Ricardo Parreiras – Parte 9 de 11

Ricardo Parreiras entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 13/9/2017

HO RP p9

Ricardo Parreiras

parte 9 de 11

Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006

Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017


RP parte 9 de 11 aos 0 M 0 S – PARREIRAS: (…) a gente rodava Diamantina porque não é tão grande né, então a gente subia ladeira, descia ladeira e cantando… era… Djalma… que era o flautista… ô meu Deus…Juvenal Dias. Juvenal Dias tocava flauta e fazia parte do conjunto. Hoje é nome de sala, sala do Palácio das Artes. Ele tocava flauta muito bem, era exímio, um grande músico. Tinha Bento de Oliveira no violão de sete cordas, tinha Zinho no violão de seis cordas, tinha o Nico na clarineta, então a gente chamava ele de príncipe, ele tinha apelido de ‘príncipe’. Mas cê já pensou emendar príncipe, Nico?
RP parte 9 de 11 aos 0 M 53 S – GRAZIELA: (risos). Custei cinco segundos pra entender.
RP parte 9 de 11 aos 1 M 0 S – PARREIRAS: (risos) Ele sempre de príncipe ”ô Nico!” “ô Príncipe!”, cê não podia emendar “ô Príncipe Nico!”, [a cacofonia criada pela emenda das palavras ao serem ditas cria a palavra penico] mas era sempre… isso aí você conta se você quiser.
RP parte 9 de 11 aos 1 M 13 S – GRAZIELA: Mas, voltando, então a gente falou rapidamente sobre o golpe militar de sessenta e quatro, o processo de redemocratização, movimento…. Teve cobertura pelas Diretas Já do movimento pelas Diretas Já na Rádio Inconfidência? O senhor lembra disso?
RP parte 9 de 11 aos 1 M 32 S – PARREIRAS: Não. A rádio não participou… Às vezes transmitia alguma coisa, mas eu… Porque ela… a rádio é a rádio do governo, não podia… sair pra rua gritando “Diretas Já”. Eu ia, particularmente eu…. porque eu tava doido pra vias as Diretas. E veio né?
RP parte 9 de 11 aos 1 M 57 S – GRAZIELA: E no processo de afastamento da Dilma, então, assim… como que foi a participação da rádio? O senhor participou?
RP parte 9 de 11 aos 2 M 4 S – PARREIRAS: Não, na rádio a gente dava notícia, né? A gente noticiava o que estava acontecendo, um show, tal lugar assim, favor das Diretas…
RP parte 9 de 11 aos 2 M 15 S – GRAZIELA: E mais recentemente no caso da Dilma…
RP parte 9 de 11 aos 2 M 18 S – PARREIRAS: Cê dava como fato jornalístico, não como participante, como se estivesse participando daquilo. Não estava vinculado à aquilo. Entendeu?
RP parte 9 de 11 aos 2 M 27 S – GRAZIELA: É, eu tava pensando em tudo que aconteceu no país no ano passado… porque eu ouvi alguns programas na rádio um pouco mais críticos em relação.
RP parte 9 de 11 aos 2 M 43 S – PARREIRAS: É, hoje as coisas mudaram, está mais liberal. Também, a rádio que não divulgar o que tá acontecendo com o Brasil hoje vai ficar pra trás. Ela tem que falar que o seu Lula vai depor… quarta-feira, às tantas horas lá na Policia Federal, que o seu açougueiro lá, como é que ele chama… o… JBS… açougueiro, começou como açougueiro mesmo. Mas ele fez tanta coisa errada que virou essa grande potência mundial, um açougueiro que começou com… o Zezé Perrella começou como açougueiro também. Zezé Perella comprou um frigorífico que estava falido… O nome dele não é Perrella, o nome dele é outro, mas ele comprou um frigorífico de nome Perrella e ele manteve o nome Perrella e acabou adotando
