José Pote Magriço

O engenheiro Pote Magriço tem atualmente 66 anos. Trabalha como formador em sistemas digitais de televisão no âmbito de vários cursos empresariais e em projetos para o ensino superior como a FCSH da UNL ou a ESCS. Ao longo da sua carreira como responsável técnico participou e esteve envolvido na instalação de Centros de Produção como o da antiga telescola, estúdios da RTP no Lumiar e na 5 de Outubro, Telecine-Moro e mais recentemente na ESCS, no Cenjor e no INETI.

O engenheiro Pote Magriço é uma “enciclopédia” viva das evoluções tecnológicas que alteraram o modo de produzir e distribuir televisão, com conhecimentos profundos sobre câmaras sistemas de gravação e emissão televisiva, que vem desde os tempos da produção a preto e branco da telescola e distribuição em cassete até aos modernos estúdios de alta definição usados atualmente.

Entrevistado por Paulo Barbosa, Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa a 11 e 25 de Julho de 2017.

Parte 1 de 27

Síntese:

– Origens
– Formação
– Escola Fonseca Benevides
– IMAVE
– telescola
– RTP



PB — Então é dia 11 de julho de 2017, estamos nos estúdios da Escola Superior de Comunicação Social, o meu nome é Paulo Barbosa, vamos fazer a entrevista de história oral com o engenheiro Pote Magriço. Quem está a fazer a gravação de vídeo é Cláudia Figueiredo. Então, senhor Pote Magriço, obrigadíssimo por ter aceite o convite. PM — Queria agradecer também. PB — Vamos lá então ter a nossa conversa a ver se seguimos uma ordem cronológica. PM — Certo.
PB — E por lá mais para o fim eu ia lhe fazer algumas perguntas mais de termos gerais, em termos de o que notou de grandes diferenças ao longo da sua carreira, para vá lá, uma leitura mais abrangente e até para ver do seu ponto de vista, mostrar do seu ponto de vista a evolução que acha que se deu dentro das televisões, da área profissional de onde esteve inserido. Mas, para começar, ia lhe fazer uma pergunta que era para, no fundo, as pessoas perceberem com quem é que estamos a falar. Se nos conseguir falar sobre o seu passado em termos de onde é que nasceu, quem eram os seus pais, que escolaridade e profissões é que tinham os seus pais, mais ou menos de onde é que o Sr. Pote Magriço vem.
PM — Pronto, eu tenho origem ribatejana, portanto, nasci numa aldeia, Glória do Ribatejo, em 1950, e os meus pais eram comerciantes, tinham uma atividade relacionada com o fornecimento de víveres e outros produtos para a população na aldeia. Eu tive acesso, de certa forma, digamos, ao ensino, durante, digamos, o período escolar, frequentei até a quarta classe, que era assim que se designava, e depois fiz a frequência para o liceu e para a escola industrial em Santarém. E passei, digamos, a frequentar um curso que na perspetiva dos meus pais eram, eu seria continuador, digamos, da profissão e da atividade que eles desempenhavam. Quando cheguei ao terceiro ano desse curso, comecei a verificar que não era, digamos, o interesse máximo por ele, e nesse momento desenvolveu-se também na área onde eu nasci, na escola criou-se uma nova escola industrial da época, que tinha uma relação de delegação de uma escola de Lisboa, a Escola Fonseca Benevides que se dedicava aos cursos relacionados com a atividade mais radiotécnica e essa escola, digamos, tinha professores que, digamos, tinham origem num centro emissor que existia na minha aldeia,
PB — Como é que se chamava a aldeia? PM — A aldeia era Glória do Ribatejo. Portanto, foi sempre durante esse período que estive em Santarém temporariamente, depois regressei e ingressei nos cursos que existiam, na época, de montador radiotécnico. Esses cursos, digamos, de ordem técnica existiam nas escolas industriais, como, deixaram mais tarde de existir. Eu frequentei lá, digamos, o curso de montador radiotécnico, que era assim que se designava na época. Quando, digamos, concluí esse curso vim para Lisboa e depois na altura era necessário para aceder ao técnico, para aceder à escola, o instituto industrial da época, que agora é designado por ISEL, tinha que se frequentar um curso complementar. Portanto, fiz o curso complementar e depois, só mais tarde já, com alguma idade, é que fiz a entrada, o ingresso no técnico.
PB — Só para no situarmos, o curso complementar é o nosso décimo PM — Décimo segundo. É o equivalente neste momento ao 11º, 12º, que era uma exigência na altura para ter acesso aos cursos superiores. PB — Mas esse já foi feito em Lisboa. PM — Já. Foi feito em Lisboa, já, portanto, depois de vir para Lisboa. Portanto, a minha origem na área do conhecimento começou com a minha curiosidade em querer saber alguns aspetos de ordem técnica, na altura, já aos 7 anos eu mostrei interesses no conhecimento de como é que funcionava a televisão, isto em 1957, quando surgiu a televisão. A partir daí, digamos, uma vez que a profissão veio proporcionar conhecimentos nesta área, procurei também integrar-me dentro de uma atividade que fosse, digamos, associada, digamos, á produção de televisão. E para isso, durante três anos, estive como tarefeiro, no In

Parte 2 de 27

Síntese:

– 1957 ver tv pela primeira vez
– Eng. Carlos Batista Ride
– Estúdios a cores no IMAVE
– Formatos gravadores vídeo a cores IVC e quadruplex
– Distribuição da telescola via cassete Philips



PB — 1957. Pelas minhas contas, o Pote Magriço tem 7 anos e nessa altura estão foi o início das televisões. PM — As emissões. PB — As emissões da RTP. Lembra-se como é que viu pela primeira vez televisão, em que situação, se a televisão estava em casa das pessoas ou se as pessoas tinham que ir em sítios?
PM — Na época o que acontecia é que as aldeias ainda não tinham a distribuição eléctrica e, portanto, não tinham electricidade. Não havia, portanto, junto à aldeia… a aldeia mais próxima ficava a cinco quilómetros. PB — Não estamos a falar em não ter televisão, não tinha sequer electricidade. PM — Não tinha electricidade, portanto estamos a falar numa fase um bocadinho mais retrógrada, não é? Mas durante esse período a única solução que eu tinha era ir até a volta de 2, 3 quilómetros, para o tal centro de emissão que existia de emissores de radiofrequência, de onda curta, que havia na aldeia. Portanto, era por volta de três quilómetros da aldeia.
PB — De rádio. PM — De rádio. Portanto, e nesse centro já havia electricidade, como é natural não é, e havia um clube e nesse clube tinha um posto que tinha um televisor, que era único na região, digamos que servia para todo o pessoal que quisesse, e que conseguisse aceder às instalações do clube para poder ver os programas e foi aí que se manifestou o primeiro interesse e a curiosidade de saber como é que funcionava o sistema. Começou algo muito novo não é, portanto, daí que quando fui derivado para a área comercial senti sempre uma atracção por questões de ordem técnica e associados a essa, por influência natural desses emissores, e por esse pessoal e de todo o ambiente que se viva na aldeia, dado que era uma das profissões que era mais, mais próximas não é, portanto, havia muita gente que estava a trabalhar na área dos centros de emissão, a maior parte dos técnicos iam de Lisboa e iam de outros locais, não eram pessoas residentes, a maior parte dos professores que estavam na escola também eram engenheiros e pessoal que de certa forma trabalhava e que desempenhava essa função na escola e, portanto, incentivava bastante os alunos, a digamos, e tinha uma certa… um peso, uma marca, marcavam bastante o interesse dos alunos por questões de ordem técnica associadas. Embora fossem de rádio, a maior parte deles era de rádio. Havendo um caso só o engenheiro Carlos Batista Ride, que era um dos nossos professores, e que como era simultaneamente diretor técnico da instituição que eu mais tarde vim a trabalhar, o IMAVE, portanto, teve uma certa influência também na minha deslocação para Lisboa, e, portanto, para ir trabalhar no Ministério da Educação. Portanto, mas teve… porque ele era um conhecedor, na época, para além de ser um engenheiro da rádio, era simultaneamente o engenheiro que tinha contacto com as estruturas da qualidade técnica associada à televisão da época. Esse tal instituto IMAVE inicialmente tinha um misto, tinham câmeras a preto e branco a funcionar com câmaras e a cores. Portanto, havia uma situação de algumas utilizações, a maior parte das câmeras tinham os telecinemas, eram a cores, por exemplo, já tudo que era filmes didáticos etc., tinham a cor como um elemento fundamental e tinham câmeras, algumas, em estúdio, portanto, partilhavam cartões que eram preto e branco, por exemplo, e partilhavam imagens dos professores, de trabalhos manuais ou qualquer outra atividade escolar que se fazia eram feitas com câmera a cor, portanto, conseguia-se ter esse estúdio, que era um estúdio misto na altura eram gravados os programas, portanto havia um sistema de gravação. O sistema de gravação que existia.
PB — Sr. Magriço, desculpe interromper, só para situar em termos de PM — Tempo. Estamos em 1972, 73. PM — 71, 21 anos, ok. PB— 71. Tinha 21 anos nessa altura. Em 1971 foi quando entrou lá. PM — Sim, sim. PB — E nessa altura quando entrou já havia equipamentos a cores. PM — Já havia equipamento a cores. Só que eram situações de estúdio que tinham um misto. A gravação como sabe era compatível, portanto havia a possibilidade de gravar um sinal se inserir um sinal a preto e branco numa mesa mistura mas que tinha saída de cor, portanto tenha a parametrização adequada para a cor. Era preto e branco, era compatível, e portanto permitia que se gravasse já a cores, portanto as gravações eram feitas a cores.
PB — Então em 1971 já havia gravadores de fita. PM — Sim, sim, havia dois formatos básicos. Havia um formato de caráter profissional, mas eram de uma polegada, portanto, já eram formatos, eram baseados numas máquinas de IVC que permitiam através de um enlace numa cabeça rotativa em forma de alfa, portanto a fita entrava por baixo, circundava a cabeça ao tambor e saía no outro plano, portanto fazia uma entrada por baixo e saía por cima, enlaçava até o sistema rotativo e através de uma modulação de frequência modulada eram feitas, os registos magnéticos do conteúdo de vídeo e de áudio.
PB — A cores. PM — Já a cor. Portanto o sistema de emissão da RTP ainda não tivesse adaptado para a utilização de emissões a cores, porque os emissores poderiam, teriam que ter características diferenciadas, mas na altura já era possível fazer registos neste sistema de uma polegada e também se fazia outros sistemas em gravação mais evoluída, através de um sistema quadruplex, que eram os sistemas baseados na na produção de bradcasting de qualidade mais elevada e que eram utilizados também já pela RTP. Portanto a RTP já tinha sistemas Quadruplex, a preto e branco ainda. Portanto, ainda não tinha adquirido os módulos que permitissem gravar a cor. E o IMAVE, na altura convertido já em ITE, Instituto de Tecnologia Educativa, já permitia fazer esse tipo de gravação com o burst ou seja, o elemento de sincronização e fase da cor. Portanto, já era possível. Embora toda a emissão e toda a rede de emissão, quer a nível nacional, quer a nível das ilhas, porque a divulgação da telescola ocorreu em simultâneo em Portugal, tivemos até a cobertura quase total. Não havia ainda a cobertura a nível nacional do canal 1, portanto neste caso o canal principal.
PB — A telescola. PM — Mas a telescola já chegava às aldeias onde mesmo os canais não permitiam aceder através da transmissão aérea. Portanto, era através de um sistema que eu posso descrever, que foi desenvolvido pela Philips, portanto, um sistema de cartridge, ou seja, eram bobinas sobrepostas, incluídas num compartimento e que permitiam, através da leitura de um gravador permitiam a gravação e a leitura através de um gravador desenvolvido pela Philips para quase de propósito, não diria que foi de propósito, mas foi o primeiro VCR a ser utilizado para dar cobertura a todas as zonas de Portugal que não tinham acesso através da antena aérea da emissão.
PB — E estamos a falar uma coisa que não era era U-MATIC, nem nada, era outro sistema. PM — Era ainda um sistema intermédio. Mais tarde começou a haver U-MATIC, mas na na produção da própria incluir-se o formato três quartos de polegada, portanto, de menor qualidade, e, para arquivos e para outras informações que fossem necessárias conservar dentro da estrutura do ensino, na altura, a telescola tinha um espólio bastante elevado de das aulas, das gravações que efetuava nos estúdios da do tal ITE. Compartilhe isso:

Parte 3 de 27

Síntese:

– Distribuição da telescola via cassete Philips
– Gravações exteriores em filme
– Montagem em pelicula e em vídeo sem editor



PB — Só um bocadinho atrás, ainda dentro dos estúdios do IMAVE, não era? PM — Sim, IMAVE. Inicialmente era IMAVE só. PB — É, portanto, vocês não emitiam em direto as aulas da telescola, eram todas gravadas. PM — Posteriormente foi mais tarde, é quando a RTP tinha cobertura a nível nacional. Repare que isto teve duas fases. A primeira fase a RTP ainda não tinha cobertura total, e portanto havia necessidade, nas zonas de mais recondidas levar a telescola a esses locais, não é? E era feito através de VCR. Mas a predominância maior ainda era nas ilhas, portanto, a zona insular, quer na Madeira, quer nos Açores, era o local onde se digamos, havia necessidade, dado que nem sequer havia emissão aérea, portanto, o que acontecia era essas bobinas que eram gravadas e editadas, portanto esses conteúdos editados, em bobinas, eram levadas para as ilhas, portanto através da TAP, com delay temporal relativo, de forma que as aulas gravadas nesses estúdios eram enviadas para reprodução e havia um conjunto de bastidores com gravadores associados e uma reprodutora compatível, evidente, é que permitia fazer a transcrição para multicacetes, no sistema de duplicação, que em cada posto de tele-escola onde não havia emissão nas ilhas havia a possibilidade de ver mas as aulas chegavam lá e eram ministradas as aulas através dessas tais VCRs desenvolvidas pela Philips. Foi quase um projeto-piloto específico para Portugal. Portanto, vamos dizer.
PB — E estamos a falar de quando vocês tinham que fazer essas cópias, estamos a falar em dezenas de escolas? PM — Dezenas de escolas que estavam o posto da telescola, não é, que era assim que se designava na época. PB — Estamos a falar em que quantidade? Dezenas de escolas, centenas? PM — Dezenas de escolas. Havia na ilha de São Miguel para aí 20 escolas diferenciadas. Estavam desde a zona este da ilha até a zona das furnas, portanto aquela zona toda era feita a cobertura da telescola através de cassetes. PB — Mas em cada sala de aula tinha que haver um desses reprodutores? PB — O VCR , portanto, um reprodutor, sim. PB — E depois como vocês faziam? Para cada sala ia uma cassete ou eles depois circulavam. PM — Não, era em simultâneo, portanto, para cada posto haveria uma cassete com aquela aula específica, de acordo com o programa que estava estabelecido, portanto havia essa forma de divulgação. Era a única forma de chegar lá porque não havia distribuição de aérea, portanto, aérea não havia.
PB — Dentro do IMAVE, sempre que vocês… em 1971, sempre que precisavam de fazer registros de imagens que não fossem em estúdio, que tipo de registo é que faziam fora? Porque todos os gravadores, como estava a falar, são gravadores de mesa para estarem no estúdio. Então era preciso ir à rua filmar o que quer que seja… era película?
— Havia uma estrutura, digamos de captação de algumas documentações, de momentos que estavam associados a reportagens que funcionava em filme. Porque na época ainda não havia, 1971/72, depois mais tarde pá aí já haviam câmeras de reportagem com o gravador já acoplados, de grande dimensão, que utilizavam os tais sistemas que já se baseavam em cassetes do UMatic. Portanto, havia a Sony já havia desenvolvido sistemas de gravação e suporte magnético, que tinha o formato 3 polegadas, 3 polegadas não, 3/4 de polegada, e que dava uma possibilidade de se fazer reportagem portanto, já havia inclusão nas aulas, não era só o professor estático, o professor a descrever no quadro ou a fazer trabalhos manuais ou qualquer… que tinha que ser feito em estúdio. Portanto, já havia a participação de outros conteúdos associados à aula. Tinha origem ou em filme, portanto, em película, que transcritos no sistema de telecinema, para vídeo e tinham a possibilidade de se inserir nas aulas alguns conteúdos de reportagem. Portanto, todos os elementos de captação externa, tanto monumentos e outras coisas relacionadas com a história, com outras reportagens da ordem científica eram feitas por esse processo e editadas.

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Síntese:

– Passagem de IMAVE para ITE
– IPED
– Universidade Aberta
– IMAVE e o uso de profissionais da RTP e PT
– Rotina de produção do IMAVE
– ITE



PB — O antigo IMAVE, que depois se passou a chamar ITE, que eu conheço na rua da Escola Politécnica, não é esse que está a falar, portanto, estamos a falar ainda das instalações no Areeiro, é isso?
PM— Havia duas instalações: havia uma instalação administrativa, tanto para o IMAVE como para o ITE. A modificação do nome foi só uma evolução no processo burocrático e não só, de estatuto de autonomia. Na altura, os quadros a os organismos do estado necessitavam ter os seus quadros próprios e, portanto, como uma parte era da ordem administrativa, quando aparecia uma entidade que era produtora de meios técnicos associados ao Ministério da Educação, concretamente, pretendia-se ter um estatuto que vinculasse as pessoas com um vínculo diferenciado, porque não era uma profissão administrativa, era uma profissão técnica, e então procuravam ter um estatuto diferente, e portanto essas inovações de chamar-se IMAVE e ITE teve a ver com uma evolução no processo administrativo, de forma a garantir que os profissionais da ordem técnica fossem reconhecidos com nomes diferenciados. E não tinham as categorias administrativas associadas. Foi só por isso, basicamente. Mas também os objetivos eram diferentes. O ITE já pretendia alargar o seu âmbito para a área quando começou com o propedêutico, quando começou a desempenhar outras funções dentro da estrutura do Ministério, tendo em vista possivelmente a futura Universidade Aberta, portanto. E passou por este, 3 degraus depois do IMAVE. Foi o ITE, entretanto, criaram um instituto, é o IPED, Instituto Português de Ensino a Distância, que mais tarde se converteu na Universidade Aberta. E o ITE como era o organismo do estado que tinha meios e conhecimento e uma estrutura vocacionada para a produção de televisão e áudio, integrou-se, o ITE integrou-se dentro do instituto do ensino à distância para formar a Universidade Aberta. Portanto a Escola Politécnica surge numa fase intermédia que se desenvolveu por duas fases e integrou o ITE, portanto, uma forma de evoluir para um nível mais elevado na área do ensino.
PB — Esse IMAVE tinha tanta gente e tantos técnicos a trabalhar lá, como é que eles geriam e tinham mão de obra no fundo especializado. Era gente da RTP que fazia uma perninha de um lado e do outro, ou eles tinham mesmo operadores, montadores e realizadores no fundo a tempo inteiro?
PM — Originalmente, quando surgiu o IMAVE, houve o recrutamento que deu origem à transferência de alguns técnicos que existiam já na RTP, era o único local onde havia pessoal experimentado nessa área funcional, quer a nível de realização, a nível da produção, a nível de operadores dos meios operacionais, portanto, câmeras, misturadores e todo esse pessoal que estava associado. Algumas pessoas saíram mesmo da RTP. Até a própria empresa que mais tarde desenvolveu e concebeu os sistemas técnicos do IMAVE tiveram origem na área da engenharia, da RTP. Portanto, foi assim que ocorreu para os organismos do estado, na altura. Alguns ficaram vinculados definitivamente, outros criaram uma empresa que, para além de conceber e projetar o sistema o montou. Claro, a aquisição era do Ministério da Educação, evidente, adjudicado ao Ministério, mas foi adjudicado o trabalho de montagem e manutenção, temporariamente. E também é verdade que durante muito tempo, como a origem dos técnicos havia alguma outsourcing, da época, não é, estamos a falar de uma época diferente, é que algum pessoal da RTP, que era experiente na área da mecânica de precisão para as zooms ou para as câmeras, ou para outros equipamentos que existiam gravadores, por exemplo, que eram de certa forma comuns à RTP, como a RTP tinha pessoal especializado também colaborava de certa forma com essa manutenção desses meios dentro da estrutura do ITE. E isso manteve-se durante um tempo. Portanto, pessoal que trabalhava diretamente lá que eram poucos os técnicos que estavam, eu estava incluído nesse grupo dos técnicos que davam esse apoio na estrutura. De uma forma mais genérica e nalgumas áreas de maior especialidade, também. Portanto, havia recrutamento externo e recrutamento interno. A nível operacional grande parte deles tinham vindo da área administrativa e tinha evoluído na carreira profissional para, e adaptados, de certa forma, com alguns cursos de formação já na época havia preocupação dar formação e para integração profissional neste conjunto de pessoas porque a única fonte na época era a RTP em termos de conhecimentos operacionais não é. E portanto o recrutamento foi nessa área e também a adaptação por técnicos da RTP que forneciam formação às pessoas que se integravam tendo origem em outras áreas administrativas do próprio ITE que se formaram lá dentro.
PB — Como é que era o vosso dia normal de trabalho, havia gravações todos os dias? PM — Havia um planeamento. Havia um plano de operações, à semelhança do que existia já na RTP também, em que, como havia uma diversidade de disciplinas para o 1º e 2º ano que substituiu o ciclo preparatório, não é, portanto a telescola havia uma certa diversidade de disciplinas e havia colaboradores que vinham do Ministério. Eram professores que davam as aulas e que também iam colaborar com este tipo de ações de aulas, não se fala de formação aqui não é. Há uma diferença entre formação e educação neste caso, mas eles iam dar a formação com intenção e a preparação, adaptação ao estúdio, portanto, havia uma certa preparação nesse pessoal para com hábitos diferentes. E isso era tudo definido num plano, havia um plano, havia uma quantidade de horas gravadas. Houve um período em que as aulas passaram a ser repetidas de ano a ano. Portanto, eram gravadas e os professores gravavam uma vez, isso.. e as aulas serviam nos anos seguintes como currículo. Mas havia sempre uma tentativa de inovar e de inserir mais conteúdos diferenciados sobre a matéria, não é sobre o programa. E então também havia esse processo de adaptação. E isso estava definido ao longo do período de execução das aulas, as aulas começavam em setembro, como era habitual na época também já, e havia nos finais, sei lá, de maio até o final das aulas, havia as primeiras aulas a serem gravadas para serem editadas, portanto, havia um delay, para que se editassem e em setembro estivessem prontas, dado que também se metia ali o período de férias, havia sempre uma antecedência havia uma planificação, portanto, para permitir que se este tipo de produção se efetuasse a tempo de poderem inserir-se lá…
PB — Mas o que eu estava a perguntar era qual é que era o ritmo de produção era só um estúdio? PM — O ritmo era um estúdio só e, portanto, havia uma sequência.. PB— Era horário normal de trabalho? PM — Era horário normal, de nove às cinco. Havia normalmente gravações de manhã e gravações à tarde. Porque havia uma grande quantidade de matérias, porque a matéria que se gravava ali era para servir na telescola por um período de quatro horas. Que era o período que… a telescola funcionava a partir de determinada hora. Porque a RTP quando começou a incluir na sua emissão as aulas, difundidas através da televisão, era por um período que ia das duas da tarde até às seis da tarde. Portanto, todo esse período eram quatro horas diárias, portanto tinham que ter capacidade de produzir quatro horas, não quer dizer que algumas aulas anteriores não fossem incluídas no programa seguinte. Está a ver? Portanto havia a necessidade de uma atualização. E algumas das cadeiras de matérias variavam ao longo do tempo, não é, portanto havia a necessidade de produzir de acordo com as necessidade que tinham na época.

