José Pote Magriço – Parte 24 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.
A maior realização profissional (manutenção e assistência técnica).

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P Barbosa— Ao longo da sua carreira, agora quer dentro da RTP, quer antes, das várias funções que teve, e depois até as várias funções que desempenhou ao nível já como profissional liberal, em quais é que se sentiu mais realizado? O que que lhe deu mais gozo de fazer ao longo da vida?
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JP Magriço— Bem, eu estive sempre condicionado de certa forma pelo meu gosto, pelos conhecimentos da dire…, digamos, das técnicas e das tecnologias que estavam associadas à produção na televisão. E tive muita influência, sofri muita influência, e foi na RTP. Aliás, eu já, já no Ministério da Educação, no meu processo de aprendizagem e de evolução técnica, senti que houve elementos que contribuíram de certa forma para o meu, pra aumentar o meu gosto, pelo desempenho. Eu trabalhei fundamentalmente na área da manutenção e assistência técnica. O que isso quer dizer? A manutenção pode ser dividida em duas ou três grupos ou classes as intervenções perante uma situação de anomalia dos equipamentos ou das rotinas necessárias para garantir que esse equipamento se enquadre dentro dos níveis de qualidade padrão e que as ocorrências, ou as avarias, designadamente, ocorram de uma forma mais alongada possível o espaçamento entre as anomalias. Existe uma curva de análise que permite ao técnico avaliar qual é a frequência, qual é o grau sucessivo de ocorrências que podem levar a uma avaria, ou nas intervenções em que faz, e, portanto, que, a bath curve, que é curva da banheira, é, e que diz para cada equipamento qual é o grau de probabilidade de o equipamento avariar etc., portanto, a e o que é que se deve fazer em cada um destes períodos para garantir que o equipamento tenha uma vida o mais longo possível com o mínimo de avarias. Ora, a RTP, na época, tantas o IMAVE, o ITE, etc, todos esses organismos onde se trabalhavam com as tecnologias relacionadas com o vídeo e com o áudio, necessitavam de serem mantidas, manter com o mínimo de perturbações. E foi sempre na análise deste desta curva, quando o equipamento é recebido e está novo, nas primeiras semanas de utilização, portanto, deve-se ter um certo cuidado e atenção porque ele pode revelar um conjunto de avarias com probabilidade maior. Portanto, é o chamado “mean time before failure”, ou seja, quer dizer, é o tempo médio em que o equipamento pode falhar, e nas primeiras semanas de existência de função ele pode apresentar efectivamente qualquer defeito de fabrico ou qualquer mau dimensionamento técnico que tenha sido na sua concessão ou na sua produção, não é. Depois há um tempo de estabilização do equipamento, que é um tempo que se deve considerar bastante longo, que é parte de baixo da banheira, e depois quando atinge os níveis próximos das torneiras ou do oposto, mas vamos admitir que começa a banheira do lado onde não tem torneiras, tem aquelas semanas de ocorrências as probabilidades de avarias são maiores, e depois quando atinge uma curva quase exponencial, que é quando chega ao limite de vida. Mas para prolongar esse tempo em que a banheira é direita, uma banheira mais comprida, que, como aqueles automóveis que se estendem e esticam, não é, portanto, dá para esticar esse tempo. As limousines, vamos estender a limousine do sistema e então era com quê? Com as intervenções e as substituições dos componentes que eram perecíveis e que eram necessários de sistematicamente serem substituídos no tempo próprio e há equipamentos, há equipamentos, não há, há componentes electrónicos que são praticamente, que vivem quase todo o tempo da existência do equipamento. Enquanto que há outros que se degradam com a modificação térmica e com um desgaste e stress próprio da utilização dos meios. E há muitos componentes que eram, se necessário substituídos periodicamente, prolongavam esse período de existência do equipamento. Com a tendência era sempre encontrar o equipamento que tivesse zero avarias ao longo de toda a sua existência dentro de um período razoável de utilização.
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P Barbosa— Então quer dizer que era como se fosse uma revisão de um carro, portanto, ia mudando mudando certas peças ao longo da vida.
