Maria Emília Santos – Parte 5 de 7

Maria Emília Brederode Rodrigues dos Santos entrevistada por Ricardo Nogueira e Maria Inácia Rezola – Registado por Claúdia Figueiredo em Lisboa 17 de Junho de 2017

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— No regresso da Suíça já não regressará à publicidade, não é, mas vai ter uma outra experiência numa área para a qual já tinha começado a investir bastante, uma área também inovadora, mas novamente a Comunicação Social, neste caso a televisão, surge como uma força importante, com um papel importante.
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— Sim, certamente. Quando cheguei da Suíça, eu não sabia nada o que que ia fazer, não é. Comecei por ser convidada para umas coisas sobre imigração, havia um, como vinha de fora, pronto. É, e de facto na Suíça eu estava a preparar uma tese sobre, sobre o, a educação das crianças filhas dos imigrantes, e talvez por isso, já não sei, comecei por ir por aí. Mas depois encontrei o doutor Rui Grácio, tinha sido meu professor do liceu e ele disse-me que estava à procura de pessoas para trabalharem nos cursos de formação à distância de professores. Porque, contrariamente ao que hoje acontece, havia muitos professores a darem aulas sem terem a formação pedagógica corresponde, correspondente ao ao nível etário a que se estavam a destinar. E portanto eu tinha uma admiração imensa e gostava imenso do doutor Rui Grácio, e portanto qualquer coisa que ele me sugerisse eu tinha a tendência em em privilegiar, em dar prioridade… E então eu achei que sim, ele disse-me que era uma coisa do Ministério da Educação chamado Instituto de Tecnologia Educativa, que era o herdeiro do IAV, se não me engano, que era o Instituto do Audiovisual, conhecido, onde se tinha preparado a telescola e tal, mas eles agora tinham à frente do Instituto a doutora Manuela Silva e queriam desenvolver outras dimensões que não só a telescola. Que até havia dúvidas sobre se a telescola ia continuar ou não. Pronto, e então entramos um grupo, há bocado nosso colega estava a falar, tínhamos entrado assim [risos] um grupo maciço que era o Bártolo Paiva Campos, que vinha da Bélgica, portanto, um grupo de estrangeiros, o Bártolo Paiva Campos vinha da Bélgica, de Lovaina, o Alberto Melo que vinha de Londres, da Open University, o Viegas Abreu, que também vinha da Bélgica, mas esse foi para Coimbra, e portanto tinha uma ligação um bocadinho mais distante, e eu que vinha de Genebra. E fomos os quatro preparar o tal curso de formação à distância para professores, que permitissem aos professores em exercício, que já estavam a ensinar, ir-se formando pedagogicamente, digamos. Estive um ano mais ou menos nessas funções, o o… assim, e depois, já não sei como, isso acabou por não ir muito pra frente, já não sei porque razão, mas enfim ficou o trabalho feito, ficou entregue, e depois… E entretanto nós tínhamos entrado para os quadros do Instituto de Tecnologia Educativa do Ministério da Educação, e portanto eu e o Bártolo propusemos, ou o Bártolo e eu, propusemos uma, um programa de televisão semanal que permitisse às pessoas perceberem melhor a educação, o que que estava em jogo e que permitisse, era um bocadinho a ideia de que todos os cidadãos deviam participar, até porque a educação é uma questão que toca a toda gente, aos filhos e também aos próprios na educação de adultos, e portanto que as pessoas pudessem participar melhor na definição das políticas educativas. Essa foi a ideia inicial. Começamos por fazer uns programas que não existem, porque na altura não havia gravação, que eram os debates entre os vários partidos políticos. E lembro-me que na altura foi a primeira vez que o CDS foi, esteve num programa de televisão. Pronto, eram debates entre… E depois, a seguir, o Bártolo foi-se embora para, não sei se para a secretaria de Estado, acho que, sim, secretário de Estado, no sexto governo provisório ele foi para secretário de Estado, e eu propus um outro tipo de programa que era mais sobre experiências pedagógicas, coisas inovadoras que se fizesse e explicar o que que estava, as medidas que estavam a ser tomadas através das práticas