Manuela Serrão – Parte 2 de 5
—Mas há uma história engraçada para se ver como se evolui rapidamente
as coisas evoluírem e nós não temos muitas vezes a noção disso as
razões porque eu gostava de dar aulas Era exactamente também para ter
contacto com pessoas mais novas os jovens e e e e saber e aprender com
eles etc e uma vez eu estava a dar a técnica de merchandising para
explicar o que era merchandising disse por exemplo vocês quando vão a
um banco e de repente olhei para a sala e verifiquei que estava toda a
gente com o ar erumbático emtão parei perguntei estou a falar chinês
ninguém vai a um banco? e eles disseram não não vamos não vão ninguém
entrou aqui numa agência de um banco não e aí eu lembrei—me que já que
nessa altura que estava a acontecer é que os bancos Estavam a ir às
escolas oferecer cartões já havia multibanco portanto ninguém entrava
numa agência de um banco ninguém fazia ideia nenhuma do que eu estava a
falar —Pronto esta foi uma outro história engraçada e tem a ver aí com
as diferenças culturais que é preciso perceber que no meu tempo que era
ao nível das escolas e ao nivel da universidade etc como havia muita
dificuldade de acesso escolar e acesso à universidade as culturas eram
muito semelhantes quem estava na universidade e nas escolas não tinha
culturas de base muito diferentes isto mudou radicalmente como é
evidente então um dia eu estava a dar uma aula e tinha pedido era uma
uma prática e tinha pedido que cada um dos grupos inventasse um produto
e depois teria que o defender Explicando porque é que isso era util
para o consumidor porque é que o consumidor quereria comprar aquele
produto e houve um grupo que me disse que tinha inventado uma rolha
anti pingos para uma garrafa de azeite Ok então explica—me lá porque é
que os consumidores vão querer essa essa rolha comprar essa rolha E aí
ela disse—me lá a porta voz do grupo disse para não pingar e não sujar
a mesa e eu perguntei mas quem é que leva uma garrafa de azeite para a
mesa e ela disse—me em minha casa por exemplo eu levo.
—A cara oo não é como se costuma dizer por que efetivamente na cultura
a que eu estava habituado a garrafa de azeite não ia para a mesa ia um
galheteiro que hoje hoje hoje talvez se use outra vez já não sei mas
lembro—me que eu até fiquei um bocado incomodada Porque—que eu ter
perguntado exatamente Quem é que leva uma garrafa de azeite para a
mesa. Isto tem a ver efectivamente com uma certa noção que a gente tem
que ter quando a gente ouve dizer toda a a gente faz assim fico logo
nervosa porque nem toda a gente faz assim e cada vez menos toda a gente
faz assim a não ser mandar mensagens e estar no Facebook de resto não
parece que toda a gente faa assim cada vez menos mas enfim são duas
duas histórias mais ou menos engraçadas —isso já do seu tempo como
professora não é?
—Sim
—quando chega ao curso de relações públicas e publicidade que era assim
que se chamava como é que pensa a comunicação marketing Como é que
pensa o curso como é que pensa a relação entre as duas áreas?
