José Pote Magriço – Parte 23 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.
A prateleira da RTP * Opus dei maçonaria e algarvios.

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P Barbosa— Aquela célebre frase que se diz que as pessoas eram colocadas na prateleira.
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JP Magriço— Prateleira.
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P Barbosa— Na parte técnica também havia as pessoas na prateleira ou vocês estavam sempre a trabalhar?
0:00:13.270
JP Magriço— Assim, nós tivemos sempre uma certa isenção dessa questão, portanto, eu nunca me senti necessidade… eu nunca senti, durante estes 35 anos que estive na empresa, a necessidade de agarrar alguma posição política. É e posso mostrar que ao longo do… alguns dos meus colegas, posso dizer, que ou já tinham ou tinham simpatias, portanto, eu também colocava o voto na urna, não é, portanto eu sabia também que ia. Mas não era, não me sentia obrigado a votar no mesmo. Portanto, poderia variar, ou seja, tinha a capacidade de ser diverso. Não entrava no conceito do universo, portanto, é o conceito do universo é: tem que ser uma linha muito dura e difícil e que só está unificada. O diversificado, aquele que diverge, aquele que pode ter a capacidade de diversidade, pode em determinadas circunstâncias mudar o seu ritmo. Portanto, até se dizia na época quem não muda é porque é burro. Eu também não era burro, também não era burro. Portanto, mas acontecia era que poderia ter a possibilidade de mudar, e portanto, sentir diferente a sociedade em cada momento. Não, não fiz foi derivações extremas, mantive-me mais ou menos na área de coerência também comigo próprio. Sentia o que eram extremos, portanto, sentia extremos, sentia a pressão dessas margens extremas e sentia a torrente do rio principal que também não era, o, igual e portanto não quer dizer que ficasse sujeito a ser arrastado pelas águas políticas do centro. Não era… não sentia isso. Poderia ir muito mais a um determinado lugar, num determinado momento, mas posso dizer que a ideia, quando surgiram os partidos, vocês, nossa, a geração mais recente não se percebe, mas quando apareceu o partido mais à direita em Portugal era no centro. Centro democrático social. Quer dizer que não havia ali um vazio. A direita desapareceu, a direita em Portugal quando houve o 25 de abril até nos próprios partidos que se colocaram, o máximo que se colocaram foi ao centro. Não é, portanto. Por necessidades ideológicas também de sobrevivência, naturalmente. Suponho eu, não sei se isso foi assim. Na RTP, para além dessas influências que eu posso dizer que havia, dizia-se por graça e eu direi também por graça, que a RTP era dominada por três forças essenciais: uma era, talvez a mais poderosa, na época, porque estava nos dois partidos, era a maçonaria. Depois havia ali uma que tinha lugares de relevo da empresa também e desempenho de pessoas que estavam, que era a Opus Dei. E eu por graça dizia: bem falta aqui os algarvios. Porque os algarvios na época, tanto o director como o director geral, o secretário geral da empresa etc., todos tinham origem no Algarve.
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P Barbosa— Nos anos 80?
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JP Magriço— Nos anos  70, 78, 79, foi quando eu verifiquei a primeira situação. Mas ao longo deste tempo até a saída, até agora a influência mais recente até 2005 ainda a estrutura se manteve, até essa época, manteve mais ou menos com essas três influências. Pronto, a maçonaria, de uma forma genérica, não vou estar aqui a catalogar nem a referenciar, havia a influência também da Opus Dei, porque estavam lá bem definidos também em alguns lugares, e havia os chefes deles. Na prática eram muito importantes, porque estavam no desempenho das funções mais, na escala da empresa, apareciam em todos os sítios. Que eram os algarvios.
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JP Magriço— Mas isto é só brincadeira, não tem nada a ver. Eram os mouros de certa maneira que tinham conquistado, portanto, a direção da empresa. Isto é por graça, claro, não estou a dizer isto para usar historicamente, mas é verdade. E as verdades às vezes não são históricas.
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P Barbosa— Portanto, pode ser uma coincidência.
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JP Magriço— Foi coincidência, naturalmente.

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