Maria Emília Santos – Parte 1 de 7

Maria Emília Brederode Rodrigues dos Santos entrevistada por Ricardo Nogueira e Maria Inácia Rezola – Registado por Claúdia Figueiredo em Lisboa 17 de Junho de 2017

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— Estamos no estúdio 1 da da Escola Superior de Comunicação Social, com Maria Emília Brederode dos Santos, é, vamos entrevistar, são entrevistadores Maria Inácia Rezola e Ricardo Leal Nogueira.
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— Maria Emília, quer por favor fazer uma uma ficha de identificação, o seu nome completo, a sua data de nascimento, seu local de nascimento, as suas qualificações académicas.
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— Chamo-me, o nome completo Maria Emília Brederode Rodrigues dos Santos. Normalmente uso só Maria Emília Brederode dos Santos. É, nasci em Lisboa, mil novecentos e…. não vale a pena dizer o número… O dia do aniversário… Facebook. Nasci em 21 de março de 1942. É…as qualificações académicas, fiz primeiro, o primeiro ano de Direito, depois o curso, a licenciatura de Letras, Filologia Germânica, depois, em Genebra, a licenciatura em Ciências da Educação, no Institut des Psychologie des Sciences de l’Éducation, da Universidade de Genebra, e mais tarde, bastante mais tarde, o mestrado em Análise Social da Educação na Boston University, nos Estados Unidos.
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— Nesse percurso, sabemos que tem uma primeira experiência com o mundo da publicidade, num contexto muito específico, consegue recordar-se como é que surgiu essa oportunidade, como é que chega à agência e depois podemos desenvolver um bocadinho essa experiência.
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— Quer.. é… a agência é que chegou a mim [risos]. Eu acho. Eles tinham uma conta muito boa. Era uma pequena empresa, primeiro, uma pequena agência chamada Forma. Isto foi um bocadinho quase que os primórdios da nova publicidade. E eles tinham várias contas, uma delas que estava a começar, que era muito boa, que era da Compal e eles, portanto, procuraram uma pessoa que achavam, que eles achavam que teria um espírito mais moderno e e que, e mais qualificada, pronto, mais culta, e assim, e portanto, e ao mesmo tempo eles não tinham muito dinheiro pra pagar, provavelmente, e portanto procuraram uma pessoa, um estudante universitário que… que ficasse a meio tempo. E a mim deu-me imenso jeito , quer dizer, e foi através de amigos, que dizer, o chefe de publicidade dessa conta, que era o Rodrigo Pereira da Cunha, convidou-me para… para ser copywriter desse projeto.
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— Estamos no final dos anos 60, não é? Era uma…
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— Não era final, meio, meados.
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— Meados dos anos 60.
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— Sim.
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— Siim? Frequentava a universidade, não é, e vai ter este primeiro part-time…
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— Sim.
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— … no, numa agência de publicidade. Foi alocada em concreto a essa conta ou desempenhou outros tipos de atividades na Forma?
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— Atividade fui sempre copywriter. Embora me tenham convidado para chefe de publicidade, mas não estava interessada, gostava daquilo que fazia. Mas contas tive muitas mais, não é? Assim, a que me lembro que me deu mais, mais, que fazia mais brincadeira era a da Saluzena, a da farinha Saluzena. Fazia spots de rádio com o Fernando Pernas que era aquela pessoa sisuda, que vê… que as pessoas estavam habituadas a ver a falar de arte, de Serralves e tal, era uma pessoa engraçadíssima: Portanto, fazia os spots entre o avô e a neta, [risos] para rádio, era uma coisa engraçadíssima com ele. Pronto, era isso. Houve várias outras, é, a agência… A diferença é que o Compal pode ser agarrado desde o princípio, não é? Enquanto que havia outras contas que eles tinham que já estavam em curso, e portanto aí o meu papel terá sido menor. Porque era só escrever os textos conforme fosse necessário, mas a conceção já estava. Enquanto que na Compal foi possível haver uma conceção mais alargada, mais do princípio até o fim.