—eu já estava nessa altura a trabalhar com clientes multinacionais
portanto já tinha uma noção do que era o marketing e do que era a
comunicação marketing bastante diferente daquilo que se estava a fazer
em Portugal propriamente dito e já tinha feito bastante formação no
estrangeiro também etc e portanto achei que ia puxar um pouco para cima
o que se passava cá e dai estructurei o cuso já em boa parte a pensar
em comunicação marketing foi devagarinho dei muita publicidade so
técnica publicitária um ou dois anos talvez mas sempre já a fazer
relação com o com as outras técnicas Entretanto as outras técnicas
começaram também a espalhar—se em Portugal mesmo nos clientes nacionais
—e aí ou então remodelei porque o que acontece o curso de publicidade
quando eu lá cheguei o josé Carlos Amado Dr josé Carlos amado era uma
pessoa com uma visão muito grande e portanto tinha tinha feito uma
Inovação enorme e uma das coisas que ele tinha feito no INP instituto
novas profissões era porque achava que nem toda a gente queria ir para
a faculdade as faculdades existentes na altura letras direito ou
técnico no fundo ciências também bom ele achava que havia pessoas que
queriam profissões mais práticas e não havia formação nesse sentido
então ele começou por criar um curso de cinema que é uma coisa
extraordinária e e depois criou um curso de gestão por exemplo que não
havia criou o curso de relações públicas e publicidade que não havia E
criou ainda uma coisa também quer era mais tarde muito mais tarde
ajudantes de administração não era acessoria de administração
—uma coisa qualquer assim pronto que eram os moinhos
—MEG curso de turismo foi não não
—MS foi depois do turismo já tinha turismo Turismo turismo aliás
estava—me a esquecer mas veio logo desde o princípio turismo e cinema e
assim então eu e as relações públicas foram os cursos primeiros que ele
fez e e a verdade é que não havia profissionais quase nessa altura a
verdade era essa quando ele criou isso ainda suponho que parte das
grandes agências não estaria cá e ele tinha a dar relações públicas uma
pessoa que estava na altura nas relações públicas mas as relações
públicas eram ainda muito o ser simpático receber bem almoçar jantar
Cocktail etc portanto era digamos o ser simpático para o cliente e tal
e a publicidade era muito a fazer uns desenhos e por no jornal com os
títulos engraçados e umas coisas assim daí que estivesse na mão de
escritores e de gente formada nas belas ou na antónio arroio. —a
António Arroio foi mais dirigida Se calhar as pessoas iam mais para as
gráficas e assim ou para o design um pouco mais tarde e a e a escola de
Belas Artes toda a gente que não queria fazer pintura ou que queria
fazer outra coisa qualquer na área artística ganhava dinheiro a fazer
estando a fazer publicidade e daí que uma pessoa que na altura Esteve a
dar publicidade Até eu eu chegar Foi uma pessoa da área criativa e
ainda por cima da área criativa literária era uma pessoa que escrevia
livros para crianças e não sei o que é bom e era de facto um bocado
redutor cadeira e o josé Carlos Amado sentiu a necessidade Reformular
tudo isso por exemplo foi muito difícil a mim conseguir que ele tinha
uma cadeira de psicologia no curso que a cadeira psicologia que era
dada no curso fosse fosse adaptada às necessidades da comunicação boa
parte da psicologia da comunicação tive eo que dar durante muito tempo
porque não havia
—Quem a desse o professor que lá estava dava outras coisas pronto não
adaptou á comunicação que aliás não conhecia porque a vida da
publicidade era muito desconhecida de facto durante muito tempo Depois
do 25 de abril tornou—se as pessoas eram agressivas relativamente à
publicidade ou achavam Graça e este ou aquele titulo a este ou aquele
boneco mas de resto tinham tinha não eram muito muito queridas as
pessoas da publicidade para dizer a verdade Pronto não era vista como
uma necessidade de formação era jeito quem tinha jeito tinha quem não
tinha jeito não ia pronto era um bocado isso e e portanto era preciso
de mudar isso rapidamente no instituto superior de novas profissões 4
anos de curso e em cada ano havia uma cadeira de publicidade
