar de tar a negar o seu sucesso. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 5M34S – Olhe, quer dizer, fui…olhe em África, em África tive uma das grandes vantagens saber falar bem inglês e escrever. E é daí o facto de chegar à África do Sul e mover-me com muita, com muita facilidade, falar com os artistas, não sei quê, pronto. Fazia as traduções depois à minha maneira, conforme me dava jeito, não, não fazia traduções à letra, fazia… pronto. Isso é uma coisa. Aqui na, na televisão, como lhe digo, talvez o grande apoio que eu tive foi a experiência da rádio. Eu considero, não me diga para eu exemplificar melhor a ideia que talvez não tenha talento para isso, mas tenho a certeza, quem tem experiência de rádio, ou teve experiência de rádio, trabalhou na rádio, e trabalhou bem na rádio, não é ter feito…tem uma, uma facilidade muito maior de se entrosar na, na coisa. E esta malta nova hoje, com as novas tecnologias, não sei quê, há gente que trabalha muito bem, há gente muito competente, aquilo que disse há bocado, da, da Comunicação Social, eu não tenho nada contra as escolas, e acho muito bem. No nosso tempo o, o limite era o décimo segu, era 7º ano, pronto, ok. Mas também lhe digo uma coisa. Sabíamos, saíamos mais bem preparados do que se sai hoje da… não estou a dizer da comunicação, mas com o 12º ano… Há os exageros, que antigamente se tinha que saber as linhas dos comboios, os rios, os afluentes, e não sei quê. Mas a verdade, é que quando ainda hoje me perguntam por uma terra, ou por um rio eu sei onde é. E não sou, como muitas professoras, nomeadamente do ensino primário, ou algumas até do secundário, que concorrendo a programas televisivos, daqueles de pergunta resposta, quando lhe perguntam quais eram os reis da terceira da dinastia, catrapumba, a partir de D. Afonso Henriques não sabem mai nada. E eu perguntava à minha mulher, eu perguntava aqui à minha mulher em casa: o que é que os alunos desta mulher, que viram o programa, amanhã vão dizer na aula da escola? Então esta trapalhona que não sabe isto é nossa professora. Afinal a gente sabe mais do que ela. Eu na quarta classe tinha estudado geografia, tinha, já, já, já sabia fazer raízes quadradas, já sabia geometria, sabia a história de Portugal, sabia [ imperceptível]de coisas. Eu tenho um meu neto que está aí a fotografia detrás de si, um dos meus, um dos meus quatro netos, que estudou, que estudou, que estudou aqui, e agora já é coiso, hoje tem, tirou um curso de som. A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 8M0S – Ah foi? A.L. Rafael parte 12 de 15 aos 8M0S – Na António de Arroio ou não sei o quê. Está a trabalhar numa firma aí um coisa. Mas ele viveu muito tempo connosco aí, devido a problemas familiares que houve, ele veio pra cá a minha mulher agarrou nele, a minha mulher [ imperceptível]. E então fez aqui o infantário, e fez, fez o quarto ano, que é o básico, nos Salesianos, e ainda fez o 5º e o 6º, depois as coisas compuseram-se foi pra família, e acabou por tirar o 12º, não se quê, não sei quê, não sei quê. Mas esse rapaz, que fazia os deveres da casa aqui comigo, tinha coisas que eu ficava doido. Então mas este tipo tá , tá no 4º ano e não sabe isto? Mas eu já ia muito mais à frente. |