José Pote Magriço – Parte 14 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.
Casos de falhas de emissão em directos.


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P Barbosa— O tempo da RTP em que ainda estavam sempre a trabalhar com sinais analógicos havia muitas vezes, muitas vezes, ou de vez em quando esses cartazes no ar a dizer pedimos desculpa, como é que isso funcionava esse alarme lá dentro, para quem estava…
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JP Magriço— São falhas…. falhas normalmente ocorrem por duas ordens de razão: as falhas de ordem analógica são possíveis, e eram muito possíveis na época. Qualquer componente ou qualquer unidade ou qualquer módulo, sujeito a determinadas condições diferenciadas, ou por mau dimensionamento na origem ou porque o equipamento estava sujeito a um stress elevado poderia provocar avarias de ordem intermitente. E o pior que pode acontecer a uma estrutura é ter avarias intermitentes, ou seja, avarias que não têm solidez em termos de manifestação. Ocorrem, ocorreram uma vez e não falharam mais. Aconteceram várias situações de que está a assistir e haver falhas e dizer assim: e agora, onde é que eu vou em busca disto? Só havia uma alternativa: para evitar que todo aquele todo aquele percurso que estava naquele momento ser todo substituído. E deixar estar aquele em paralelo com outro e verificar se ocorre mais uma vez aquela falha. Está a ver? Portanto, era uma alteração feita era uma redundância, mas paralelismo, paralelismo de transmissão da informação para ver se eu deixo de fazer este circuito, faço o outro, que é equivalente e não ocorre falha. Porque, ou então deriva meio para um dos locais para o outro e se houver falha eu posso dizer que é anterior ou posterior, estão a ver?
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P Barbosa— Mas como é que isso se passava dentro da RTP quando aparecia o cartaz no ar? Era no fundo o departamento do Pote Magriço que era, que iam bater à porta.
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JP Magriço— Era aí que deveria estar o pessoal capacitado para entender, não é adivinhar, porque ali não se adivinha nada. É é entender qual é pela manifestação de uma interrupção ou pela manifestação de uma perturbação no sinal, poder aperceber-se de que tipo de sinal é que está, pode estar a provocar aquele fenômeno. Qualquer tipo de interrupção momentânea na transmissão do… são milhares de componentes dentro de cada unidade quando transferem informação passa por um circuito extremamente elaborado. Quem segue um plano de manutenção com carácter sistemático, ou preventivo, ou recursivo ou ou ocasional. Portanto, quando acontece, tem que saber determinar a causa para… determinar causa quer dizer: neste troço, neste segmento, ocorre, ocorreu esta falha. Está a ver? E como o circuito é complexo e passa por vários sítios, é preciso ter mentalmente, como eu cheguei a ter, os sítios onde as coisas são possíveis de passar e a probabilidade de erro. Porque cada vez, por exemplo, que existe um patch existe um cord de ligação entre um local e outro, esse sinal circula deste ponto e vai ser derivado para este. Ou é através de uma matriz, ou é fisicamente esta unidade passa por isso. Daí que haja necessidade de ter, dentro da estrutura de emissão, um sistema que permita a comutação dos sinais, uma forma electrónica ou manual. No caso de haver falha do sistema electrónico, há que se saber qual é o jumper, ou seja, o local onde tenho que recolher o sinal e passá-lo para a posição eliminando, ou curto-circuitando um conjunto de equipamentos. Isto é fundamental. Para a detecção da avaria. No caso de eu falhar, imagina que falhou num determinado local e está presente. Se eu colher uma informação na posição A e a transferir, electronicamente passava por ali, a transferir para a posição B, iluminei este circuito aqui anterior. E se a falha desaparece eu sei que está confinada num determinado local. Depois, também se pode fazer o seguinte. No caso de haver um com, um circuito muito complexo, só ir ao meio e dizer assim: deste passa para o outro. E se a falha ocorrer eu tenho à partida a garantia que está numa das metades. E posso depois segmentar, isso com o tempo, é evidente, porque interessa é resolver de imediato o problema, não é? Portanto é preciso ter isso em atenção.
