António Luiz Rafael – Parte 13 de 15

            

António Luís Rafael

parte 13 de 15

António Luiz Rafael conversa com Júlia Leitão de Barros. Registado por Paulo Barbosa em Évora a 27 de Março de 2017.

    
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 0M2S – Já lhe perguntei o que é que gostaria que as pessoas recordassem do seu trabalho, mas respondeu-me, com, de certa forma com bastante humildade, não é? E, portanto, mas… – As pessoas recordam-se do teu trabalho porque eu naturalmente era uma pessoa que saudava, falava com toda… Eu aqui no Alentejo, por exemplo, sabe com quem eu gostava de fazer as entrevistas? Com os velhotes das aldeias.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 0M24S – Pois.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 0M24S – As coisas que aqueles homens me ensinavam…O tipo que fazia arreios, e o tipo que fazia colheres de pau, e não sei quê. E que se lamentava quando, que eu tinha uma pergunta crónica: então e quando o Sr. já estiver mais velho e não tiver pachorra para isto quem é que vai continuar…Havia um homem que, que fazia uma colher, um garfo e uma faca numa única peça sem nada colado. Tinha umas argolinhas daquelas que gingavam, não sei como é que ele fazia aquilo. E eu perguntava-lhe, era de Mértola, eu perguntava-lhe: então oh Sr, não sei quê, quando o Sr., quando o Sr. um dia tiver que levar aquele caminho que todos nós vamos levar, é o seu filho que…? Não, meu filho o que quer é computadores e o que quer é ir para Lisboa. Quando eu acabar acabou. E de facto as profissões tradicionais aqui no Alentejo, pelo menos onde eu estou agora mais agora. Mas no resto do país encontrei, encontrei a mesma coisa. Quando acabar [imperceptível] acabou, não há ninguém para substituir.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 1M22S – Ia- lhe perguntar então quais são as suas expectativas em relação ao futuro desenvolvimento, ao futuro, da profissão, isto é, ao futuro do… já tem vindo a falar nisso não é? Já falou daquilo que considera ser mudanças de alguma maneira que têm colocado… os jornalistas e os locutores, enfim… num papel excessivo, no seu pon…acho eu que foi o que disse, eu , mas ia-lhe perguntar… mas olha por exemplo, para a net, para o papel da net, ou das redes sociais
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 1M53S –  Desculpe, desculpe, mas desculpe-me só a intromissão, que isso, isso a conversa é como às cerejas e as coisas às vezes… olhe, tá a ver, parece que quer que chegue pra trás um bocadinho…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 2M12S – Ah, sou eu, desculpe. Isto é… diga.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 2M12S – A propósito de, dos miúdos e das miúdas que vêm da Comunicação Social , do curso, eu era para dizer e depois na altura escapou-me, e agora veio-me, você disse qualquer coisa que me lembrou. Há também que ter em nota o seguinte: esta rapaziada que vai para o Jornalismo, quer seja televisão, quer seja jornais, mas talvez mais o audiovisual seja mais
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 2M43S – Sim. Mais apelativo. A imagem né?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 2M43S – Mais, mais, mais…não, não é o apelo Eu sou do tempo em que, por exemplo, já aqui na televisão, em Moçambique não, mas já aqui na televisão, por exemplo, um chefe da redação, à uma e meia da manhã era avisado, tinha lá os seus contactos, que tinha havido que tava a haver um grande incêndio na Avenida da Liberdade, estava a arder o prédio, não sei o quê. Tinha que se fazer. Mas era o tempo em que a televisão não tinha piquetes à noite, e nem, nem trabalha…ainda fechava à meia-noite, e à uma hora, não sei o quê. Mas ligavam para a casa do operador, não sei o quê, e dos jornalistas: não, o meu trabalho hoje na empresa acabou às cinco da tarde. Eh, pá, mas não sei quê. Não, pelo acordo colectivo de trabalho não sei quê. E às vezes não se fazia. Ponto final. Não comento. Hoje em dia o emprego pra toda a vida acabou. Temos essa, temos essa maldição ou não maldição que é o, os contratos com, com tempo determinado.