—a primeira era publicidade I cujo o programa está aqui e que er dada
aos alunos no principio do ano a publicidade era isto era uma sugestão
dos trabalhos práticos Todas as cadeiras de publicidade tinham
trabalhos práticos tanto este era o anexo ao programa com a sugestão de
trabalhos práticos individuais de preferencia que os alunos faziam Esta
é a cadeira publicidade 2 mesmo esquema com os objetivos a meteorologia
portanto no segundo ano os alunos tinham publicidade 2
—MEG esses programas vêm dos anos 80? sim sim Portanto eles tinham que
que fazer sempre trabalhos práticos tinham sempre duas frequências
obrigatórias e tinham trabalhos práticos também sempre em todas as
cadeiras e nesta também a cadeira de publicidade III era uma cadeira
que integrava que era constituída por três modoulos no fundo para três
modulos que faziam parte do Mix de comunicação visto que obviamente
cada vez mais e nesta altura com mais e mais importância ainda A
comunicação comercial de que eu já falo aqui era fundamentalmente
constituída por uma quantidade Técnicas diferentes portanto na
publicidade III havia três grandes módulos o marketing direto a mídia
as promoções e o merchandising cada uma com o seu programa parte geral
da campanha da cadeira descrição depois havia programa de marketing
direto do módulo de mídia estávamos na fase em que estavam em grande
desenvolvimento as Centrais de mídia e no caso do modulo de mídia a
avaliação era feita pelo teste escrito em Trabalho em grupo com
discussão oral todos os modos que tenham trabalhos práticos e
—havia um módulo de merchandising e promoção em promoções juntou—se na
altura o merchandising e as promoções embora hoje isto já possa Sou
separado e mais tarde nós chegamos a separar estes dois duas técnicas e
havia uma quantidade obviamente de promoções é um problema vasto porque
havia muitas formas de Promover e finalmente chegamos à publicidade IV
as práticas das campanhas em que fundamentalmente o que de tentava era
que apesar dos alunos não terem a hipótese de fazer estágios práticos
nas empresas ou não nos serviços de um modo geral que faziam
publicidade O que acontecia era que nós pedíamos diretamente ás
empresas que fornecessem aos alunos um briefing Real para que eles
pudessem trabalhar e que lhes dessem o apoio dentro da empresa havia
uma pessoa com quem eles podiam falar na escola
—havia uma dupla de dois professores um da área da gestão do contacto
chamado outro da área criativa que ajudava os alunos a fazer as ditas
campanhas no final os alunos apresentavam a sua campanha aos
professores e ao juri que era constituido pelos professores excepto
aquela dupla que tinha participado naquela campanha e pelo cliente que
tinha fornecido o briefing havia também dentro desta campanha um módulo
de video ocmunição viste que era importante para os alunos taprenderem
alguma coisa de vídeo e praticar em aulas e havia depois um seminário
mesmo de video comunicação e pronto
—MEG estava a falar das dificuldades de reconhecimento da area
profissional e por outro da necessidade de formação é algo que parece
que nasceu com a profissão e que se tem e que tem continuado a falta de
reconhecimento profissional —MS o problema é este se nós estivermos
inseridos num ambiente multinacional somos ultra reconhecidos em
Portugal as empresas portuguesas estritamente portuguesas são poucas
vamos lá ver a publicidade começou Francamente pelos produtos de grande
consumo quem é que fazia produtos de grande consumo em Portugal
portugueses propriamente dito que tivesse pensado em fazer publicidade
não nos conhecíamos a pasta medicinal Couto não é que fez publicidade
era uma excepão mas de resto a Margarina Vaqueiro que eu tenho aliás
algumas algumas gravações dos primeiros filmes perfeitamente engraçados
a Margarina Vaqueiro era uma multinacional e a pasta medicinal couto
precisou de fazer publicidade porque estava cá a pepsodent Também uma
multinacional
—os detergentes foram os grandes os grandes que levaram a grande
envolvimento da publicidade por exemplo foram os detergentes claramente
era tudo de empresas multinacionais portanto nessas empresas tudo bem E