RP parte 9 de 11 aos 3 M 46 S – Perrella no nome e todo mundo se você falar o nome dele, o nome dele é Zé Perrella e virou deputado… ou senador? Senador. Foi presidente do Cruzeiro, foi bom presidente do Cruzeiro naquela época. Eu sou cruzeirense, ah… eu sou cruzeirense. Ah! Cruzeiro… eu gosto e eu gosto muito do América também, o Gilson é Cruzeiro também? Parabéns! Bom gosto. Um time bonito, né? A camisa mais linda do Brasil! Azul cor do céu, cor do manto de Nossa Senhora, com as estrelas, aquelas estrelas tão no brasão da república, então… a camisa do Cruzeiro é a mais bonita. Se você analisar, é o uniforme mais bonito. Agora, o hino é muito ruim, né? Cá pra nós… e quem compôs foi um grande amigo meu, cara… nossa…
RP parte 9 de 11 aos 4 M 59 S – GRAZI: E como que ele chama?
RP parte 9 de 11 aos 5 M 2 S – PARREIRAS: (canta) “Nós somos campeões…” não, esse é do Atlético… mas esse também…vou te contar… esse (canta) “Nós somos campeões do gelo…” Sabe o que aconteceu? O Atlético conseguiu fazer um jogo na Alemanha, então… ele não tinha um time forte, então ele arrumou um goleiro do Siderúrgica, se não me engano, arrumou um meio de campo que era do time lá do… então ele fez um esquetezinho e foi jogar nesse time lá, contra esse time de uma fábrica de cerveja. Eles foram jogar contra um time de uma fábrica de cerveja, ganhou, e voltou falando assim “nós somos campeões do gelo…” Que campeões do gelo o que! Tava fazendo um frio danado, mas… era verão, verão… não faz tanto frio. Pelo contrário, verão na Europa é um calorão bravo… eu sei porque eu tive lá.
RP parte 9 de 11 aos 6 M 11 S – GRAZIELA: O pessoal de Portugal também sabe disso. Bom, então assim, vamos fechando… Eu perguntei, mas eu não lembro se o senhor respondeu, se o senhor sente que o trabalho do senhor é conhecido e reconhecido por colegas, por chefias, pela família, pelos amigos.
RP parte 9 de 11 aos 6 M 31 S – PARREIRAS: Graças a Deus. É reconhecido sim.
RP parte 9 de 11 aos 6 M 35 S – GRAZIELA: Como locutor? Seja alguma função que era mais reconhecida…
RP parte 9 de 11 aos 6 M 40 S – PARREIRAS: Ah sim… Ah, mas um momento, dizendo, no momento atual por exemplo, você chegou e você encontrou o chefe do esporte brincando comigo ali… O cara tem maior carinho comigo, é meu amigo. E toda… eu chego lá no departamento de jornalismo, todo mundo “oh Parreiras, Parreiras…” todo mundo… “ô Parreiras, Parreiras, Parreiras”. E outros falam assim “vem cá… adivinha quantos anos tem o Parreiras” “ah, ele deve ter uns cinquentas e poucos anos” “ah, é mais ou menos isso! Eu sinto que é só isso, mas eu tenho muito mais que isso, muito mais
RP parte 9 de 11 aos 7 M 13 S – que isso”. Eu me sinto bem, me dou bem com todo mundo, todos me gostam… eu chego aqui, já de cara eu estaciono meu carro e já encontro com os motoristas da rádio, e da tv Itacolomi… ô Parreiras, ô Parreiras… Eu chego na minha sala “ô Parreiras, ô Parreiras… bom dia, bom dia…” Eu chego, a menina do café, a faxineira… “ô seu Parreiras!”. Então graças a Deus eu sou uma pessoa muito querida! Eu sinto que sou uma pessoa muito querida e minha família não precisa nem dizer… eu sou o bom geral… o patriarca… eles me adoram, né…
RP parte 9 de 11 aos 7 M 54 S – GRAZIELA: A sua esposa é viva?
RP parte 9 de 11 aos 7 M 57 S – PARREIRAS: Não, infelizmente subiu. E eu não quis arrumar outra porque não ia nunca encontrar outra igual.
RP parte 9 de 11 aos 8 M 2 S – GRAZIELA: Ai, que lindo!
RP parte 9 de 11 aos 8 M 4 S – PARREIRAS: Eu tenho muita saudade dela, foi uma grande companheira.
RP parte 9 de 11 aos 8 M 7 S – GRAZIELA: E ela gostava, mesmo quando o senhor ficava até tarde na rádio?
