José Pote Magriço – Parte 9 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Claúdia Figueiredo Lisboa 11 / Julho/ 2017.

A introdução da gravação em Betacam * LMS library Management System * Como funcionava a sala de emissão antes da LMS * O plano B na sala de edição.

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P Barbosa— Em 1983 aparecem os Betacam gravadores, pelos vistos a trabalhar na RTP. Que alterações é que isso veio a ter em termos de gravações, principalmente fora do estúdio? E pergunta: se eram Betacams já agarrados às câmeras ou se ainda eram gravadores externos?
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JP Magriço— Na primeira fase da utilização do Betacam havia, Betacam de mesa, portanto, o Betacam que permitia a edição, portanto, gravava nos formatos mistos, porque o Betacam digital só aparece mais tarde é ainda um formato de compressão do sinal analógico numa determinada banda de frequências, e os dois sinais de côr também associados à estrutura. Portanto, havia já os Ds, o formato digital digital, com bandas extremamente elevadas, com imagem segmentada por tambores que davam múltiplas cabeças,
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P Barbosa— Isso era anterior aos Betacams?
JP Magriço— Sim. Portanto, e havia os Betacams que durante um determinado período passaram a utilizar um sistema de conversão com sinais comprimidos, analogicamente, e depois passaram a digital foi a fase mais evoluída desse sistema. Agora, para os gravadores, os gravadores Betacam eram utilizadas e incorporadas na própria câmara, ou seja, grande parte era um cassete, cassete de formato Betacam puro não é, e que estavam incluídas no próprio gravador, portanto, nessa fase os gravadores de e as câmeras passaram a ser mais pesados temporariamente. Até à redução e à utilização de cassetes mais pequenas. Mas foram utilizados durante muito tempo e escola tem aí equipamentos que são elucidativos do tipo de utilização que se fez com os gravadores incorporados. Encastrados não, incorporados na própria câmara. Portanto, a RTP passou por essa fase, adquiriu uma série de unidades desse tipo, vinte e não sei quantos de uma vez, que eu me lembro, que eram uns gravadores que tinham esse processo de registo e portanto era utilizado para… tinha saídas PAL, portanto, normais e tinham as saídas associadas à produção, que era com cassete. Eram lidos depois nos da edição, ou para arquivo, ou qualquer outra informação que se pretendesse depois, mas era sempre o suporte fundamental, era um suporte em fita magnética e que permitia todo o processamento do sinal na edição para, para ser utilizado. Também se utilizou um sistema dentro da Betacam, que foi o LMS, Library Management System. Que foi um sistema desenvolvido pela Sony, e que tinha empilhado 4 ou 5 máquinas sobrepostas, no espaço de rack, portanto, porque as dimensões das máquinas, que eram leitoras e também poderiam ser gravadoras, no caso se colocar lá uma gravadora, associada a uma matriz do sinal da entrada, e o armário, que tinha no seu interior um espaço onde circulava um robô. É, era uma caixa, com múltiplos sensores e com possibilidade de, ir aos compartimentos das cassetes onde se encontravam armazenadas, quer na parte traseira, como na parte frontal, à volta de, de dimensão que a RTP tinha, à volta de 560 cassetes, 64 ou o que era, e que permitiam fazer todo o processamento da emissão. É, quer dizer que, é, uma vez feita uma listagem da sequência, seja de spots publicitários ou de programas, é, a estação poderia continuar até os intervalos em que havia diretos. Portanto, os estúdios da informação entravam em determinada hora, portanto, havia uma listagem que era elaborada com antecedência e eram mercados spots e os tempos associados a cada uma das cassetes, ou cada uma… e que comportava uma grande quantidade de Betacam cassetes Betacam. Esse robô tinha a função de aceitar o conteúdo de cassete metido num compartimento, era uma entrada, um input, ela analisava o barcode que estava associado à identificação daquele segmento ou aquele programa, e de acordo com a leitura ele ia armazenar. Portanto, o armazenamento era interno, era como um disco, funcionava como um grande disco, que sabe onde ele tem compartimentos disponíveis para inserir conteúdos. E portanto fazia este movimento de aceitação do conteúdo das cassetes, colocava-as na posição e guardava-as em memória. e guardava essa informação referente ou segmentada, desse conteúdo que estava armazenado. E recebiam uma grande quantidade de cassetes, portanto, ia até as 500 cassetes. Quer dizer que cada spot publicitário, por exemplo, nem que fosse 8 segundos, ou 10 ou 12, ou 20, estaria numa única cassete. Estão a ver? E portanto, essa esse conteúdo era explícito, era contido numa única cassete. E essa informação fica numa base de dados associada à estrutura da… Quando havia a utilização de sequências de anúncios, em diferentes posições, porque a associação deles não era igual, o que que acontecia era que o robô fartava-se de trabalhar. Portanto, tinha que buscar uma cassete, colocá-la na entrada da máquina, as tais máquinas que estavam empilhadas, numa determinada sequência, e o tempo que era aplicado a esse, esse spot, era colocado numa posição de espera, em cueing ou seja, a aguardar o tempo de estabilidade, apontado na sua posição de arranque, de acordo com o conteúdo que lá estivesse definido no, na tal listagem, apontava-se e ficava a aguardar que a informação, na sequência da emissão fosse necessária. E o robô ia buscar e fazia as duas funções, uma vez que feita essa leitura, portanto, a inserção da cassete na máquina, a máquina ia ler, apontava-se por timecode na posição onde deveria iniciar a leitura, aos segundos de estabilidade entrava no ar, portanto, comutava isto, a informação de uma cassete para outra, ia.. bastava cinco máquinas destas, que recebiam, faziam todos esses procedimentos de aceitação, leitura, devolução da cassete, o robô agarrava na informação, recolocava no seu bin, portanto, no seu compartimento.