as pessoas que giravam a volta dessas empresas reconheciam Francamente
a importância da publicidade e sabiam distinguir Quem era bom
profissional é que não era claramente as empresas portuguesas não não
tanto Só muito mais tarde é uma Jerónimo Martins por exemplo que era
era sócio ou se fez sócio da Unilever do grupo Unilever veio a fazer
ligaste á grande distribuição a fazer ele próprio a publicidade mas
isto é muito recente Parecendo que não é relativamente recente depois
Quando realmente começam—se começam a fazer a publicidade dos serviços
Aí começou a ser outra outra história portanto a grande grande campanha
foi a do código postal de facto e depois dos bancos sentiram
necessidade de fazer publicidade quer na televisão Nos grandes meios
porque
—os bancos faziam folhetos se bem se lembra Não se lembra Mas era o que
acontecia os bancos faziam folhetos e cartazes às vezes e não havia
marchandising no ponto de venda não havia portanto nós tínhamos que ir
ao banco Baixar a cabeça e tal Porque quem quem era o cliente eram eles
não nós. Á medida que os serviços se desenvolveram pois os portugueses
também tiveram que fazer que fazer a publicidade mas nunca foi uma uma
área que que eles acham que tem que fazer porque se calhar vendem mais
mas não têm a certeza no fundo é um bocado a perspectiva Talvez a gente
estão sempre a pedir pedir estudos impossíveis de fazer como as
célebres medidas do impacto de outdoors por exemplo que é um drama e
ficam contentes quando alguém lhe impinge um
—o estudo sobre sobre isso que não quer dizer nada não é Mas pronto e A
insegurança gerou—se uma grande insegurança na gestão que dantes não
havia tanto porquê? porque a publicidade de facto existia na televisão
nos jornais era aquela eram só deram dois meios a rádio na altura era
muito importante estava—me a esquecer mas era realmente muito mais
importante ainda do que a televisão porque as notícias na rádio
espalham—se então com os automóveis rapidamente e à medida que o parque
automóvel crescia a rádio também Depois perdeua para a televisão mas
tinha uma grande importância e e nessa altura portanto a publicidade
que era vista como valia a pena porque se os estrangeiros faziam eles
também tinham que fazer talvez conseguisse sobreviver mas é muito
difícil por nós não tínhamos Quer dizer
—a única empresa a grande empresa em Portugal na altura Era a CUF
industrial e a sidurgia não tinham propriamente produtos de grande
consumo para fazer a CUF só muito mais tarde vem vem a comprar a Compal
e a Sovena e não sei o que é ter produtos de grande consumo mas não
tinha portanto não fazia grandes produto não fazia grande grande
publicidade dos sulfatos e outras coisas que produzia tal como a
siderurgia nacional portanto é um bocado é um bocado isto o meio
industrial português não não não existia e o meio agrícola por exemplo
onde se via produtos Produtos de facto que nós comprávamos cá porque
mas nós sempre importantes muita coisa mas nesses que comprávamos
compramos Senhor do lado conhecíamos a estrutura econômica era muito
primitiva
—Mafalda Eiró Gomes: quando aparecem os primeiros cursos não é a
primeiro formação há alguns movimentos no sentido de existência de uma
carteira profissional de um código profissional mas parece que nunca
chegou a bom porto
—MS nunca nunca porque a verdade é que ninguém ninguém sentia muito a
necessidade disso o meio era pequeno e só muito mais tarde se vai a
fundar a associação portuguesa das Agencias de publicidade chamada APAP
quando é que isso aparece quando é que a APAP aparece?\ quando no fundo
de certa maneira os clientes tendem A impor determinadas determinadas
preços sobretudo eu diria Fazendo fazendo como é que baixando os preços
muitíssimo e esmagando as margens E aí aparece uma agência de
publicidade quando uma agencia não uma associação das agências não era
dos publicitários eu durante muitos anos fui no sindicato fui se não
era datilografia é uma coisa muito parecida mas era a coisa mais
parecida com eles lá tinham para meter no sindicato dos empregados
escritório que era um de nós todos estávamos
