Manuela Serrão – Parte 3 de 5

Manuela Serrão aos 0:00:49.870

—eu era conhecida por ser chatinha lembro… eu era o mesmo tempo o redatora e gestora de cliente e o cliente insistia que eu tinha que dizer que o feijão frade era o melhor acompanhamento a dizer que era o melhor e disse que eu não escrevo isso eu escrevo o que é bom dou exemplos de receitas do que você quiser do não sei que pode ser que é muito saboroso Pode ser que é muito típico português posso dizer o que você quiser agora o melhor eu não vou dizer que é o melhor e ganhei ao fim de uns meses mas não disse pronto a sensação que eu tenho é que hoje em dia ninguém se importa de mentir e naquela altura as pessoas tendiam efetivamente a não ter noção de que estavam a mentir como esta história do feijão frade

Manuela Serrão aos 0:02:47.701

–Mas eu sempre achei aqui a publicidade pode exagerar não pode mentir

Manuela Serrão aos 0:03:29.800

– De certa maneira aguentei trabalhar tantos anos na publicidade senão não teria aguentado porque as questões éticas para mim são importantes e portanto e consegui hoje em dia não me lembro de ter feito uma campanha em que tenha mentido. Exagerei muitas vezes certamente

Manuela Serrão aos 0:04:33.900

—(formação em publicidade faz sentido) Pois hoje em dia não faço ideia. estou longe agora quando eu fui professora eu achava muito importante insistir na formação —publicidade não é assim uma coisa de olé olé é muito trabalho e muito suada e é preciso saber porque é que se está a dizer sim e o que é que se está a dizer não ou porque se põe amarelo ou verde

Manuela Serrão aos 0:05:33.590

– penso que voltou para trás hoje em dia pelo o que eu vejo penso que voltou para trás aliás agora basta ver alguns cartazes de campanha para se perceber como voltar para trás mas mas na publicidade voltou muito para trás em muitas coisas que dizer há símbolos que estão ali não fazem sentido não são de ali pronto agora não sou capaz de dizer exatamente assim um exemplo a verdade é que é a minha sensação é que se voltou muito para trás

Manuela Serrão aos 0:06:25.520

–parece um pouco que se perdeu o bastante esta noção que estamos a comunicar com alguém não connosco próprios —há uma expressão que em 40 anos se ouve sempre tanto do ponto de vista do criativo como do ponto de vista do cliente que é gosto ou não gosto muito estranho não é

Manuela Serrão aos 0:07:13.539

maneira aderir aquilo que vou pôr e tenho que aderir de várias maneiras porque uma empresa é uma cultura e a comunicação dessa empresa deve expressar essa cultura pessoas têm todas muito cuidado tinham mas hoje não sei se têm tinham muito cuidado com as cores do logotipo por exemplo era inferno autentico para nós com as gráficas porque aquilo era é a nossa cor mas era quase só isso (esquecem a cultura da marca)

Manuela Serrão aos 0:09:16.170

eu acho que nunca se pode pôr de parte o gosto nem do cliente nem do criativo mas atenção desde que isto se tenha em conta que é para comunicar alguma coisa alguém e que vou ter alguém também tem gostos

Manuela Serrão aos 0:09:42.760

—sim a area doconsumer advocacy era muito no sentido da defesa do consumidor… —controlar a sua comunicação no sentido da defesa do consumidor portanto isso é muito ligado por exemplo para publicidade para e com crianças para crianças e alimentos de crianças e não sei que esteve muito ligado e de altura também a parte dos detergentes tinham aquelas coisas todas as que fazem mal à saúde

Manuela Serrão aos 0:13:08.120

entrada de Portugal na Comunidade Europeia não é o que é que mudou em termos de publicidade? —eu não tenho a sensação tenha mudado assim grande grande grande coisa para dizer a verdade porque no fundo a publicidade foi estabelecida e sempre foi digamos alimentada pelas grandes multinacionais portanto não não tenho a sensação e a verdade é que Europa sofreu uma enorme uma enorme influência dos Estados Unidos da América e portanto e as multinacionais as americanas estão todas cá e a globalização no fundo veio fazer Que que as coisas não fossem muito diferentes eu lembro

Manuela Serrão aos 0:15:03.350

UNILEVER tinha muito isso e a LINTAS seguia um gestor de produto internacional com qual todas as agências de todos os países tinham relações e quando era preciso fazer uma campanha muitas vezes ele coordenava uma série de criativos de todas as agências Europeias por exemplo onde aquele produto existia para que é que apanha se serviço a toda a gente portanto esta este método trabalho já existia há muitos anos portanto não penso que Tenho alterado o grande coisa hoje até penso que já não se faz

Manuela Serrão aos 0:17:38.450

—para retomar ainda o ensino foram praticamente 20 anos —porque é que deixou? — porque me cansei

Manuela Serrão aos 0:18:08.780

que eu tinha conseguido no INP tinha sido a parte prática do curso durante muitos anos o curso não tinha parte prática e e eu tinha conseguido essa reforma… José Carlos Amado que era um homem de visão aceitou esta solução depois de ele falecer tudo voltou um bocado para trás ai eu desisti, francamente já estava cansada

Manuela Serrão aos 0:19:32.880

—como era ser mulher na publicidade em 1972?.. nunca tive esse problema para dizer a verdade senti claramente como toda a gente sentia que ganhava menos que alguns isso Com certeza

Manuela Serrão aos 0:20:43.570

eu hoje por exemplo fico aflita quando eu vejo pessoas à procura de emprego eu não precisei nunca de procurar emprego Isso é mau de certa maneira porque não tenho essa experiência de procurar emprego sempre me vieram chamar e isto e portanto eu não senti nunca que tinha que que me sentir diferente do meu colega do lado além disso já havia na publicidade várias mulheres porque por causa dos cursos de letras as redatoras os redatores digamos eram todos vinham todos dos cursos de letras porque não havia formação portanto vinham muitos dos cursos de letras os cursos de letras eram as meninas fundamentalmente

Manuela Serrão aos 0:21:42.720

já havia muitas mulheres na publicidade não havia na área da gestão para onde eu estive aí não Aí não havia muitas mas se quiser eu fui lá parar lá estive não não não consigo ainda hoje é muito difícil pensar nisto há quem diga que eu sou mais feminista do que as feministas mas não sei não tenho de facto esse esse problema