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 3M45S – Precários não é?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 3M45S – Precários. Então o que é que acontece? No jornalismo. Eu sei, porque ainda tenho muita gente na televisão, que até frequenta a televisão mais do que eu, que eu até digo, não, isso não é uma sala de visitas, eu vou à televisão quando tenho que ir, tenho o cartão da televisão chego ao porteiro, entro… acabou. A televisão hoje é diferente. Os jornalistas hoje oferecem-se para fazer serviços. Eu sei de casos, em que há temas, coisas que dão notícia, que sucedem às três da manhã e que o telefone da televisão toca 3 e 4 jornalistas ou 3 ou 4 operadores de imagem, ou não sei quê, a oferecerem-se, não só a dizer que aquilo tá a acontecer, como se tão a propor para ir fazer. Por quê? Não é por o gosto da profissão, não é por o gosto de dar aa notícias, não é nada. É porque o contrato colectivo de trabalho pode ser ou não prorrogado. E se então a situação que sucede quando o contrato está pra terminar, então isso aí até lhe varrem a casa se for preciso. Telefonem-lhes às 3 da manhã, às 4 a dizer que há um incêndio na Avenida da Liberdade que eles vão. Eles vão. E não sei o quê. Quando foi, olhe quando foi o incêndio do Chiado, caramba, nunca vi tanto jornalista a oferecer-se. Por quê? Porque era tudo a base de directos com com imagem. Não se podia tar a fazer sistematicamente os bombeiros a subir a escada, e as chamas e o fumo, então o locutor tinha que aparecer muitas vezes. estamos aqui em frente de não sei quê … é isso, isso aí toda a gente se ofereceu para fazer. Hoje, os jornalistas… e depois é mais, a exigência das chefias de redacção ou dos encarregados de sectores, da economia, da política nacional, não sei quê.. O senhor vai lá e coiso. O tipo, o tipo vem do serviço: Então o Marcelo falou? Não, diz que não queria falar. Não queria falar? Não. Diz que não tinha a nada pra dizer, que não dizia nada. E você gravou ele a dizer isso? Não. Mas devia ter gravado. Porque a gente punha e não sei quê, contactado pelo nosso repórter não falou, não sei quantas, não sei quê, não sei quê. Está a perceber? Você vê papéis ridículos. Bem mas isso também vai das [ imperceptível] cenas terríveis na televisão, que é, um determinado político ou um, um gestor, ou seja o que for, a dizer que não tem nada pra dizer, que não quer falar, e as pessoas insistirem. E a andarem atrás dele, que vai a andar, e o jornalista vai de microfone em punho, a correr atrás dele. Que é isto? Porquê? Porque se chegar à redacção e não levar qualquer coisa pra dar, pra dar ao, ao chefe executivo ou lá quem está a tomar conta da…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 6M26S – Chefe de redacção?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 6M26S – E então prestam-se a tudo. Tremem. Estão amedrontados. Trabalham sob medo, o medo de perder emprego.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 6M36S –  Nunca trabalhou assim?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 6M36S – Não, felizmente não. Nem trabalhava, vinha-me embora. Também nunca ninguém por acaso me pediu para ir fazer às quatro da manhã nada. Minto. Quando aqui, já eu estava em Évora, houve um incêndio na Serra de Portel e as, e os dois jornalistas que eu poderia eventualmente chamar, iam no dia seguinte fazer serviço de manhã, eu disse para o operador de imagens que estava lá: eu vou fazer. E fui eu. E vim para casa, às cinco da manhã. Mas, pronto, isso fui eu que quis fazer, porque achei que devia fazer, e achei que não devia chatear pessoas que no dia seguinte iam trabalhar cedo e não sei quê. Não valia a pena, não. E eles iriam, porque eu mandava. Tive um que veio para cá armado em, em pa… , em pa…em pato bravo, que veio de Lisboa pra cá. Por [ imperceptível] efectivamente aqui [ imperceptível] mais, tinha-se outras regalias, que lá não se tinham, o nosso contrato de jornalistas com a empresa ficava suspenso e criava-se um contrato novo pra aqui. Quando