José Pote Magriço – Parte 18 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017-
Evolução dos engenheiros técnicos televisão-

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P Barbosa— Visto agora assim numa perspectiva de quem já passou por muita coisa ao longo de várias épocas e em várias empresas, até, no caso, como é que tem visto a evolução da importância dos técnicos de televisão do ponto de vista até dos ornados e vá lá das pessoas que actualmente executam as suas tarefas nas televisões de agora, da SIC, da TVI, da RTP, em relação ao tempo quando começou lá no instituto de… da telescola?
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JP Magriço— Se quisermos, se quisermos avaliar os primeiros tempos da televisão em Portugal e a da actividade que desempenhei na época, os coeficientes dos custos, ou do consumo. podemos ter uma noção de que é a volta de 50{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} mais relativamente ao salário que recebi nessa época, é, reduzido ou seja, quer dizer que para a época, eu estava 50{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} mais bem pago do que estou neste momento.
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P Barbosa— Mesmo na sua carreira pessoal?
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JP Magriço— Mesmo na carreira profissional, está a ver? Se eu mantivesse, imagina que eu quero é comparar-me neste momento com alguém que estaria no mesmo desempenho na RTP actualmente. Houve, houve ali um período em que a quebra da inflação fazia reduzir, sucessivamente, os salários e, portanto, foi uma das coisas que nos afectou mais, quer antes do 25 de abril, quer depois do 25 de abril. Portanto, a inflação na altura era bastante elevada, chegava a ser da ordem dos 20 e tal por cento, e a recuperação não era tanta, não se comparava, em termos de salário, o valor dessa inflação. Nem cobria, de certa maneira, é nem minimamente isso, ou seja, por cada negociação havia uma queda, que era significativa. Dois ou três por cento ao longo de uma série de anos, vocês façam as contas e depois chega-se à conclusão que agora estaria, já ganhei muito mais do que estaria a ganhar agora se continuasse no mesmo desempenho. Está a ver? Sem, sem considerar o quê? Promoções ou qualquer outro tipo de evolução na carreira. Uma vez que estagnado, estava numa determinada posição, se eu continuasse nessa posição. É evidente que tende a compensar-se na área da profissão. Reconheço que alguns dos indivíduos que estão no desempenho do nível de qualidade técnica que eu desempenhei, estão mal pagos actualmente, estão a ver? Portanto, relativamente…
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P Barbosa— Desceu a remuneração?
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JP Magriço— Desceu, desceu, desceu a remuneração. Isso, custa-me a dizer isto, mas é verdade, portanto, ao longo da… porque éramos menos, porque a concorrência era menor, se calhar na altura éramos melhor compensados por isso, mas atendendo aos factores de redução sucessivos nos desempenhos, por exemplo, é intolerável pensar que agora um engenheiro, por exemplo, que entrar aí no desempenho de uma actividade em que lhe é exigido um grau de conhecimento extremamente superior, e nível superior, estejam a pagar 600 e 700 euros no máximo. Quer dizer, isto é impensável porque isso era o ordenado possivelmente que o técnico em electrónica na época teria relativamente, estão a ver?. A, a, no início de carreira. Portanto, isto está a acontecer. Portanto, é uma coisa que eu tenho que referir, porque não há comparação, houve… Pronto. Isso se formos ver os coeficientes de compensação das próprias finanças vê-se qual é a quebra que houve ao longo de todo esse processo.
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P Barbosa— Em relação à evolução das condições de trabalho e exigência de quem trabalha, sentiu que as coisas pioraram e tiveram que começar a trabalhar cada vez mais, ou a coisa manteve-se?