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Síntese:

– 25 de abril e efeitos no IMAVE
– Anos 80 aparecimento produtoras externas
– Telecine-moro e o uso do sistema U-MATIC



PB- Em 1974 ainda está lá no IMAVE? PM — Sim. PB — Mas, diga-nos qualquer coisa sobre que influência que teve o 25 de abril, em termos profissionais, e como é que viveu essa, essa alteração.
É, o 25 de abril modificou a estrutura da organização do próprio IMAVE, portanto, tanto no Ministério houve movimentos de contestação das hierarquias, e das chefias da época. isso repercutiu-se também o diretor que, o diretor equiparado a diretor-geral foi destituído e depois houve um conjunto de elementos que estavam associados às chefias intermédias que também foram afetados por esse movimento de repulsa. Algumas delas exageradas. Isso levou a que durante um determinado período, a afetação nos serviços teve significado. De tal forma que um ano depois do 25 de abril, já em 1975, o chamado verão quente foi aquele período mais intenso, em que se puseram em causa praticamente todas as estruturas do sistema, deu origem a que o ITE fechasse. Fechado temporariamente e todo o pessoal, quer administrativo, quer técnico, foi colocado numa situação de standby em casa. Portanto, isso aconteceu durante um determinado período. Depois, passado um ano e meio, mais ou menos, vamos falar de 76 para aí nos finais de 76, é que se começou efetivamente a dar. a seleção do pessoal e a reintegração desse pessoal que tinha sido colocado em standby, nos ministérios. A parte administrativa foi colocada parte dela no próprio ministério até ser reintegrada dentro das estruturas do ITE. Naturalmente, não ouve uma seleção nem abandono nem casos de pessoas que não regressaram. Regressaram foi mais tarde. Até a reorganização do serviço. E a partir daí depois começou com uma estrutura nova, portanto, com diretores nomeadamente na área da direção nas situações das chefias intermédias foram colocadas outras pessoas no desempenho dessas funções. Penso que o terem abandonado ou terem deslocado este pessoal foi só enquanto não tinha uma estrutura para os poder receber em termos estruturais mas a maior parte deles foram reintegrados, quer dizer, não há nenhum caso que eu conheça que saiu e não voltou mais tarde, a não ser que a seu pedido tivesse dito eu agora não quero regressar ou coisa assim do género, mas isso foi uma fase em que isso foi quente, e foi desprestigiante para a instituição também, porque não se entendia, não havia ali nenhuma, nenhum bloqueio. Os operacionais continuaram a produzir.
PB — Quer dizer aquilo chegou mesmo então a parar. PM — Foi mesmo parar. PB — E quando parou, as próprias emissões também pararam. PM — Ou seja, o que lá está, havia gravações anteriores. Portanto, não se sentiu perante a telescola, não se sentiu assim de grande efeito, mas houve esse momento em que houve uma contenção na produção e deixou… não houve substituição de produção, ou seja, não foi feita em outsourcing, porque também não havia meios, vamos lá ver, a estrutura era única a nível do país. Só em 1982, 83 é que começaram a criar-se as condições para haver produtoras de televisão em Portugal. Começou na RTP, com a produção externa, e a cedência de meios e pessoas para a produção de telenovelas e outros produtos. E houve um caso de exceção, que foi o Telecine-Moro, que foi uma entidade, que conseguiu inserir-se… era uma entidade que fundamentalmente produzia filmes, portanto, produzia película, e que se readaptou às tecnologias. Isto começou um pouco mais tarde, portanto, já eram os UMATIC Low-Band e HI-Band. Portanto, com as tais produções de qualidade, que passaram a ser reconhecidas, não sei se totalmente, pela RTP, mas houve uma cedência de certa forma, aos níveis de exigência da EBU, portanto que era, e é a entidade que zela pelas normas e pelas recomendações que deveriam garantir o mínimo padrão de qualidade da qualidade da gravação e da emissão de vídeo e áudio, portanto o UMATIC estava nos limiares da qualidade não era um um padrão ainda, de broadcasting, portanto que era aquele nível de exigência das parametrizações e especificações técnicas que eram exigidas para quem fosse membro da EBU, que é o caso da RTP, para transmitir sinais com nível de qualidade exigida. O pretexto foi o seguinte, começou a haver, a direção técnica da RTP, começou a permitir, de certa forma, que fossem incluídas nalguns programas de não muito audiência, inserção do programa, sei lá, média produção, sei lá, 25 minutos etc., a produção feita em U-MATIC HI-Band e muitas vezes ela é feita em LOW-Band, mas depois ela é transcrita para HI-Band para entrar lá portanto, a degradação e a qualidade técnica dos sinais emitidos houve ali uma cedência reconhecida, portanto, aceite, mas que não… que estava fora dos padrões de exigência que a EBU recomendava.

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Síntese:

– As produções “externas” para RTP
– O problema dos gravadores vídeo
– A produção em película e em vídeo
– Os meios técnicos dos grandes eventos



PB — fale-me lá dessas outras situações em que, voltamos a dar um salto, mas depois voltamos atrás. Na produção de novelas, por exemplo, para a EDIPIM, que acho que foi a primeira que começou a produzir… PM — Sim. PB — Como é que era feita então essa suposta produção externa se eram vocês e os vossos meios técnicos que estavam a ser usados? PM — É assim, a RTP permitiu, no projeto que tinha desenvolvido para a produção, fazia para além de cedência de alguns técnicos, alguns operacionais, e a maioria dos meios. Portanto, era a única forma de sustentar e permitir que se criassem condições para que entidades que no fundo eram PP´s da época, não sei se devo dizer este termo, mas que de certo eram participações externas que tinham empresas, mas que estavam tecnologicamente dependentes, quer a nível operacional, quer a nível técnico e meios. Os meios eram de domínio público, não estou a dizer aqui nada, não estou delatar nada, estou a dizer que, se a RTP queria garantir o nível de qualidade na sua produção para época os meios autônomos, por exemplo, a Telecine-Moro adquiriu os seus meios próprios, não é, mas de nível de qualidade técnica ainda mais baixo. Só passados dois ou três anos de estar a produzir é que começou a incluir equipamentos de registo porque não era bem a câmera que não tinha qualidade era a forma do suporte. Foi sempre o processo de escalonamento da qualidade que às vezes rompia. O processo de escalonamento da qualidade, como posso tentar esclarecer, era garantir que, uma vez a imagem captada nas condições técnicas de maior qualidade, fosse preservada ao longo de todo um processo de edição, arquivo, emissão, todo esse processo de encaminhamento da qualidade tinha um padrão. Portanto, se a câmara era boa, o gravador teria que ser, estar ao nível da gravação. Portanto, porque se não havia logo ali uma perda de escalonamento da qualidade. No entanto, isso ocorreu para as UMATIC, é evidente, as câmeras até tinham um sinal dentro dos padrões, a UMATIC é que ainda não garantia essa qualidade. A RTP tinha as B, as BCNs, que eram entre gravadoras que tinham os padrões mais elevados da época. Também tinha o quadruplex, mas os quadruplex sempre teve os padrões adequados para a gravação de qualidade. Uma vez que veio para a dimensão de uma polegada, fita aberta, portanto bobina aberta, tinha qualidade que era uma exigência que a própria EBU fazia não se poder produzir com nível de qualidade inferior.
PB — Mesmo quando era informação? PM — Agora quando era informação tudo isto se pôs em causa. O momento, a ideia de que tem que ser de agora, portanto, e a premência da utilização dos meios fazia com que as reportagens fossem feitas em sistemas portáteis fáceis de transportar. E portanto havia também a cedência de algumas das gravações feitas em UMATIC. E foi através desta inclusão do momento, da necessidade e da actualidade, que provocou a cedência nas partes técnicas, nos conteúdos técnicos, de uma perda de alguma qualidade, no tal escalonamento exigido, desde a captação, registo, edição e emissão. Portanto, estes três elementos essenciais passaram uma fase de readaptação. Coisa que agora nos sistemas digitais também está a acontecer. Portanto, a perda de qualidade, porque os sistemas que neste momento estão disponíveis, para se gravar na mais alta qualidade tem que se ter um sistema de produção e de edição ao mais alto nível, portanto também isso acontece também, há algumas perdas significativas, embora através dos sistemas de conversão digital agora se disfarce, de certa forma essa exigência técnica do mais alto nível.
PB — Estamos a falar das produtoras externas, mas que afinal não eram externas, porque os técnicos e os meios… PM — Vamos admitir o seguinte: havia a inclusão, as pessoas não nascem ensinadas em termos de conhecimentos, não é, tinham origem no cinema alguns e houve um período de readaptação de algumas pessoas que viram no vídeo o passo seguinte da sua atividade. E à medida que ia decaindo a capacidade produtora do filme, e à medida que vieram a impor-se de certa forma, as tecnologias associadas à televisão, também houve deslocação das áreas profissionais que tinham como referência o cinema, neste caso, e a própria RTP, à medida que ia exigindo qualidade, para exigir qualidade tinha que fornecer meios e pessoas competentes em termos de desempenhos da área da realização, por exemplo, as telenovelas eram realizadas por realizadores de televisão, não havia realizadores de cinema a fazer (tv) na época, não é. Portanto, faziam o trabalho deles para os documentários, alguns filmes que a RTP só abandonou a produção em película posteriormente, não é. Portanto, houve um declive da área da produção do cinema e uma ascensão, há ali um ponto intermédio em que se tocam em que havia praticamente a produção de um lado e do outro era simultânea. Portanto, e a RTP persistiu muito tempo na produção da película. Muito tempo. Através do apoio, mais tarde através da Tóbis, e portanto todo o sistema a RTP tinha o laboratório, não tinha laboratório 35, não tinha laboratórios de nível elevado porque a película era utilizada para 16 milímetros, que era aquela que permitia à reportagem ter equipamentos que chegassem lá com facilidade e captassem as imagens, não é. Portanto, não… para manter a atualidade e capacidade de desenvolver documentalmente tudo o que eram os conteúdos para a informação, mas à medida que o vídeo começou a ter UMATIC a evoluir, embora com a degradação técnica, o filme começou ligeiramente a cair. E assim foi durante muito tempo. Exceto quanto a alguns programas, é evidente. A RTP tinha programas que fazia jus de serem em filme. Continuava a se produzir em filme, está bem. E adquiria toneladas de filme anualmente. É, mas é evidente que todos esses processos e esta cedência que a RTP fez era para permitir externamente atingirem um nível de qualidade, de escalonamento de qualidade que era exigido pelo próprio sistema da RTP. Da qualidade de sinais, é evidente.
PB — Mas esta produção externa eu lembro, por exemplo, que a Edipim fazia novelas, e era uma empresa externa, mas imagine coisas do género: é preciso fazer uma transmissão de futebol. E havia mais técnicos e empresas privadas envolvidas ou aí era só a R PM — Não, é as primeiras empresas que se dedicaram a proder, ter capacidade económica para adquirir, foram pequenas produtoras. Portanto, pequenas produtoras com mínimos meios, com câmeras de, não de qualidade duvidosa, não era assim, mas, por exemplo, as primeiras autonomias feitas por produções externas seja da edipim ou outras. Para a edipim sempre teve um favorecimento maior porque essas instalações de estúdios, por exemplo, a produção de telenovelas etc., era feita havia as duas áreas, havia os estúdios, tinham câmeras, idênticas ou de qualidade semelhante à RTP. Sistemas de iluminação, sistemas de controlo, ar-condicionado, tudo aquilo, tudo que estava, a cenografia, tudo eram utilizações feitas e modelos semelhantes à que a RTP e aos níveis de qualidade que a RTP exigia, não é, evidente. Quer seja uma produção externa, o tal PPP da época, quer seja a empresa e propriamente rtp assumir toda a produção com realizações próprias produção própria ou produção delegada no máximo mas sempre foram os técnicos da RTP. Não havia, não havia, até o aparecimento da SIC e da TVI, nesta sequência, eram poucas as produtoras que se arriscavam a ficar na dependência de um único comprador, que era a RTP, e, portanto, era difícil, exceto o caso da Telecine-Moro e mais uma ou outra que havia para aí.
PB — A duvídeo também já é dessa altura? PM — A duvídeo também, portanto, a duvídeo teve capacidade inicial para se desenvolver, e se formos ver a história da duvídeo, vê-se que estão lá as marcas de alguém que teve origem na RTP. Portanto, tanto o know-how, o conhecimento de como se faz, é fundamental para o indivíduo implantar, de certa maneira, empresas que tenham capacidade, com o mesmo nível e com, e com algum nível de rigor e qualidade técnica que era exigida na época.
PB — Mas, por exemplo, o futebol e as transmissões de futebol nunca estiveram em mãos de empresas privadas. Estava sempre, os meios técnicos… PM — Até o aparecimento das produtoras, com carros de exteriores, pois havia ainda a questão, não é, portanto uma coisa era fazer uma reportagem com duas ou três câmeras que se podiam associar a uma mesa de mistura portátil, mas isso no futebol, o grau de exigência sempre foi muito elevado em termos da quantidade multicâmera. Portanto, sempre foi exigidas 10, 12, 14, 16 câmeras, 18 câmeras, 20 câmeras. Portanto, isto é, não era um exagero. Depois tinha condicionamentos. As câmeras começaram a ter condições específicas para a utilização. A câmera tinha que ter a capacidade de replay, ou seja, a câmara tinha que estar ligada a uma unidade de gravadora associada para, num determinado momento, poder reproduzir a cena de alguns segundos anteriores. E, portanto, e tinha que ter resoluções suficientes de qualidade o frame rate, ou seja, a quantidade de imagens por segundo eram necessárias para que se pudesse ver a sequência do desenvolvimento da bola, se entra ou não entra na baliza, aquilo que agora está a ser muito utilizado para para garantir o videoárbitro, não é, portanto. Isso já existia na época, mas não havia produtoras externas com capacidade para incluir carros de exteriores com características, isto é uma das características, e outras que eram necessárias. A emissão satélite, por exemplo, ou qualquer outra, tinha que ter um carro específico, acoplado ou diretamente ter carros de apoio etc, para edição, para outro tipo de informação necessária. Porque não é só a captação direta não era… um carro de exteriores quase que resolvia tudo. Mas depois havia dois ou três carros de apoio necessários para fornecer condições para o relato ou uma transmissão televisiva em direto um acontecimento, não só acontecimentos de futebol, mas outros que envolvessem, uma estrutura, a distribuição de sinais, a sincronização entre… quando se desenvolviam em um espaço mais alargado, ter possibilidade de garantir a sincronização ao longo de todo o acontecimento, ou todo o evento ser feita uma reportagem como, sei lá, corridas, ou maratonas e outras coisas do género, que envolvia… ciclismo, por exemplo, que é das coisas que mais envolvia na época meios suficientes para garantir o acompanhamento durante períodos de uma, duas, ou três horas, sequências de imagens. Ou quando qualquer outro evento de maior dimensão. Foi sempre a RTP que teve meios suficientes para disponibilizar, para executar com qualidade esses sinais. Até às vezes havia necessidade de utilização de helicópteros e outros meios mais sofisticados de transmissão. Agora parece que está tudo facilitado mas com muitos defeitos, como se tem notado ultimamente. Mas isso depois é um aspeto que eu poderei abordar um pouco mais tarde.