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P Barbosa— E o operador que estava na sala de emissão tinha que dizer em que timecodes em que cada cassete é que estava cada uma das coisas?
JP Magriço— Sim, isso era na elaboração anterior, ou seja, quer dizer que quando fazia a etiqueta, o barcode que era uma etiqueta colada na face traseira da cassete com múltiplas informações, o tempo, a duração, o segmento, no caso de ter segmentos poderia ter segmentos diferenciados, ou seja, o anúncio da Loreal, por exemplo, não vou dizer aqui publicidade, mas se calhar tinha lá dois ou três anúncios diferentes e, portanto, numa emissão entrava um, outra entrava outros, quer dizer, poderia ser um conteúdo diferenciado. Ou então era um programa de 20 minutos, ou mais tempo ou menos tempo. Estou a falar a questão da publicidade, mas podia ser um programa de emissão, que tenha conteúdo, um filme qualquer etc.
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P Barbosa— Então, isto funcionava com, também se chamava essa máquina Betacard?
JP Magriço— Era um Betacard de maior dimensão. Aquilo é um Betacard. Não é um betasite o betasite é outra coisa, não é, é um betacard. O betacard era uma unidade mais reduzida, era um era menos cassetes,
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P Barbosa— Ah, está bem.
JP Magriço— Portanto, este o LMS era um sistema mais evoluído,
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P Barbosa— Está bem.
JP Magriço— Era era tão igual como outro, o programa se calhar, e de funcionamento era muito semelhante. Mas a nível de controlo era o tempo de acesso rápido, o robô tinha que ir… trabalhava à velocidade de 50 km/hora, lá dentro, para ir buscar a cassete, recolher e colocá-la na na… porque o tempo de cada anúncio podia ser da ordem de 8 segundos, estão a ver?. É 8 segundos ela tinha que fazer esses procedimentos todos e a sequência de anúncios de 8 segundos são muito comuns em televisão. E portanto ela tinha que empilhar, colocar a informação toda no momento exacto para fazer o cueing, o acerto, e preparação para emissão.
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P Barbosa— Mas isso levanta uma pergunta: como é que antes de 1983 era feito isso na sala de emissão?
JP Magriço— Lá está. Eram as tais edições por uma única cassete, por ASSEMBLE, com uma listagem rigorosa dos anúncios que se seguiam, e era feita transcrição de um anúncio para uma cassete final, que era a cassete que tinha pra aí uma hora, por exemplo, de publicidade, em que se calhar entravam os primeiros 10 minutos, depois entravam os segundos 10 minutos no intervalo de um programa, e assim sucessivamente. Numa única cassete tinha que se adicionar, cada vez, a sequência que se queria na emissão.
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P Barbosa— Portanto, para cada intervalo, um editor tinha que alinhar a publicidade toda.
JP Magriço— Quer dizer que ele tinha uma cassete e tinha disponível o seguinte: ele sabia na listagem e no alinhamento qual era o segmento da cassete e a partir do timecode seja definido, a partida entra aquele conteúdo de publicidade e os anúncios lá estavam todos colados e editados para aquela sequência e para aquele intervalo. Está a ver? Portanto, isto pressupunha um trabalho operacional, desgastante, porque os anúncios não entravam sempre na mesma ordem. E portanto ele tinha que fazer isso com antecedência e garantir que não havia falhas também. Com o LMS veio a se suprir todas essas dificuldades que estavam associadas à edição e passou a ser um editor on-line.
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P Barbosa— Mas aí, na sala de emissão, o operador, quando chegava ao final de um telejornal, ou no intervalo de um telejornal, ele tinha que lançar à mão, à máquina…
PM — Não era bem assim. Todos esses processos dentro da estrutura..
