Fernando António Pinheiro Correia nasceu em Coimbra, a 4 de julho de 1942, no seio de uma família de intelectuais com uma forte atividade política ligada ao Partido Comunista (PC). Aos 15 anos, mudou-se com os pais para Lisboa, onde ingressou no Liceu Passos Manuel. Foi nesta instituição de ensino que conheceu o professor e historiador Joel Serrão, que exerceria uma forte influência nos interesses do jovem estudante. Partilhou as salas de aula com alguns colegas que o acompanhariam ao longo da carreira, como o falecido jornalista da Visão, Daniel Ricardo, autor do conhecido e muito utilizado Manual de Jornalistas (1989).
Estudou Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, altura em que desempenhou as funções de dirigente associativo, na Pró-Associação. Participou em diversas lutas estudantis, durante os anos agitados de ditadura. Aderiu ao Partido Comunista, em 1962. Mais tarde, no final da década de 80, haveria de concluir o mestrado na área da Comunicação, no ISCTE.
Estreou-se nos jornais, aos 17 anos, primeiro no suplemento juvenil do Diário de Lisboa e, mais tarde, do República. Profissionalmente, entrou para o Diário Popular através do que descreveu como “o primeiro curso de Jornalismo, em Portugal”. Francisco Pinto Balsemão pretendia selecionar os melhores três alunos para a redação, mas não resistiu a integrar um quarto: Fernando Correia, Carteira Profissional nº13, uma das primeiras da profissão.
Do Diário Popular acabaria por se mudar para o Diário de Lisboa. Em 1971, trabalhou como jornalista e integrou a comissão executiva da revista Seara Nova, em acumulação com o Diário de Lisboa até 25 de Abril de 1974. Foi uma das figuras principais do Avante!, jornal fundado a 17 de maio de 1974, exercendo a função de subchefe. Mante-se em funções neste título até janeiro de 1986. Nesse ano, saiu do jornal do Partido Comunista para integrar o Conselho de redação da revista Vida Soviética. Ainda foi membro permanente das revistas O Militante e Vértice.
A convite de Mário Mesquita, passou a exercer funções de docente na licenciatura em Comunicação e Jornalismo, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, curso que coordenou entre 2008 e 2012. Foi diretor editorial da revista Jornalismo e Jornalistas, publicada pelo Clube de Jornalistas, desde o primeiro número, em 2000, e membro do Conselho Geral do Sindicato de Jornalistas, de que foi o sócio nº113.
Como académico, integrou o Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova, e pertenceu à Associação de Ciências Sociais (SOPCCOM). Com um contributo inestimável para o conhecimento do jornalismo e da profissão, lançou diversas obras, como em Defesa do Jornalismo e dos Jornalistas (2013), O Papel Modernizador dos Jornais Diário Ilustrado, Diário de Lisboa, A Capital durante a Década de 60 do Século XX (2011), Anos 60: um Período de Viragem no Jornalismo Português (2010), Memórias Vivas do Jornalismo (2010), Crise de Identidade Profissional e Emergência de um Novo Paradigma (2009), Jornalismo-Do Ofício à Profissão (2007), estes cinco livros em coautoria com Carla Baptista, além de Jornalismo: Grupos Económicos e Democracia (2006), Para uma Análise da Produção Jornalística. Determinismo e Autonomia (2005). Jornalismo e a Sociedade (2000), Os Jornalistas e as Notícias-A Autonomia Jornalística em Questão (1997). Fernando Correia faleceu em Lisboa, a 1 de março de 2024.
Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso. Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 26 outubro de 2018.