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P Barbosa— Mas como é que vocês atuavam na prática? Havia mesmo uma espécie de uma sala de bombeiros na 5 de outubro, em que quando havia o drama, paravam de jogar ` as cartas…
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JP Magriço— Exatamente. É um piquete, é um piquete. Funciona estar de piquete ou stand by para as ocorrências. Havia sempre, para além do trabalho regular de manutenção, que pressupunha a reparação dos equipamentos e para temos uma noção, da quantidade de avarias de grau elevado, não é daquelas pequeninas e tal, de grau elevado numa estrutura daquelas na 5 de outubro chegaram a ser 4 mil por ano, portanto, isso quer dizer que havia três graves por dia, ou quatro, ou cinco, ou seis, ou 10. Vocês estão a ver que isto, em termos de estrutura…
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P Barbosa— Mas também estamos a falar de 100 pessoas que só estavam…
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JP Magriço— Sim. Não, neste momento é a estrutura da RTP durante estes anos todos, durante esses 15 anos e durante os últimos, e agora cada vez menos, tem, tinha pessoas a fazer os horários. E tinha quatro grupos. Um que, um grupo que se dedicava da área do áudio, que era áudio genérico, áudio. Outro que era da central técnica e era específico da central técnica, quando havia problemas na central técnica era aquela equipa. E havia uma área de estúdios, Estão a ver? Portanto, e havia uma área que era o pau quase pra toda obra, que podia ir a qualquer lado, não é. Mas para estruturar horários de funcionamento deste, destes grupos, garantindo, vocês estão a ver?, garantindo três turnos, são oito horas de cada, vocês estão a ver que só tem um de folga em cada grupo, não é. E esse é para suprir as folgas que os outros têm. Portanto se reduzir o número de pessoal a menos de 16 ou 18 começa a ser difícil garantir que haja pessoal, depois há o cumprimento das férias, há as folga, etc., e há um, a necessidade de administrativamente, gerir as pessoas que estão disponíveis. E agora ainda mais, quer dizer, se está um, há uma falha, porque há um que está de folga, mas o outro é que está no horário, outro está no outro e o outro, entra se calhar na semana a seguir. Portanto, para garantir especialidades em todas as áreas de maneira que seja mais fácil executar os trabalhos de intervenção, porque no caso de haver avarias efectivamente há necessidade de intervir de uma forma atempada, portanto, e que o espectador não fique pendurado, ficamos todos pendurados lá dentro, não é?. Houve situações em que eu morava em Linda-a-Velha, por exemplo, e havia uma falha na emissão em Linda-a-Velha, estão a ver?, não é assim muito longe, eu morava em… na 5 de outubro..
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P Barbosa— Estava fora do seu turno?
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JP Magriço— Eu não estava a trabalhar porque ainda tinha o desempenho de chefia, e portanto, não estava. O chefe não trabalha, não é, é o que se costuma dizer. Mas senti a perturbação e ocorreram algumas vezes que eu estava em casa uma falha e eu não telefonava sequer. Eu pegava era num carro e sete minutos depois estava à porta da 5 de outubro para chegar lá, olha, não houve nada, afinal resolveu-se. Mas no caso de necessidade era preciso ter depois, para além do pessoal que fica reduzido. Ficam três pessoas lá durante a noite. Os turnos, os outros turnos, porque tens que utilizar as outras pessoas durante o outro período, para durante o dia ir fazendo reparações concretas, sistemática, e testes etc. etc., que são rotinas que têm que ser cumpridas para garantir a emissão.
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P Barbosa— Mas houve assim alguma dessas falhas tenha assim dado mais dores de cabeça, que tenha alguma história gira?