—os publicitários Quem queria estar claro e portanto não havia grande
grande defesa por outro lado como a publicidade é de certa maneira uma
uma área agressiva Porque pronto cada um puxa para si quer que quer que
eu sou campanha que seja boa e quero que o seu produto é que seja o bom
etc é uma área agressiva o que acontece é que não havia muita
necessidade de se juntarem antes pelo contrário portanto isso não foi
fácil á medida que apareceram por exemplo os concursos começou a haver
concursos de agências daí começa—se a notar a necessidade da APAP fazer
um não ser e os concursos para muitos clientes sempre foram uma ficção
ou porque a lei da empresa ou de outra qualquer os obrigava a fazer um
concurso mas era uma ficção completamente uma ficção e se pudessem não
dizendo chamám—nos a pedir uma campanha dávam—nos um briefing
—não diziaam o que estávamos em concurso muitas vezes só sabia por
portas travessas porquê? porque o concurso estava feito… eu lembro—me
que no caso da campanha do código postal foi um concurso e eu tive
muita dificuldade em convencer o tal senhor diretor que convenci a
recrutar uma pessoa a entrar no concurso porque ele achou que estava
feito era uma coisa muito grande. a campanha era muito grande então
naquela altura era enorme foi a maior campanha que se fez e ele dizia
está feito nós vamos gastar um dinheirão para nada porque o concurso
está feito eu não credito que nessa empresa o concurso não esteja feito
e eu insiste em ir ao briefing e consegui uma coisa verdadeiramente
extraordinária para dizer a verdade já nem me lembrava que foi que
nesse concurso a verba para o concurso fosse a mesma para todas as
agências coisa que não era portanto o que é que acontecia quer dizer se
eu fizesse ou fizesse uma campanha extraordinária mas se fosse mais
cara se eu quisesse ou quisesse fazer mais barata não posso fazer uma
campanha com os mesmos meios Não dá não é lutei muito e disse a minha
agência não entra a não ser as outras ficaram bastante assim
—está lá mas e tal não sei que está a ler isto não é a minha agência
não entra a não ser que eu não me interessa é que seja a verba real o
que me interessa é que todas as agências que estão aqui presentes
porque eles fizeram um briefing em conjunto e portanto aí dava logo
ideia de que tudo somado que estavam com alguma intenção séria coisa
que não é costume
—MEG Continua a não ser
—Manuela Serrrão sim penso Continua a não ser embora eu tenho
conseguido nalguns casos que fosse mas enfim aquela foi e foi por auto
recriação deles e eu Insisti disse a minha agência não vem a não ser
que haja uma verba seja ela é real ou não pode me dizer É 5 tostões é 5
tostões é um milhão de euros é um milhão de escudos na altura mas toda
a gente tem que trabalhar com esse dinheiro eles foram refletir na
administração não disseram logo que sim tiveram uns dias não sei o que
depois aceitaram o critério mas não era assim não era assim era muito
era muito muito difícil muito difícil mas ali nós estamos com pessoas
honestas valha a verdade e portanto foi eles perceberam e aceitaram o
critério
—houve outra vez também esse já estava também era concurso mas o
briefing não tinha sido todo em conjunto e eles gostavam da nossa
campanha mas queriam já no final mas queriam chamaram—me para baixar o
preço e eu recusei terminantemente porque as margens estavam realmente
esmagadas realmente esmagadas e disse nem pensar eu faço a campanha
assim posso baixar o preço não faço a campanha assim é outra coisa isto
vou para aí não sei mas mais 3 semanas a discutir sempre a tentar eu
recusei mas acabei por ganhar a campanha
—Mafalda Eiró Gomes e essas campanhas estamos a falar da década de 80
provavelmente também 70 —Manuela Serrão sim finais de anos 70
princípios de 80 não a campanha dos correios finais de anos 70
certamente eu acho que o lançamento do código foi para ai em 79 uma
coisa parecida com essa
—Mafalda Eiró Gomes apanha a televisão a cores que se inicia em 80
—Manuela Serrão e depois esta outra que eu estou a dizer já foi um
pouco mais tarde acho eu foi uma coisa para o ambiente —Mafalda Eiró
Gomes essas campanhas eram campanhas a um ano como é que eram os
prazos?