eventualmente saísse daqui, acabava o contrato e retomava o que estava lá. Então veio pra cá. Havia um serviço em…em Portalegre, ou numa freguesia de Portalegre, que era no outro dia às 8 da manhã. Então os serviços eram marcados de véspera, a meio da tarde, para as pessoas saberem o que é que tinham que fazer no dia seguinte. Então o tipo foi ao meu gabinete: oh, Sr. Rafael, o Sr. marcou um serviço amanhã para às 8 da manhã em Portalegre. Pois, marquei. Então, como é que eu vou estar em Portalegre, a que horas é que tenho de me levantar em Lisboa para estar em Portalegre às 8 da manhã…. Oiça: há aí é uma coisa que é para definir. O Sr. está colocado em Évora. O Sr. é aqui o seu posto de trabalho.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 8M5S – Tem que viver aqui.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 8M5S – O Sr. cá por mim até pode ir dormir a Badajoz, ao Japão, a Lisboa, onde quiser, quero lá saber onde é que o Sr. vai dormir. Agora o que eu sei é que tenho um serviço amanhã às 8 da manhã e é o Sr. que vai fazer. Vou fazer se não adoecer ou não me esquecer. E eu disse eh, pá, você está me obrigar a ser desagradável sem necessidade. Olhe, quero lhe lembrar, depois disso que o Sr. disse, que há em Lisboa uma coisa no 3º andar, não sei se já passou por lá alguma vez, que se chama serviços jurídicos. Porque eu contragosto se você me faz uma coisa dessas, participo de si. Bom, então o melhor é acabar com a conversa. Disse: também acho. Para que é que a gente se vai zangar. Tamos aqui todos os dias a trabalhar. Foi fazer o serviço no dia seguinte. E fê-lo bem feito.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 8M59S – Pois.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 8M59S – Por isso, este entretan, este entretanto que eu meti foi para dizer que efectivamente a rapaziada vai cheia de vontade e não sei o quê…com a teoria toda na cabeça e não sei quê, mas também vai cair num meio…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 9M15S – Terrível não é?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 9M15S – Terrível. E não estão, e não estão preparados, não estão preparados para o embate, nem naturalmente nunca imaginaram que depois quando passassem a prática as coisas fossem como são. Porque na escola têm lá os professores, os professores são uns pacholas, podem-se licenciar, podem dizer, eh pá você não está a perceber, caramba,estou a explicar, não sei quê. Pronto aquelas coisas que os professores têm, têm autoridade para o fazer, estão ali a ensinar, não estão ali a gastar latim para falar para a parede, não é? Pronto e eles saíram preparados, trazem muita teoria na cabeça, pois está claro que trazem, mas a prática depois dá-lhes o resto. Ora eles são confrontados com situações destas, esmorecem, esmorecem e que se lixe, eh, pá, a gente sabe tudo, para que é que você tá se na escola já me ensinaram isso. Depois saem borradas não é? Nem todos, nem todos.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M4S – Claro.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M4S – Temos aí gente da nova geração que tá a fazer trabalho… Olhe, aquele meu colega que na SIC faz as entrevistas ao domingo, o… umas entrevistas com uma personalidade, com um artista, é depois do noticiário das duas, é o… ele até já fez um livro sobre isso.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M18S – Não estou a ver. Estás a ver quem é?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M18S – Alta definição…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M30S – Não, esse é o Daniel…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M30S – O Daniel…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M30S – O Daniel Oliveira?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M30S – Daniel Oliveira. O Daniel Oliveira é um excelente entrevistador em qualquer parte. É um rapaz novo. Em qualquer parte. O Daniel de OIiveira, excelente. Aquele rapaz que a SIC tem como correspondente em Israel, o… aliás ele vive lá.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M40S – O Cymerman.