José Manuel Inácio à conversa com Maria Margarida Colaço Mendes Gaspar e registada por Paulo Barbosa em 2-12-2017 no museu da Rádio voz de Alenquer no âmbito do projecto AMOPC.
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—A Margarida ontem dizia-me, assim epah você escreva um livro.
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—Então conte lá essa história de uma senhora que telefona para cá mas que estava com a vida feita num caco. O que é que aconteceu?
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—A senhora telefona para cá completamente desorientada, ia-se suicidar. E o locutor conseguiu fazer com que ela, portanto, foi dando palavras de alento, conseguiu com que ela modificasse o seu pensamento. Essa senhora ficou muito grata e passou a ser até uma amiga muito grande da rádio sempre que precisava, que a gente precisasse, qualquer coisa ela estava sempre ao nosso lado. Ela tinha família em Lisboa, a família dela vivia na, ali na Avenida das Descobertas, nas traseiras da Avenida das Descobertas, em Belém, e a Associação Portuguesa de Radiodifusão era lá também lá na Avenida das Descobertas. E eu depois mais tarde acabei por conhecer os filhos e nora e eles vieram-me agradecer porque, pela rádio ter, ter evitado que a senhora se suicidasse. De tal forma que o Rogério passou a ser um filho dela. E a senhora estava mesmo desorientada de todo porque ela tinha, ela morava na Lourinhã, e naquela noite ela tinha dito, e disse que se ia-se suicidar mesmo, disse ao Rogério, Senhor Rogério estou-me a despedir de si e vou-me suicidar e o Rogério O que é que está a dizer?, Vou-me suicidar. Ai a senhora não faça uma coisa dessas. E o Rogério sabia o nome dela, tratou-a pelo nome, começou a falar com ela e conseguiu convencer a que ela não fosse, que ela fizesse. Ela depois mais tarde contou aos filhos e, e os filhos vieram-nos agradecer porque ela sentia-se sozinha, os filhos estavam lá para Lisboa, tinha vários problemas e a rádio conseguiu salvar-lhe a vida. Mais uma coisa que a rádio tem importância na vida das pessoas.
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—Mas isso aconteceu em direto?
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—Em direto, em direto. Num dos tais programa, da noite? Da noite. O programa da noite foi sempre um programa de companhia. Foi sempre um programa teve, eu por costume, e até quase por obrigação, às vezes, não era por duvidar de quem cá estava a trabalhar, mas às vezes, às duas, três da manhã, passava por aqui. Passava por aqui, abria a porta, chegava cá a cima, estava aí um bocado com eles, com ele, que ele estava sozinho. Até para lhe fazer companhia. E ouvia o programa, às vezes também entrava e assistia, e as pessoas vocês não fazem uma ideia, como é que as pessoas se abrem, as pessoas abrem-se completamente com os seus problemas mesmo em direto. É uma coisa que, às vezes eu pensava assim Como é que esta pessoa está a dizer isto em direto? Mas era aquilo que as pessoas sentiam na altura e as pessoas precisavam de carinho, precisavam de, que alguém lhe desse a mão, que alguém lhe desse uma palavra, e o programa da noite tinha isso.