Parte 7 de 27

Síntese:

– A licenciatura de engenheiria e a entrada na RTP
– O carro de exteriores alemão de 1976 na Rua Francisco Baia
– Comissão da analise do project da 5 de outubro
– Acordo com Robert Boch para financiamento da 5 de outubro
– A edição em Quantel e Abekas
– Primeiros conversores digitais para telenovela em PAL M brasileiro
– Formação na Alemanha para camaras da bosh



PB — É, 1979, teria a volta dos 29 anos, estava a frequentar o curso de Engenharia, de eletrotecnia, eu tenho aqui no Instituto Superior Técnico, que era o técnico ou o ISEL… PM — O Instituto Superior Técnico. Eu não passei para o ISEL. PB — Portanto, da escola profissional da radiotecnia,
PM — Sim, tive qualificação na altura, portanto, a escola da radiotecnia era o curso na altura, porque era aquele complementar que vinha do rádio montador, portanto, o rádio montador depois era um curso que tinha quatro anos, depois tinham mais dois anos de complementaridade. E já se chamava radiotecnia, está bem? Então curso complementar de radiotecnia. E daí eu transitei. Começo a trabalhar e começo a ir para o técnico, estudar.
PB — Entretanto, em 1979, ainda a estudar, estava no terceiro ano desse curso, decide… Ou seja, conclui na RTP. Conte-me lá como é que foi essa aventura? PM — Essa foi uma das fases em que tive que tomar decisões na minha vida, ao longo da minha vida, toda a gente toma decisões, é evidente, mas essa foi das mais difíceis. Porque o ter atingido dentro da função pública um determinado nível, o que na R o que na altura acontecia era se não fosse formado, não, tinha atingido o meu limite máximo, salarial, portanto. (as) carreiras eram definidas por letras, portanto havia um determinado letras, e quem fosse bacharel tinha um determinado nível, que poderia ser a letra H, já não me lembro bem quais são as letras, mas e a carreira superior, dentro da função do Ministério, estava de certa… inacessível, porque eu não tinha o curso completo, portanto tinha só a frequências, não dava. Então há que tomar uma atitude das duas uma ou continuava no Ministério e tentava tirar o resto do curso, ou ia lançado, ou ia ser atraído pela tecnologia da cor. E como a RTP começou a introduzir a tecnologia da cor, eu sentia-me em condições de poder transitar, em termos de conhecimentos era esse novo patamar profissional e técnico, acabei por tentar duas coisas: nesse momento derivei. Tinha a opção… salarialmente, ninguém me pagava mais, ou seja, a TAP foi um dos elementos que eu tentei também entrar, ingressar na TAP, mas a TAP dava pouco mais de 200 escudos, que eram não sei se vocês estão a ver o que era na época, o que podia atrair não dava para eu ganhar o suficiente, portanto, os salários na época eram da ordem, já muito elevados, pode-se considerar, já muito elevados. Os salários eram relativamente baixos, portanto e não dava para dar o salto e implicar as despesas de mudança do meu estilo de vida, já não, já não permitia por esse valor eu ser atraído, acabei por vir para a RTP ganhar menos de 200. Portanto vocês estão a ver que, para além do salário que tinha, aquelas coisas que se fazem na vida por opção e então vim iniciar uma nova carreira dentro da RTP.
PB — Explique-me lá como é que foi o processo de concurso e recrutamento nessa altura, e formações? PM — Na Francisco Baía havia um centro de formação da RTP já na época e, portanto, já tinha os meios, que mais tarde transitaram para a 5 de outubro, posso falar sobre isso, havia uns meios que tinham vindo de um carro de exteriores, que tinha servido em 1976, nos Jogos Olímpicos de Munique. Portanto, tinha sido feito o desmantelamento desse carro de exteriores e tinha sido criado um estúdio na rua Francisco Baía, e portanto, já havia um estúdio de cores na RTP. Já em 76, portanto, não estava era a servir para as funções de emissão, mas a formação já era dada a esse nível e todo esses meios estavam disponíveis para iniciar um processo. Mais tarde esses meios vieram a ser colocados na 5 de outubro, no estúdio próprio da formação. E, portanto, o centro de formação foi desenvolvido nessa época, é, com o apoio da área de engenharia da época e era o local onde se fazia a seleção do pessoal técnico. A RTP iniciou um processo de renovação a nível de pessoal que se apresentava, as apresentadoras, não sei se lembram, na primeira fase a RTP recrutou um conjunto de caras bonitas, que serviam para fazer as apresentações dos programas e aí acompanhavam a emissão etc. Faziam uma série de tarefas associadas. E foi aí que se desenvolveu, nessa época, os cursos, esses cursos de formação para a, para a parte de apresentação. E também se fez aí a seleção do pessoal que mais tarde entrou na RTP já com estúdios incorporados na 5 de outubro. Pertenciam ao primeiro grupo de técnicos que, é receberam formação sobre televisão a cores, com pessoal especializado, pouco especializados ainda em cor, porque a RTP não tinha muita experiência nessa área. exceptua-se o engenheiro Carlos Alberto Henriques, que era um dos que mais conhecia, pra época, de televisão a cores, não estou a exceptuar todos os outros, mas era do que estava mais ligado à área da formação, o engenheiro Rio Tinto, o engenheiro Franco Dias etc., todos desses quadros que estavam associados à estrutura da formação técnica, e também à formação, davam cursos de integração profissional nessa área. Eu como tinha alguma facilidade também fiz com um bom desempenho esse curso de formação e, portanto, vim integrar a RTP nessa fase.
PM — Mas na candidatura houve coisas assim diferentes. Uma delas, que eu tenho que descrever, é o seguinte: eu como já tinha, não quer dizer que isso tivesse validade, porque os cursos só valem pela sua conclusão. Eu quando concorri, concorri com aquilo que o me era exigida nas habilitações para entrar e ser admitido como um concorrente não é. Concorri com curso complementar, que era o tal 7º ano, que era o equivalente ao 7º ano. Só que passado algum tempo, quando concorri, deveria ter concorrido com isso, mas só que meti uma nota a dizer que tinha a frequência do técnico. É claro que fui excluído logo, de imediato, porque uma vez que aceitavam que eu tinha frequência técnica, o que que este elemento quer? Vem pra aqui, faz o curso e tira o curso, de, de, conclui o curso do de engenharia e apresenta-se aqui como um quadro superior dentro da empresa. E isso foi rejeitado. Até que depois eu tive a fórmula de concorrer à segunda vez, isto no decurso do próprio concurso, eliminando o texto que diz que eu estava no técnico. E acabei por ser aceite assim. Portanto, eu admito que uma vez escrito que eu digo que não tenho, não tenho efetivamente, mas no dizer que tinha a frequência já era o suficiente para me colocarem de fora e eu arranjei forma de isso ser, não considerá-lo, e acabei por entrar depois nesse curso de formação e integrar a parte técnica. Mas a minha carreira lá dentro não fiquei em compasso de espera durante muito tempo. Foi-me atribuído, passado algum tempo, sei lá, isso em 82, comecei a integrar a comissão de análise do anteprojeto daquilo que mais tarde veio a ser a 5 de outubro. Pertencia a um grupo, uma comissão, que estava distribuído por várias áreas tecnológicas em que se fazia uma apreciação técnica daquilo do tal projeto que o Proença de Carvalho tinha anunciado, como sendo a renovação tecnológica da empresa e, portanto, acabei por fazer parte desse conjunto. Era um conjunto alargado, de vários técnicos que estavam associados à RTP, na área de estúdios, na área da continuidade, na área do centro de emissão, na área do chamado car, o centro de aparatos room que era o local onde havia a maior concentração de equipamentos dentro da estrutura da própria 5 de outubro e havia várias áreas de vídeo e áudio, estúdios sonorizações, e outras áreas diferenciadas, áreas de edição, videotapes sistemas de emissão, já alguns digitais. Portanto, começou a haver… mas inicialmente era.. os digitais que estou a falar na época eram os de formação de caracteres, gerador de caracteres, mas eram digitais, está a ver, já havia uma questão digital. E, portanto, eu pertencia a esse grupo e quando se desenvolveu, eu tive a sorte, de certa forma, de acompanhar todo o projeto da 5 de outubro. É, o acompanhamento, a evolução tecnológica eu mantinha no Lumiar, a 5 de outubro estava a ser concebida ainda, nessa fase, depois com a interferência do governo da época, estabeleceram um acordo para financiamento da 5 de outubro. Era uma coisa que na altura se falava aí a volta de 2,8 milhões de contos, estamos a falar de contos, não é.
PM — Era muito equipamento, era uma estrutura totalmente nova, e era financiado por uma instituição, acho que era Rádio Hamburgo, era uma entidade que já se dedicava à produção, claro que os bancos é que estavam associados a isto, não é, mas era, é uma entidade, e fazia parte desse grande projeto e do anteprojeto, e do projeto, a Bosch Ferneseh. portanto que era o Robert Bosch, da época, já com o novo nome, e que incluía a maior parte dos equipamentos. Havia uma área, duas ou três áreas que não eram fornecidas por Robert Bosch, na altura Robert Bosch tinha capacidade de fornecer todo e qualquer tipo de equipamento associado à produção de televisão, desde a captação, a mistura, distribuição, interna, edição também, porque era feita através dos sistemas BCN que já existiam na RTP, portanto já havia equipamentos desses no Lumiar. O telecinemas era da Rank Cintel, na altura, era no Lumiar que estavam residentes os Rank Cintel, mas os telecinemas eram modernos e tinham o sistema de Flying Spot, que é um sistema que permitia a leitura linha a linha da película, a alta velocidade, e portanto, havia umas certas tecnologias que a RTP adquiriu novos equipamentos da Bosch, portanto, praticamente todo o material era Bosch. A central, central, era dividida entre material Bosch e material que tinha origem na Siemens também a tirar… porque era a parte de áudio e a parte de vídeo, portanto, tudo que era matriz, tudo que era o sistema de monições e todo o sistema de controlo, todo o sistema de associação de identificação dos sinais, porque era uma coisa nova para época, era uma identificação por cada sinal, o sinal tinha um conteúdo que, no monitor ou num display, mostrava a origem do sinal. Por exemplo, era para identificação, era uma coisa muito importante na época e isto tudo tinha tecnologias que estavam associadas às matrizes de vídeo e áudio e aos estúdios propriamente dito, ao fornecimento de informação delegada para edições, ou para sonorização ou para outro qualquer sinal que circulasse dentro da estação era veiculada com identificação. Então complexidade que isto dava, principalmente, dos eixos dos percursos de origem dos sinais, as matrizes e todo o conteúdo de controlo, monição e controlo na central técnica, que se chamava central nodal, portanto, era o local onde tudo convergia para tudo divergir, portanto todos os sinais passavam por aquela entidade. Portanto, essas tecnologias estão associadas, foram… estou a falar de uma coisa do tal valor dos 2,8 milhões de contos na época. Portanto, eram compostos por três estúdios básicos, o estúdio 1 e o estúdio 2, de média dimensão, são estúdios da ordem, sei lá, de 300 metros quadrados, ou coisa assim do género, um estúdio internacional de dimensão menor, portanto havia as continuidades, portanto, para cada um dos programas, que na época era o canal 1 e o canal 2, portanto. E todo, e todo um outro conjunto de acessórios de produção, de edição, na época havia unidades de edição associadas, que estavam associadas à Quantel, portanto, essas tinham um nível de qualidade mais elevado, era o que havia de melhor na época, a AVID ainda não tinha entrado dentro do sistema, portanto, ainda só existia a Quantel, eram sistemas…
PB — Equipamentos analógicos a trabalhar com gravadores… PM — Não, aí já estamos a falar de coisas da ordem digital, não é, o processamento já era digital. PB — Mas quando vocês montam o 5 de outubro, já havia pós-produção em formato não linear digital? PM — Já, já, já. Era tudo, nessa fase que a Quantel passou a ser tudo… a conversão era, havia a edição baseada na Abekas, não sei se lembra, a Abekas tinha o A34, que era uma unidade que permitia fazer a AB roll, ABCD roll, portanto, permitia inserir quatro máquinas para uma máquina, e nessas mesmos, na A34, Abekas A34, permitia a conversão dos sinais, quer tenham origem em RGB ou R menos Y/ B menos Y, portanto, o Y associado ora em componentes, conseguia-se fazer, mas o processamento interno e a conversão por efeitos, as cortinas e qualquer outra ação desenvolvida, por keys associados ao sinal era feita sempre por utilização de processamento digital. Portanto, e isso era comum a algumas das mesas que existiam… as mesas totalmente analógicas deixaram de existir, também com o aparecimento dos sistemas de conversão, por exemplo, ainda me lembro o primeiro, o primeiro equipamento que apareceu na RTP para converter telenovelas, vocês sabem que a telenovela teve origem, fundamentalmente, não era as nacionais, as de origem brasileira, que funcionava com o formato PAL-M necessitavam de uma conversão do frame rate e também do tempo de linhas, os tempos de linhas eram diferenciados e, portanto, para que não houvesse possibilidade de distorção na imagem, para, tinham que ser convertidos do PAL-M para o PAL normal, que era o nosso PAL BG, portanto, era assim que se fazia… E haviam equipamentos que recebiam os sinais e convertiam para o nosso sistema e eram gravados depois nos nossos formatos para a emissão. Portanto, essas tecnologias estiveram todas associadas à produção já da RTP. Também se pode falar da produção de legendas para a inserção de legendas.
PM — No Lumiar as legendas eram efetuadas ainda com o sistema de papel, não é. Portanto, escrevia-se analogicamente no papel, e, é, por key, ou seja, por um sistema de inserção, fazia-se a inserção da legenda sobre o filme, ou sobre o… passando sempre pelos processos de reprodução, inserção e nova gravação. Portanto, a RTP passou por várias fases de evolução tecnológica. Esta foi o salto de melhor qualidade pra época, que só teve precedentes com o aparecimento da SIC e da TVI. A SIC e a TVI já, quando apareceu, apareceu com uma tecnologia mista. Era, tinha estúdios em composto, chamado PAL, o normal, tinha estúdios em componentes, tinha alguns elementos em componentes e tinha uma parte já em digital. Não muito significativa. Ou seja, as matrizes, as entidades de edição, as que já na altura comportavam a conversão digital eram digitais, mas as origens como se sabe na maior parte dos sinais, quer sejam câmeras ou outra qualquer, excetuando-se o videografismo, porque já era um sinal logo digital, mas as câmeras e todos os outros elementos continuavam a ser analógicos, até ao período de 96, 97. A partir daí é que começou também, começaram também as câmeras a processar sinais e a converter sinais para uma gravação digital. Portanto, é, gravação também digital. Não era só analógica. E, portanto, esse processo que havia na 5 de outubro era um processo misto, baseado em PAL, fundamentalmente baseado em PAL, e sem a opção de componentes. Os componentes analógicas, ainda. Havia, excetuando-se alguns equipamentos que forneciam, que era o caso do gerador de caracteres, e outras coisas do género, que forneciam os sinais já analógicos. Suficientes para as mesas de mistura, para fazer o key nessa nessa área, sem passar pela conversão. Ou seja, o sinal tinha origem digital, porque na construção do dos caracteres, era feito por processamento digital, mas depois utilizavam os sinais analógicos para a inserção dentro da estrutura das mesas.
PB — Nos estúdios, as mesas de mistura que vocês tinham eram em componentes, na 5 de outubro? PM — Não, eram PAL. Eram PAL. PM — Excetuando-se dois ou três casos, algumas unidades da edição. Por exemplo, a Abekas já utilizava… como as máquinas tinham a possibilidade de ter componentes, poderia-se optar por inserir sinais PAL se o sinal de origem fosse PAL. Ou componente se o sinal de origem fosse como é o caso de gerador de caracteres ou um gerador de efeitos, ou outro qualquer coisa que se quisesse se associar a imagem ou inserir tivesse origem em PAL, ou tivesse origem em componentes. Os componentes normalmente era RGB, no caso de gerador de caracteres, e se fosse uma outra unidade, que também gerasse componentes, mas em CAV, componente analógicas de vídeo, eram o Y, o R menos Y, o B menos Y. Era uma opcional, às vezes.
PB — Mas então foram técnicos da RTP que projetaram a 5 de outubro? Aqui não foram gabinetes externos engenharia… PM — É, assim, vamos lá ver, a colaboração efetuada pelos técnicos era… nós funcionamos como sancionadores, ou seja, havia uma proposta global e havia que racionalizar as propostas. Portanto, o fornecedor do serviço, que era a Bosch Ferneseh, como empreiteiro da obra, que iria inserir a estrutura técnica. E quem fazia a avaliação das necessidades de mais ou menos circuitos, de acordo com que, os objetivos que a empresa tinha, que atingindo aquele valor. Portanto não… tinha que se condicionar o que quantos feixes pretendiam, o feixe por exemplo, 10 feixes, 12 feixes, quer dizer, lá está 10, 12 feixes, vamos lá ver o que que é racional, as necessidades da casa, internamente, os circuitos que se estabeleciam, as linhas que se transferiam de um lado para outro, quer analógicas, quer com informação digital complementar. Toda essa informação, a origem era sempre analógica, está a ver?
PB — Mas esse projeto foi construído e feito pelos alemães e vocês no fundo diziam era se aceitavam ou não… PM — Era como se fosse um… PB — Havia um padrão. Porque aquilo envolve muitos meios, não é. Portanto, tanto para além dos circuitos e dos percursos de interligação entre estúdios, monições, mesas de mistura, geradores de caracteres, e tudo que se quer criado dentro da estrutura do estúdio, para um sinal, ser fornecido para o exterior. Portanto, essa quantidade de linhas de ligação etc, tudo isso envolve custos e, portanto, havia que racionalizar e funcionávamos, os técnicos, de acordo com as necessidades já sentidas anteriormente no Lumiar, saber qual era a necessidade que se projetava para uma uma estação de televisão que pretendia ser a CNC, o Centro Nacional de Comunicações. Na época era assim que se pretendia que se tivesse essa designação. Depois generalizou-se, a RTP 5 de outubro mas havia a intenção de colocar ali um centro nacional de comunicações. Do que diz respeito às vias de ligação com a Eurovisão, satélite e outras que tinham origem já na época todos os sistemas de receção e de emissão para a Eurovisão. Portanto, tudo isso tinha os compromissos que tínhamos com a Eurovisão e que tinham que ser cumpridos. De certa forma porque estávamos ligados e éramos membros e somos não é. Portanto, havia necessidade de racionalizar todo um conjunto meios. Depois havia as ligações da RTP com os centros de emissão. Portanto, o centro era, neste caso, o Monsanto, que depois fazia a distribuição. A rede de feixes, a rede de ligações que se faziam para a RTP, para reportagens etc. Portanto, essas ligações recorria, se necessitavam de ter um racionamento lógico, não é. Portanto, o projeto tinha um… senão o projeto disparava.
PB — Mas depois da Bosch fazer esse projeto, de ser modificado por vocês, a implementação da estrutura foi feita por pessoas da RTP ou vieram aqueles alemães? PM — Foi, assim, havia uma equipa de alemães que vinham fazer a função de coordenação das tarefas que se tinham desenvolvido. Todo o projeto foi feito, e com antecedência, a piori, foi montada toda a estrutura na Bosch. Criaram um espaço idêntico, formataram, de certa forma, as necessidades, de acordo com a cabulagem. Na época, portanto, a numeração da cablagem, tudo o que tem a ver com a parte logística para a estrutura e concepção de um projeto daquela dimensão era extremamente exigente. E, portanto, os alemães montaram todas as racks, montaram todos os equipamentos, fizeram os ensaios finais e havia delegações da RTP que iam lá e dizia ê pá, é aqui talvez não se necessite desta redundância, ou aqui necessita-se de mais isto. De acordo com as necessidades que eles previam na época. Esse é o anteprojeto foi desenvolvido com um conjunto de equipas que se deslocaram, viram o sistema funcionar etc, e, portanto, estavam na 5 de outubro, deslocada nos estúdios lá deles, nos pavilhões deles. E depois havia outro tipo de ações, que eu colaborei em alguns deles, nomeadamente na ida à Inglaterra, a Basingstoke, a outros locais, para saber como é que faziam os sistemas de controlo remoto das câmeras, por exemplo, o pan e Tilt, e o zoom, e o foco etc., portanto, havia a necessidade de alguns fornecedores externos, que também estavam integrados no projeto de instalação, tinham necessidade de fornecer formação aos técnicos que viriam mais tarde a ser as pessoas que se dedicavam a isso. Por exemplo, as câmeras, todas as câmeras que foram instaladas na 5 de outubro eram de um modelo específico da Bosch, e portanto houve necessidade de levar uma equipa, aí fui eu e outro elemento, que fomos a Darmstadt, durante um determinado período, ou, sei lá, três semanas, por aí, e tivermos o a formação necessária para fazer os alinhamentos técnicos de fábrica. Era fundamental para a parte tecnológica da empresa ter pessoas com conhecimentos in loco, portanto, nos locais de origem, de como é que funcionava a estrutura e como é que era feito todos os procedimentos necessários, é, baseado nos princípios de que a Bosch tinha, tinha um protocolo, que estava a cumprir, que era era o fornecimento dos equipamentos com a formação dentro de cada equipamento. Portanto, nas mesas de mistura foi uma equipa, nos câmeras foi outra, na análise geral, os videotapes, já não havia muita necessidade, porque a RTP já tinha modelos anteriores, já tinha uma certa experiência nessa área, mas os técnicos de televisão nunca, nem no projeto, descuraram a questão da formação dentro de cada um dos modelos de equipamentos adquiridos.
PB — E não era uma formação para operar área, era uma formação para fazer a manutenção… PM — Não, é assim. Tinha dois, duas componentes. Está implícito que se eu sei como é o conteúdo intrínseco dos meios, eu sei qual é as suas funcionalidades disponíveis por esse meio. Não era um operador, não era um utilizador do efeito zoom, isso não era muito importante, é relativo. O que era importante era saber quando o zoom não fazia a sua função, eu saber detetar o que que não estava bem. Ou quando a câmera não tinham os valores, ou os sinais obtidos de acordo com uma determinada característica, temperatura de cor, ou qualquer defeito de ordem tecnológica que a câmera manifestasse, eu estivesse apto a atuar junto dos módulos, ou das unidades que tivessem necessidade de serem corrigidas ou serem alteradas para garantir as especificações técnicas. E isto é sempre muito importante. E, portanto, a formação sempre pós, ou ante fornecimento de meios, pressupunha que estes ficassem técnicos conhecedores, por exemplo das tecnologias aplicadas aquele equipamento. E de acordo com as normas que estavam estabelecidas. E, portanto, esse técnico deveria também conhecer todos os procedimentos que a fábrica recomendava e todas aquelas que, todos aqueles procedimentos que eram, por testes, feitos pela EBU. Por exemplo, quais eram as recomendações que se deveriam fazer e as normas que se tinham que ser cumpridas, por exemplo, as tolerâncias dos sinais. Os sinais circulavam dentro da 5 de outubro com uma tolerância apertadíssima, para ter uma ideia, por exemplo, posso dizer que o desfasamento cromático entre componentes entre várias origens de sinal que chegavam à mesa de mistura, e que eram aplicados na mesa de mistura, não podiam ter um desvio superior a dois graus. Ora, estão a ver, o desvio de cromático 2 graus. Ora, nós só somos sensíveis de desvios da ordem de 10 a 12 graus, portanto. Mas a regra diz que é, o desvio máximo seria o tempo de um sinal a ser inserido e misturado com o outro não podia ter desvios temporais superiores a 200 nanossegundos, portanto. Não sei se têm noção do que é 200 nanossegundos, mas é um quinto do microssegundo. Para ter uma ideia, um quinto do microssegundo, não é. É uma coisa extremamente, é praticamente coincidente. E, portanto, há um rigor e havia, para além disso, os parâmetros de amplitude dos sinais não poderiam exceder ao longo de todo um percurso, imaginemos um estúdio, uma câmera, um estúdio e uma mesa de mistura, um distribuidor, a central técnica, o sinal é enviado para a gravadora, portanto, passando pela central técnica vai à gravadora, e a amplitude de desvio máximo que se admitia num sinal era 1{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} a 2{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, no limite. Esta tolerância, quando falo, de 2, estou a dizer mais 2 menos 2 por cento, estão a ver, é a tolerância admissível, um sinal em toda uma cadeia, um circuito mais complexo. Se for um sinal que tenha origem, por exemplo, do exterior que passou por um feixe foi a Monsanto e deu um salto aqui ou outro, aí há a necessidade de ter outro padrão e, portanto, é um grau de tolerância maior. Mas de qualquer forma o sinal ao entrar na estação, esse mesmo sinal, é corrigido automaticamente ou não automaticamente, porque pode ser das duas formas, e fica dentro daqueles valores de tolerância que são admissíveis. Portanto, os graus de exigência para o sistema analógico eram mais rigorosos na época do que agora nos digitais. Por quê? Não quer dizer que os digitais, os digitais têm uma, uma garantia, sendo a origem da câmera o sinal sai errado, vai continuar na cadeia errado, ao longo de toda a cadeia. O que se pretende é que ele não saia errado da origem. Porque como é um processamento digital, teria que se fazer procedimentos digitais para o corrigir. E, portanto, não interessa muito fazer isso uma vez que o sinal deve estar dentro dos padrões que estão estabelecidos pelas normas, portanto, também nisso essa questão não se coloca.

