Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.
Evolução qualidade da televisão * a má qualidade das imagens de arquivo.
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P Barbosa— A tecnologia vem melhorar a qualidade da televisão? Sim ou não? E quando eu falo em qualidade agora não estou a falar especificamente na técnica, quando vê a televisão hoje em dia, nota que realmente que isto é muito melhor do que ela fazia há 20 anos atrás?
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JP Magriço— Muito melhor. há uma dicotomia aí, é os meios técnicos de captação, o tal escalonamento da qualidade, vem substancialmente melhorar, agora, quando se continua com os sistemas de transmissão, ou de divulgação ou difusão dos meios através de down scalling sucessivos da qualidade, o que acontece?, a camara tem capacidade de resolução que exige um determinado gama de qualidade, ela tem contida na origem a melhor qualidade possível, é garantida durante a gravação ou no registo magnético ou do bits etc., portanto, a memorização dessa informação é feita no mais alto nível, mas aí já entra um fator. Para que se armazene em grande quantidade tem que se introduzir fatores de compressão e entra a estrutura de mpeg, que é uma estrutura redutora de três ou quatro fatores que contribuem para a degradação final. A ideia é preservar a melhor qualidade na origem, mas dado que se vai subtrair a qualidade, a informação redundante que fazia parte do sistema não comprimido, está a ver?, quando um sinal sai de uma câmera e vai pra um monitor, esse sinal vai a 270 Mbits mas esse mesmo sinal quando é armazenado, vai ser armazenado a 30 mega bits, o que quer dizer que esta redução de compressão que se efectua sobre o sinal vai introduzir fatores de perda de alguma informação. Há uma perda, o less loss, a perda mínima está a acontecer. Se vamos para taxas de memorização muito elevadas, ainda se conseguem recuperar a informação anterior. E, portanto, a história do GOP e long GOP portanto, o gop ainda permite 2 ou 3 frames de perda de informação e que são substituídos por sinais de diferença. Mas quando se vai para o long gop os 12 ou 13 imagens, é, ou 2 ou 3 frames são verdadeiros e são recuperáveis, os outros que estão ali na interface, que estão entre eles, os bidirecionais, estão ali, e são reduzidos ao mínimo, portanto, e não estão presentes, o que exige, nos sistemas de edição, por exemplo, tenha que se fazer um processamento muito mais elaborado, que só é conseguido com computadores extremamente potentes para recuperar a informação que não está contida, não é? Portanto, para recriar a informação e os interframes, por exemplo, que estão associados à redundância do sistema. Portanto, frame a frame leva uma taxa de compressão e é essa permanente. Fica… não é variável, não é muito variável. As do long GOP acabam por reduzir a qualidade e o espectador, que deveria ver, por exemplo, uma imagem repetida ao ritmo de 50 frames por segundo, seja entrelaçado, seja em progressivo, passa a ver imagens que dão saltos, ou seja, estão ali ao ritmo de 12 hertz, é, e são falsos porque um é retido enquanto os outros mudam e, portanto, essa degradação que sofre um sinal por transmissões em que a banda da original, por exemplo, de uma câmera desta dimensão que faz a captação a um 1,485 gigabits, vai acabar por ser transmitido para o consumidor a uma taxa de 2 mega bits e há uma grande diferença entre giga e mega bits, e, portanto, quer se queira quer não, o que está mal não é na origem, não é na preservação nem na compressão, nem no armazenamento, é na distribuição do sinal. A distribuição do sinal faz-me crer o seguinte: compras-se televisores de 4K, para ver o grau elevadíssimo da degradação dum sinal que foi comprimido ao longo de todo um processo. Quer dizer, é a melhor qualidade possível do erro, da degradação. Eu vejo a degradação em alta fidelidade. É o que me apraz dizer sobre essa questão, sobre as questões relacionadas com…
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P Barbosa— Mas agora…
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JP Magriço— Embora eu reconheça, já agora Paulo, só um… Embora eu reconheça que tem havido algoritmos recentemente e que tem vindo a tentar melhorar a qualidade com XAVC, ou é HEVC, etc., são tudo sistemas que já fazem tratamento estatístico, à tua análise perceptual da imagem e, portanto, e que garante, de certa maneira, tentativa de equilibrar este grau de redução, de compressão, espartilho do sistema para chegar a uma imagem com razoável qualidade.