—MS eram campanhas de lançamento que normalmente não necessariamente a
um ano nós sabíamos no caso do código postal por exemplo era uma coisa
totalmente nova como uma população demasiado pouco letrada demasiado
espalhada pelo país inteiro complicada e então a campanha nós
propusemos uma campanha muito intensa e muito didática e muito com
pequenos spots digamos mas todos eles muito didáticos e isso precisou
de uma intensidade forte e foram uns meses sim mas também não podia ser
muitos meses se não cansava muito mas lembro—me que foram uns três
meses à vontade e depois renovamos. bem sei que tínhamos muitas peças e
as peças não foram todas postas ao mesmo tempo mas demorou sim um bom
bocado de qualquer maneira tivemos informações do estrangeiro que a
nossa campanha tinha sido mundialmente uma daquelas que tinha
conseguido mais depressa mudar os hábitos
—Mafalda Eiró Gomes: e acha que isso foi porque foi muito didatica?
—Manuela Serrão: eu penso que naquele naquele caso eu penso que foi um
pouco por ser muito segmentada e muito didática porque era uma coisa
completamente abstrata quer dizer que não interessava a ninguém não
interessava ninguém quer dizer o que é que interessava as pessoas
porque é que havia de ter massada de escrever uma coisa decorar um
número etc era muito muito difícil alguém interessar—se por isso não é
no entanto isso era fundamental para que a mecanização pudesse
funcionar porque senão não podia mesmo as máquinas precisava de um
código e ele era feito por máquinas máquinas precisava de um código só
que eu realmente
—Achei que não havia outra hipótese a não ser fazer uma campanha muito
didática e indo diretamente ás pessoas portanto nós desde a caixa de
correio da própria pessoa fizemos autocolantes para todas as caixas de
correio em portugal fizemos cartazes para todos diferentes para todas
as caixas de correio em Portugal e depois fizemos não sei mas a 20 e
tal filmes assim uma coisa curtos mas sempre sempre sempre a explicar
sempre a explicar foram de facto foi uma campanha interesante de fazer
devo dizer muito interessante e mesmo aquela aquela que o que fizemos
para o próprio pessoal aquilo que eu disse a pouco para ensinar ao
pessoal o que era como é que ia funcionar o código postal ETC também
ajudou bastante
—Mafalda Eiró Gomes: Houve uma grande integração de meios
—Manuela Serrão: Sim houve uma enorme integração portanto quer dizer
integração e programação estava tudo a agência desde as listas do
código postal eu corrigi as listas do código postal tive muitas horas e
muitas noites nos correios sozinha à noite a corrigir a lista do código
postal porque era a primeira vez que em Portugal se fazia uma lista de
código postal e nem sequer era muito fácil faze—la porque eu podia
morar em sei lá em Paço de Arcos por hipótese e ter um código postal
que dizia Oeiras donde a rivalidade entre as freguesias era imensa em
alguns casos entre as freguesias que não eram que não eu não coincidia
bem com com as freguesias mas pronto mas uma Freguesia que não tinha o
seu nome no código postal não gostava como é obvio e portanto
—Os carteiros inclusivamente tendiam a dizer não se importe não vale a
pena portanto havia havia dificuldades grandes e se a campanha não
fosse muito didatca e as pessoas não percebessem bem porque é que
aquilo era importante não tínhamos conseguido não tínhamos conseguido
de certeza
—Mafalda Eiró Gomes: acompanha—nos no fundo a evolução do mercado e na
década de noventa sai da agência não é e passa a um trabalho de
consultadoria assim como é que evoluiu ou como é que foi a evolução do
mercado como é que se reposiciona?
—Manuela Serrão: passei a minha o meu desejo teria sido ficar só a dar
aulas nessa altura mas dois ex—clientes meus vieram desafiar—me porque
precisava de alguém para a comunicação da empresa e pronto e eu fui foi
tão só quer dizer as pessoas que eram tinha muita dificuldade em dizer
que não foram dois grandes clientes mais tarde vieram outros também
ex—clientes sempre ex—clientes que me vieram que me vieram pedir para
eu ajudar nalguns lançamentos eu fiz depois fiquei mais directamente
ligada à marconi que precisava mesmo de uma pessoa para dirigir a
comunicação então eu era acessora da administração e fiquei
—Mafalda Eiró Gomes: Ai a função deixa de ser comunicação comercial
para para passar a ser?