Parte 8 de 27

Síntese:

– O projeto da EXPO 98
– chefia na manutenção de equipamentos na 5 de outubro até 1995
– inicio da carreira como Formador
– transição 5 outubro para instalações nos olivais
– fim da produção no lumiar e transição para 5 de outubro



P Barbosa — E esse grau de exigência e complexidade, pois, e o projeto ser feito fora de Portugal, foi também usado na Expo 98?
JP Magriço— a Expo 98 vamos transitar para um outro nível. houve partilha. A RTP tinha carros exteriores, não é, na época, portanto, já tinha os carros exteriores digitais, porque o digital, começou a ser incorporado para aí, 1996, se eu não estou muito enganado, que antecedeu transmissões para a RTP internacional. Vejam que a RTP era analógica, a sua estrutura era PAL, pura e simples, puro e duro, não era? e todo o sistema é de que previa a entrega dos sinais para os sistemas internacionais, que era o caso da RTP internacional, já tinha estúdios cuja origem dos sinais eram analógicos, mas toda a produção da mesa de mistura, já todo o processamento era digital. E, portanto, houve ali uma fase transitória e foi feita a instalação, o arquivo já era digital, já era tudo feito em discos, está a ver? Portanto, isso antecedeu o período da Expo. E quando foi a Expo já toda a produção dos estúdios que tiveram associados à Expo, instalados lá, portanto, consumidos basicamente pela estrutura técnica da RTP, o engenheiro Franco Dias etc, que foram dos fomentadores de todo aquele processo, estou a falar da questão técnica porque depois havia os outros elementos que estavam associados à parte administrativa do sistema, mas estes, a visão técnica é o que me interessa mais relatar, e, portanto, faziam todo este processo de forma a garantir que a qualidade dos sinais, dado que era tudo já digital, embora havia excepções, porque havia carros que não eram digitais, havia um ou dois carros digitais na época, ainda SD. Não estamos a falar de HDs, portanto estamos a falar a estrutura da RTP passou, transitou, de PAL para digital SD. SDI, portanto era o formato da utilização básica, não é. E depois começou a incorporar alguns sistemas de edição que já tinham, recebiam sinais SD, SDI. Estamos a falar na gama dos 270 megabits por segundo, em termos de sinais em circulação, através dos cabos coaxial que circulavam, cabos já preparados para receber bandas mais elevadas, portanto a nível de mega bits, enquanto que os outros sinais que estavam em termos analógicos, a banda mais elevada que se concebia no sistema analógico de PAL era a volta de, para termos uma noção de proporção, era da ordem dos 6, 7 mega hertz. Estão a ver? E o salto que se tinha a exigência para os cabos que transmitiam os sinais digitais utilizavam bandas de metade da banda de 270 mega bits. Vocês estão a ver 135 megahertz, estão a ver a desproporção de 5, 6, 7 megahertz, até 130 megahertz. O cabos foram tratados, as fichas eram melhor, tinha que ser de melhor qualidade, tudo aquilo, tinha que transferir o sinal com o mínimo de perdas, em termos de sinal, possível. E as distâncias também de transmissão dos dessas informações analógicas e digitais estavam dependentes da perda em linha, ou seja, estavam dependentes da actuação sofrida por uma transmissão. Um cabo de 100 metros atenuava o sinal analógico bastante, o cabo digital também o atenua bastante digitalmente, mas como ele é sempre recuperável, portanto, acabava, por sinal, não se reflectir no conteúdo. Minimamente no conteúdo. Ou mesmo não se reflectindo. Portanto, todas essas estruturas era preciso garantir. A 5 de Outubro efectivamente era uma estrutura basicamente PAL e que se manteve até ao seu desmantelamento em 2003, 2004. Estão a ver? O projecto inicial de 83, 84, foi quando se começou a fazer as tais visitas técnicas, depois teve dois anos ainda a instalação, 85, 86, e só em junho de 86 é que começaram as emissões regulares da 5 de outubro. Portanto todo este processo de renovação tecnológica acompanhei-o todo, estive durante uns anos na chefia, direta, de certa forma, da manutenção desses equipamentos na 5 de outubro, nas áreas fundamental de vídeo e de áudio também, parte do áudio. É, na estrutura da 5 de outubro. Portanto, tínhamos uma equipa, muito boa, que tinha dois ou três elementos da velha geração, em que eu me incluía, da velha geração porque vinha de Lumiar, não é, mas não eram assim tão velhos, mas tinha uma geração intermédia, que tinha transitado de Lumiar para o anteprojecto, e depois acompanhei a instalação, todos os procedimentos, fiz uma parte dos testes de aceitação de toda a estrutura dos equipamentos, portanto, no final há relatórios finais da entrega em que era preciso avaliar a qualidade dentro dos parâmetros que estavam estabelecidos, e depois continuei na chefia durante um tempo lá na estrutura até praticamente 95. Tive uma chefia dessa área. Depois tive outro problema de ordem de saúde e, portanto, deixei de estar disponível para essas funções e dediquei-me à formação. E agora aqui é uma nova introdução, se quiser avaliar a questão da formação. Tens mais alguma pergunta?
P Barbosa — Antes de irmos para a formação, acompanhou depois a passagem da 5 de outubro para os Olivais, ou isso já só fazia formação?
JP Magriço— Para a Marechal Gomes da Costa houve um procedimento paralelo, portanto, eu não não colaborei muito, mas sei que tive atento não sendo participante directo, mas acompanhei a transição e o procedimento da estrutura para o digital. É isto através da formação, porque como era necessário formar pessoal na área do digital e eu tinha acesso a todo o conteúdo de informação que era disponível pela EBU e era fazia parte do processo da RTP prestar formação a todo o pessoal que viesse a transitar do analógico para o digital aí entra o tal processo de formação mais elaborado e foi o que eu mais dediquei-me depois desse período. Até 98 tive mesmo vocacionado só praticamente à formação, e depois tive mais dois anos ainda com ligação entre o estudo dos processos necessários para a, da formulação da Marechal Gomes da Costa que já eram tecnologias digitais, tudo digital. Aí já foi praticamente a concepção Sony, portanto…
P Barbosa — Mas nesse caso voltaram a ter uma empresa externa a criar-vos o projecto?
JP Magriço— É assim: já havia, tanto na 5 de outubro como na estrutura de instalação, e projecto, mas não era estanque, era composta por elementos associados à estrutura da instalação, e andei também a fazer a instalação mas era como a estrutura de instalação era reduzida, tinha 10, 5, 6, 7 pessoas, havia necessidade de incluir mais pessoal nas várias áreas para dar, para participar em todo o processo de instalação. Os recursos os técnicos também não eram assim tantos. Era nossa estrutura de técnicos ali na, no Lumiar, com a minha saída e a saída de mais dois ou 3 elementos foi logo, decaiu, porque eram para aí 20 pessoas, estão a ver, saíram três ou quatro, isso nos horários tem logo repercussões , e Lumiar teve durante dois ou três anos ainda enquanto a 5 de outubro se desenvolveu e instalou até a ruptura o Lumiar ficou associado praticamente à produção, aos estúdios de produção que se mantiveram e produziram durante muitos anos e foram remodelados etc., para se adaptarem à estrutura de produção necessária para a 5 de outubro. A informação ao transitar saiu lá uma parte substancial do Lumiar e foi deslocada para a 5 de outubro, não é, porque essencialmente separou-se o que era centro de informação, do centro de produção. Portanto, foi essa esse… e o jornalismo, e toda a área da informação deslocou-se para 5 de outubro e a 5 de outubro durante muito tempo viveu como uma estação de informação, basicamente. Não quer dizer que não tivesse lá ações de produção, algumas coisas. Faziam-se programas lá que estavam ligados… não era a produção diária, era a produção média e a produção longa. Portanto, as grandes reportagens de informação não eram editadas, algumas eram editadas no Lumiar, também, com, houve uma partilha, porque havia meios disponíveis na no Lumiar e, e havia alguns meios também disponíveis para edição. Grande parte das séries produzidas pela própria informação, programas que se dedicavam à informação, mas de maior dimensão e conteúdo, fizeram-se na 5 de outubro, estão a ver? Mas assim como a sonorização de filmes deixou de ser feita no Lumiar, passou a ser feita na 5 de outubro, onde colaborou o Rato Machado, por exemplo, na sonorização desse conteúdo. Mas a produção propriamente dita tudo tinha programas da ordem cultural e de outra ordem, eram feitas também no Lumiar. Portanto, fizeram-se durante muitos anos até a integração e ao abandono do Lumiar para Marechal Gomes da Costa, pois depois vai da 5 de outubro e vão o Lumiar também. Alguns equipamentos ainda transitaram, outros não, de acordo com o tipo de tecnologia.
P Barbosa — O Lumiar só deixou de funcionar quando a Marechal Gomes da Costa foi ativada?
JP Magriço— Sim, já posteriormente. Portanto, a sua degradação só se operou depois.

Parte 9 de 27

Síntese:

– A introdução da gravação em betacam
– LMS library Management System
– Como funcionava a sala de emissão antes da LMS
– O plano B na sala de emissão



P Barbosa— Em 1983 aparecem os Betacam gravadores, pelos vistos a trabalhar na RTP. Que alterações é que isso veio a ter em termos de gravações, principalmente fora do estúdio? E pergunta: se eram Betacams já agarrados às câmeras ou se ainda eram gravadores externos?
JP Magriço— Na primeira fase da utilização do Betacam havia, Betacam de mesa, portanto, o Betacam que permitia a edição, portanto, gravava nos formatos mistos, porque o Betacam digital só aparece mais tarde é ainda um formato de compressão do sinal analógico numa determinada banda de frequências, e os dois sinais de côr também associados à estrutura. Portanto, havia já os Ds, o formato digital digital, com bandas extremamente elevadas, com imagem segmentada por tambores que davam múltiplas cabeças,
P Barbosa— Isso era anterior aos Betacams? JP Magriço— Sim. Portanto, e havia os Betacams que durante um determinado período passaram a utilizar um sistema de conversão com sinais comprimidos, analogicamente, e depois passaram a digital foi a fase mais evoluída desse sistema. Agora, para os gravadores, os gravadores Betacam eram utilizadas e incorporadas na própria câmara, ou seja, grande parte era um cassete, cassete de formato Betacam puro não é, e que estavam incluídas no próprio gravador, portanto, nessa fase os gravadores de e as câmeras passaram a ser mais pesados temporariamente. Até à redução e à utilização de cassetes mais pequenas. Mas foram utilizados durante muito tempo e escola tem aí equipamentos que são elucidativos do tipo de utilização que se fez com os gravadores incorporados. Encastrados não, incorporados na própria câmara. Portanto, a RTP passou por essa fase, adquiriu uma série de unidades desse tipo, vinte e não sei quantos de uma vez, que eu me lembro, que eram uns gravadores que tinham esse processo de registo e portanto era utilizado para… tinha saídas PAL, portanto, normais e tinham as saídas associadas à produção, que era com cassete. Eram lidos depois nos da edição, ou para arquivo, ou qualquer outra informação que se pretendesse depois, mas era sempre o suporte fundamental, era um suporte em fita magnética e que permitia todo o processamento do sinal na edição para, para ser utilizado. Também se utilizou um sistema dentro da Betacam, que foi o LMS, Library Management System. Que foi um sistema desenvolvido pela Sony, e que tinha empilhado 4 ou 5 máquinas sobrepostas, no espaço de rack, portanto, porque as dimensões das máquinas, que eram leitoras e também poderiam ser gravadoras, no caso se colocar lá uma gravadora, associada a uma matriz do sinal da entrada, e o armário, que tinha no seu interior um espaço onde circulava um robô. É, era uma caixa, com múltiplos sensores e com possibilidade de, ir aos compartimentos das cassetes onde se encontravam armazenadas, quer na parte traseira, como na parte frontal, à volta de, de dimensão que a RTP tinha, à volta de 560 cassetes, 64 ou o que era, e que permitiam fazer todo o processamento da emissão. É, quer dizer que, é, uma vez feita uma listagem da sequência, seja de spots publicitários ou de programas, é, a estação poderia continuar até os intervalos em que havia diretos. Portanto, os estúdios da informação entravam em determinada hora, portanto, havia uma listagem que era elaborada com antecedência e eram mercados spots e os tempos associados a cada uma das cassetes, ou cada uma… e que comportava uma grande quantidade de Betacam cassetes Betacam. Esse robô tinha a função de aceitar o conteúdo de cassete metido num compartimento, era uma entrada, um input, ela analisava o barcode que estava associado à identificação daquele segmento ou aquele programa, e de acordo com a leitura ele ia armazenar. Portanto, o armazenamento era interno, era como um disco, funcionava como um grande disco, que sabe onde ele tem compartimentos disponíveis para inserir conteúdos. E portanto fazia este movimento de aceitação do conteúdo das cassetes, colocava-as na posição e guardava-as em memória. e guardava essa informação referente ou segmentada, desse conteúdo que estava armazenado. E recebiam uma grande quantidade de cassetes, portanto, ia até as 500 cassetes. Quer dizer que cada spot publicitário, por exemplo, nem que fosse 8 segundos, ou 10 ou 12, ou 20, estaria numa única cassete. Estão a ver? E portanto, essa esse conteúdo era explícito, era contido numa única cassete. E essa informação fica numa base de dados associada à estrutura da… Quando havia a utilização de sequências de anúncios, em diferentes posições, porque a associação deles não era igual, o que que acontecia era que o robô fartava-se de trabalhar. Portanto, tinha que buscar uma cassete, colocá-la na entrada da máquina, as tais máquinas que estavam empilhadas, numa determinada sequência, e o tempo que era aplicado a esse, esse spot, era colocado numa posição de espera, em cueing ou seja, a aguardar o tempo de estabilidade, apontado na sua posição de arranque, de acordo com o conteúdo que lá estivesse definido no, na tal listagem, apontava-se e ficava a aguardar que a informação, na sequência da emissão fosse necessária. E o robô ia buscar e fazia as duas funções, uma vez que feita essa leitura, portanto, a inserção da cassete na máquina, a máquina ia ler, apontava-se por timecode na posição onde deveria iniciar a leitura, aos segundos de estabilidade entrava no ar, portanto, comutava isto, a informação de uma cassete para outra, ia.. bastava cinco máquinas destas, que recebiam, faziam todos esses procedimentos de aceitação, leitura, devolução da cassete, o robô agarrava na informação, recolocava no seu bin, portanto, no seu compartimento.
P Barbosa— E o operador que estava na sala de emissão tinha que dizer em que timecodes em que cada cassete é que estava cada uma das coisas? JP Magriço— Sim, isso era na elaboração anterior, ou seja, quer dizer que quando fazia a etiqueta, o barcode que era uma etiqueta colada na face traseira da cassete com múltiplas informações, o tempo, a duração, o segmento, no caso de ter segmentos poderia ter segmentos diferenciados, ou seja, o anúncio da Loreal, por exemplo, não vou dizer aqui publicidade, mas se calhar tinha lá dois ou três anúncios diferentes e, portanto, numa emissão entrava um, outra entrava outros, quer dizer, poderia ser um conteúdo diferenciado. Ou então era um programa de 20 minutos, ou mais tempo ou menos tempo. Estou a falar a questão da publicidade, mas podia ser um programa de emissão, que tenha conteúdo, um filme qualquer etc.
P Barbosa— Então, isto funcionava com, também se chamava essa máquina Betacard? JP Magriço— Era um Betacard de maior dimensão. Aquilo é um Betacard. Não é um betasite o betasite é outra coisa, não é, é um betacard. O betacard era uma unidade mais reduzida, era um era menos cassetes,
P Barbosa— Ah, está bem. JP Magriço— Portanto, este o LMS era um sistema mais evoluído,
P Barbosa— Está bem. JP Magriço— Era era tão igual como outro, o programa se calhar, e de funcionamento era muito semelhante. Mas a nível de controlo era o tempo de acesso rápido, o robô tinha que ir… trabalhava à velocidade de 50 km/hora, lá dentro, para ir buscar a cassete, recolher e colocá-la na na… porque o tempo de cada anúncio podia ser da ordem de 8 segundos, estão a ver?. É 8 segundos ela tinha que fazer esses procedimentos todos e a sequência de anúncios de 8 segundos são muito comuns em televisão. E portanto ela tinha que empilhar, colocar a informação toda no momento exacto para fazer o cueing, o acerto, e preparação para emissão.
P Barbosa— Mas isso levanta uma pergunta: como é que antes de 1983 era feito isso na sala de emissão? JP Magriço— Lá está. Eram as tais edições por uma única cassete, por ASSEMBLE, com uma listagem rigorosa dos anúncios que se seguiam, e era feita transcrição de um anúncio para uma cassete final, que era a cassete que tinha pra aí uma hora, por exemplo, de publicidade, em que se calhar entravam os primeiros 10 minutos, depois entravam os segundos 10 minutos no intervalo de um programa, e assim sucessivamente. Numa única cassete tinha que se adicionar, cada vez, a sequência que se queria na emissão.
P Barbosa— Portanto, para cada intervalo, um editor tinha que alinhar a publicidade toda. JP Magriço— Quer dizer que ele tinha uma cassete e tinha disponível o seguinte: ele sabia na listagem e no alinhamento qual era o segmento da cassete e a partir do timecode seja definido, a partida entra aquele conteúdo de publicidade e os anúncios lá estavam todos colados e editados para aquela sequência e para aquele intervalo. Está a ver? Portanto, isto pressupunha um trabalho operacional, desgastante, porque os anúncios não entravam sempre na mesma ordem. E portanto ele tinha que fazer isso com antecedência e garantir que não havia falhas também. Com o LMS veio a se suprir todas essas dificuldades que estavam associadas à edição e passou a ser um editor on-line.
P Barbosa— Mas aí, na sala de emissão, o operador, quando chegava ao final de um telejornal, ou no intervalo de um telejornal, ele tinha que lançar à mão, à máquina… PM — Não era bem assim. Todos esses processos dentro da estrutura.
P Barbosa— É que estamos a falar, portanto, não era um Betacam que ele tinha, ainda era um gravador de fitas, certo? Onde estavam essas coisas. Como é que ao acabar o telejornal lançava aquilo e sincronizava? JP Magriço— É assim: para garantir que os tempos de estabilização, a mesa mistura final de uma continuidade, é, tinha um operador mesmo, quer dizer, não era autónoma. Agora já é autónoma na medida em que tem, obedece a uma listagem e o conteúdo está em servers, e, portanto, a entrada é quase instantânea, e, portanto, basta a listagem estar efectuada e não estar qualquer erro nela. Portanto, não falha. Não falha teoricamente. Mas o que acontece, o que acontecia era que o operador estava junto à máquina que estava associada à edição, e, ou remotamente era o operador de continuidade que controlava a máquina por joging, portanto, apontava a peça no ponto em que estava definido como sendo o ponto start do sistema. Qualquer máquina daquelas, daquele tipo, que trabalhava com, a parte mecânica das cassetes necessitava de um tempo de estabilização, e poderia ser 3, 5 segundos, portanto, era aquele apontava e colocava a máquina naquela posição. E quando o programa seja uma saída de um telejornal ou um filme, também tinha lá o indicador temporal de que o filme tinha acabado. E é preciso entrar a publicidade sem qualquer perturbação, nem com cortes, nem por excesso, nem por defeito. Portanto, há que apontar. E havia um start associado. Portanto, havia apontar a start da cassete, o tempo de o timecode adequado para que a estabilização se operasse ao fim de um determinado tempo. E ele arrancava a máquina à mão. Portanto, era assim que se fazia..
P Barbosa— Na sala de emissão? JP Magriço— Na sala de emissão. Que poderia ser na continuidade ou poderia ser numa outra sala em que tivesse alguém que estivesse ali atento à emissão, olha, vai agora, é agora. Portanto, e carregava na emissão, porque havia leitores de timecode associados a cada um deles, e portanto, a falha seria normalmente inferior a um segundo. Por exemplo, poderia estar um pequeno negro. Normalmente nas entradas da publicidade, como não é agora feito, havia um separador, um separador de publicidade. Era uma exigência.
P Barbosa— Que também estava gravado. JP Magriço— Também lá estava gravado. E portanto, entrava, para margem de segurança era conveniente que tivesse lá um separador que é para se falhar, onde falhou foi o separador. Não pode é falhar o advertising, não é, portanto a publicidade é que era crítica, porque era logo motivo de “eu não pago porque não sei o número de segundos que”, havia penalizações ou sanções. No caso de falha não é, portanto. Isto trabalhava de pelo processo. Associado ao LMS havia um um processo ainda muito mais interessante. Fazia o trabalho de montagem do operador dos blocos publicitários que entravam no ar. Para quê? Para que, havia dois runing dois simultâneos, havia um runing feito pelas máquinas que estavam a operar no LMS, portanto, on-line, que fazia a edição on-line, e havia um outro processo paralelo, que era uma um backup da emissão, em que havia duas vias na mesa no caso de uma engulhar
P Barbosa— Então, não tinham duas LMS, tinham eram dois sistemas diferentes? JP Magriço— Se tivesse duas LMS era uma mudança tremenda numa estrutura daquelas. Não quer dizer que a RTP não tivesse capacidade económica para fazer. Porque tinha. Nunca optou foi por isso, mas ter duas LMS a trabalhar em paralelo como tudo igual, era um bocadinho exagerado. Então o que que fazia? Durante o tempo que antecedia a emissão, o próprio LMS ia editando numa única cassete a sequência daquilo que estava previsto na listagem, no …, não é, portanto, na listagem que estava associada.
P Barbosa— Então, em tempo real havia uma máquina que estava a passar já a edição desses spots todos? JP Magriço— Sim. E o operador se houvesse algum erro passava imediatamente… tinha um AB, portanto, passava de A para B e tinha, ah, e tavam em sincronização. Claro, claro. Tem que se garantir que o conteúdo de uma era igual ao da outra,
P Barbosa— E como é que faziam isso quando estavam a passar um filme? Também haviam duas, dois leitores em simultâneo? JP Magriço— Não, não. O filme, o filme normalmente quando falhava falhava e, portanto, tinha que se parar o filme, tinha que se voltar atrás, quer dizer, então ter também hipótese de um backup de filme também pode ser. Depende do grau de importância. Se quiser pode ter duas máquinas sempre em paralelo, a receberem o controlo de… simultâneo, não é, portanto.