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 10M40S – O Cymerman. É um, um, é um, é um jornalista de mão cheia. Dá, dá gosto ouvir um trabalho feito por aquele homem. O Pedro Coelho da SIC é muitíssimo bom jornalista. Ele também já não é novo, mas já foi. Tá com quarentas e qualquer coisa, mas é novo. É um homem de mão cheia.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M9S – Eu ia- lhe perguntar quais eram os jornalistas que apreciava.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M9S – Ai, não, não, não, não.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M17S – Já está a acabar com eles?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M17S – Disse, disse, disse-lhe isto assim ao calhar da pena, mas há mais. Há mais. Dei , dei estes como exemplo.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M20S – E na rádio? Já que é a sua menina.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M27S – Na rádio os bons, bons locutores estão talvez nos canais que não são genéricos. A SIC notícias tem óptimos apresentadores, e tem óptimos jornalistas. E tem gente que quando é necessário vai dar um apoio à emissão, para manifestar uma opinião acerca de qualquer coisa, mas é uma chatice, às duas por três estão a escorregar um bocado…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M55S – Na opinião não é?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 11M55S – Estão a escorregar na opinião e a gente diz, eh pá tá bem, tou ta perceber. E temos também gente na, na televisão que está a faze… uma coisa que eu detesto, eu detesto, eu, por exemplo, não gosto de debates, detesto debates, porque não temos moderadores em Portugal com a coragem suficiente de dar um murro na mesa e dizer: calem-se, eu disse para aquele Sr. falar, porque há tipos que cavalgam os outros, e às vezes desata tudo a falar ao mesmo tempo e ninguém ouve nada.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M15S – Mas não há nenhum que goste, nem do Carlos Andrade, por exemplo?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M15S – O Carlos Andrade é bom. Mas o Carlos Andrade está a…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M15S – Aquele da Quadratura do Círculo, por exemplo, que é do Carlos Andrade.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M34S – Mas o, o… Carlos Andrade tem um grupo de gente escolhida.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M34S – Pois, pois tem.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M34S – Tem lá o… Pacheco Pereira, tem outro que é o…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M34S – Tava só a dizer, é um debate, não é?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 12M34S – Mas por exemplo, já aquele de sábado, que é o, o Eixo do mal. Muito obrigado, muito agradecido. Se bem que tem lá duas pessoas, que eu, como jornalistas, considero-os bastante. Um é a Clara, é uma excelente jornalista e é uma excelente pessoa, e o outro é o Daniel, o do, o filho do Helberto Helder,, que escreve lindamente, escreve muito bem, e quando fala, mas pronto…nota-se que efectivamente, quer dizer…mas tem lá um tipo, tem lá um tipo que é, que até parece que é um homem inteligente, e é um homem culto, não sei quê, que é aquele que também…também entra, ele aparece em tudo. É portista, portista, Futebol Clube do Porto. Está sempre a passar…tão a dar-lhe a palavra a si, passado um minuto tá, tá a tapá-la e tá, tá, não a deixa falar e corta, corta-lhe o raciocínio, não sei quê. Porque uma pessoa quando pede a outra para ser entrevistada não é para o entrevistador se salientar. Eu levo lá uma pessoa para ser entrevistada para ela dizer coisas que eventualmente tenham interesse. E que as pessoas em casa tenham interesse em ouvir. Não é como certa…pessoa, do sexo feminino, que não deixava ninguém falar. Fazia-lhe uma pergunta, a pessoa começava, aos quarenta segundos já tava fazer-lhe outra pergunta e a pessoa nem tinha, nem tinha explanado o raciocínio na anterior. Coitada também já, já foi prateleira.