Maria Emília Santos – Parte 7 de 7

Maria Emília Brederode Rodrigues dos Santos entrevistada por Ricardo Nogueira e Maria Inácia Rezola – Registado por Claúdia Figueiredo em Lisboa 17 de Junho de 2017.

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— O que que considera ter, de toda essa experiência, o que que considera ter sido mais compensador, o que é que verdadeiramente a preenche?
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— Quer dizer, se eu quiser ser boazinha, eu dizia que, por exemplo, ver aqueles miúdos naquela casa aprenderem verdadeiramente uns com os outros graças à à mediação da Rua Sésamo certamente foi uma das coisas mais consoladoras. Mas depois a gente sabe, por exemplo, aquelas idas a Nova York em novembro também eram maravilhosas, não é. [risos] Em que íamos para a rua e seguíamos o cheirinho das especiarias até a loja da Opera debaixo do Lincoln Center e outras coisas assim. Pronto, passávamos um… isto porque nós íamos lá todos os anos para escolher a tal metade dos dos documentários e dos e dos desenhos animados e pra escolhermos os Marretas também, porque havia coisas que não cabiam nos nossos objetivos. Era era uma coisa muito gratificante, não é, isso mais do lado hedonista. Depois mais do lado da realização pessoal eu acho que foi perceber que de facto aquilo teve um impacto muito grande, que foi bom próximo para os miúdos e para os pais, acho que sim. Tenho alguma pena que, talvez que não tenha sido mais continuado, quer dizer, houve o Jardim da Celeste, certamente, mas aquela ideia de a investigação colaborar com a realização acho que se perdeu um bocado, a ideia também de que desde o princípio, que as coisas devem ser concebidas em conjunto desde o princípio, acho que também é difícil numa estrutura compartimentada como uma empresa de televisão, não é, essas duas características acho eu que acho que era útil que tivessem podido continuar e acho que se perderam um pouco.
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— O que é que gostaria que as pessoas recordassem do seu trabalho então?
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— Eu acho que, quer dizer, o que eu gosto em mim é é conseguir conciliar a intenção pedagógica com um lado um bocadinho mais criativo, pronto, isso não sei se é isso que as pessoas acham ou não, eu acho e acho que, pronto, que na Rua Sésamo que se conseguia, que no Jardim da Celeste também se conseguiu, e noutros. Acho que consegui sempre isso, acho que devia ser mais atenta e mais afirmativa na questão da imagem, não é, mas quer dizer que como não me sentia como uma profissional não tinha… deixava isso mais para os profissionais, não é, mas hoje penso que se calhar poderia, não digo na Rua Sésamo nem no Jardim da Celeste, nem nos Poemas Pintados, porque eu acho que aí correu bem, mas noutros, sei lá, nos Alhos e Bugalhos eu acho que eu devia ter sido mais afirmativa tanto na estrutura como no que aparecia depois na na imagem. E outros.
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— Na sua opinião não chegava a ter controlo sobre essa fase final do processo…
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— Ou se tivesse controlo também não não sentia…
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— Se tinha não o exercia, era isso?
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— Exatamente, exatamente. Por justamente achar que não era profissional e que os outros eram profissionais desse lado, não é.
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— Que características pessoais é que é que acha que a transportaram até este, ao longo deste percurso, grande e cheio de coisas tão boas?
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— Acho que é um bocado isto, uma pessoa ser aberta a experiência novas, é gostar de ser, de coisas diferentes e de coisas novas e ao mesmo tempo um vício da minha geração que é querer mudar o mundo para melhor. Quero contribuir para isso.
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— Uma última pergunta minha era se olhássemos agora, se olharmos para a televisão hoje, aqui e agora, o quê que falta? Nessa nessa faixa etária desse cuidado com com quem está a crescer?
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— Os tempos mudaram imenso, não é. Hoje os miúdos já têm muitas outras coisas para além da televisão, além do que já tenha também jardim-da-infância e escola que chegue, não é. Até quase que diria que estão muito tempo agarrados em em trabalho. Portanto, eu acho que hoje já mudaria mais a escola do que a televisão. Acho que é evidente que haver um programa que fizesse falar deles, não é, que concentrasse atenções, que suscitassem também os adultos estarem interessados em perceber, acho que faz sempre falta, não é, mas não tem o mesmo o mesmo a mesma necessidade, o mesmo significado, o mesmo contexto que teve a Rua Sésamo quando apareceu, os miúdos hoje já estão todos, 90{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, na, no jardim-de-infância, além da televisão há aquelas coisas todas que todos sabemos, os jogos todos, as redes sociais, aquilo tudo, portanto não… e acho que os infantis da RTP são bons, quer dizer, há sempre um cuidado que não sei se há em todos os canais, mas nos da RTP acho que há sempre uma preocupação com a qualidade, com… tanto estética como de valores e assim que é de sublinhar. Às vezes no conselho de opinião há uma queixa de que só se destinam, só se dedicam às crianças mais pequenas. É verdade. Mas foi uma opção deliberada e que já vem do meu tempo, porque, não sei bem, mas as audiências têm um poder imenso, não é, como os exames nas escolas, se uma coisa vai para exame só se pensa nessa coisa, não se pensa verdadeiramente. E aqui na televisão é um bocadinho isso, a questão das audiências pesa mais e então as crianças dos zero aos três, ou dos 3 aos 5, digamos, dos 2 ao 5, é assim mais o que seria de dizer, é só aquela faixa, não é, os mais velhos acham que aquilo é infantil demais, os mais novos ainda não vêem e ouvem só aquele dos bebês, e portanto não é uma faixa relativamente restrita e os canais comerciais têm tendência a não, é, a não a não ter muitos programas para essa faixa, têm tendência a ter programas para crianças mais velhas, portanto foi uma opção da RTP, dos infantis e juvenis, dar mais, dar prioridade a esta faixa que estaria menos, que se sabe ser muito importante, não é, em termos de aprendizagens através da televisão, e por outro lado que é mais abandonada pelos outros canais. Pronto, portanto essa é uma uma razão.
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— Excelente. Obrigada

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