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— Acho que voltaremos a essa questão das campanhas, vamos voltar só um bocadinho atrás, como é que funcionava a agência, como é que trabalhava, com.. que tipos de hierarquias é que existiam, consegue recordar-se um pouco desse ambiente que encontrou na Forma?
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— Sim, a Forma era de facto uma agência um bocadinho especial, porque era pequenina e portanto, e tinha dois diretores completamente o contrário um do outro. Um era o senhor Alfredo Castro, que era um intelectual, que me pôs imediatamente a ler o Roland Barthes, [risos] e Edgar Morin, pra complexidade da problemática publicitária, e outro era o senhor Rafael, que era um um muito conhecido ilustrador, não me lembro do apelido dele, mas era muito bom ilustrador, mas era um homem muito prático, muito chão, muito pouco complicado, e muito pouco complexo. Depois havia os chefes de publicidade, que foi o Rodrigo Pereira Coutinho, depois foi substituído, rodavam muito os chefes de publicidade, não sei porquê, acho que era um bocadinho conforme as contas que apareciam. Foi ele, foi o Pernes, o Pernes, não sei se era só copywrite, não sei, foi o Carlos Martins Pereira, foi o Humberto Golar, sabe quem é com certeza, foi já não lembro mais, mas estes, o João Lopes, o doutor João Lopes, portanto aí rodaram bastante. Havia portanto a direção. Depois havia os copywriters e os ilustradores. Tinham ótimos ilustradores. Por exemplo, o Cipriano Dourado, que é um pintor conhecido, trabalhava lá e era muito amigo do Rafael, do senhor Rafael. Havia um… o mais moderno era o Acácio, que esse ainda está vivo, felizmente, e que era um ótimo ótimo ilustrador. Havia a pessoa que escolhia os média, que era um jovem, portanto, aquilo fazia um bocadinho de escola, não é, era assim pequeno e o senhor Castro não tinha filhos, gostava muito dessa relação tutor-pupilo, então o o… Havia o Jorge Ricardo, portanto, que fazia os média, que era um rapazinho que tinha entrado lá muito muito novo e depois havia, depois nos ilustradores havia muitos, depois havia as secretárias, e pronto era isto, porque era uma empresa pequena. É, ia dizer qualquer coisa que me esqueci. Não sei, pronto. Não sei o que é que… se há mais…
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— Já falou um bocadinho que à partida não estava preparada para este tipo de funções, mas que rapidamente lhe deram a literatura para…
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— Aquela literatura não me preparou nada [risos], porque aquela literatura era muito teórica e preparava-me para a grande compreensão, não é, e para a problemática da atualidade, mas não para fazer publicidade. Quem me preparou para a publicidade foi o Rodrigo Pereira Coutinho. Aquilo naquela altura também tem esse aspeto engraçado que era, aqueles, aquelas pessoas que, sobretudo homens, que se maçavam e não terminavam os cursos, não é, começavam… tinham depois saídas ou no jornalismo ou na, ou na, ou então nas profissões novas. Houve a fase dos bancários, lembro-me, não é, dos empregados bancários. Depois na minha fase já foi esta fase das agências de publicidade. Portanto, o Rodrigo Pereira Coutinho não tinha nenhuma qualificação especial, mas era um homem muito empreendedor e muito prático. E ele o que me deu a ler foi uma obra fundamental da publicidade que era o Ogilvy. Já nem sei como é que se chama, mas o Ogilvy toda a gente sabe porque tem uma empresa, há uma empresa com o nome dele. E aí é que tava tudo explicado, era assim uma espécie de bíblia da publicidade, e foi aí que eu aprendi a fazer, porque com o Sr. Castro a discutir o Edgar Morin ou Roland Barthes, não ia lá.

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