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JP Magriço— Há peças que se degradam naturalmente e são conhecidos os seus regimes, o seu MTBF o tempo antes dele falhar, está definido. Normalmente essas coisas foram feitos estudos ou o exército, os militares é que se dedicaram muito ao estudo dessas questões porque era preciso garantir, como agora, neste momento, está a falhar, estão a falhar sistemas, não é? Portanto, temos que localizar historicamente, mas é o que é verdade é que prolongando só com uma intervenção sistemática. Manutenções com rotina, análises, medidas, efectuadas sobre os equipamentos, é que devem ser colocados em teste periodicamente, verificar o seu comportamento, se tem variações, as tensões, por exemplo, no funcionamento alteram, isso revela, de certa maneira, se os níveis decorrentes do consumo do próprio equipamento em determinadas áreas aumenta, portanto, por degradação de equipamentos ou de componentes são de duas ordens: os passivos e os ativos, que são os componentes que normalmente compõem electronicamente e é preciso verificar se é como é que eles estão a viver em que situação é que se encontra, em que circunstâncias se encontra em funcionamento. E sendo substituídos por equipamentos compatíveis ou equivalentes, hão de se prolongar essas vidas desses equipamentos. É assim que se resolvia o problema económico da substituição e da redundância de equipamentos. Porque havia equipamentos que devido à sua utilização e número de utilizações que se fazem ou número reduzido de equipamentos para desempenho de determinada função, quando mais o equipamento é utilizado e quando mais o equipamento é manu… , em menor número, maior atenção que se tinha que fazer sobre eles para que se mantivesse a função sem avarias. É, pra ter uma ideia, portanto, a 5 de outubro, por exemplo, durante o período em que eu dei manutenção, tinha avarias definidas, concretas, porque há vários tipos de avarias, as intermitentes que são as mais difíceis de detectar e resolver porque, por qualquer motivo ocorrem e depois deixam de ocorrer, e o indivíduo quando vai querer analisar ou tem o equipamento retirado e vai portanto sob observação permanente até acontecer o fenómeno, portanto, intervém nessa altura. Ou podem ocorrer com períodos definidos, ou seja, tão pouco tempo em que está em anomalia que, é impossível quase detectar o que que se vai analisar a seguir, mas há sempre possibilidades de inserção de módulos porque eram unidades que podiam ser substituídas, é que se iam retirando e por comportamento associado pode-se concluir que era este módulo ou o outro que não estava, que estava a manifestar o problema. Quer dizer, há várias formas de escalonamento de manutenção, que, de certa forma garantem ao técnico, de certa forma, a detecção de uma avaria num sistema mais complexo ou num sistema do equipamento propriamente dito. Dentro do equipamento é analisado de uma determinada forma, se quisermos analisar isso num percurso, num path na sequência de um sinal temos de interpretar vários tipos de pontos-teste, o que que se está a passar em cada ponto-teste ao longo de todo o percurso. E intervir, de certa forma, a montante ou a jusante, de qualquer um dos pontos, e detectar as avarias. É assim que se, é o método utilizado. Depois há a chamada é, e estas que eu tive a falar, a manutenção sistemática e é preventiva. E depois há a manutenção de intervenção, que é aquela em que ocorreu a avaria, é preciso resolver no momento. E portanto aí há a necessidade de ter equipamentos redundantes ou substituição imediata para que não haja perturbação, quer na área da produção. Na informação era era quase sagrado que não podia haver ocorrências de avarias porque isso era direto, estava no ar e, portanto, qualquer coisa que ocorresse era mais perturbador. Portanto, o nível de tensão do técnico e a atenção que o técnico tem, o stress do técnico em eletrónica que estava a acompanhar ocorria, mas tinha picos nesses períodos em que a emissão estava a decorrer, portanto, era direto e qualquer coisa que acontecesse havia a necessidade de uma intervenção mais rápida possível.
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P Barbosa— Mas a pergunta que eu lhe tinha feito era disto tudo por onde passou, dessas experiências todas, onde é que lhe deu mais gozo trabalhar, o que que no fundo gostava, era de fazer, montar um estúdio ou estar no dia a dia a apagar fogos?