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JP Magriço— Ah, umas duas vezes, mas só vou citar isto não para utilização, mas houve duas vezes em que, o, durante o período de governação do Cavaco Silva, em que o presidente na altura, é, não sei se como governo, ou como presidente, já não me lembro bem, sei que fez duas intervenções e houve falhas de áudio. De uma das vezes ouvia-se no ar não a voz dele, em directo, estava em directo, repara, não… ouviu-se a bobinagem de uma máquina de alta velocidade com, que tinha lá áudio, mas aquele crepitar do do som em vez da voz dele. Portanto, aconteceu isso, isso é, não é, não é, é difícil de justificar uma coisa destas. A mesa de mistura que estava associada à emissão que estava a decorrer tem duas secções: tem o áudio que está pareado, ou seja, está casado, tá conjugado, uma tecla se nós quisermos descasar temos que carregar numa tecla para descasar. Ou seja, temos que pôr, por exemplo, uma imagem, e se quisermos pôr uma música de fundo ou uma coisa qualquer, ou um intermezo, não é, portanto, se quisermos fazer isso temos que descasar o sistema. Normalmente a emissão quando se carrega na tecla, para ir aquela emissão no ar, ela conjuga, em mesa de mistura paralela, o áudio, porque são duas mesas que estão ali, uma de vídeo e outra de áudio, e que estão é casadas. O ter seleccionado aquela tecla e estar no ar o senhor presidente a falar, aconteceu. Agora que a meio do discurso do senhor a mesa tenha mudado para outro canal, isso aí é injustificável. Não se soube justificar. Isso vieram técnicos da fábrica é credenciar…
0:10:48.080
P Barbosa— Mas vocês não conseguiram resolver durante a emissão…
0:10:55.370
JP Magriço— Então e ficou ficou durante aquele bocado ficou assim e depois o operador voltou a carregar, a carregar, e aquilo não dava, portanto, só há uma maneira de isso ser feito, é saber qual é a delegação que traz o som, ir ao painel que lá está e curto-circuito a matriz. Pôr um cord com o som da origem e isto leva tempo, quer dizer, ninguém vai responder isto de imediato.
0:11:16.970
P Barbosa— Mas isto teve consequências depois, de crítica…
0:11:16.970
JP Magriço— Essas consequências não foram, não foram graves, não se pode dizer que tenham sido graves. É natural que o presidente tivesse manifestado o seu descontentamento e que a direção técnica tivesse que se obrigar a tentar inquirir e ver o que é que se passou, mas não houve justificação, aquilo estava a correr, por acaso estava lá na na emissão e estive atento, e, portanto, não houve ali nada que, não vi ninguém a fazer isso, nem era possível fazer isso, normalmente a tensão entre as pessoas ou profissionais é quando acontece um evento desta ordem normalmente a atenção é é sempre, não está lá…. Às vezes notava-se, quer dizer, se o indivíduo, está um filme no ar e falhou o som e o indivíduo não se apercebe que falhou o som, quer dizer, o filme também pode ter intervalos em que está surdo, não é. Agora quando é o presidente que está a falar ele está mais atento possivelmente. Qualquer falha desse tipo estará mais atento. Agora não se conseguiu detectar e a mesa foi revista com tudo o que estava associado na época e nunca se conseguiu… isto não é perseguição, é evidente, mas aconteceu e não foi por uma vez , foram por duas vezes
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P Barbosa— Com a mesma pessoa?
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JP Magriço— Com a mesma pessoa. O que ainda agravou mais e parece que foi só com ele que isto aconteceu. Portanto, isto, agora passado este tempo, não sei se isto ainda continua a possibilidade de estarmos sujeitos a um inquérito parlamentar, ou coisa do género, mas na altura foi assim uma coisa que aconteceu, foram dois incidentes, e só esses. Claro que como eu estava na chefia, e todo o departamento, não foi só eu, portanto, toda a hierarquia da área técnica foi questionada, pronto, e isso, e a solução que tivemos que apresentar foi vamos com, confiando em nós, e naquilo que tínhamos feito, vir cá alguém da fábrica para tentar nos dar uma explicação porque esses problemas podem acontecer. Mas podem acontecer e é verdade que aconteceu, portanto.

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