RP parte 9 de 11 aos 8 M 11 S – PARREIRAS: Gostava e tinha orgulho! As vezes ela ia… ela era muito católica, muito religiosa…
RP parte 9 de 11 aos 8 M 19 S – GRAZIELA: Como que ela chamava?
RP parte 9 de 11 aos 8 M 20 S – PARREIRAS: Inês. Maria Inês Teixeira Neves. Mas ela… é da parte da mãe, ela era Grimaldi. Família Grimaldi, que veio de Morigerati, na Itália, e veio para o Brasil, e chegando em Belo Horizonte avó da minha mulher era considerada a rainha Felicia, Felicia Grimaldi, que veio da Itália… Na época que Belo Horizonte ainda era Curral Del Rei, e ela ajudou a construir Belo Horizonte, porque ela trouxe parentes, famílias tradicionais em Belo Horizonte, essas famílias… A grande maioria veio através da Felicia, chamavam ela de rainha Felicia. Então ela era muito querida. A minha mulher era descendente dela, e…
RP parte 9 de 11 aos 9 M 16 S – GRAZIELA: Ela ouvia o senhor no rádio?
RP parte 9 de 11 aos 9 M 18 S – PARREIRAS: Ela ouvia no rádio, pedia… eu tava falando que ela era muito religiosa… havia um terço todo mês lá em casa, ela telefonava pra mim “Dá pra você chegar um pouquinho mais cedo hoje? Tem terço aqui, eu queria que você cantasse pra minhas amigas…” Ela tinha orgulho. Aí eu chegava mais cedo… “Agora o Parreiras vai cantar uma canção pra nós’. Aí eu cantava uma canção, eles me aplaudiam… Então ela ficava feliz da vida, emocionada com o marido. Então a gente vivia muito bem, ela era muito brincalhona, às vezes eu tava sentado assim, ela passava, atrapalhava meu cabelo, às vezes eu tava com a perna cruzada assim, ela puxava minha perna. Então nós tivemos uma vida muito ” boa. Então eu achei que se eu… eu sentia assim, se eu casar com uma outra, eu tô traindo ela. Não é… claro que não era, mas eu não quis. Claro que eu arranjei algumas namoradas, “e tal… o rádio facilita as coisas, né…a comunicação, mas casar… eu namorei uma senhora aí, que ficamos alguns tempos juntos, assim… namorando, de passear junto, à Caldas ” “Novas, sei lá, fazer umas viagens, e ela ia ao meu sítio, mas eu nunca entrei na casa dela, ela nunca entrou na minha. Nós ficamos alguns anos juntos, nunca entrei na casa dela e ela nunca entrou na minha casa e a gente namorava. Porque a gente respeitava. ” “Era o respeito que a gente tinha pela finada. ” a menina. Tem duas que mora em Brasilia, netas,
RP parte 9 de 11 aos 11 M 30 S – né… tem uma que mora no México, tem outro que mora em Boston… então, os que moram aqui, meus filhos que moram Belo Horizonte, eles tão todo domingo lá fazer lanche lá em casa. Porque lá virou a casa matriz, por causa do que? Por causa da dona Inêsinha. Que era a mãe, então eles vão lá pra continuar, a mãe morreu, mas ficou o pai, então eles
RP parte 9 de 11 aos 11 M 9 S – ” GRAZIELA: E o filhos do senhor, os netos… eles te ouvem no rádio? ”
RP parte 9 de 11 aos 11 M 9 S – ” PARREIRAS: Ouvem! E praticamente todos os domingos eles estão lá em casa. Os que moram em Belo Horizonte. Porque eu tenho neto… eu tenho duas netas e uma bisneta em Brasilia. A bisnetinha… ô biso..””, uma gracinha” vão todo domingo, eles vão lá em casa, faz um café, toma… minha filha que mora comigo faz um pão de queijo delicioso, faz uma broa de milho também… Então eles vão lá comer um pão de queijo, comer uma broa de milho, tomar um cafezinho e bater um papo, todo… e às vezes fazer um sacolão, porque eu trago do sítio ovos…a última vez agora, semana atrasada e trouxe quinze dúzias de ovos. Eu tenho que distribuir com eles, eles levam pra casa, o Paulinho leva, a Márcia leva…