que encontrasse e tal. E o programa chamava-se «Falar Educação» e as pessoas lá dentro do ITE, lembro-me que os professores todos de português, aquilo tinha um grupo bastante grande de professores de português, ficaram indignados, porque disseram que isto era por eu ter estado no estrangeiro em em na Suíça, porque era uma influência do francês, parler educacion, que não era… em português era Falar de Educação ou Falar sobre Educação. E eu dizia, não eu estive foi na publicidade, e sei que tem que haver uma maneira diferente de dizer as coisas que chama a atenção, isto é um bocadinho uma provocação. Pronto, e então eu agora eu lembrei-me por causa da publicidade, porque de facto fui um bocadinho, fui mais influenciada pela publicidade do que pelo francês na escolha do nome. E então todas as semanas, aos sábados, se não me engano, a seguir ao almoço, lá aparecia eu na televisão e as e as com essas experiências pedagógicas e foi uma, uma, um trabalho muito interessante, durou um ano também, se não me engano. Ao mesmo tempo também tinha um programa de rádio, que fazia com o José Carlos Abrantes, e comecei a colaborar a convite do Mário Mesquita com o Diário de Notícias, uma página de educação. Portanto no fundo comecei a trabalhar muito na educação, mas ligada à Comunicação Social. E pronto. Ah, entretanto, depois também fui convidada para ir para o ramo educacional da Faculdade de Ciências, com a Annie Bettencourt, e… para fazermos a formação dos professores que chegavam ao 3º ano de matemática e podiam optar entre a via científica, continuar, ou por uma via educacional e então tinham um ano, com psicologia, pedagogia, onde fizemos também experiências muito muito interessantes. Por exemplo, agora fala-se muito na transversalidade e nós na altura criamos uma coisa chamada seminário interdisciplinar, que era justamente as pessoas terem projetos a partir de problemas que se detetasse e se quisesse resolver, foram coisas muito muito interessantes, sobretudo porque levavam os professores a colaborarem entre eles, não é, entre várias áreas. Alguns fracassos, recordo-me muito bem de um grupo que escolheu fazer uma gravação, criar um gravador, olha, eu não, eu sei que nós até consultamos o técnico, professores do técnico, ninguém conseguia perceber porque é que naquele caso aquilo gravava mas não não não reproduzia, não… nunca se conseguiu resolver. Mas, enfim, isso foi um caso em que a experiência não foi muito bem-sucedida neste aspeto concreto. Porque de resto foi muito bem-sucedido no aspeto das pessoas trabalharem, do trabalho em conjunto e assim, mas outras coisas houve que foram muito muito interessantes. E depois desse, portanto desse, ainda estava mais ou menos ao mesmo tempo na Faculdade de Ciências e nessas outras atividades, e então lançou-se, o Ministério da Educação lançou uma experiência chamada Educação Cívica Politécnica, para o sétimo ano unificado, o sétimo ano unificado era o, sim o atual sétimo ano, que era para começar a preparar o prolongamento da escolaridade obrigatória. E então, com um grupo que era a Ane Bettencourt, o José Carlos Abrantes, a Alda Gama, e eu fizemos um, uma série de cinco ou seis filmes chamados “Cá fora também se aprende”, que era uma frase que um senhor tinha visto, tinha dito numa gravação, o senhor era um pescador, não lembro muito bem, que ele dizia que era sobre a educa, o nosso programa era sobre a educação informal e ele falava sobre isso, e ele dizia “cá fora, sim mas cá fora também se aprende muito”, e a gente pôs isso como título dessa série porque eram justamente experiências de trabalho interdisciplinar, trabalho a partir de projetos, feitas em várias escolas. Uma de Aveiro era uma espécie de uma mini reforma agrária, em que eles iam todos para o campo e, desde a gestão da cooperativa, portanto a parte de matemática, ao cultivo, era uma forma também de valorizar o conhecimento daqueles meninos, que eram meninos do campo. É e depois tentava-se ligar as várias disciplinas, não é. A outra experiência foi em Lisboa, na Paula Vicente, em que eles criaram num sótão que estava abandonado, que não estava utilizado, então fizeram um centro de