Parte 10 de 27

Síntese:

– Greve geral na RTP
– Diferencial de ordenado entre engenheiros eletrónica / operadores
– Aparecimento da SIC e TVI
– Negociação direta no auditório RTP
– SIC oferece o dobro do ordenado
– A SIC impunha exclusividade



P Barbosa— Anos 80. Há uma greve geral na RTP, em que o Sr. Magriço me tinha dito que foi das únicas ou das primeiras vezes em que pararam mesmo, no fundo, a emissão, vá lá, ou pelo menos pararam a empresa. Como é que isso aconteceu? Por quê?
JP Magriço— As greves, as greves são sempre partes de dois gumes, é como uma faca bem afiada. Mas na, naquele aspeto, correu bem, relativamente, porque não houve ninguém ferido, no meio desses gumes. Mas a RTP passou por uma fase reivindicativa, e eu posso declará-lo sem problema nenhum, que quando cheguei à RTP nos anos 80, no início dos anos 80, deparei-me com uma situação que tinha sido resultante de negociações de acordo de empresa em que os técnicos a que eu pertencia, ao grupo a que eu pertencia, é, tinham sido relegados para segundo plano, dado que havia um diferencial salarial da ordem de 25{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} entre o desempenho das minhas funções ou das funções dos meus colegas, na própria carreira, porque nós iniciávamos como, não é bem, como aprendiz de, mas era um período de integração profissional, depois havia o tempo em que indivíduo estava como técnico de eletrónica, e depois passaria à posição de supervisor, ou desempenho de coordenação de uma equipa, e a carreira tinha três ou quatro degraus, e tinha como responsável técnico, que era o topo da carreira. E não se podia passar dali a não ser que viesse a desempenhar qualquer função da ordem de chefia e isso eram 3 graus básicos, ou quatro, no máximo. E o que acontece é que o acordo da empresa também não previa que na carreira este processo travava um determinado nível dentro da estrutura da empresa. Portanto, não havia possibilidade de progredir mais dentro da estrutura. E os operacionais tinham dois ou três graus só, nós tínhamos quatro, eles tinham dois ou três. Mal entravam, entravam num nível abaixo do nosso, quando eram contratados o técnico de eletrónica já era contratado a 25{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} acima, isto em termos salariais. Para o operador, para um desempenho de início de carreira. E esse acordo em 76, é, para os sindicatos, para tentarem negociar com a empresa, dado que a maioria dos operadores, eram a volta de 600, ou 500 e tal, e havia cento e poucos técnicos. Estão a ver? Portanto há aqui um quinto, sei lá, havia aqui um diferencial significativo de técnicos relativamente aos operacionais. Operacionais eram… tinham muito mais peso, em termos de estrutura em termos salariais. Mexer no salário deles era mais confuso, não é? Porque qualquer coisinha que fizesse era multiplicado por um valor superior. Nós fomos relegados, isto aqui, relegados é um termo um bocadinho forte, mas fomos cedendo nas negociações, de maneira que os sindicatos disseram assim: como vocês são cento e tal, isso depois corrige-se mais tarde. E então nivelaram no nível da carreira no princípio, ou seja, os operaci… os técnicos mantiveram o valor que tinham na negociação e os operacionais passaram a ganhar o mesmo. Estão a ver? Eles tiveram uma ascensão e nós ficamos, em vez de nos elevarmos, o diferencial, criaram um diferencial de mais 25{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}. Então éramos cento e tantos, então, houve que ceder e o sindicato, os sindicatos não era só um sindicato, eram os vários sindicatos, acabaram por ceder maioritariamente era o sindicato STT, porque era o que estava mais onde estavam vinculados a maioria dos trabalhadores da área técnica e operacional. E quando cheguei à empresa, pronto, fui esclarecido sobre esse aspeto. Iniciamos de seguida uma tentativa de sensibilização dos quadros da empresa, as chefias etc., que nos estavam a gerir, que havia a necessidade de numa futura negociação vir a corrigir todo este processo. E quando a empresa começou a fazer sua renovação tecnológica, agravou-se a situação por uma questão também da ordem estrutural. O presidente da direção da empresa vem anunciar ao país que a empresa está em recuperação económica, e portanto, até ali o estado não estava a cumprir com as suas obrigações naquela participação para os trabalhos que eram efetuados pela RTP, nomeadamente para o ensino, telescola e outras coisas do género, e portanto havia ali um desfasamento, orçamental, por o estado não estar a participar. E a tentativa era: se vão corrigir isso, se vão dar mais dinheiro à empresa, se a empresa se vai renovar tecnologicamente, se o financiamento da tal 5 de outubro, estava em nascimento, tinha sido já anunciado, é claro que os trabalhadores e os sindicatos procuraram bem então agora é também a altura de vir, virmos a beneficiar ou compensar esses diferenciais. E essa luta, de certa maneira, durou quase dez anos. Foi iniciada nos anos 90 e tal e no, sei lá, 93, 94, deu-se tal greve maior porque havia um descontentamento e as pessoas sentiram que a empresa tinha capacidade para melhorar as condições. Também é preciso ter em atenção que os da RTP estavam em segundo ou terceiro lugar a nível do escalonamento das outras atividades semelhantes ou associáveis que eram… a Marconi era quem ganhava melhor, portanto, os técnicos de eletrónica ganhavam melhores, ganham mais do que nós, os técnicos operacionais também ganhavam mais, quer dizer, mas também era a entidade em Portugal que melhor pagava. A ANA também pagava melhor, portanto, a ANA não, a entidade anterior à ANA que fazia a gestão do tráfego aéreo. Portanto, todos os técnicos eletrónicos distribuídos ao longo de todas as carreiras e, sabíamos necessariamente também que os que pagavam menos era o Rádio Renascença. Portanto, tínhamos uma noção do enquadramento dos salários e dos desempenhos funcionais, dentro de determinados limites e tínhamos a noção de que a luta era difícil, mas os sindicatos eram quase comuns, mas aceitavam desigualdades de acordo com as circunstâncias negociais que conseguiam obter. Mas este processo iniciou-se e, portanto, e iniciou-se por espontaneidade, não foi por ação direta do sindicato, ou seja, o sindicato estava naquela posição, é, pá, estes indivíduos vão nos criar, estes vão nos criar dificuldades, não é? Portanto, a própria, a própria… mas também se juntavam quando necessário, não é? Era estratégico.
P Barbosa—Vamos lá ver o sindicato dos operadores e dos técnicos era o mesmo sindicato?
JP Magriço— Era comum, o sindicato era comum.
P Barbosa— Mas então vamos lá ver essa greve que foi feita…
JP Magriço— Mas depois criaram outros sindicatos para nos dividir, está a ver? Portanto, criaram pra ali um, uma situação, a CGTP, e a UGT, portanto havia ali a participação de dois sindicatos, ou 3, e depois o PSD também, os profissionais também queriam eles ter também a ação ativa dentro do, da divisão, naturalmente, não é? Portanto não éramos um bloco, estávamos ali um pouco… mas quando se criavam condições de melhoria de condições, quer de trabalho, estão a ver, que eram fundamentais, condições que também eram exigidas à empresa, também não cedia nem todos os, às reivindicações que eram na altura tentadas obter. Eram pretensões da época, estão a ver? Mas o salarial era, era nítido, portanto, e tão, era tão flagrante que nas reuniões o sindicato tinha a maioria das pessoas a votar eram operacionais, não eram os outros que os outros mesmo que quisessem contrariar também não tinham grande hipótese. Estão a ver? Então essa sensibilização às estruturas da empresa começou nesse processo e à medida que se iam obtendo negociações várias, uma delas deu origem a uma rutura. Portanto, essa foi a do período de greve, portanto, que a emissão transitou e que havia piquetes de greve, eu tive integrado no piquete também, portanto, para garantir, e garantir que os si… que a estrutura não era violada por ninguém. Violada neste aspeto, não se aproveitassem a situação de greve para provocar o… destruição dos meios e… porque ali estava o posto de trabalho em causa também, não é, portanto, os piquetes de greve também funcionam para tentar persuadir as pessoas à greve e ao mesmo tempo garantir que o… não se vai pôr em causa o seu posto, não é. Portanto, é nessa época havia essa mentalidade, acho que ainda hoje é comum, não é? E havia os serviços mínimos que também eram garantidos.
P Barbosa— Mas quem fez greve foram só os técnicos ou os técnicos e os operadores?
JP Magriço— Os operacionais fizeram todos, foi foi uma dimensão e envolveu também a parte administrativa, embora não tivesse tanta expressão. Estão a ver? Portanto, porque aí havia outras dificuldades de outra ordem, porque os administrativos ainda um maior número do que os, os operacionais e os técnicos. E portanto havia uma série de dificuldades, embora tivesse por solidariedade todos tivessem com com os movimentos. Mas portanto foi esse movimento foi assim e que decorreu desta forma, não…
P Barbosa— E conseguiram subir os salários?
JP Magriço— Vamos ver. Algumas melhorias houveram, mas decalagem maior significativa foi quando apareceu a instalação da SIC e da TVI. Portanto, aí, durante esse período de certa forma as coisas ficaram proteladas e só houve realmente uma mudança significativa dos enquadramentos nas carreiras profissionais e na melhoria salarial efetiva, não para todos, porque isso depois já é a empresa sabe dividir muito bem, portanto, isso é comum ao longo da história, é dá a uns porque os outros, para os outros se sentirem divididos e desintegrados do sistema. E não, não dá as mesmas facilidades, por exemplo, argumenta que este tem mais um mês, aquele tem menos um mês, este leva o outro já não leva, portanto. Ê pá, é é degradante este processo. E então, aconteceu foi que só com o aparecimento da SIC como projeto é que a RTP começou a ser pressionada a outro nível para melhorar as condições das pessoas que lá trabalhavam em termos de condições laborais e condições de salariais. Portanto, que eram os dois fatores que contribuíram mais para nomeadamente a formação e outras coisas do género que as pessoas pediam. E portanto, foi nessa fase é que foi possível negociar e foi a primeira vez que houve negociação direta. Não sei se sabem o que é, que é a administração e os seus representantes numa plateia, ou no palco, e os trabalhadores e os sindicatos do lado da plateia.
P Barbosa— Mas todos os trabalhadores ou só representantes?
JP Magriço— Todos os trabalhadores e para além dos que estão lá representativos das entidades sindicais, estes estavam garantidos, havia mais apoio, havia a sala, o auditório, tinha mais pessoas que se interessavam por saber o que se passa. Portanto, havia uma atitude diferenciada. E a primeira vez a RTP juntou o diretor de informação, diretor de produção, os vários diretores administrativos, e portanto, a parte financeira, parte representativa da administração estava perante negociação. E era propostas votação e decisões tomadas sobre essa..
P Barbosa— Estamos a falar no momento em que a SIC arranca, portanto..
JP Magriço— Antes da SIC arrancar já este movimento estava definido e, portanto, a partir daí, havia alguns trabalhadores, é evidente, e todo, e isto quando acontece houve aliciamento, aliciamento no bom sentido, entre aspas não é. Mas a própria SIC necessitou de vir a fazer recrutamento num único local. Já havia produtoras também. Mas o único local em que lhe dava garantias de qualidade era nalguns quadros, em alguns operadores que eram ou por motivos de descontentamento ou porque ganhavam menos, ou porque eram confrontados com salários que rondavam quase o dobro, portanto, e isto criou um descontentamento não só nas várias faixas etárias, no desempenho de cada um, portanto alguns foram, não direi que foram só os competentes e ficaram os incompetentes, houve um misto, uma vez que decidiram, eu fui dos que foi contactados para ir e que depois de uma determinada é um enquadramento que era permitido eu ia numa situação em que não me agradava muito, porque sujeitava-me a uma exclusividade, é e eu não queria garantir exclusividade a ninguém, portanto, queria ser autónomo e livre em termos de decisão, não ter que agora não posso trabalhar no outro lado ou não posso fazer mais nada na minha vida, não posso fazer nenhum trabalho extra, é o que está aqui programado e, portanto, eu não aceitei isso, não aceitei, portanto.
P Barbosa— Mas a nível de montantes de salários quando a SIC ia aliciar os tais operadores e técnicos eles ofereciam valores sempre superiores aos da RTP?
JP Magriço— Sim, sim. Valores superiores aos da RTP, para levar as pessoas a não terem dúvidas sobre a decisão. E, portanto, alguns conheço, eram meus amigos e foram e, portanto, e alguns portaram-se bem e outros menos bem, mas, portanto, o que acontece é que, pronto, criaram… havia… os níveis de descontentamento dentro das empresas refletiram-se ali, portanto, não é só porque eu vesti a camisola e queria estar na RTP, não era só por isso, era porque o ir era ceder a coisas que eu não queria. Portanto, a opção foi minha, mas davam-me o dobro do salário, e davam-me um Audi da época, portanto, não era por isso que eu não… mas isso não me afetou muito, está bem, porque eu considerei que a RTP tinha, tinha consideração por mim e eu também teria que ter consideração pela própria entidade que… já estava lá há uns anos, não é, neste caso há mais de dez anos que já trabalhava na RTP e, portanto, não era por só me aliciarem com dinheiro que eu iria.