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 14M7S – Enfim.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 14M7S – Já agora deixe-me só fazer uma pergunta sobre isso. Alguma vez teve que passar por essa experiência, de fazer programas em directo, sem edição, e aí condicionar o tempo da entrevista?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 14M7S – Não, as entrevistas estavam formatadas para x tempo. Eu fiz, eu fiz durante muito tempo na RTP uma coisa chamada “30 minutos com”.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 14M7S – Ah.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 14M7S – Olhe onde entrevistei o [imperceptível] . Olhe, para mal dos meus pecados…nem posso, nem posso, nem posso divulgar isto se não vão…Todas as pessoas que eu entrevistava passava uns, uns anos, morriam. Eu dizia, ó meu Deus. Olhe, tenho ali, tenho ali a minha,tenho ali uma … eu tenho livros pela casa, já tem terceira em fila, quarta fila, já estão metidos assim, mas eu tenho ali uma coisa, uma coisa que gostei muito que são os autógrafos. Eu tenho ali Saramago, eu tenho o meu velho amigo José Cardoso Pires, tenho o Craveirinha, tenho, tenho, tenho… olhe tenho o Marcelo Rebelo de Sousa, que é muito meu amigo, tenho dele, o tipo, o tipo escreveu-me outro dia, telefonou-me… tive com ele aqui em Évora, não sei quê, mas isso não interessa, isso vem a propósito de… do condicionamento. A gente na RTP, pelo menos na RTP tinha, tínhamos o Countdown. Ou seja, eu estava a fazer a entrevista mas tinha do outro lado da parede um relógio na decrescente. Maneira que eu tinha que orientar a entrevista e dizia, eh pá, faltam cinco minutos, tenho que ver, e ainda tenho perguntas pra fazer, não sei quê. O dizerem-me que tenho que fazer uma peça para 1 minuto, 1 minuto e meio, dois minutos, não me incomoda, é um, é um, é um critério, eu depois, eu poderei é quanto muito dizer eh pá, mas isso dois minutos também é demais. Obriga a esticar e depois começa a encher chouriços não dá. Mas as entrevistas eu, eu não, não, não me sinto magoado por estabelecerem x tempo para a entrevista. Era isso que estava a perguntar, não era?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 15M54S – Não era por causa do estar a interromper.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 16M12S – Ah sim, não, quer dizer, a gente interrompe quando vê, por exemplo, que a pessoa já está a repetir-se. Se eu perguntar, aqui à dra. Júlia: o que é que você faz na escola? E ela diz: é professora não sei quê, não sei quê, não sei quê. E depois continua a falar, sim, como eu estava a dizer o Paulo, é professor. Repete-se, já ouviram isso, tá a dizer que é professor pra quê? Já se sabe. Aí pode-se arranjar uma maneira de dizer, olhe, desculpe interrompê-la, mas, a propósito disso. Porque muitas vezes o, o entrevistado diz coisas, ou faz uma afirmação em que nós dizemos, eh pá, e eu não me lembrei disso, pera aí que eu vou pegar nisto. Olhe, desculpe, a propósito disso que o Sr. disse não sei quê, não sei quê, não sei quê. E melhoro a entrevista. Porque entretanto aquela, aquela… ou eu não tinha conhecimento, ou escapou-me quando fiz o esquema para a entrevista, o que é certo… agora, fundamentalmente, é o seguinte: se eu entrevisto uma pessoa, é para ela falar, também não é para falar do princípio ao fim senão isso também é uma chatice. Eu tenho que intervir até para equilibrar. Mas é um equilíbrio, que tem que ser táctico, não é cortar-lhe a palavra quando está a explanar uma ideia, ou não sei quê, ou então, se está a dizer coisas desinteressantes, e banalidades, coisas que são chatas, e não sei quê, vamos lá espevitá-la a ver se conseguimos levá-la por outro caminho não sei o quê. Interromper nunca. Os debates são autênticas peixarias,aquilo às vezes até…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M30S – Qual é, qual é o género jornalístico que mais gosta, reportagem, entrevista…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M37S – Eu gosto muito da entrevista. Mas a entrevista a dois só, mais nada. Por isso é que eu estava a dizer que detesto debate. Eu tive aqui, eu tive aqui na rádio, depois de estar re…eles aqui no… há um grupo, há um grupo…da informa, da comunicação social aqui …
