Ricardo Parreirasparte 8 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 8 de 11 aos 0 M 0 S – GRAZIELA: Bom, essas funções todas, você sente que tem um reconhecimento, alguma é mais reconhecida? Pelos amigos, pelos familiares.. RP parte 8 de 11 aos 0 M 12 S – ANDRÉ: Com qual o senhor se identifica mais também. RP parte 8 de 11 aos 0 M 18 S – PARREIRAS:Ah, com o rádio né? O rádio é um negócio que todo mundo fala “rádio é uma cachaça” e é mesmo. Você vicia na cachaça e é difícil largar. Quem bebe, eu não bebo. Mas, você a trabalhar em rádio, você vicia no rádio, você começa a gostar do rádio. Porque o rádio… vou fazer o comercial do rádio… o rádio é sem dúvidas o maior veículo de comunicação inventado pelo homem, com a vantagem: não tem imagem. Eu tava falando em off que o rádio, eu gosto do rádio porque chega primeiro, o rádio é mais rápido, o rádio é esperto. O rádio com o advento da televisão, ele se adaptou, inclusive graças RP parte 8 de 11 aos 1 M 14 S – ao japonês que criou o transistor, e o rádio passou a ser um… do tamanho de um relógio, de uma caixa de fósforo e tal. Você vai para o estádio pra assistir o futebol, você leva o seu radiozinho porque você fica sabendo que vai haver uma substituição no time, então você tem o rádio como companheiro. E outra coisa que eu devo dizer… o rádio é mais rápido, rápido por que? Porque você tá passando na avenida Afonso Pena e você vê uma fumacinha, você para assim, tá começando um incêndio naquela casa, aí começa a chegar RP parte 8 de 11 aos 1 M 54 S – gente e tal, aí pega o seu celular, liga pra central da rádio e fala assim “me põe no ar aí porque…” isso há amizade, o companheirismo, o profissionalismo… “estou passando, tá começando a pegar fogo num prédio aqui na avenida Afonso Pena, me põe no ar, que eu vou fazer a reportagem daqui com meu celular.” E ele pegava o celular e falava “estou aqui a frente do Edifício, tá pegando fogo aqui … os bombeiros já estão chegando…” e você dava a notícia, você dava a informação do que tava acontecendo. A televisão ficava sabendo também, porque ligava pra televisão… oh, tá pegando fogo em tal lugar… e o RP parte 8 de 11 aos 2 M 42 S – que que acontecia? A televisão ia chegar atrasado e continua, chega atrasado, porque até pegar aquela parafernalha toda, a câmera, o rebatedor, outro aparelho, e não sei o que, medidor de distância, de iluminação, você já botou a notícia no ar e o fogo tá pegando na casa… “atenção, vambora, chama o motorista” o motorista liga o carro… cadê a repórter?, a repórter tá retocando a maquiagem, até ela chegar lá no local do sinistro, já se foi a casa, só restou a fumaça. Então o rádio chega primeiro. RP parte 8 de 11 aos 3 M 34 S – GRAZIELA: É, isso é verdade. Ô Parreiras, às vezes eu vejo… eu já vim aqui às vezes no programa do Elias e tal, aí eu vejo o Paulo Proença gravando imagem e aí coloca no Facebook, e coloca no… sei lá onde… como que o senhor acha que essas coisas mudam o rádio? O senhor acha que isso é fazer rádio? Porque aí, o rádio tem imagem, né? RP parte 8 de 11 aos 3 M 56 S – PARREIRAS: É a evolução do rádio, por exemplo… o rádio também agora vai acabar AM, mas ele coloca essas imagens que ele faz com entrevistados e algum evento que tá acontecendo… tem o Paulo Proença, tem a Maíra… Paulo Proença, Maíra… é, tinha um outro, o rapaz… filho do Chico Moraes, foi pra Rede Minas… tá aqui na Rede Minas. RP parte 8 de 11 aos 4 M 33 S – GRAZIELA: Pedro Moraes? RP parte 8 de 11 aos 4 M 34 S – PARREIRAS: Não é o Pedro não… então ele fazia também esses vídeos aí. Então a Maíra faz esses vídeos e coloca no Facebook… RP parte 8 de 11 aos 4 M 45 S – GRAZIELA: Mas aí muda o jeito do senhor fazer os programas? RP parte 8 de 11 aos 4 M 50 S – PARREIRAS: Não, não, não. Ela tá botando lá o rádio, ela tá botando o que tá acontecendo no rádio. E o cara vai assistir aquilo no seu computador. RP parte 8 de 11 aos 5 M 2 S – GRAZIELA: E você passou pelo fim