Parte 11 de 27

Síntese:

Formador para a RTP – ICP
A biblioteca pessoal sobre televisão



P Barbosa— Isso leva-me à parte da formação. Ao sair essa gente da RTP, vocês, antes disso, e por causa disso, tiveram necessidade de fazer sempre formação para agora ir buscar gente nova. Como é que então o Sr. Magriço participou e colaborou das ações de formação da RTP?
JP Magriço— Sim, as formações que ocorreram na RTP já tinha um historial de adaptação. Não havia, não se pode dizer que as normas da Europa na altura, a partir de 85 começa essa a recriar uma nova forma de encarar a formação, vocês lembram-se do período em que as centrais sindicais recebiam verbas destinadas, nomeadamente a UGT parece que recebeu uma grande quantidade de verbas para dar, para dar formação, no sentido de poder melhorar as condições de desempenho. Portanto, profissional, cultural etc. Portanto, as várias vertentes que são necessárias a um técnico, não é, só especificamente tem que saber muita coisa disto e não ver, não ter horizontes mais alargados em termos de conhecimentos. É, mas o que se passou basicamente com a introdução dessas normas, o aparecimento dessas normas da comunidade europeia, na altura CEE, ou o que era, como se designava na época, e foi tomando vários nomes até agora chegar ao que chegou, e portanto, mas havia já um objetivo de dar formação. Mas a RTP sempre foi muito autônoma e nunca teve dependente de ações dos sindicatos para a formação. Embora fosse parte das dos sindicatos junto à administração, fazia sentir que os trabalhadores de quem eram… porque os sindicatos eram comuns à maior parte das estruturas existentes no país. Sempre reivindicaram que a formação era uma questão essencial para a evolução tecnológica da empresa e a empresa tinha entrado num determinado evolução tecnológica, em 82, depois passou em 86, depois passou… 90, desculpa, estou a falar de 82 até 91, 92. E foi quando começou a sentir-se a presença de um concorrente externo privado que vinha subtrair à RTP pessoal. Houve talvez um refreamento da formação dado que se previa que alguns iam e que iam com formação actualizada. Mas o que é verdade é que a RTP sempre se preocupou em manter um determinado nível de frequência e reciclagem na área da formação. À medida que as tecnologias também iam evoluindo, não é. As tecnologias digitais começaram a aparecer em 92, portanto, foi nesse período em que se começou a pensar vamos ter que ter pessoal preparado para o impacto da conversão de todos os sistemas analógicos em digital. Portanto, todo esse processamento, todo esse processo foi acompanhado pela RTP e a RTP também colaborou nisso. E foi aí que eu também comecei a intervir nas acções de formação mais concretas. Até depois há uma disponibilização maior a partir de 96, para aí, então aí foi mais dedicado e já regularmente. E já não havia necessidade só da RTP que necessitava de saber como é que a estrutura dos sinais existiam, quais são as suas características e parametrizações necessárias, mas também, por exemplo, o ICP na altura, que era a entidade que geria em Portugal as comunicações, necessitou também ela de formação e eu colaborei nessa formação. Durante uns meses dei formação é os técnicos poderiam saberem quais eram as características técnicas tanto a nível dos sinais em estúdio como sinais em emissão etc., portanto, tinha conhecimentos suficientes, baseado em instrumentos que a RTP tinha. E a formação autodidacta, porque não recebi curso nenhum da das empresas que forneciam os equipamentos. Era leitura dos equipamentos, eu estudava e já nessa altura, através das redes de internet, começaram a aparecer muitos documentos técnicos, do qual eu posso dizer que tenha a volta de 10 mil disponíveis, portanto, tem vários ramos, ramos não diria, vários temas da área tecnológica, da televisão, do áudio, do vídeo, quer analógicos, quer em componentes, quer em digital. A literatura que disponho neste momento e que deveria futuramente disponibilizar num site específico, mas lá está o problema dos autores, não é, portanto não posso estar a meter isto num Facebook, meto isso no Facebook e sou preso…
P Barbosa— São documentos com as normas ou documentos…
JP Magriço— Documentos técnicos fidedignos, standard, está a ver, são coisas com um nível muito elevado. Daí que o que o indivíduo pode é mencionar quando faz alguma apresentação, tem que, bibliograficamente tem que dizer isto tem origem aqui etc. Portanto há aqueles compromissos, mas a maior parte da documentação de rigor mais elevado fica sujeito a uma autorização expressa da… e portanto aí não posso… posso dizer que tenho, posso usar para minha utilização pessoal, mas não posso utilizá-los para uma divulgação, para um trabalho ou um estudo científico, mas não quer dizer que não possa dizer olha, dou faço um pointer, digo assim, olha liga aqui e veja lá o que é lá. Isso depois já é da responsabilidade de quem acede não é, portanto, mas toda essa documentação foi uma preocupação que eu tive, logo desde o início, e posso dizer, neste momento, que já foi mais fácil aceder a documentação de um determinado nível de conhecimentos, quer nas entidades oficiais, por exemplo, FCC ou SMPTE ou qualquer EDCI, ou EBU. As EBUs ainda estão disponíveis, que apesar de tudo ainda é o centro europeu que disponibiliza maior número de documentação a nível dos conteúdos técnicos, da, dos estudos que são feitos, dos testes que são feitos em equipamentos etc. Portanto, são relatórios que poderão estar disponíveis e que podem aceder e e que são importantes para o indivíduo ter uma avaliação de qualidade de determinados meios, dentro da estrutura técnica com que se trabalha, não é. Portanto é isso que é fundamental.
P Barbosa— Mas então o Sr. Magriço tem trabalhado em formação, quer a pessoas da estrutura interna da RTP, quer cursos externos, como esse, e acho também que fez um na faculdade de Ciências e Tecnologias, certo?
JP Magriço— Pronto, assim, alguns, alguns desses cursos que eu frequentei, fazem parte da minha evolução técnica dentro da própria empresa. Portanto a RTP proporcionou alguns cursos externos, que foram durante a fase de integração da 5 de outubro a maior parte deles, portanto, em que a parte do áudio… Alguns cursos foram dados não, já foram dados no local depois dos equipamentos estarem instalados cá em Portugal ou foram complementados. E alguns pressupuseram que eu fosse à origem, à fábrica, ao local onde os cursos foram ministrados, por exemplo, o LMS, que é um curso que eu tirei na altura, tinha, o curso tinha duas vertentes, era uma vertente de manutenção preventiva, reparativa e de intervenção através do controlo mais funcional ou mais cibernética. Eu frequentei com outro colega, portanto, normalmente a RTP não mandava um indivíduo, mandava dois indivíduos, normalmente não mandava muitos, mas mandava aqueles que fossem considerados necessários. Frequentar uns cursos, por exemplo, para saber como é que se pode desmantelar uma máquina peça a peça. Isto é um exagero da linguagem, mas é assim, o pequeno bloco, pequeno bloco, entende. Para ter, para se poder ter, não é só pessoalmente, é para o conjunto ou a manutenção no seu conjunto poder atuar numa intervenção de caráter sistemático, ou que ciclicamente tem que se fazer um determinado tipo de rotinas para verificar se o equipamento está ou não está correto, em funcionamento, a substituição de peças de ordem mecânica e de eletrónica, avaliação de todos os parâmetros que são necessários para que ela funcione corretamente há que frequentar cursos é muito… de grande rigor. E com quem? Com especialistas da própria fábrica. Portanto é o único elemento que poderá disponibilizar ao nível do conhecimento técnico, não é o curso do operacional, porque a maior parte dos cursos que estão a ser dados aí, os equipamentos que agora vêm, por exemplo, câmeras deste tipo, da Sony ou outras, aquilo é um curso, desculpam, o curso é um curso que na questão operacional o que acontece é saber a avaliação da necessidade de correção das configurações, dos parâmetros, dos níveis, o que é que faz, é mais funcional. Enquanto que na manutenção, para além desse conhecimento operacional do e… dos equipamentos, há que ter um conhecimento mais aprofundado porque requer que o indivíduo entre dentro de sistemas com a criação da estrutura dos parâmetros que são cedidos aos operacionais. E portanto tem que ir dentro do âmago, é mais intrínseco, não é extrínseco. Portanto é mais interior o conhecimento de como é que se faz, ou como é que, porque a maior parte das funções operacionais, por exemplo, uma câmera deste tipo ou de outro qualquer, mais evoluída, já é dado a uma cedência à parte operacional de muitos conceitos que nos anos 80 faziam parte da estrutura da manutenção e que eram só adstritos a essa manutenção. Não havia a cedência desses conhecimentos à parte operacional. Agora a maior parte s das parametrizações, dos meios já estão, já há até uma rubrica, um item que acede á manutenção do equipamento. Portanto, para além da conversão e os upgrades, os upgrades, de softwares etc. associados às máquinas também estão acessíveis já aos operacionais. Mas pra além disto ainda há outro conteúdo que não está disponível, que é o service, que são coisas, conhecimentos de dentro do equipamento e que podem interferir com a ação que o operacional pode ter. Portanto, estes não estão ainda disponíveis e nós varríamos esses conhecimentos na área da formação. Portanto, neste momento, qualquer equipamento que a RTP ou outra qualquer entidade tenha sobre formação, tem ainda diferença entre o que é adstrito ao conhecimento operacional e aquilo que é de domínio de fábrica, confidencial e específico da área da manutenção. Portanto, esses sistemas existem, isto não é novidade, eu não estou a revelar nenhum segredo de estado, é assim que se acontece ainda.

Parte 12 de 27

Síntese:

Aprender programação em 1991



P Barbosa— Em 91, com 42 anos, o Sr. Magriço vai aprender a programar. Por que a necessidade de a pessoa que estava no fundo preocupada com lentes, objetivas, câmaras, gravadores, aprender a programar? O que que, por que que precisou desta nova, novos conhecimentos?

Parte 13 de 27

Síntese:

– Aberturas de novos canais na RTP
– Casos de falhas com diretos



P Barbosa— Quando a RTP passa a emitir a RTP internacional e depois outros canais, que implicações técnicas é que teve nas salas de emissão da RTP?
JP Magriço— É assim, as unidades, portanto, tendo eu mentalmente como é que é a estrutura do bloco, são blocos de unidades que estão associadas, para além de de o núcleo, o Hard Core de, toda a estrutura é, o Core efectivo, é o os serves. Estão a ver Os serves é onde. Agora que tipo de serves e que de tipos de volumes de serves é que existem? Há os serves de input, portanto, que é o indigest do sistema, em que quer tenham origem digital já original ou qualquer um dos formatos que se queiram inserir e aplicar por conversão na estrutura digital que está contida dentro dos serves, portanto, tem que se processar essas conversões têm que ser todas processadas no interface, ou seja, na unidade de entrada. Uma vez colocada lá dentro, há que garantir que há uma identificação dos conteúdos, portanto, aí a necessidade de ter um uma estrutura de metadados, que permita aceder através do browsing ou através de qualquer processo de pesquisa aos conteúdos que estão associados a esta informação, e se o sinal é um SD ou é um HD, qual é a taxa de compressão que o sinal deve de acordo com… normalmente não se faz, a saída de DVD, por exemplo, imagine um DVD tem 16 bits, por exemplo, para o áudio, bem, mas se eu quiser que aqueles conversores passe para 48, 48 bits, ou qualquer outra informação, ou que a taxa de refrescagem ou de amostragem seja outra, ou, quer dizer, qualquer outros parâmetros que se irão modificar no sinal que está a entrada, portanto, a entrada tem um determinado tipo de características, tem que ser, fazer, feito, o up scaling ou uma informação convertida de um para o outro, de maneira que se adapte àquela, às parametrizações que estão contidas dentro das normas. Não é uma miscelânea lá dentro, tem que lá dentro, tem que todos os sinais terem um valor semelhante para serem redistribuídos depois, por outros conversores, de acordo com as necessidades em cada um dos lados. Quer dizer que neste Core onde está resumido os serves, podem ser serves de entrada, só para residentes que podem ter ou não controlo de qualidade na entrada, também pode ter. Entidades que estão ali a supervisionar e que não deixam entrar coisas que estejam com defeitos ou, rupturas ou outro qualquer. E uma vez entrando nos serves de edição, por exemplo, que é fundamental, estão disponíveis para que o operador possa conjugar de acordo com o alinhamento, ou de acordo com a sua seleção, uma sequência de imagens e de áudio etc., mantê-los num determinado valor, isto com taxas de compressão definidas e, portanto, edita e agora esse… uma vez consentido a emissão desse conteúdo que está na edição, passa para o nível da transmissão, por exemplo, e aí já há o server próprio, que tem o conteúdo já transformado, que sofreu, que teve origem num indigest, em bruto, por exemplo, foi segmentado e foi montado, editado de uma forma selectiva, passa à outra fase que é a fase da emissão, depois do server de emissão, e ainda é encaminhado pelas várias continuidades, ou seja, de acordo com as necessidades das listagens de programação de cada uma das emissões irá ser veiculado todo esse conteúdo no tempo certo, a hora que se pretender, em comum ou fora do comum, ou de acordo com o tipo de emissão que estiver a decorrer, separados ou não. E agora temos edições que são específicas para um canal, outro canal e que não entra nos outros, portanto, mas eles todos vão estar disponíveis num server que é comum e observa que vai satisfazer os alinhamentos de cada uma das emissões.
P Barbosa— Mas quando apareceram estes novos canais dentro da RTP vocês tiveram que criar novas salas de emissão e cada uma com o seu server ou conseguiram partilhar a mesma rede?
JP Magriço— Já as mesas, as mesas de continuidade, todas elas, há uns anos atrás, já o processamento digital, todas elas tinham várias entradas, ou duas ou três entradas, ou seja, quer dizer que no mesmo painel posso estar a controlar duas ou três emissões. Quer dizer que têm barramentos diferenciados e posso digo agora estou a alterar as condições do barramento A ou do barramento B, e posso fazer as transições. É, o que tenho que estar atento é quando estou a misturar um não estou a misturar o outro. Ou quando estou fazer uma ação de controlo sobre continuidade, portanto, pode haver duas ou três mesas que tenham um ou dois ou três canais diferenciados, e que se trabalhe em simultâneo. Agora todo o processo de ir buscar a informação, os coders necessários, e o controlo efectivo é feito por um gestor da listagem que está em consonância com a mesa e controla, faz um engine, ou seja, gera através de um computador aquela mesa e que num determinado momento o conteúdo é colhido no server, esse conteúdo é processado de maneira a entrar na mesa e no momento exacto é disparado no próprio server. Portanto.
P Barbosa— Mas no caso da RTP internacional vocês conseguiam usar a mesma rede informática, com o mesmo arquivo,
JP Magriço— É uma única rede informática.
P Barbosa— para dali tirar em simultâneo para diferentes canais?
JP Magriço— É uma única rede, ou seja, o back bone da estrutura tem vários associados que pode servir na transferência de que vou transferir este ficheiro pra aqui. Ou transferir o a tal EDL pra aquele e faço a montagem, edição e crio um novo ficheiro com uma nova designação de acordo com o metadado que está associado. Por exemplo, MXF ou qualquer um dos outros meios que estão disponíveis. A taxa de descompressão etc., tudo isso tem que estar num determinado nível e num determinado ambiente que é sereno, sereno quer dizer que deve ter obediência a um determinado número de características que fazem parte da estrutura do próprio server. E, agora, há unidades que fazem a gestão dos bus, estão a ver? Os barramentos de comunicação e os portes, quer nas entradas de cada um dos serves, quer nas saídas dos serves. E esse, os serves têm acoplados não diria acoplados, os portes necessários a cada uma das entidades que estão a necessitar daquilo. Não é fisicamente é aquele. Não quer dizer que não haja um redundante ou outro, não é. Mas que é verdade é que o encaminhamento do sinal, portanto, aquilo é complexo, é uma rede, é uma teia, de interligações que fornecem, entre vários serves, que se podem transferir conteúdos diretamente de server para server, portanto, sem passar por mesas de controlo nem nada. Portanto, é o próprio sistema que faz a transferência dentro dos próprios serves, dos ficheiros, para disponibilizar depois na tal listagem… os ficheiros que não estiverem presentes terão uma cor, por exemplo, estão lá ou estão em transição ou estão disponíveis ou não estão disponíveis, mas para a emissão é preciso em cada uma dessas mesas, são sete, oito, dez programas que estão no ar, e portanto há a necessidade de gerir cada uma delas de acordo com os portes que estão associados aos serves. Ah, e paralelamente a isto tudo, existem máquinas de formato digital, que estão a correr com o mesmo conteúdo. Tal como o LMS, tinha uma máquina que garantia, porque no caso do server falhar, tem que haver alguém…
P Barbosa— Tem que haver redundância.
JP Magriço— Tem que haver uma redundância.
P Barbosa— Para cada um dos canais tem que haver uma opção dessa.
JP Magriço— Portanto, vamos admitir que só não há redundância quando é uma emissão em direto, não tem redundância.
P Barbosa— Sim, sim, sim.
JP Magriço— Tem é… a redundância pode residir no quê, num feixe, numa fibra ótica, que tem um paralelo, uma falhou tem outra, portanto, pode haver sempre… o grau de segurança numa estação de televisão que garante, ou quer garantir uma emissão sem interrupções ou falhas significativas tem que ter meios associados com capacidade de um momento para outro poder ter uma solução. Portanto, não é, não é solução de pôr o aguardamos a emissão, aquele slide famoso, não é. Portanto, não é isso que se pretendente da estrutura. Eu, durante o tempo em que tive na manutenção, senti o peso da afetação de uma emissão em direto. Uma pessoa sentir que é iminente uma falha, portanto, as falhas não dizem quando vão aparecer, portanto, não há nenhum sintoma às tantas e a a probabilidade de acontecer uma falha num cabo ou eu posso dizer que um cabo que se encontra à distância de um metro no equipamento se tiverem as ligações bem feitas, terá a possibilidade de, por exemplo, se forem 270 mega bits na transferência de informação, a probabilidade de haver uma falha de um bit, entre uma máquina e outra, se na origem forem fornecidos os sinais, como deve ser não é, se na origem estiver tudo bem, a falha num cabo é um bit num século, portanto, ter uma noção de que… mas também pode ser um bit em em cada segundo e não haver pertubações no no sistema, mas esse bit não pode ocorrer no nos sinais de controlo, no próprio sistema de transmissão. Ou seja, o sistema SDI tem possibilidades de fazer compensação de EDH, é o Error Detection Handling, ou seja, pode, no final, como é um sinal que tem tem um controlo sem hand shake ou seja, sem garantir que ó, enviei isto, assim enviei, então diz-me o que que eu enviei para eu comparar com aquilo que enviei, vamos dizer afinal foi isso que eu enviei. Portanto, essa redundância dentro do hand shake, não é, não existe. O que tem que existir é uma redundância, uma codificação da forma que no final, porque é o sinal contínuo que percorre, tem que haver informação suficiente na origem para que a deteção no destino de que houve falha e a probabilidade de corrigir é 100{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}. No entanto isso pressupõe códigos e redundâncias de informação para que seja possível no final detetar qual é a falha e corrigi-la.

Parte 14 de 27

Síntese:

– Casos de falhas de emissão em diretos



P Barbosa— O tempo da RTP em que ainda estavam sempre a trabalhar com sinais analógicos havia muitas vezes, muitas vezes, ou de vez em quando esses cartazes no ar a dizer pedimos desculpa, como é que isso funcionava esse alarme lá dentro, para quem estava…
JP Magriço— São falhas…. falhas normalmente ocorrem por duas ordens de razão: as falhas de ordem analógica são possíveis, e eram muito possíveis na época. Qualquer componente ou qualquer unidade ou qualquer módulo, sujeito a determinadas condições diferenciadas, ou por mau dimensionamento na origem ou porque o equipamento estava sujeito a um stress elevado poderia provocar avarias de ordem intermitente. E o pior que pode acontecer a uma estrutura é ter avarias intermitentes, ou seja, avarias que não têm solidez em termos de manifestação. Ocorrem, ocorreram uma vez e não falharam mais. Aconteceram várias situações de que está a assistir e haver falhas e dizer assim: e agora, onde é que eu vou em busca disto? Só havia uma alternativa: para evitar que todo aquele todo aquele percurso que estava naquele momento ser todo substituído. E deixar estar aquele em paralelo com outro e verificar se ocorre mais uma vez aquela falha. Está a ver? Portanto, era uma alteração feita era uma redundância, mas paralelismo, paralelismo de transmissão da informação para ver se eu deixo de fazer este circuito, faço o outro, que é equivalente e não ocorre falha. Porque, ou então deriva meio para um dos locais para o outro e se houver falha eu posso dizer que é anterior ou posterior, estão a ver?
P Barbosa— Mas como é que isso se passava dentro da RTP quando aparecia o cartaz no ar? Era no fundo o departamento do Pote Magriço que era, que iam bater à porta.
JP Magriço— Era aí que deveria estar o pessoal capacitado para entender, não é adivinhar, porque ali não se adivinha nada. É é entender qual é pela manifestação de uma interrupção ou pela manifestação de uma perturbação no sinal, poder aperceber-se de que tipo de sinal é que está, pode estar a provocar aquele fenômeno. Qualquer tipo de interrupção momentânea na transmissão do… são milhares de componentes dentro de cada unidade quando transferem informação passa por um circuito extremamente elaborado. Quem segue um plano de manutenção com carácter sistemático, ou preventivo, ou recursivo ou ou ocasional. Portanto, quando acontece, tem que saber determinar a causa para… determinar causa quer dizer: neste troço, neste segmento, ocorre, ocorreu esta falha. Está a ver? E como o circuito é complexo e passa por vários sítios, é preciso ter mentalmente, como eu cheguei a ter, os sítios onde as coisas são possíveis de passar e a probabilidade de erro. Porque cada vez, por exemplo, que existe um patch existe um cord de ligação entre um local e outro, esse sinal circula deste ponto e vai ser derivado para este. Ou é através de uma matriz, ou é fisicamente esta unidade passa por isso. Daí que haja necessidade de ter, dentro da estrutura de emissão, um sistema que permita a comutação dos sinais, uma forma electrónica ou manual. No caso de haver falha do sistema electrónico, há que se saber qual é o jumper, ou seja, o local onde tenho que recolher o sinal e passá-lo para a posição eliminando, ou curto-circuitando um conjunto de equipamentos. Isto é fundamental. Para a detecção da avaria. No caso de eu falhar, imagina que falhou num determinado local e está presente. Se eu colher uma informação na posição A e a transferir, electronicamente passava por ali, a transferir para a posição B, iluminei este circuito aqui anterior. E se a falha desaparece eu sei que está confinada num determinado local. Depois, também se pode fazer o seguinte. No caso de haver um com, um circuito muito complexo, só ir ao meio e dizer assim: deste passa para o outro. E se a falha ocorrer eu tenho à partida a garantia que está numa das metades. E posso depois segmentar, isso com o tempo, é evidente, porque interessa é resolver de imediato o problema, não é? Portanto é preciso ter isso em atenção.
P Barbosa— Mas como é que vocês atuavam na prática? Havia mesmo uma espécie de uma sala de bombeiros na 5 de outubro, em que quando havia o drama, paravam de jogar ` as cartas…
JP Magriço— Exatamente. É um piquete, é um piquete. Funciona estar de piquete ou stand by para as ocorrências. Havia sempre, para além do trabalho regular de manutenção, que pressupunha a reparação dos equipamentos e para temos uma noção, da quantidade de avarias de grau elevado, não é daquelas pequeninas e tal, de grau elevado numa estrutura daquelas na 5 de outubro chegaram a ser 4 mil por ano, portanto, isso quer dizer que havia três graves por dia, ou quatro, ou cinco, ou seis, ou 10. Vocês estão a ver que isto, em termos de estrutura…
P Barbosa— Mas também estamos a falar de 100 pessoas que só estavam…
JP Magriço— Sim. Não, neste momento é a estrutura da RTP durante estes anos todos, durante esses 15 anos e durante os últimos, e agora cada vez menos, tem, tinha pessoas a fazer os horários. E tinha quatro grupos. Um que, um grupo que se dedicava da área do áudio, que era áudio genérico, áudio. Outro que era da central técnica e era específico da central técnica, quando havia problemas na central técnica era aquela equipa. E havia uma área de estúdios, Estão a ver? Portanto, e havia uma área que era o pau quase pra toda obra, que podia ir a qualquer lado, não é. Mas para estruturar horários de funcionamento deste, destes grupos, garantindo, vocês estão a ver?, garantindo três turnos, são oito horas de cada, vocês estão a ver que só tem um de folga em cada grupo, não é. E esse é para suprir as folgas que os outros têm. Portanto se reduzir o número de pessoal a menos de 16 ou 18 começa a ser difícil garantir que haja pessoal, depois há o cumprimento das férias, há as folga, etc., e há um, a necessidade de administrativamente, gerir as pessoas que estão disponíveis. E agora ainda mais, quer dizer, se está um, há uma falha, porque há um que está de folga, mas o outro é que está no horário, outro está no outro e o outro, entra se calhar na semana a seguir. Portanto, para garantir especialidades em todas as áreas de maneira que seja mais fácil executar os trabalhos de intervenção, porque no caso de haver avarias efectivamente há necessidade de intervir de uma forma atempada, portanto, e que o espectador não fique pendurado, ficamos todos pendurados lá dentro, não é?. Houve situações em que eu morava em Linda-a-Velha, por exemplo, e havia uma falha na emissão em Linda-a-Velha, estão a ver?, não é assim muito longe, eu morava em… na 5 de outubro..
P Barbosa— Estava fora do seu turno?
JP Magriço— Eu não estava a trabalhar porque ainda tinha o desempenho de chefia, e portanto, não estava. O chefe não trabalha, não é, é o que se costuma dizer. Mas senti a perturbação e ocorreram algumas vezes que eu estava em casa uma falha e eu não telefonava sequer. Eu pegava era num carro e sete minutos depois estava à porta da 5 de outubro para chegar lá, olha, não houve nada, afinal resolveu-se. Mas no caso de necessidade era preciso ter depois, para além do pessoal que fica reduzido. Ficam três pessoas lá durante a noite. Os turnos, os outros turnos, porque tens que utilizar as outras pessoas durante o outro período, para durante o dia ir fazendo reparações concretas, sistemática, e testes etc. etc., que são rotinas que têm que ser cumpridas para garantir a emissão.
P Barbosa— Mas houve assim alguma dessas falhas tenha assim dado mais dores de cabeça, que tenha alguma história gira?
JP Magriço— Ah, umas duas vezes, mas só vou citar isto não para utilização, mas houve duas vezes em que, o, durante o período de governação do Cavaco Silva, em que o presidente na altura, é, não sei se como governo, ou como presidente, já não me lembro bem, sei que fez duas intervenções e houve falhas de áudio. De uma das vezes ouvia-se no ar não a voz dele, em directo, estava em directo, repara, não… ouviu-se a bobinagem de uma máquina de alta velocidade com, que tinha lá áudio, mas aquele crepitar do do som em vez da voz dele. Portanto, aconteceu isso, isso é, não é, não é, é difícil de justificar uma coisa destas. A mesa de mistura que estava associada à emissão que estava a decorrer tem duas secções: tem o áudio que está pareado, ou seja, está casado, tá conjugado, uma tecla se nós quisermos descasar temos que carregar numa tecla para descasar. Ou seja, temos que pôr, por exemplo, uma imagem, e se quisermos pôr uma música de fundo ou uma coisa qualquer, ou um intermezo, não é, portanto, se quisermos fazer isso temos que descasar o sistema. Normalmente a emissão quando se carrega na tecla, para ir aquela emissão no ar, ela conjuga, em mesa de mistura paralela, o áudio, porque são duas mesas que estão ali, uma de vídeo e outra de áudio, e que estão é casadas. O ter seleccionado aquela tecla e estar no ar o senhor presidente a falar, aconteceu. Agora que a meio do discurso do senhor a mesa tenha mudado para outro canal, isso aí é injustificável. Não se soube justificar. Isso vieram técnicos da fábrica é credenciar…
P Barbosa— Mas isto teve consequências depois, de crítica…
JP Magriço— Essas consequências não foram, não foram graves, não se pode dizer que tenham sido graves. É natural que o presidente tivesse manifestado o seu descontentamento e que a direção técnica tivesse que se obrigar a tentar inquirir e ver o que é que se passou, mas não houve justificação, aquilo estava a correr, por acaso estava lá na na emissão e estive atento, e, portanto, não houve ali nada que, não vi ninguém a fazer isso, nem era possível fazer isso, normalmente a tensão entre as pessoas ou profissionais é quando acontece um evento desta ordem normalmente a atenção é é sempre, não está lá…. Às vezes notava-se, quer dizer, se o indivíduo, está um filme no ar e falhou o som e o indivíduo não se apercebe que falhou o som, quer dizer, o filme também pode ter intervalos em que está surdo, não é. Agora quando é o presidente que está a falar ele está mais atento possivelmente. Qualquer falha desse tipo estará mais atento. Agora não se conseguiu detectar e a mesa foi revista com tudo o que estava associado na época e nunca se conseguiu… isto não é perseguição, é evidente, mas aconteceu e não foi por uma vez , foram por duas vezes
P Barbosa— Com a mesma pessoa?
JP Magriço— Com a mesma pessoa. O que ainda agravou mais e parece que foi só com ele que isto aconteceu. Portanto, isto, agora passado este tempo, não sei se isto ainda continua a possibilidade de estarmos sujeitos a um inquérito parlamentar, ou coisa do género, mas na altura foi assim uma coisa que aconteceu, foram dois incidentes, e só esses. Claro que como eu estava na chefia, e todo o departamento, não foi só eu, portanto, toda a hierarquia da área técnica foi questionada, pronto, e isso, e a solução que tivemos que apresentar foi vamos com, confiando em nós, e naquilo que tínhamos feito, vir cá alguém da fábrica para tentar nos dar uma explicação porque esses problemas podem acontecer. Mas podem acontecer e é verdade que aconteceu, portanto.

Parte 15 de 27

Síntese:

– Introdução pal plus



P Barbosa— A introdução, dentro ainda do SD, do PALplus, em que, pelo o que eu sei, havia até estações de televisões em Portugal que faziam um PALplus meio a martelo porque havia um financiamento europeu que pagava ou ajudava a emissão. Como é que foi essa introdução do PALplus dentro da RTP e quando é que era usado?
P Magriço— É, eu, eu não acompanhei totalmente essa questão porque a nossa preocupação foi sempre garantir que os sinais que eram captados, quer pelas câmaras quer por qualquer outro formato, e estávamos sujeitos na RTP aos vários formatos que eram efectuados na produção externa. Portanto, mas a RTP sempre tentou regulamentar as condições em que os sinais são criados, de forma que possam garantir as condições, dos formatos, da melhor qualidade possível. O PALplus pressupunha uma melhoria da qualidade do sinal, mas a RTP quando foi, teve uma preocupação de outra ordem. as pequenas deficiências do sistema PAL, o sistema PAL não é um sistema perfeito, decorreram do NTSC, o sistema NTSC quando foi criado, para estúdio funcionava perfeitamente e havia a possibilidade de toda, todo o encaminhamento do sinal garantir a qualidade técnica como no sistema PAL. O sistema PAL veio resolver alguns problemas, não do interior dos estúdios, mas sim na transmissão. E, portanto, as deficiências que o sistema NTSC não conseguiram livrar-se com facilidade, eles ainda mantiveram-se até a morte, ao switt off do analógico, mantiveram-se durante todas as emissões regulares analógicas. Por quê? Porque havia uma deficiência no sistema NTSC que a maior parte das pessoas, isso passou de certa forma à margem, e deu origem a que a criação do sistema PAL na Europa fosse desenvolvida para suprir essas dificuldades. O aparecimento… O sistema PAL no seu origem, que, não foi compensado, foi standarizado. Mas os erros que existiam, os pequenos erros que existiram na transmissão da informação da cor relativamente à luminância, pressupunham que houvesse uma compensação da perda por desfasamento. Ou seja, quando o sinal deve ter uma determinada saturação e fase, deve ter uma determinada amplitude. E quando ele não é obtido, a junção destes dois vectores que se desviavam, precisavam de ser compensados.Então daí o aparecimento do PALplus, que era um que vinha a compensar, de certa maneira, a perda de erros dessa ordem. E também teve a ver com a manifestação do formato, pronto, o formato pressupunha uma anulação de um determinado número de linhas acima e abaixo e naquele intervalo a qualidade era máxima para com…, porque estava duplamente compensado, tinha a compensação do formato e também a compensação da saturação das cores, basicamente.
P Barbosa— Mas isso do ponto de vista técnico dentro da RTP foi uma grande alteração?
JP Magriço— Não houve quase alteração nenhuma. Agora recentemente com o digital é que efectivamente é associada a cada sinal para que o recetor se adapte. É, é a tal informação CAE, portanto, que é uma uma configuração do sistema do sinal, que gera um código de acordo com a origem do sinal e que permite ao receptor interpretar esse código e configurar-se, adaptar-se geometricamente ao formato que se tem, quer no encurtamento horizontal quer nos encurtamentos verticais, de maneira a garantir que a relação geométrica dos círculos estão corretas quer num formato quer noutro. Portanto, para não haver distorções no sinal ou achatamentos, ou expansões etc, para garantir isso. Mas isso faz parte… é um sistema automatizado que tem a ver com um, um dado, metadado, que está associado ao sinal e que é interpretado e na emissão é inserido sobre os sinais de maneira a garantir que o receptor que está adaptado para essa interpretação possa compensar qualquer distorção do formato.

Parte 16 de 27

Síntese:

– Colaboração na Telecine-Moro
– Instalações estúdios LNETI e ESCS



P Barbosa— 1993. Instalações de estúdios no INETI e nos estúdios aqui da ESCS. Como é que era, como é que surgiram estes projectos e como é que na RTP vocês conseguiam estar a trabalhar lá, mas em simultâneo estar, no fundo, a fazer outras actividades profissionais. Era pacífico?
JP Magriço— Não era pacífico, não, porque isso era era sobrecarga às nossas actividades profissionais. Quem tivesse um horário regular poderia dispor do tempo a partir das cinco, seis horas da tarde. E eu dei algumas colaborações, portanto, nessa fase de integração de sistemas dentro das estruturas, quer seja a nível da Telecine Moro, durante um determinado tempo, e colaboração tacitamente, portanto, eu cumpria o horário na RTP e como pediam colaboração numa área não operacional, mas sim técnica, o que eu pretendia e eles conseguiram conceder e negociamos de uma forma de eu ciclicamente ir ao sistema analisar, verificar o estado de funcionamento. Não era ma…, no caso de uma avaria havia sempre a possibilidade de recurso, porque eles tinham meios redundantes, e, portanto, a intervenção seria de caráter interventiva, mas desfasada no tempo de maneira que pudesse resolver problemas relativos. E, portanto, dei colaboração nessa medida. Quando era desenvolvido algum projecto a nível do INETI, por exemplo, que é referenciado aí, a minha colaboração foi mais no sentido de equipa, portanto, é, ali na Telecine (Telecine-Moro) era uma actividade individual, portanto, ia lá para resolver algum problema ou outro que eles tivessem. E não era, é, funcionava como stand by fora das horas de serviço, portanto. Muitas vezes não ia ao local, portanto, estava tudo bem. Era uma intervenção de caráter não regular. No INETI e as intervenções que fiz durante esse período foi em grupo, portanto, havia uma equipa, que uma pessoa relacionada com a televisão também, mas que tava com parte do áudio, outro era de instalações, eu era da manutenção, portanto, cobríamos de certa maneira alguns dos aspectos relacionados com a concessão e fazíamos um projeto de certa maneira, dado o conhecimento que tínhamos na empresa suficiente, era mais do que suficiente para desenvolver qualquer actividade na instalação de um projeto no outro lado qualquer, só precisávamos da listagem dos equipamentos, avaliar as localizações, desenvolver… Normalmente não eram instalações muito complexas, neste caso. As mais complexas foi aqui este estúdio, foi das mais desenvolvidas que fizemos em termos de, é, porque foi o primeiro estúdio que se instalou em Portugal, em 1992 para 94, portanto, foi nessa fase, foi começado a adquirir o equipamento e, portanto, a instalação ocorreu em 94 e foi o primeiro estúdio de componentes em Portugal.
P Barbosa— Este o da ESCS ou o o do INETI?
JP Magriço— Este aqui.
P Barbosa— Este.
JP Magriço— Este aqui, o estúdio da ESCS. Aqui, portanto, para a fase em que se estava a parte digital a qualidade do sinal digital SDI, neste período, nos anos 94, era extremamente cara com os equipamentos, a mesa de mistura, as câmaras etc. digitais eram muito caras relativamente.
P Barbosa— Já havia?
JP Magriço— Já havia. Já havia alguma, já havia modelos que se poderiam, só que eram extremamente inacessíveis ainda a estrutura da produção deste tipo. Então, a opção foi, a opção não foi da equipa, a equipa estava o engenheiro Carlos Alberto é que foi o seleccionador de todo o processo e e a participação da equipa foi na elaboração do esquema, que desse maleabilidade operacional para o a função pedagógica, portanto, isso entrou nessa parte, em que a concessão da locação de comutadores ou unidades de patch etc., quer de vídeo quer de áudio, tiveram a nossa intervenção com a aplicação dos equipamentos, na altura eram três câmaras, era o que só estava disponível na altura, eram câmaras em componentes, portanto, a mesa era em componentes, os componentes eram componentes que poderiam ser RGB mas neste caso concreto foi adquirido um sistema Y, R menos Y/B menos Y, que era uma os sinais RGB já matriciados, em luminância e as duas sinais de diferença de cor, e, portanto, foi concebido nessa, nessa, nessa perspectiva de componentes analógicos de vídeo. É, claro que isso pressupõe três cabos, para cada ligação, portanto, requeria que os cabos tivessem exactamente o mesmo comprimento, para que não houvesse delays temporais entre cada um dos sistemas, e, portanto, foi alargado a possibilidade da utilização não sendo um projecto muito caro, era o que na época de melhor se conseguia fazer. O sistema PAL existia aqui, mas era só para monições, algumas monições ainda são feitas através de sistemas em componentes, que dá a melhor qualidade possível na própria monição e o sistema de gravação também era feito através de Betacams que também recebiam os sinais em componentes. Quer dizer que, a tal, o tal escalonamento da qualidade permitia garantir que a câmara fornecia o sinal adaptado à mesa, a mesa fornecia o sinal adaptado aos gravadores e, portanto, conseguia-se obter o melhor escalonamento da qualidade a nível da produção na parte do vídeo. Na parte do áudio também teve uma mesa de mistura própria, que agora não está a ser utilizada, foi substituída por outra digital, mas este processo todo da escola foi baseado na melhor qualidade possível, técnica, sem ser digital. O que eu posso dizer é que o digital na época era de qualidade inferior à das componentes que estão ainda instaladas aqui. Por quê? Porque o sistema SDI, apesar de ter um sistema de amostragem extremamente complexo e elaborado, tem a vantagem efectiva de não haver é uma, é um sistema imune, teoricamente, ao ruído, portanto, não tem esse problema, mas as componentes quando bem ajustadas e quando bem calibrados e o seu processamento é melhor do que o digital. Portanto, isto não é uma perspectiva do SDI digital. Portanto, o sistema SDI. Porque, apesar de tudo, o sistema SDI tem essa estabilidade em termos de imunidade ao ruído, mas tem pequenas alterações que não são bem processionadas ao ser humano, bem, mas estão lá alguns defeitos que não são perceptíveis, mas estão lá.
P Barbosa— Mas, portanto, quando participou nas instalações do INETI e na ESCS não implicou deixar de estar a trabalhar, ou de estar a serviço lá na RTP, portanto, conseguiu conciliar nesse tempo…
JP Magriço— Conciliar. Era, era fora, fora das horas de serviço. Essa equipa deslocava-se aqui a partir das seis até a meia-noite e fazíamos isso de uma forma sistemática até a elaboração da cablagem, por exemplo, aqui que, para saber, para explicar um pouco mais como é que isto fez, viemos cá fizemos o dimensionamento da cablagem. Portanto, é preciso garantir que os cabos estavam nos percursos, de caleiras suficientes para, fizemos isso, os modelos, fizemos um modelo, fizemos a medida e no projecto, acrescentamos, aliás, o projecto está definido, existe aí numa folha de Excel, com toda a estrutura de listagem do número do cabo, o tipo de ficha, o comprimento do cabo, ou seja, a medida do cabo, e, como termina, portanto, quer seja para vídeo quer seja para áudio, portanto, no interior do estúdio, nas ligações periféricas, para redacções, para os outros locais que na altura existiam, para as ilhas de edição, porque havia o Abekas que estavam aí disponíveis, todo esse projecto está ainda, numa folha de Excel. Portanto, em termos de dimensionamento.
P Barbosa— Mas então este projeto foi dos únicos em que não foi feito por uma empresa externa. Portanto, quando estava a falar por exemplo da 5 de outubro, havia a Bosch que fez o projeto e vocês implementaram. Aqui não havia Bosch nenhuma por trás…
JP Magriço— Aqui havia uma diversidade, ou seja, o que se podia ter optado aqui era haver um projecto, alguém que o fizesse, na altura a equipa de projetos, era de instalações e projectos, era, tava incluída na própria RTP, portanto, não havia entidades cá fora que o fizessem, nem havia, nesse caso, havia já a Sony e havia a grass valley e havia todos os outros conjuntos, entidades que eram cá representadas, mas que não não fizeram proposta de projecto. O projecto foi entregue a uma equipa que trabalhava nestas áreas e que sabia como, é evidente, com o apoio e com a listagem que foi formulada na aquisição, nós, através da utilização dessa listagem, conseguimos conceber um sistema que tivesse dimensionado. Porque isto era um projecto que tinha que se vir cá fazer, portanto, era era cá localmente que se fazia. É evidente que nós viemos cá tirar as medidas das cablagens, e as cablagens até foram feitas num pátio que eu tenho, portanto, não… foram os meus colegas e fazíamos, tínhamos lá as bitolas, as medidas certas, e quando sabíamos que o cabo 1, 2, 3 e 4 e 50 e 200. O cabo 500 e não sei quantos, todos, tinham um medida e, portanto, fazia a fabricação da cablagem foi feita. Quando houve a necessidade de instalar, tínhamos a cablagem pronta e portanto todo o processo de instalação, na racks, todo esse processo foi feito. E os testes finais foram todos cá feitos e, portanto, e aceite o projecto.