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JP Magriço— É assim, quando havia intervenções na área profissional, as exigências que eram da época, no início, eu passei por várias fases. Eu comecei com a fase mista na área profissional com a área mista entre válvulas e transístores. E esse eram elementos discretos diferenciados, um que tinha as características de tecnologia anterior, que é a válvula, portanto a válvula era um sistema termoiônico que baseava-se no princípio de aquecimento de um filamento e de uma substância que libertava electrões e esses electrões eram disponíveis depois através e controlados através de grelhas para fazer as funções da amplificação e de controlo etc. O transístor veio reduzir este este elemento, que era um elemento que aquecia e que libertava muita energia, e o transístor veio fornecer as mesmas funções, veio conquistando as funções das válvulas ao longo de um determinado período. Depois quando o transístor adquiriu dimensões de se poder integrar dentro de um circuito linear, um circuito integrado portanto, aí houve ainda redução de consumo, ainda mais redução, etc, e chegou até às tecnologias. Eu comparo isso com também o que se passou relativamente ao grau de intervenção. Nas válvulas eu tinha que fazer leituras sistematizadas do do grau de rendimento das válvulas, a transconductância e outras coisas que estavam associadas à capacidade da válvula fornecer os sinais de uma forma linear e não distorcida do conteúdo que se pretendia ter dela. Com o transístor melhorou-se ainda um pouco mais. Quer dizer que a válvula requeria que eu fizesse uma atenção cíclica, sistematizada, para evitar que ela se degradasse ao ponto de falha. Portanto, antes de ela falhar tinha que ser substituída, tinha que ser mudada, ou tinha que ser avaliada o seu comportamento. O transístor já veio aliviar, de certa maneira, tecnicamente, este procedimento. O transístor falhava ou não falhava, ou sobreaquecia ou era substituído, em caso de morte súbita, morria, portanto, quando falhava era por ardia etc. Portanto, ele ficava inoperativo e era fácil de substituir. Quando vieram os circuitos integrados, esse mesmo transístor passou a ter menor consumo, maior densidade por circuito integrado, a substituição passou a ser mais fácil, porque o circuito integrado estava inserido dentro de um suporte, normalmente, dentro de um suporte, não se pretendia ter um sistema de ligação mais perfeito, e, portanto, havia ali um uma redução, de certa maneira, do comportamento. E as avaliações e os sistemas de pesquisa e detecção de avarias variavam em função destes factores que estavam presentes. Havia circuitos mistos, em que tinha válvulas e transístores, havia circuitos que tinham transístores discretos e transístores integrados, e portanto isto tudo veio melhorando. A substituição, a detecção e os trabalhos de pesquisa vieram a crescer também, ou seja, era cada vez mais difícil saber onde é que estava o defeito. O transístor era um sistema discreto, era sim ou não, ou era ou não era. Quando era integrado, já não sabia se era este integrado, se era o outro, se era o outro. Estão a ver? Portanto, havia necessidade de ter uma noção do tipo de análise funcional dos meios por fluxos ou cartas de fluxo de tipo de avaria. Se isto está nesta posição e tem esta informação está correto, se não está, está incorrecto e, portanto, o grau de exigência ao técnico passou a ser também maior. Não quer dizer que originalmente não se tivesse que saber bem como é que uma válvula funciona, ou um transístor ou um circuito integrado. Estão a ver? O grau de exigência de conhecimentos era também maior. A detecção e o diagnóstico é que passaram a ser mais facilitados. E, portanto, ao operador e ao à pessoa que fazia a manutenção dos equipamentos, havia um conjunto de procedimentos para detectar com mais facilidade as avarias. Mas à medida que a densidade de transístores e de integrados aumentou, e a complexidade dos circuitos aumentou também, na mesma proporção, ou em maior, a dificuldade na detecção e na relação que se estabelecia no tipo de avarias que poderiam acontecer. Também crescendo desde a válvula até aos circuitos integrados, podemos ver que a fiabilidade dos meios também aumentava. Ou seja, aquilo que era mais comum na válvula ter que se mudar de três em três meses, passou a transístor que se calhar tinha que se ter atenção ano a ano, os circuitos integrados se calhar viviam dois ou três ou quatro ou dez anos sem avarias. Portanto, a complexidade, redução do consumo, veio ter um MTBF maior. O que que isto quer dizer? O MTBF do de qualquer sistema, ou de qualquer dispositivo é o mean time before fail, em inglês é uma sigla que quer dizer que a fiabilidade e, a capacidade de os componentes de menor consumo se manterem mais tempo vivos aumentou. E o tipo de tecnologia associada à produção dos circuitos integrados de grande intensidade, os VLS, portanto, os integrados de larga escala de integração, vieram facilitar a vida aos operacionais. Mais veio-lhes como… facilitar por um lado, em termos de avarias, mas quando há avaria a sua deteção torna-se mais complexa também. Portanto, tem que haver sistemas de diagnóstico associados com, mais sofisticados, que exigem maiores conhecimentos, para que  o técnico possa intervir de forma a solucionar os problemas mais, de uma forma mais segura.

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