RP parte 9 de 11 aos 12 M 43 S – GRAZIELA: Tô achando que a gente marcou a entrevista no lugar errado. Tinha que ter sido na casa do senhor…
RP parte 9 de 11 aos 12 M 52 S – PARREIRAS: (risos) Mas é muito legal, a gente trás muita verdura também… Quando chega lá que a couve não tá legal, a gente jogo pras galinhas. As galinhas tão comendo alface, tão comendo couve, que eu planto lá no meu sítio. A gente trás um bocado e joga o resto pras galinhas. VOZ: Alguém seguiu sua carreira? Alguém da família?
RP parte 9 de 11 aos 13 M 14 S – PARREIRAS: Gozado… ninguém seguiu a minha carreira. Ou seja, de rádio não. Ah não… perdão… o meu neto Guilherme fez estágio com o Elias Santos, com o Pacífico, lá na rádio da universidade. Ele fez um estágio lá… o Guilherme.
RP parte 9 de 11 aos 13 M 37 S – GRAZIELA: Ah, eu conheci, eu conheci ele.
RP parte 9 de 11 aos 13 M 39 S – PARREIRAS: Conheceu? Meu neto, Guilherme. Muito bonzinho, muito educado, muito gentil, né? Mas ele não seguiu. Ele formou em Comunicação, mas não gostou. O pai também não tava gostando. Ele foi, fez Engenharia Química, e formou em Engenharia Química. Então ele é formado em Comunicação e em Engenharia Química, o Guilherme que você conhece. E o outro é formado em Engenharia e está morando em Boston, trabalha em uma empresa de Engenharia e estuda também, estudava… ele continua estudando porque tem que estudar, porque só trabalhando, daqui a pouco o seu Trump lá… o mister Trump vai mandar ele embora. Ele, como estudante, não pode.
RP parte 9 de 11 aos 14 M 31 S – GRAZIELAS: Ô Parreiras, e que que você gostaria tanto os seus filhos, os seus netos, mas também os ouvintes, as pessoas em geral recordassem do seu trabalho?
RP parte 9 de 11 aos 14 M 46 S – PARREIRAS: Ah, eles gostam muito que eu canto, todas reuniões eles podem pra mim “ô vô, canta aquela…” aí eu canto… “mas eu canto música do passado, vocês não…” “não, mas é tão bonito”… Eu tenho uma neta, que eu ensinei a ela a gostar de Cartola, de Nelson Cavaquinho… a Fernanda, a Fernanda adora Noel Rosa, ela tem no aparelho dela músicas do Cartola, ela sabe porque que o Cartola compôs O Mundo é um Moinho. Eu contei pra ela a história, que quando a filha falou eu vou sair de casa, o Cartola “minha filha, mas você vai sair de casa? Você não conhece o mundo, você não sabe onde você vai pisar… o mundo é um moinho…” e ele compôs essa música. Triste com a saída da filha de casa. Ensinei ela ouvir Cartola, Nelson Cavaquinho que é um cara que nunca cursou um banco de
RP parte 9 de 11 aos 15 M 54 S – escola, vivia nos bares e que compunha no guardanapo sambas maravilhosos como “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor…” Oh que coisa linda… nem Carlos Drummond de Andrade escreveu uma coisa dessa. Você pega o Cartola “as rosas não não falam, simplesmente exalam o perfume que roubam de ti”, olha que coisa bonita… e ela, a Fernanda adora isso. É claro que ela gosta de música de vanguarda também, mas ela tá curtindo muito Cartola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa… porque Noel Rosa era o, pô.. Noel Rosa nos anos 30 ele compôs músicas, as que falam assim “a sirene da chaminé de barro vem ferir os meus ouvidos” e rima “chaminé de barro” com a “buzina do meu carro”, ele era um gênio.
RP parte 9 de 11 aos 17 M 4 S – GRAZIELA: Mas pensando, hipoteticamente, que os…
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