do AM que vai acontecer… a Inconfidência tá em processo de migração já pro AM*(FM), eu conversei com o Elias… Que que você acha que vai mudar? Porque você tem vários ouvintes que ouvem pelo rádio mesmo, mesmo longe. Mas o AM tem um alcance maior. RP parte 8 de 11 aos 5 M 22 S – PARREIRAS: Eu acho que vai dar, no início vai dar… toda mudança dá um certo… dificuldade. Vai haver uma dificuldade, porque vai acabar a AM. Então vós vamos ter aqui a AM, que eu não sei como é que vai chamar. Por exemplo, AM Brasileiríssima, que nós temos aqui, tá no ar e só toca música brasileira, ela é brasileiríssima mesmo, vem a AM com a programação que nós temos aqui, o meu Clube da Saudade vai continuar. Talvez seja Inconfidência Popularíssima talvez… quem sabe? Eu vou até sugerir esse nome. Inconfidência Popularíssima, Inconfidência Brasileiríssima. Então essa Popularíssima, ela vai através da FM, então vai ter um som mais bonito, um som estéreo… vai chegar aquela voz que eu tenho, não vai RP parte 8 de 11 aos 6 M 29 S – melhorar minha voz, vai chegar lá no ouvido. Só que o problema: ela tem um raio de ação muito pequena. Ela vai no máximo uns cem quilômetros, cem quilômetros e pouco, daí pra frente você não vai pegar mais. Então o pessoal do interior, lá dos grotões, da cidade longe, do interior do Espirito Santo, interior da Bahia, interior de São Paulo, RP parte 8 de 11 aos 6 M 55 S – você vai ter que adaptar a ter na sua casa um computador, um laptop… ter um aparelho de computação pra você assistir o programa. Então nós já estamos começando a falar oh, vem aí tal…, mas ainda não tá maciço ainda, mas nós temos que massificar mesmo e ensinar o povo, a comprar o computador, ter computador e habituar, porque rádio é hábito, habituar a ligar o seu computador todo dia pra ouvir o Clube da Saudade com Ricardo Parreiras tocando músicas do passado e lendo poesia. RP parte 8 de 11 aos 7 M 39 S – GRAZIELA: E você acha que você vai muda alguma coisa no estilo de fazer o programa? RP parte 8 de 11 aos 7 M 45 S – PARREIRAS: Eu acho que não há necessidade não, né? Eu acho que não há necessidade, vai ouvir rádio através do computador… com qualidade de som, com melhor qualidade de som. RP parte 8 de 11 aos 8 M 0 S – GRAZIELA: Voltando ao exercício da profissão… mas eu queria falar no plural porque você fez coisas demais… eles perguntam nesse roteiro de perguntas se você foi sindicalizado… RP parte 8 de 11 aos 8 M 14 S – PARREIRAS: Olha, quando eu entrei pro rádio, não existia nada disso. Eu me lembro que a primeira associação de radialistas de Belo Horizonte quem criou isso foi o radialista Waldomiro Lobo. Foi um grande radialista naquela época, e ele acabou virando político… ele era político no rádio, virou político. Hoje tem associação Waldomiro Lobo, ele era muito querido, conhecido, todo mundo conhecia o Waldomiro Bolo e ele criou uma associação. Alugou uma casa na rua dos Carijós, ali no Centro e ali funcionava a associação dos RP parte 8 de 11 aos 9 M 7 S – radialistas de Minas Gerais. E a gente ia pra lá, batia papo, tinha uma cervejinha lá, tinha uma espécie de um barzinho… tomava uma cerveja, batia um papo, ele fazia alguma palestra, a gente batia papo… alguém… às vezes tinha um cantor de fora e a gente levava pra lá, dava uma cajazinha. Então era uma associação. E essa associação acabou virando um sindicato que está até hoje, né, o sindicato. Então no início eu me sindicalizei e continuo… às vezes vem aqui pessoal do sindicato, eu atendo, RP parte 8 de 11 aos 9 M 40 S – mas hoje eu sinceramente eu não tô com muita necessidade de sindicato não, eu mesmo faço meu sindicato aqui, mas eu me dou muito bem com todos os sindicalistas, todos aqueles que passaram… eu tive um locutor aqui que ele tava sendo mandado embora e eu pedir a direção pra não mandar ele embora que eu ia ensinar ele a falar. E eu dei muita aula pra ele e ele tornou-se um bom locutor, foi eleito deputado estadual aqui em