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P Barbosa— Eu percebo que está a ver isso do ponto de vista…
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JP Magriço— Eu não sou negativo, não quero ser negativo.
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P Barbosa— Dê-me também a sua opinião do ponto de vista do espetador de televisão. Portanto, a televisão que vê hoje em dia, quando chega à casa e liga lá nos canais portugueses, como é que evoluiu em relação à televisão de há 10 ou 20 anos atrás?
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JP Magriço— Melhorou em vários aspetos. O aspeto que eu considero que é técnico, não vou avaliar conteúdos aqui, mas conteúdos em termos de conteúdos culturais, o que vou avaliar em termos do espetador é que, se eu vejo imagens que as câmeras que eu dei, por exemplo, no estúdio quatro, estúdio da RTP durante uns anos eu dei manutenção a essas câmeras. E sabia o grau de qualidade que era o do original, portanto, eu via o monitor, a resolução, todo, todo, a qualidade do sinal em termos de respostas de gamas, de todo o conteúdo que lá estava, eu percebi-me que havia lá pormenores, algum ruído, etc., havia lá qualquer degradação, que eu sentia que a câmera tinha originalmente. E o sinal tinha e ele mostrava. Agora quando eram gravados em videotapes e quando a videotape era uma videotape que garantia tal escalonamento da qualidade de uma BNC na outra, eu quando via reproduzido esse mesmo sinal do estúdio, que, havia uma perceção de que havia uma degradação, eu era capaz de sentir isso. Mas era uma degradação que era perfeitamente aceite. Agora o que eu não não não concebo é que quando se vai buscar imagens desse tempo não sejam as fitas que os gravaram, mas sim em VHS da época e, portanto, aí é que eu sinto que a imagem e o espetador está sendo defraudado na qualidade, porque uma vez que haja um suporte deste nível, em que se sujeita a uma pequena degradação, e quando se faz uma edição de um programa em que se recorre à imagem de memória, conteúdos que já foram gravados há 40 e 50 anos admitamos que isto já existe, não é?, já existe 57 anos ou quê de televisão em Portugal e, portanto, eu não sei se são 57, mas se calhar é pra aí.
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P Barbosa— mas está a dizer que eles ao invés de irem buscar a Betacam digital, estão a ir buscar VHS?
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JP Magriço— o que aconteceu de grave nestes anos todos no arquivo e no repositório da qualidade foi as transcrições que cujo suporte estavam em fitas magnéticas de qualidade elevada ou que se assemelhava na tal escalonamento da perda da qualidade que era mínimo, ou seja, a câmera tinha uma característica, vamos lá, de ruído, por exemplo, tinha 52 DBs de ruído, porque na época não se conseguia melhorar, os tubos não eram capazes de captar sinais com menos. Mas a videotape introduzia 2 DBs de ruído, ou seja, quer dizer que, em, vamos admitir se o ruído tinha uma determinada amplitude, ele crescia para aí 10{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, 12{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, estão a ver? Estes dois DBs aqui de diferença era um agravamento do ruído, em vez de ser 52, olha era 50. Mas como as normas diziam que os 52, é, os 52 DBs já era uma coisa muito boa e os 48 é que era o limite do entendimento, estava dentro das margens. Agora o que é que aconteceu com esta degradação? É que este material não ficou preservado, não ficou preservado em em no suporte original. Foi transcrito para um formato de baixa qualidade. E, portanto, eu quando vejo imagens daquela época, penso assim, mas eu não fiz nada disto. Eu tenho a noção, eu, crítico. Agora o espetador até acha piada, porque diz, é, pá, isso é mesmo antigo. Por, quer dizer, porque não tem a apreciação do que tecnologicamente o que que era possível na época.
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P Barbosa— Portanto, estão a ver coisas estragadas antigas
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JP Magriço— Estão a ver coisas truncadas, mutiladas, degradadas, com distorções elevadíssimas e de tal forma que dá rastros na imagem e outros problemas que só, na época.