Parte 17 de 27

Síntese:

– Saida da RTP e reforma



P Barbosa— Só para a gente ter datas, o senhor Magriço reforma-se da RTP a tempo inteiro a partir de quando?
JP Magriço— Ou seja, quando é que eu tive que desencadear o processo de saída da empresa, quando a empresa considerou que poderia, por rescisão mútua do contrato, e eu tivesse reunidas as condições que dentro da da providência social, portanto, eu pudesse integrar essa, esse grupo sem ser demasiadamente penalizado, não é, portanto. A RTP em 2005 iniciou um pro…, 2003, logo que fez a passagem para a Marechal Gomes da Costa, tinha feito já anteriormente, mas fez nesse processo o pelos normativos que estavam associados à segurança social e acho para reformas e reformas e outros processos que estavam associados à rescisão, porque no fundo era uma rescisão que estava a ser operada, embora quisesse dar a ideia que não era, mas…
JP Magriço— Mas então foi antes de ter 65 anos, é isso? Antes de atingir a idade da reforma?
JP Magriço— Sim, sim, portanto, nessa altura havia possibilidade, havia normas que permitiam que o indivíduo que tivesse mais de 55 anos, daí, eu tinha, que tivesse reunidas as condições de desemprego, porque, para se ir, para a segurança social tinha que garantir durante um determinado período de desemprego, um período de sanção, é, tem que ser cumprido 36 meses de desemprego. E tenha sujeito a alguma penalização por não ter a idade, então o método que foi utilizado não só para mim, mas como pessoas da época, assim, bem eu estou nas condições dos 55, tenho mais de 30 anos de trabalho, portanto, já tinha mais do que o suficiente para fazer, mas falta-me aqui, já tinha mais de 35, para chegar aos 40 tem que estar aqui quatro anos e tal. Então a técnica e o que funcionou e não há problema, porque é legal, é o indivíduo iniciar o processo de desemprego e interromper prolongando o final do desemprego e isso foi-me possível trabalhando alguns períodos até atingir a idade suficiente para que a penalização fosse mínima. E a partir daí legalmente pode ser…
JP Magriço— Então saiu da RTP com que idade? Na prática, deixou no fundo de ser trabalhador da RTP…
JP Magriço— 55 e alguns meses, não não sei quantos, mas era a altura
JP Magriço— E daí pra frente, como é que tem funcionado do ponto de vista profissional, com empresas particulares, sua, trabalha para outros?
JP Magriço— Sim, agora nesta altura tenho,desde, criei uma no…, uma empresa, para eu puder estar em desempenho de funções, e, portanto, em que de ordem familiar, mas que uso para fazer alguns trabalhos, alguns projetos que possam ocorrer e desde daí houve vários projetos em que colaborei, então fazem parte do meu currículo. É, por empresa. Portanto, aí, a partir daí sou empresário, posso ser remunerado ou não, esse não é, não é grande problema, e neste momento estou na gestão da própria empresa.
JP Magriço— Sempre a trabalhar em coisas relacionadas com a produção televisiva…
JP Magriço— Sim, depois dos 66 anos, ou seja, depois do período que já permitia estar em reforma, portanto, neste momento, está a ver?, já posso ser, é sem problema nenhum, estar a continuar no desempenho de trabalho A remuneração pode ocorrer posteriormente.

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Síntese:

– Evolução dos engenheiros técnicos televisão



P Barbosa— Visto agora assim numa perspectiva de quem já passou por muita coisa ao longo de várias épocas e em várias empresas, até, no caso, como é que tem visto a evolução da importância dos técnicos de televisão do ponto de vista até dos ornados e vá lá das pessoas que actualmente executam as suas tarefas nas televisões de agora, da SIC, da TVI, da RTP, em relação ao tempo quando começou lá no instituto de… da telescola?
JP Magriço— Se quisermos, se quisermos avaliar os primeiros tempos da televisão em Portugal e a da actividade que desempenhei na época, os coeficientes dos custos, ou do consumo. podemos ter uma noção de que é a volta de 50{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} mais relativamente ao salário que recebi nessa época, é, reduzido ou seja, quer dizer que para a época, eu estava 50{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} mais bem pago do que estou neste momento.
P Barbosa— Mesmo na sua carreira pessoal?
JP Magriço— Mesmo na carreira profissional, está a ver? Se eu mantivesse, imagina que eu quero é comparar-me neste momento com alguém que estaria no mesmo desempenho na RTP actualmente. Houve, houve ali um período em que a quebra da inflação fazia reduzir, sucessivamente, os salários e, portanto, foi uma das coisas que nos afectou mais, quer antes do 25 de abril, quer depois do 25 de abril. Portanto, a inflação na altura era bastante elevada, chegava a ser da ordem dos 20 e tal por cento, e a recuperação não era tanta, não se comparava, em termos de salário, o valor dessa inflação. Nem cobria, de certa maneira, é nem minimamente isso, ou seja, por cada negociação havia uma queda, que era significativa. Dois ou três por cento ao longo de uma série de anos, vocês façam as contas e depois chega-se à conclusão que agora estaria, já ganhei muito mais do que estaria a ganhar agora se continuasse no mesmo desempenho. Está a ver? Sem, sem considerar o quê? Promoções ou qualquer outro tipo de evolução na carreira. Uma vez que estagnado, estava numa determinada posição, se eu continuasse nessa posição. É evidente que tende a compensar-se na área da profissão. Reconheço que alguns dos indivíduos que estão no desempenho do nível de qualidade técnica que eu desempenhei, estão mal pagos actualmente, estão a ver? Portanto, relativamente…
P Barbosa— Desceu a remuneração?
JP Magriço— Desceu, desceu, desceu a remuneração. Isso, custa-me a dizer isto, mas é verdade, portanto, ao longo da… porque éramos menos, porque a concorrência era menor, se calhar na altura éramos melhor compensados por isso, mas atendendo aos factores de redução sucessivos nos desempenhos, por exemplo, é intolerável pensar que agora um engenheiro, por exemplo, que entrar aí no desempenho de uma actividade em que lhe é exigido um grau de conhecimento extremamente superior, e nível superior, estejam a pagar 600 e 700 euros no máximo. Quer dizer, isto é impensável porque isso era o ordenado possivelmente que o técnico em electrónica na época teria relativamente, estão a ver?. A, a, no início de carreira. Portanto, isto está a acontecer. Portanto, é uma coisa que eu tenho que referir, porque não há comparação, houve… Pronto. Isso se formos ver os coeficientes de compensação das próprias finanças vê-se qual é a quebra que houve ao longo de todo esse processo.
P Barbosa— Em relação à evolução das condições de trabalho e exigência de quem trabalha, sentiu que as coisas pioraram e tiveram que começar a trabalhar cada vez mais, ou a coisa manteve-se?
JP Magriço— É assim, quando havia intervenções na área profissional, as exigências que eram da época, no início, eu passei por várias fases. Eu comecei com a fase mista na área profissional com a área mista entre válvulas e transístores. E esse eram elementos discretos diferenciados, um que tinha as características de tecnologia anterior, que é a válvula, portanto a válvula era um sistema termoiônico que baseava-se no princípio de aquecimento de um filamento e de uma substância que libertava electrões e esses electrões eram disponíveis depois através e controlados através de grelhas para fazer as funções da amplificação e de controlo etc. O transístor veio reduzir este este elemento, que era um elemento que aquecia e que libertava muita energia, e o transístor veio fornecer as mesmas funções, veio conquistando as funções das válvulas ao longo de um determinado período. Depois quando o transístor adquiriu dimensões de se poder integrar dentro de um circuito linear, um circuito integrado portanto, aí houve ainda redução de consumo, ainda mais redução, etc, e chegou até às tecnologias. Eu comparo isso com também o que se passou relativamente ao grau de intervenção. Nas válvulas eu tinha que fazer leituras sistematizadas do do grau de rendimento das válvulas, a transconductância e outras coisas que estavam associadas à capacidade da válvula fornecer os sinais de uma forma linear e não distorcida do conteúdo que se pretendia ter dela. Com o transístor melhorou-se ainda um pouco mais. Quer dizer que a válvula requeria que eu fizesse uma atenção cíclica, sistematizada, para evitar que ela se degradasse ao ponto de falha. Portanto, antes de ela falhar tinha que ser substituída, tinha que ser mudada, ou tinha que ser avaliada o seu comportamento. O transístor já veio aliviar, de certa maneira, tecnicamente, este procedimento. O transístor falhava ou não falhava, ou sobreaquecia ou era substituído, em caso de morte súbita, morria, portanto, quando falhava era por ardia etc. Portanto, ele ficava inoperativo e era fácil de substituir. Quando vieram os circuitos integrados, esse mesmo transístor passou a ter menor consumo, maior densidade por circuito integrado, a substituição passou a ser mais fácil, porque o circuito integrado estava inserido dentro de um suporte, normalmente, dentro de um suporte, não se pretendia ter um sistema de ligação mais perfeito, e, portanto, havia ali um uma redução, de certa maneira, do comportamento. E as avaliações e os sistemas de pesquisa e detecção de avarias variavam em função destes factores que estavam presentes. Havia circuitos mistos, em que tinha válvulas e transístores, havia circuitos que tinham transístores discretos e transístores integrados, e portanto isto tudo veio melhorando. A substituição, a detecção e os trabalhos de pesquisa vieram a crescer também, ou seja, era cada vez mais difícil saber onde é que estava o defeito. O transístor era um sistema discreto, era sim ou não, ou era ou não era. Quando era integrado, já não sabia se era este integrado, se era o outro, se era o outro. Estão a ver? Portanto, havia necessidade de ter uma noção do tipo de análise funcional dos meios por fluxos ou cartas de fluxo de tipo de avaria. Se isto está nesta posição e tem esta informação está correto, se não está, está incorrecto e, portanto, o grau de exigência ao técnico passou a ser também maior. Não quer dizer que originalmente não se tivesse que saber bem como é que uma válvula funciona, ou um transístor ou um circuito integrado. Estão a ver? O grau de exigência de conhecimentos era também maior. A detecção e o diagnóstico é que passaram a ser mais facilitados. E, portanto, ao operador e ao à pessoa que fazia a manutenção dos equipamentos, havia um conjunto de procedimentos para detectar com mais facilidade as avarias. Mas à medida que a densidade de transístores e de integrados aumentou, e a complexidade dos circuitos aumentou também, na mesma proporção, ou em maior, a dificuldade na detecção e na relação que se estabelecia no tipo de avarias que poderiam acontecer. Também crescendo desde a válvula até aos circuitos integrados, podemos ver que a fiabilidade dos meios também aumentava. Ou seja, aquilo que era mais comum na válvula ter que se mudar de três em três meses, passou a transístor que se calhar tinha que se ter atenção ano a ano, os circuitos integrados se calhar viviam dois ou três ou quatro ou dez anos sem avarias. Portanto, a complexidade, redução do consumo, veio ter um MTBF maior. O que que isto quer dizer? O MTBF do de qualquer sistema, ou de qualquer dispositivo é o mean time before fail, em inglês é uma sigla que quer dizer que a fiabilidade e, a capacidade de os componentes de menor consumo se manterem mais tempo vivos aumentou. E o tipo de tecnologia associada à produção dos circuitos integrados de grande intensidade, os VLS, portanto, os integrados de larga escala de integração, vieram facilitar a vida aos operacionais. Mais veio-lhes como… facilitar por um lado, em termos de avarias, mas quando há avaria a sua deteção torna-se mais complexa também. Portanto, tem que haver sistemas de diagnóstico associados com, mais sofisticados, que exigem maiores conhecimentos, para que o técnico possa intervir de forma a solucionar os problemas mais, de uma forma mais segura.

Parte 19 de 27

Síntese:

– Evolução qualidade da televisão
– A má qualidade das imagens de arquivo



P Barbosa— A tecnologia vem melhorar a qualidade da televisão? Sim ou não? E quando eu falo em qualidade agora não estou a falar especificamente na técnica, quando vê a televisão hoje em dia, nota que realmente que isto é muito melhor do que ela fazia há 20 anos atrás?
JP Magriço— Muito melhor. há uma dicotomia aí, é os meios técnicos de captação, o tal escalonamento da qualidade, vem substancialmente melhorar, agora, quando se continua com os sistemas de transmissão, ou de divulgação ou difusão dos meios através de down scalling sucessivos da qualidade, o que acontece?, a camara tem capacidade de resolução que exige um determinado gama de qualidade, ela tem contida na origem a melhor qualidade possível, é garantida durante a gravação ou no registo magnético ou do bits etc., portanto, a memorização dessa informação é feita no mais alto nível, mas aí já entra um fator. Para que se armazene em grande quantidade tem que se introduzir fatores de compressão e entra a estrutura de mpeg, que é uma estrutura redutora de três ou quatro fatores que contribuem para a degradação final. A ideia é preservar a melhor qualidade na origem, mas dado que se vai subtrair a qualidade, a informação redundante que fazia parte do sistema não comprimido, está a ver?, quando um sinal sai de uma câmera e vai pra um monitor, esse sinal vai a 270 Mbits mas esse mesmo sinal quando é armazenado, vai ser armazenado a 30 mega bits, o que quer dizer que esta redução de compressão que se efectua sobre o sinal vai introduzir fatores de perda de alguma informação. Há uma perda, o less loss, a perda mínima está a acontecer. Se vamos para taxas de memorização muito elevadas, ainda se conseguem recuperar a informação anterior. E, portanto, a história do GOP e long GOP portanto, o gop ainda permite 2 ou 3 frames de perda de informação e que são substituídos por sinais de diferença. Mas quando se vai para o long gop os 12 ou 13 imagens, é, ou 2 ou 3 frames são verdadeiros e são recuperáveis, os outros que estão ali na interface, que estão entre eles, os bidirecionais, estão ali, e são reduzidos ao mínimo, portanto, e não estão presentes, o que exige, nos sistemas de edição, por exemplo, tenha que se fazer um processamento muito mais elaborado, que só é conseguido com computadores extremamente potentes para recuperar a informação que não está contida, não é? Portanto, para recriar a informação e os interframes, por exemplo, que estão associados à redundância do sistema. Portanto, frame a frame leva uma taxa de compressão e é essa permanente. Fica… não é variável, não é muito variável. As do long GOP acabam por reduzir a qualidade e o espectador, que deveria ver, por exemplo, uma imagem repetida ao ritmo de 50 frames por segundo, seja entrelaçado, seja em progressivo, passa a ver imagens que dão saltos, ou seja, estão ali ao ritmo de 12 hertz, é, e são falsos porque um é retido enquanto os outros mudam e, portanto, essa degradação que sofre um sinal por transmissões em que a banda da original, por exemplo, de uma câmera desta dimensão que faz a captação a um 1,485 gigabits, vai acabar por ser transmitido para o consumidor a uma taxa de 2 mega bits e há uma grande diferença entre giga e mega bits, e, portanto, quer se queira quer não, o que está mal não é na origem, não é na preservação nem na compressão, nem no armazenamento, é na distribuição do sinal. A distribuição do sinal faz-me crer o seguinte: compras-se televisores de 4K, para ver o grau elevadíssimo da degradação dum sinal que foi comprimido ao longo de todo um processo. Quer dizer, é a melhor qualidade possível do erro, da degradação. Eu vejo a degradação em alta fidelidade. É o que me apraz dizer sobre essa questão, sobre as questões relacionadas com…
P Barbosa— Mas agora…
JP Magriço— Embora eu reconheça, já agora Paulo, só um… Embora eu reconheça que tem havido algoritmos recentemente e que tem vindo a tentar melhorar a qualidade com XAVC, ou é HEVC, etc., são tudo sistemas que já fazem tratamento estatístico, à tua análise perceptual da imagem e, portanto, e que garante, de certa maneira, tentativa de equilibrar este grau de redução, de compressão, espartilho do sistema para chegar a uma imagem com razoável qualidade.
P Barbosa— Eu percebo que está a ver isso do ponto de vista…
JP Magriço— Eu não sou negativo, não quero ser negativo.
P Barbosa— Dê-me também a sua opinião do ponto de vista do espetador de televisão. Portanto, a televisão que vê hoje em dia, quando chega à casa e liga lá nos canais portugueses, como é que evoluiu em relação à televisão de há 10 ou 20 anos atrás?
JP Magriço— Melhorou em vários aspetos. O aspeto que eu considero que é técnico, não vou avaliar conteúdos aqui, mas conteúdos em termos de conteúdos culturais, o que vou avaliar em termos do espetador é que, se eu vejo imagens que as câmeras que eu dei, por exemplo, no estúdio quatro, estúdio da RTP durante uns anos eu dei manutenção a essas câmeras. E sabia o grau de qualidade que era o do original, portanto, eu via o monitor, a resolução, todo, todo, a qualidade do sinal em termos de respostas de gamas, de todo o conteúdo que lá estava, eu percebi-me que havia lá pormenores, algum ruído, etc., havia lá qualquer degradação, que eu sentia que a câmera tinha originalmente. E o sinal tinha e ele mostrava. Agora quando eram gravados em videotapes e quando a videotape era uma videotape que garantia tal escalonamento da qualidade de uma BNC na outra, eu quando via reproduzido esse mesmo sinal do estúdio, que, havia uma perceção de que havia uma degradação, eu era capaz de sentir isso. Mas era uma degradação que era perfeitamente aceite. Agora o que eu não não não concebo é que quando se vai buscar imagens desse tempo não sejam as fitas que os gravaram, mas sim em VHS da época e, portanto, aí é que eu sinto que a imagem e o espetador está sendo defraudado na qualidade, porque uma vez que haja um suporte deste nível, em que se sujeita a uma pequena degradação, e quando se faz uma edição de um programa em que se recorre à imagem de memória, conteúdos que já foram gravados há 40 e 50 anos admitamos que isto já existe, não é?, já existe 57 anos ou quê de televisão em Portugal e, portanto, eu não sei se são 57, mas se calhar é pra aí.
P Barbosa— mas está a dizer que eles ao invés de irem buscar a Betacam digital, estão a ir buscar VHS?
JP Magriço— o que aconteceu de grave nestes anos todos no arquivo e no repositório da qualidade foi as transcrições que cujo suporte estavam em fitas magnéticas de qualidade elevada ou que se assemelhava na tal escalonamento da perda da qualidade que era mínimo, ou seja, a câmera tinha uma característica, vamos lá, de ruído, por exemplo, tinha 52 DBs de ruído, porque na época não se conseguia melhorar, os tubos não eram capazes de captar sinais com menos. Mas a videotape introduzia 2 DBs de ruído, ou seja, quer dizer que, em, vamos admitir se o ruído tinha uma determinada amplitude, ele crescia para aí 10{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, 12{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, estão a ver? Estes dois DBs aqui de diferença era um agravamento do ruído, em vez de ser 52, olha era 50. Mas como as normas diziam que os 52, é, os 52 DBs já era uma coisa muito boa e os 48 é que era o limite do entendimento, estava dentro das margens. Agora o que é que aconteceu com esta degradação? É que este material não ficou preservado, não ficou preservado em em no suporte original. Foi transcrito para um formato de baixa qualidade. E, portanto, eu quando vejo imagens daquela época, penso assim, mas eu não fiz nada disto. Eu tenho a noção, eu, crítico. Agora o espetador até acha piada, porque diz, é, pá, isso é mesmo antigo. Por, quer dizer, porque não tem a apreciação do que tecnologicamente o que que era possível na época.
P Barbosa— Portanto, estão a ver coisas estragadas antigas
JP Magriço— Estão a ver coisas truncadas, mutiladas, degradadas, com distorções elevadíssimas e de tal forma que dá rastros na imagem e outros problemas que só, na época.

Parte 20 de 27

Síntese:

– Pessoas necessárias manutenção técnica



P Barbosa— O número de pessoas envolvidas na manutenção de uma infraestrutura técnica de uma televisão, se houve grandes alterações?
JP Magriço— à medida que os equipamentos passaram a ter acesso já controlo de diagnóstico e desde que passaram a ter uma manutenção do carácter preventivo, portanto, e desde que a parte mecânica passou a ser subtraída, portanto, praticamente já não existem máquinas com partes mecânicas, já é tudo sólido, portanto, aí melhorou a qualidade e, portanto, os acessos de, e a degradação da informação, é, deixou de ser tão acentuada. E, portanto, também começa a justificar-se, através de meios de diagnóstico, associados a cada equipamento, que haja o mínimo, menor redução de pessoal, há uma menor necessidade de ter tantas pessoas para fazer determinados desempenhos mais elaborados.
P Barbosa— Mas tem ideia, por exemplo, do número de pessoas que trabalhavam na 5 de Outubro na manutenção e o actual?
JP Magriço— Aumentou, por exemplo, o número pessoas, porque também a complexidade do sistema aumentou em termos de quantidade. Mas se fizemos a taxa de comparação há menos pessoas relativamente aos meios. Portanto, os meios triplicaram e as pessoas não não se desenvolveram na mesma proporção.

José Pote Magriço p.21 – (2ª sessão 25 Julho de 2017)

1968 com 18 anos e o serviço militar obrigatório


José Pote Magriço p.22 – (2ª sessão)

Influência de pertencer ao partido na RTP
Os técnicos não aparecem na ficha técnica


José Pote Magriço p.23 – (2ª sessão)

A prateleira da RTP
Opus dei maçonaria e algarvios


José Pote Magriço p.24 – (2ª sessão)

A maior realização profissional (manutenção e assistência técnica)
A dimensão dos meios usados nos grandes eventos
A divisão tarefas dos responsáveis técnicos
Preocupação com a medida da audiência


José Pote Magriço p.25 – (2ª sessão)

Sindicalização
Salários das estrelas da informação


José Pote Magriço p.26 – (2ª sessão)

A escolha das chefias
O culto da imagem
O conflito José Eduardo Moniz e Operadores de câmara


José Pote Magriço p.27 – (2ª sessão)

A carreira dos filhos
Prosistel foi a história da primeira empresa de televisão privada em Portugal
Instalação de Laboratórios de Línguas para a empresa FOCUS
Remodelação do CENJOR
Depois 1994 dedica-se à formação
Formação atual na RTP e Privadas