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JP Magriço— Se formos analisar isto em termos de adrenalina, podemos dizer que era nos períodos de maior intensidade o ter corrido bem era um senti, sentimento de alívio ou então quando, quando eu comecei a verificar ao longo da minha carreira profissional que era melhor ter um trabalho de rotina e de sistematização do sistema porque ia me aliviando de do número de ocorrências que eram desenvolvidas ao longo de todo o tempo. Ou seja, havia um alívio se eu tivesse um trabalho sistematizado havia um alívio, ou seja, sentia mais segurança e não estava sujeito a um stress tão intenso. Portanto, agora, vamos a ver, as pessoas atingem o estado de mais felicidade ou menos felicidade normalmente há pessoas que sentem-se muito bem no estado de felicidade no lazer, ou seja, no tédio, no tédio neste sentido, não é isto que eu quero dizer de certa maneira, mas é “fare niente”, isto é que é o estado mais elevado da pessoa. Não, eu preciso de, diariamente, ter, sentir pressão para que eu possa mexer-me o suficiente e sentir-me bem. Porque… e isto é viciante, pois, também, ou seja, é preciso também ter um pouco de tensão, essa tal libertação da adrenalina, para que eu sinta que estou a desempenhar qualquer coisa. Quando, é, mas ando sempre a tentar evitar que isso ocorra de uma forma intensa. Não quer dizer que durante um período em que tive um problema de saúde foi só motivado por este tipo de vida. Não quero atribuir, não não quero reconhecer a mim como sendo o próprio causador daquilo que me acontece.
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P Barbosa— Mas teve alguma relação, por exemplo, os enfartes que teve e estar a viver em períodos de muito stress a nível profissional?
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JP Magriço— Eu não posso estar a dizer que fui o responsável direto, estava dentro de mim qualquer coisa correu mal, não é, evidente. Agora, se é uma afetação sintomática ou psicossomática que venha interferir na minha na minha doença, ou naquilo, na minha afetação de saúde, não posso estar a provar, de certa maneira. É evidente que o desempenho profissional, quando é levado com brio e com seriedade, e responsabilidade, de certa forma, tem influência na nas pessoas e às vezes nesses estados em que o indivíduo se sente mais pressionado e mais, talvez seja o, e o correr bem ou não correr tão bem, não é obrigatório que corra sempre tudo bem, esse é um dos momentos mais intensos que um indivíduo tem numa profissão. É é aí efetivamente que a profissão se vê, não é pela facilidade porque tem até uma… quando o indivíduo cabalmente desempenha suas funções de uma forma leviana, ou seja, como se não tivesse presente, se não tivesse a emoção própria da responsabilidade e aí também não têm grande interesse, não é, portanto, interessa é que o indivíduo o estado de bem, se sentir melhor, estar mas bem consigo próprio e saber que está a desempenhar uma função de interesse, é quando ele tem de certa forma o seu estado mais elevado da própria profissão. Não quer dizer que todas as situações sejam semelhantes em termos profissionais, não é, mas nas minhas, por exemplo, os os acontecimentos de maior relevo que aconteceram na RTP durante o período eleitoral eu acompanhei todas as eleições, acompanhei todas as eleições que existiram durante aquele período que estive nas funções de manutenção. Que eram elementos de tensão elevadíssima, porque eram programas de grande extensão, envolviam o triplo ou o quádruplo dos dos equipamentos que estavam envolvidos na estrutura, era necessário criar circuitos adicionais e sistemas adicionais para garantir a possibilidade de uma emissão de grande desenvolvimento, e nesses momentos também havia a maior tensão possível. Mas também havia a maior descompressão possível, também. Quando uma pessoa… Ia dizer que o ter acompanhado, eu acompanhei programas de produção que eram produzidos não era em direto, eram criados os programas, eram feitos ou por takes, portanto, pequenos fracio… segmentos e aí tinha uma atenção de um determinado nível. Tudo o que envolvia grandes realizações, emissões de grande dimensão, aí é que havia, sentia que o grau de felicidade era maior quando tudo corria bem até o final. Portanto aí posso dizer que quando atingi esse, a conclusão desses trabalhos sentia um estado de mais felicidade. Portanto, era quando estava, verificava que tinha colaborado ao longo de todo o tempo com a a manutenção sistemática, com as funções de rotina e que se refletiu numa redução quase zero de acontecimentos que tivessem relacionados com a profissão. Estamos a falar de questões relacionadas com a profissão. Não ficava feliz por que ganhou este ou aquele partido. Ficava era feliz porque tinha garantido os meios ou de certa forma e não era só eu, era eu e uma equipa não é, portanto era um conjunto de pessoas que acompanhavam todo aquele processo de preparação dos meios, de ensaios, etc, para chegar, digamos a…

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