Parte 1 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 26 outubro de 2018 |
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F. Correia parte 1 de 6 aos 0M9S – apresentação; dados biográficos; formação académica; conhecimento de línguas; profissão dos pais; contexto familiar: filho de dois intelectuais conimbricenses dos anos 1940, ligados ao Partido Comunista Português e licenciados pela Faculdade de Letras de Coimbra, mas que se dedicaram à psicologia, particularmente à psicologia infantil; papel dos pais como escritores e atividade política bastante empenhada; F. Correia parte 1 de 6 aos 2M44S – influência da atividade política e intelectual dos pais e do contexto social na juventude na opção de seguir jornalismo; mudança da família para Lisboa e experiência de estudante no Liceu Passos Manuel; papel do professor e historiador Joel Serrão na sua aprendizagem; referência ao amigo e colega de liceu Daniel Ricardo; jornal escolar Initia; F. Correia parte 1 de 6 aos 6M40S – a origem da ligação à imprensa no suplemento juvenil, do Diário de Lisboa; primeiro contacto com a censura, com apenas 17 anos; passagem para o suplemento juvenil, do República; participação nos movimentos estudantis e em jornais académicos, no início dos anos 1960, na Faculdade de Letras de Lisboa; F. Correia parte 1 de 6 aos 16M56S – estreia profissional no jornalismo; redação do Diário Popular; entrada no Diário Popular através da frequência do primeiro curso de jornalismo português, com prova de admissão; F. Correia parte 1 de 6 aos 20M0S – particularidades do primeiro curso de jornalismo organizado pelo Diário Popular; referência a Baptista-Bastos e a Francisco Pinto Balsemão; importância do Diário Popular na sua carreira como jornalista; F. Correia parte 1 de 6 aos 33M54S – rotinas jornalísticas no Diário Popular; referência à Carteira Profissional e aos jornalistas desportivos. |
Parte 2 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 26 outubro de 2018 |
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F. Correia parte 2 de 6 aos 0M12S – histórias marcantes em reportagem no Diário Popular; referência a alguns colegas do jornal, como Vera Lagoa; F. Correia parte 2 de 6 aos 3M58S – salário do jornalista à época; F. Correia parte 2 de 6 aos 3M58S – Serviço militar em 1966/67; frequência do Instituto Psicotécnico do Exército, em Caxias; experiência de crítico de televisão no Diário Popular com assinatura de António Pinheiro; entrada para o Diário de Lisboa, em 1974; F. Correia parte 2 de 6 aos 9M15S – reclusão em Caxias, no 25 de Abril de 1974; memórias sobre o atraso na libertação dos presos, após o 25 de Abril; artigo que escreveu na prisão e que foi publicado a 28, no Diário de Lisboa, após libertação; F. Correia parte 2 de 6 aos 15M15S – a reação à censura no exercício do jornalismo; pressão no fecho dos jornais para cumprir os horários da distribuição; F. Correia parte 2 de 6 aos 23M23S – os primeiros tempos do Avante!: a equipa, a redação e a estrutura do semanário; experiência no Avante!. F. Correia parte 2 de 6 aos 32M41S – ambiente entre jornalistas nas redações, antes do 25 de Abril. |
Parte 3 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 26 outubro de 2018 |
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F. Correia parte 3 de 6 aos 1M12S – importância da Carteira Profissional de Jornalista, antes do 25 de Abril; nova lei de Imprensa de 1975; mudanças no jornalismo com o desaparecimento da censura; regresso ao tempo em que trabalhou na editoria do Internacional, do Diário Popular; F. Correia parte 3 de 6 aos 7M47S – reconhecimento dos leitores; notícias sem assinatura; reconhecimento público do jornal; referência ao suplemento cultural, A Mosca e aos seus autores. F. Correia parte 3 de 6 aos 9M30S – balanço profissional e pessoal sobre os anos que passou nas redações; F. Correia parte 3 de 6 aos 16M34S – atividade sindical; questões prioritárias para o Sindicato de Jornalistas no pós-25 de Abril; solidariedade na classe em situações de prisão dos jornalistas; censura. |
Parte 4 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 26 outubro de 2018 |
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F. Correia parte 4 de 6 aos 0M23S – motivação da passagem para o meio académico; prática pedagógica; F. Correia parte 4 de 6 aos 5M58S – opinião sobre a formação no acesso à profissão de jornalista; futuro do jornalismo escrito; considerações sobre a comunicação e o jornalismo. F. Correia parte 4 de 6 aos 13M51S – contributo maior para o jornalismo e motivos de orgulho no percurso jornalístico e académico; referência ao livro Do Ofício à Profissão; F. Correia parte 4 de 6 aos 19M19S – perspetiva sobre o futuro do jornalismo; preocupação com a imprensa escrita. |
Parte 5 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 6 Março de 2019 |
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F. Correia parte 5 de 6 aos 0M10S – experiência na Seara Nova; censura; diferenças de procedimentos da censura no jornal diário e na revista mensal; estratégias para ultrapassar a censura; F. Correia parte 5 de 6 aos 15M38S – relacionamento e espírito de classe entre os jornalistas; descrição de episódios de camaradagem entre jornalistas. |
Parte 6 de 6 Entrevistado por Maria José Mata e Fátima Lopes Cardoso Registo e edição Paulo Barbosa – Lisboa 6 Março de 2019 |
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F. Correia parte 6 de 6 aos 0M38S – perceção dos jornalistas sobre os outros profissionais que coabitavam nos jornais, como era o caso dos tipógrafos, nos anos 1960 e 1970; F. Correia parte 6 de 6 aos 9M16S – relação entre jornalistas-redatores e jornalistas-fotógrafos; referência ao momento em que os fotógrafos foram considerados jornalistas, na década de 70; perfil e rotinas dos fotógrafos da época, sem atividade intelectual e com uma produção mais ilustrativa do que informativa; referência ao Diário Ilustrado como o primeiro título que valorizou a fotografia; F. Correia parte 6 de 6 aos 17M32S – reconhecimento da profissão, desde final dos anos 1950, quando os jornalistas eram tratados como “os rapazes do jornal” pelo regime; período de subalternização política “aliada” com a censura; maior reconhecimento na década de 60, quando os jornalistas passaram a ser mais qualificados; entrada progressiva das mulheres nas redações; referência a Maria Antónia Paula, Vera Lagoa, Maria Antónia Fiadeiro. |