—Manuela Serrão: Era também comunicação comercial porque eu tenha que
lidar com as agências no fundo eles tinham na altura campanhas
comerciais e portanto tinham agencias de publicidade que trabalhavam
para eles e eu tinha não só que lidar com essas agências como decidir
que tipo de comunicação fazer quando como e onde e lidar com outros
mais também passei a ser cliente passei para o lado do cliente digamos
—Mafalda Eiró Gomes: como é que vê hoje o mercado, a profissão —Manuela
Serrão: vejo mal porque estou muito longe disso hoje não sei não sei
muito bem o que é que o que é que se passa só tenho noção de alguma
coisa se passa pelo resultado final pelo que vejo nas televisões nos
jornais e tal devo dizer que algumas coisas me deixam bastante admirada
Como é que passam porque além de serem algumas incompreensíveis outras
muito simbólicas e o simbolismo não é interpretado da mesma maneira que
toda a gente
—admiro—me que deixem passar francamente que deixem passar coisas estão
simbólicas muitas vezes mas pronto mas eu estou longe dessa dessa área
e hoje além disso mudança muito grande é que o próprio o próprio
consumidor é ele próprio publicitário é um meio portanto o Facebook e
todas as todas as novas as novas tecnologias levam a que próprio
consumidor aconselhe fale diga mostre sites produtos marcas etc de que
gosta ou seus outros interlocutores portanto o consumidor tornou—se
assim como engraçado porque é assim como as empresas Muitas delas
passaram para o lado do consumidor uma série de funções como de que é
exemplo máximo a distribuição você tem que ir á prateleira buscar tem
que meter no carrinho
—tem que ficar na fila tem que levar para casa vá lá que alguns já
levam a casa mas é só a partir de uma certa nível de investimento etc
etc portanto o trabalho está do seu lado não é as promoções empurrão
enormemente os stocks para casa dos dos consumidores portanto esta
pasta de passar de empresa para o consumidor uma parte do trabalho
também também se passou a nível da comunicação portanto o consumidor
passou a fazer publicidade para a empresa de graça quer dizer aliás
basta ver logos nas camisolas nas malas nos não sei o que etc etc eu
lembro—me de uma vez ter tido ainda estava nas agências uma discussão
com uma colega minha que ela achava que era optimo andar com com coisas
com marcas grandes tinha muito orgulho disso não sei o que fazia era
uma das formas de ser simpática para o cliente não sei e eu recusava
terminantemente a trazer marcas e ainda hoje me recuso e portanto mas
mas mas sou uma excepção completamente uma excepção porque a maior
parte
—das pessoas trás marcas e gosta de trazer e pronto está no seu direito
mas é verdade que está a fazer publicidade de graça para as empresas
—Mafalda Eiró Gomes: eu precisamente pegando nisso portanto o olhar por
exemplo para os bloggers
—Manuela Serrão: Para os?
—Mafalda Eiró Gomes: Para os bloggers… enquanto publicitária tinha
com interlocutores os meios não é hoje os publicitários têm não sei se
como interlocutores se também como concorrentes
—Manuela Serrão: Não faço a mínima das ideias eu sou pouco pouco não
uso o Facebook praticamente a não ser assim De vez enquanto uma coisa
qualquer leio pouco blogs não tenho muita pachorra para as tricas e
micas dessas dessas áreas e portanto não faço ideia nenhuma mas não há
dúvida nenhuma que sei que eles têm muitíssima importância e que são
fonte de comunicação comercial que sistematicamente e portanto as
empresas só têm é que lhes agradecer… se não pagar