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M51S – Mas… os estúdios e não sei o quê estão fechados agora?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M51S – Não.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M51S – Funciona?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 17M51S – Não os estúdios eram ali na Rua do Machede em frente do tribunal, mas quando acabou o programa aquilo foi tudo desactivado.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 18M4S – Foi desactivado
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 18M8S – De maneira que agora mudaram-se para uma casa em frente do… no hotel Évora, na estrada que vai para Montemor , onde está um operador, um jornalista e um administrativo. Quando eu cheguei a ter aqui, na Rua do Machede, 15 pessoas, ou 16. Dava gosto, aquela casa tinha barulho, tinha movimento. Tinha gente a subir e a descer as escadas…Estas, estas delegações hoje são zero aliás correu já o boato por várias vezes que até iam extinguir as, as delegações, por causa das despesas que tinham que ser contidas. E também há outra coisa, em Lisboa, mas isso são todos, e eu bati-me contra isso, e em Lisboa [ imperceptível], que é, quando vinha alguma personagem assim de peso cá, cá para baixo, mandavam os jornalistas de Lisboa. E o que é que a gente está a fazer aqui?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 18M52S – Pois, claro.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 18M52S – Tanto que o Rui Letria Dias, uma vez, uma vez contaram-me: eh pá o Rui Letria Dias, quando ouviu não sei quem dizer pra ir a Évora disse: Não tarda [ imperceptível] esteja o Rafael a telefonar. E muitas vezes evitei que eles viessem. Então mas o que é isso, pá?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M13S – Pois, claro.
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M13S – Então o que é que a gente tá aqui a fazer? Então somos competentes para andar aí a fazer o Zé da esquina e não sei quê, e lá porque vem o Sr. ministro tem que vir o não sei quê. É como às guerras nas televisões nas idas ao estrangeiro…
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M17S – Teve alguma, assim?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M30S – Não, não, não. Essas guerras não se, dão se, porque há fulanos que se dão ao luxo de apontar no papel… quer dizer, na televisão no meu tempo, as visitas ao estrangeiro estavam devidamente
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M44S – Hierarquizadas?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M44S – Não, seriadas. Se o Paulo foi hoje para Amesterdão, não quer dizer que o Paulo daqui oito dias tenha que ir para Londres. Então vai a Júlia, que também é jornalista. E, e daqui a, daqui a, daqui a quatro meses, ou cinco meses..
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 19M57S – Ah disse isso em relação à rádio, era assim na rádio, não era, em Moçambique?
A.L. Rafael parte 13 de 15 aos 20M3S – Em Moçambique tínhamos escalas e cumpria-se e não havia problemas. Aqui, é porque aquele já foi duas vezes a Londres, é porque o outro já foi quatro vezes à Índia, mas quando lhe diziam que era uma coisa em Badajoz, isso não interessa, Badajoz é para comprar caramelos. Guerras que havia. Olhe, na sua área nos operadores, havia lá três, três ou quatro tipos….e por não sei quê porque agora era minha vez de ir e não me mandaram, tão a mandar aquele que é protegido…mas por quê? Porque era , porque era uma viagem a Macau…porque era depois criaram, criaram os, os, os jornalistas residentes, os correspondentes. Também é uma guerra. Porque aquilo, se era, se era para ir para as regionais, hô, quero lá ir agora não. Sair da minha Lisboa e não sei quê. Mas eh, pá, parece que vão mudar de correspondente em Madrid, ou em Paris, ou não sei quê. Ehhhh.
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