Minas Gerais e foi também presidente do sindicato dos radialistas: João Barbosa. Está vivo até hoje. RP parte 8 de 11 aos 10 M 20 S – GRAZIELA: E você tem… você guarda a carteirinha… RP parte 8 de 11 aos 10 M 22 S – PARREIRAS: Eu fui sindicalizado, na época do João Barbosa eu fui sindicalizado, que havia alguns benefícios, né? Então eu fui sindicalizado, mas hoje não… hoje eu abandonei…Vem gente aqui, pede licença pra… aí eu dou, bate um papo com o sindical e “vamos unir não sei oq…” Porque sindicato tem trânsito livre em qualquer… É a rádio do governo mas o sindicato tem trânsito livre aqui dentro, não tem problema. RP parte 8 de 11 aos 10 M 52 S – GRAZIELA: E pensando nessa trajetória sua… a gente teve alguns acontecimentos políticos, alguns o senhor disse que não fica a vontade de comentar, né… assim, por exemplo, a ditadura militar, o golpe de 64… RP parte 8 de 11 aos 11 M 8 S – PARREIRAS: Você me falou e eu começo a arrepiar.. quando você fala “militar”… RP parte 8 de 11 aos 11 M 11 S – GRAZIELA: Por que? RP parte 8 de 11 aos 11 M 13 S – PARREIRAS: Ah, porque foi um negócio assim que eu não entendia bem por que que tava acontecendo, porque eu era tão voltando para a coisa, para artista, para a arte, para a música, para o teatro… depois eu vejo… militar… tem nada contra o militar, mas me assusta… RP parte 8 de 11 aos 11 M 36 S – GRAZIELA: Eles vieram parar na rádio? RP parte 8 de 11 aos 11 M 37 S – PARREIRAS: Naquela época, chega um dia na rádio… eu dou de cara com dois, três, sei lá… com militar fardado com uma espingarda, sei lá como se chama aquilo.. fuzil! Fuzil no ombro… E eu “o que é que tá acontecendo aqui?”. Eu pego o elevador, quando eu chego lá no meu andar, no terceiro andar, tem militar, soldado pra lá, os caras com divisa, sargento, tal, tenente e aquilo me assustou… “que que tá acontecendo?” “Cala a boca, isso é a censura… isso aí é militar… eles tão fiscalizando… aqui é um veículo de comunicação de massa, então eles estão fiscalizando, nós temos que…”. Então foi uma época que nós passamos aperto e nós tínhamos que levar tudo que a gente escrevia pra… RP parte 8 de 11 aos 12 M 35 S – já expliquei no início do nosso papo, eu falei sobre levar texto para ser censurado, levava lá e eles tinham que olhar… “aprovado” ou então “censurado”. E foi uma época difícil, essa época atrapalhou um pouco a produção… você tá escrevendo e pensando “será que vai passar? Eu não posso…” Pra fazer humorismo… RP parte 8 de 11 aos 13 M 12 S – GRAZIELA: Tinha palavra proibida? RP parte 8 de 11 aos 13 M 13 S – PARREIRAS: Ah, então sofreu demais… a política é um bom prato pra fazer humor, né? Os grandes humoristas… Chico Anísio usava tanto isso, né? Quem mais? Jô Soares, né? O Gordo… falava, sabe? Eu me lembro, eu fui gravar um comercial com o Jô Soares uma época. numa época que ele fazia… RP parte 8 de 11 aos 13 M 37 S – ANDRÉ: Viva o Gordo RP parte 8 de 11 aos 13 M 38 S – PARREIRAS: Viva o Gordo! RP parte 8 de 11 aos 13 M 40 S – GRAZIELA: Nem era na Globo ainda. RP parte 8 de 11 aos 13 M 42 S – PARREIRAS: Eu fui ao Rio, ele saiu de São Paulo, encontramos no Rio, nós fomos gravar ali onde era o Cassino da Urca, aí tinha um estúdio ali e tal, funcionou também a rádio Tupi ali e eu tinha que fazer um comercial com o Jô Soares. Eu gravei o comercial com o Jô Soares e ele falou assim “cadê o contrato pra assinar?” aí vem clausulas “esse comercial será veiculado nas emissoras tais tais tais tais e eu tinha paralelamente um fotógrafo comigo para fazer a foto porque a iluminação para filmagem é uma e iluminação para fotografia é outra. Concorda, meu querido?’ Então acabamos de gravar o comercial e falei assim “agora nós vamos fazer a fotografia para o outdoor”, por que que não aproveitou? “que a luz é outra meu querido… pergunta o técnico aqui… é outro tipo de iluminação pra RP parte 8 de 11 aos 14 M 50 S – fazer o cromo, pra fazer…” Então ele ficou bravo comigo, só de demorar mais um pouco… ele era muito vedete demais, muito chato, continua até hoje. Ainda bem que acabou o programa dele. Muito chato. (risos) Quando ele viu lá que o outdoor ia ser veiculado em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Brasília, ele falou assim “Brasília não… eu conversei com aquele bigode…” o bigode era o Simão Lacerda, “eu conversei com aquele bigode ele não me falou que… Brasília eu não permito não”. Porque na época ele fazia um tipo que era o Delfim Neto, que era ministro da economia ou da fazenda, um negócio assim. RP parte 8 de 11 aos 15 M 51 S – E ele imitava o Delfim Neto e fazia, ficava igual e fazendo gozação, gozava o Delfim Neto e Delfim Neto morava onde? Brasília. É o homem de Brasília, né? O reduto dos políticos. “Em Brasília eu não autorizo não”, aí eu peguei o telefone… pedi licença, emprestou o telefone, eu liguei pra aqui, graças a Deus eu encontrei com Simão Lacerda, ele tava saindo pra almoçar. “Chama o Simão”, ele tá saindo pra almoçar… “chama ele depressa…” ele veio “Simão, o gordo tá criando caso aqui, ele disse que não combinou com você que… ele não permite colocar o outdoor em Brasília não…” “Parreiras, RP parte 8 de 11 aos 16 M 38 S – nessa altura faz o que esse gordo quiser, esse cara é um mala, é um chato…” Então… aí eu tive que riscar aquilo… “a clausula tal do presente contrato dica sem efeito, o comercial não será veiculado em Brasília.” tive que escrever pra ele assinar e eu paguei ele, cento e cinquenta mil réis, naquela época era não sei quanto. RP parte 8 de 11 aos 17 M 3 S – GRAZIELA: E acontecia o contrário? Por exemplo, os militares na rádio proibiam alguma voz de ir ao ar? RP parte 8 de 11 aos 17 M 9 S – PARREIRAS: Não me lembro. No ar não… não me lembro no ar não. Porque todo mundo tinha muito cuidado né, por ser emissora do governo, mais ainda. Você tinha que andar no caminho certo. Uma rádio particular ainda pode criar um casinho, mas a rádio do governo vai prejudicar a pessoa muito mais importante, que é o governador, não é isso? RP parte 8 de 11 aos 17 M 37 S – GRAZIELA: E eu fico pensando que uma das figuras importantes do movimento de redemocratização foi Tancredo Neves que era mineiro. RP parte 8 de 11 aos 17 M 44 S – PARREIRAS: Ah, Tancredo Neves! RP parte 8 de 11 aos 17 M 47 S – GRAZIELA: E qual foi o papel da rádio? e o que que mudou na rotina da rádio… RP parte 8 de 11 aos 17 M 53 S – PARREIRAS: Ah, graças a Deus aí, os militares… cai a ditadura e aí volta tudo ao normal, o Tancredo Neves era um cara que gostava muito da rádio… Outro que gostava muito da rádio, não sei se foi antes ou depois…. era o… do Banco Nacional lá, o… foi governador de estado de Minas Gerais… RP parte 8 de 11 aos 18 M 25 S – GRAZIELA: Magalhães Pinto? RP parte 8 de 11 aos 18 M 27 S – PARREIRAS: Magalhães Pinto! Magalhães Pinto adorava a Rádio Inconfidência. JK era… o xodó dele era a Rádio Inconfidência, a gente saía com o JK aqui… a gente tinha uma turma… uns dois, três cantores, mais o regional, nós íamos lá… mas a gente fazia isso… A gente ia à Diamantina, terra dele, pra fazer serenata. E é o cenário mais apropriado para uma serenata, é exatamente Diamantina, com aqueles sobrados… porque a serenata tem um ritual a serenata… você canta aqui pra mulher que tá lá no terceiro andar, ou a família que tá lá no terceiro andar… então você tá cantando aqui em RP parte 8 de 11 aos 19 M 9 S – baixo e… ouve a luz piscar três vezes, dando sinal que tá ouvindo e tá gostando… aí você cantava… (canta) “ô Deusa da natura, ouve a minha prece, protetora dos amantes por que me esquece?” Você cantava aquilo bonito né… aí abria a janela, um pedacinho assim, você via a silhueta de uma mulher, a gente ficava emocionado. E às vezes ela descia uma garrafazinha assim… era uma pinguinha ou então um wiskyzinho… e tinha outros que deixavam na soleira… sabe o que que é soleira da janela? Tinha a soleira da janela, cê encontrava uma garrafa de café… |