Aquariofilia, e estudaram tudo, desde a reprodução dos peixes, a alimentação, a tudo isso, e a a relação com os peixes, era muito engraçado. Outra foi na Francisco Arruda, se não me engano, e era e foi extraordinária, é a minha preferida, porque foi… havia uma capela, Capela de Santa Marta, se não me engano, que estava abandonada e eles então foram fazer um projeto de reabilitação da capela, dos azulejos, e para isso foram estudar todo o ciclo dos azulejos, foram à fábrica, entrevistaram o menino da idade deles que estava a trabalhar, ficaram a perceber que havia trabalho infantil, exploração do trabalho infantil, aprenderam a fazer os azulejos e tudo isso mostrava no filme. E outro, na mesma, outro aspeto da reabilitação da capela era o ferro forjado. Portanto, eles foram também a uma oficina de ferro forjado, tinha sido, garagem, não sei se chama assim, dos coches do rei Dom Carlos, portanto, havia toda uma história por trás e o senhor da oficina explicava aquilo tudo. Portanto foram assim tentativas de expli… corresponder e explicar um pouco as medidas educativas que estavam a ser tomadas, que eram muito inovadoras, que não correspondiam nada à escolaridade que as próprias pessoas tinham tido, e portanto que que precisava de alguma explicação para as pessoas entenderem. Pronto, e isso, esses filmes são os únicos que existem, porque os outros não sei se, acho que não gravava, não é. Naquele vídeo, naquela altura. Ou então foram passados por cima, como era costume, que a gente sabe [risos]. Mas esses existem e já recuperamos mais ou menos. Também havia outro que era, também há outro que existe que não era desta série, que era do do Falar Educação propriamente dito e que era foi uma entrevista com o João dos Santos sobre a educação pela arte, com a Cecília Menano, também foi muito interessante, e esse também existe. Fonseca Costa conseguiu descobri-lo e e ofereceu à Cecília Menano que depois me deu. É, pronto, foi um período muito muito interessante para mim, gostei muito dessa dessa fase. Depois a fase da Faculdade de Ciências também foi muito interessante, ainda agora encontro estudantes, pessoas que foram estudantes nessa altura e algumas das minhas melhores amigas são pessoas que foram minhas alunas nessa altura, que tinham quase a minha idade, não é. E depois, já não sei. Ah, depois saí da Faculdade de Ciências quando o ramo educacional ia se tornar Departamento de Educação, que institucionalizou-se como tal, porque houve o projeto das Escolas Superior de Educação. O Ministério da Educação conduziu esse projeto e para formar pessoas. Porque não havia número suficiente de pessoas com licenciatura no primeiro ciclo, antigamente não era preciso ter licenciatura, não é, então, e para professores deles também havia poucos, haviam os que tinham estudado no estrangeiro, mas de resto não, então eu fiz, fizeram um concurso para fazer o mestrado em Boston e também em Bordéus. Bordéus era mais para a parte de bibliotecas, centro de recursos, e em Boston era para as várias áreas, não é. Eu, pronto, concluí e fiquei para a Análise Social da Educação e pronto. Quando voltei fomos todos distribuídos por várias escolas, eu era para ter ido pra, pra de Lisboa, mas entretanto a minha amiga Annie tinha sido convidada para a comissão instaladora de uma escola nova, ou ela própria tinha proposto uma escola nova, que era a de Setúbal, que não estava prevista, e eu achei que tinha mais interesse em continuar a trabalhar com a Annie e em ir para Setúbal, que era uma zona mais mais interessante, mais desafiante, do que Lisboa onde apesar de tudo há muitos meios, e muitas, muitas possibilidades. E portanto fui para Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação de Setúbal, acabamos todos um bocadinho zangados, saímos, a Ane saiu e eu demiti-me em solidariedade com ela, e vim cá para fora e estava assim um bocado pendurada sem saber para onde ir, o meu local de base era o Instituto de Tecnologia Educativa, acho que na altura ainda não tinha acabado, quando o Fernando Lopes me telefonou a perguntar se eu não queria ir para a Rua Sésamo.

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