Com António Luiz Rafael. Entrevistado por Júlia Leitão de Barros * Registado por Paulo Barbosa * Évora 27 de Março de 2017
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— Então, e nessa altura quantas pessoas é que eram, mais ou menos?
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— Ah, tínhamos, a… o Rádio Clube de Moçambique tinha cerca de 400 funcionários.
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— 400 funcionários.
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— 400 funcionários.
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— E…
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— Nós tínhamos uma central técnica com 20 ou 30 máquinas com remoto controlo. A gente, por exemplo, injectava o programa das cabines… ah, e a emissão era comandada pelo locutor, não havia vidro ao meio, com o técnico do outro lado. A emissão tava nas nossas, nossas mãos. Porque era a teoria dessa época de quem mandava, de que cada um tornava a sua, a sua própria, a sua própria personalidade ao trabalho que fazia, na maneira de meter os discos, na maneira de falar, não sei o quê. Aqui na Emissora Nacional a fazer sinais agora pro outro lado, mete a música agora… Não dá. Não me ent…eu não me revejo na rádio que se faz em Portugal. E estou a começar a não me rever também na televisão. A..era má, a rádio aqui em Portugal era má. A gente tocava lá Zeca Afonso, aqui já tava proibido. A gente tocava lá…
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— Espere, eu ia lhe falar isso. Portanto, temos… entrou pra fazer locução. Não, como repórter, como repórter, não foi?
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— Sim, sim, mas depois deixei a reportagem e fazia então era…quando ia lá um governador-geral ou quanto ia lá um ministro e ia para o Norte fazer viagens eu ia, normalmente eu ia.
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— Fazia reportagem, não é?
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— Fazia, fazia reportagem, e mandava o sinal por, por correio, pra, pra…
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— Como é que isso era, o que é que é isso do sinal por correio?
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— O sinal era eu, que tinha a reportagem feita, fazia depois o texto, metia, como se faz na televisão, metia depois as partes em vivo, das pessoas que falavam para mim, e depois, depois fazia, fazia uma peça, com oito minutos, nove minutos, dez minutos, o que calhasse. Então ia aos correios passar essa, essa peça por por linha telefónica pra Lourenço Marques, que a gente passava a peça e depois quando acabava de passar dizia “alô LM, alô LM”. Repita que chegou mal. Torna a meter a fita ao princípio, e sei o quê, porque ainda não havia, não havia…
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— Pois, não havia…
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— Era como por exemplo falar de Lourenço Marques aqui para Lisboa por telefone. A gente marcava o telefonema e depois a Marconi devia chamar durante o dia pra gente falar.
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— Mas, eh, quais eram os meios que tinha, para…os meios técnicos
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— Os melhores, os melhores. Era a estação de rádio mais bem equipada de Portugal.
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— Os homens da Emissora quando começaram a lá ir quase que caíam de rabo no chão, nunca, nunca, imaginaram que lá para os confins da África houvesse uma estação assim.
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— Mas, mas, diga-nos algumas das coisas, que na altura, …
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— Tínhamos um auditório com plateia e balcão que comportava 200 pessoas. Onde se fazia, semanalmente, às terças-feiras, um programa de variedades com orquestra própria. Nós tínhamos 3 orquestras: tínhamos a Orquestra Ligeira, dirigida por Artur Fonseca, o homem que escreveu “A casa portuguesa”; tínhamos a Orquestra Típica, que era uma orquestra para cantar “oh maria vai com as outras”, e não sei quê, as coisinhas típicas de Castelo Branco, e, de, do Minho; e tinhamos um pequeno conjunto, uma pequena orquestra de salão com 12, 13 elementos para tocar peças clássicas. As variedades eram à terça, às quartas era a clássica e às sextas era a típica. Todas as semanas. Tínhamos cantores, tínhamos elementos que cantavam próprios, mas que eram pagos por, por actuação. Sendo que dois ou três até eram funcionários da estação. Tínhamos uma capela estúdio, onde se podia rezar a missa aos domingos. Tínhamos uma central técnica equipada com 30 máquinas. Quando passava uma gravação, por exemplo, das nove às dez ia para o ar o programa x gravado. A central técnica punha, metia a fita numa máquina, mandava um sinal para o sítio onde eu estava, era obrigatório antes de começar a gravação de um programa dizer “programa não sei quê, para transmitir no dia tantos, às tantas horas no [imperceptível] não sei quê” que era para não haver enganos. Para não trocarem fitas e a gente estar a transmitir uma coisa que já tinha sido emitida ou que ainda era para outro dia. Não, era obrigatório fazer o anúncio prévio. A gente carregava num botão, em remoto controlo, vinha-nos essa mensagem, “programa tal, para o dia tantos, não sei quê”, ok, está certo, aquilo andava, andava, começava com música, a gente parava, carregava noutro botão, a fita andava pra trás até ao princípio da música, puxavas uma cavilha à direita e estava pronta a ir para o ar. Quando chegava a altura daquilo ir para o ar dava-se o sinal de estação, aqui de Portugal de Moçambique fala o”Rádio Clube Lourenço Marques”, não sei quantos metros onda média em FM estéreo e não sei quê, em onda curta não sei quê, vai [ imperceptível] o programa tal carregava-se o botão e o programa ia para o ar.
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— Mas isso era mais tarde, não é? Com essa gravação, esse sistema.
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— Não, esse sistema foi logo de princípio, foi logo construído de princípio. Tínhamos um estúdio com pequenos conjuntos, se ia lá uma pianista, ia para o estúdio que estava preparado acusticamente para gravar um recital; tínhamos um estúdio que era apenas só pra inglês ver, que era o estúdio do governo-geral, se o governador fosse falar ia para aquele estúdio; tínhamos um estúdio de teatro radiofónico, com, com os efeitos sonoros todos no chão, tínhamos caminhos de areia, caminhos de terra, tínhamos portas, portas falsas, para abrir e fechar…
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— E tinham uma produção própria, era?
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— Tínhamos, tínhamos.
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— De radio-novelas.
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— Da rádio, da rádio.
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— Radio-novela, não. Tínhamos teatro radiofónico, teatro radiofónico, que era transmitido às quintas-feiras, das 9 às 10. Ainda tenho aí em casa algures não sei aonde, uma cassete com, com a minha voz a fazer a apr.. uma peça de teatro qualquer lá.
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— A participar?
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— Não.
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— Não, a apresentar.
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— A apresentar, só a fazer a cabeça e o fecho. Só a fazer a cabeça e o fecho.
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— Mas pelo aquilo que tava a dizer…
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— Tínhamos os programas infantis, tínhamos vários noticiários durante o dia, tínhamos um departamento de informação. Era uma coisa a sério.
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— Sim, sim.
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— Era uma coisa a sério.