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P Barbosa— É que estamos a falar, portanto, não era um Betacam que ele tinha, ainda era um gravador de fitas, certo? Onde estavam essas coisas. Como é que ao acabar o telejornal lançava aquilo e sincronizava?
JP Magriço— É assim: para garantir que os tempos de estabilização, a mesa mistura final de uma continuidade, é, tinha um operador mesmo, quer dizer, não era autónoma. Agora já é autónoma na medida em que tem, obedece a uma listagem e o conteúdo está em servers, e, portanto, a entrada é quase instantânea, e, portanto, basta a listagem estar efectuada e não estar qualquer erro nela. Portanto, não falha. Não falha teoricamente. Mas o que acontece, o que acontecia era que o operador estava junto à máquina que estava associada à edição, e, ou remotamente era o operador de continuidade que controlava a máquina por joging, portanto, apontava a peça no ponto em que estava definido como sendo o ponto start do sistema. Qualquer máquina daquelas, daquele tipo, que trabalhava com, a parte mecânica das cassetes necessitava de um tempo de estabilização, e poderia ser 3, 5 segundos, portanto, era aquele apontava e colocava a máquina naquela posição. E quando o programa seja uma saída de um telejornal ou um filme, também tinha lá o indicador temporal de que o filme tinha acabado. E é preciso entrar a publicidade sem qualquer perturbação, nem com cortes, nem por excesso, nem por defeito. Portanto, há que apontar. E havia um start associado. Portanto, havia apontar a start da cassete, o tempo de o timecode adequado para que a estabilização se operasse ao fim de um determinado tempo. E ele arrancava a máquina à mão. Portanto, era assim que se fazia..
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P Barbosa— Na sala de emissão?
JP Magriço— Na sala de emissão. Que poderia ser na continuidade ou poderia ser numa outra sala em que tivesse alguém que estivesse ali atento à emissão, olha, vai agora, é agora. Portanto, e carregava na emissão, porque havia leitores de timecode associados a cada um deles, e portanto, a falha seria normalmente inferior a um segundo. Por exemplo, poderia estar um pequeno negro. Normalmente nas entradas da publicidade, como não é agora feito, havia um separador, um separador de publicidade. Era uma exigência.
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P Barbosa— Que também estava gravado.
JP Magriço— Também lá estava gravado. E portanto, entrava, para margem de segurança era conveniente que tivesse lá um separador que é para se falhar, onde falhou foi o separador. Não pode é falhar o advertising, não é, portanto a publicidade é que era crítica, porque era logo motivo de “eu não pago porque não sei o número de segundos que”, havia penalizações ou sanções. No caso de falha não é, portanto. Isto trabalhava de pelo processo. Associado ao LMS havia um um processo ainda muito mais interessante. Fazia o trabalho de montagem do operador dos blocos publicitários que entravam no ar. Para quê? Para que, havia dois runing dois simultâneos, havia um runing feito pelas máquinas que estavam a operar no LMS, portanto, on-line, que fazia a edição on-line, e havia um outro processo paralelo, que era uma um backup da emissão, em que havia duas vias na mesa no caso de uma engulhar
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P Barbosa— Então, não tinham duas LMS, tinham eram dois sistemas diferentes?
JP Magriço— Se tivesse duas LMS era uma mudança tremenda numa estrutura daquelas. Não quer dizer que a RTP não tivesse capacidade económica para fazer. Porque tinha. Nunca optou foi por isso, mas ter duas LMS a trabalhar em paralelo como tudo igual, era um bocadinho exagerado. Então o que que fazia? Durante o tempo que antecedia a emissão, o próprio LMS ia editando numa única cassete a sequência daquilo que estava previsto na listagem, no …, não é, portanto, na listagem que estava associada.
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P Barbosa— Então, em tempo real havia uma máquina que estava a passar já a edição desses spots todos?
JP Magriço— Sim. E o operador se houvesse algum erro passava imediatamente… tinha um AB, portanto, passava de A para B e tinha, ah, e tavam em sincronização. Claro, claro. Tem que se garantir que o conteúdo de uma era igual ao da outra,
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P Barbosa— E como é que faziam isso quando estavam a passar um filme? Também haviam duas, dois leitores em simultâneo?
JP Magriço— Não, não. O filme, o filme normalmente quando falhava falhava e, portanto, tinha que se parar o filme, tinha que se voltar atrás, quer dizer, então ter também hipótese de um backup de filme também pode ser. Depende do grau de importância. Se quiser pode ter duas máquinas sempre em paralelo, a receberem o controlo de… simultâneo, não é, portanto.

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