Ricardo Parreiras – Parte 6 de 11

            

Ricardo Parreiras

parte 6 de 11

Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006

Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017

    

RP parte 6 de 11 aos 0 M 7 S – GRAZIELA: Vou repetir a pergunta. Nessas funções todas que você exerceu no rádio, qual que você mais gostou?
RP parte 6 de 11 aos 0 M 18 S – PARREIRAS: É uma pergunta difícil. Porque eu gostei de todas as… eu gosto do rádio em geral. Mas na época, eu como cantor, eu tinha muita alegria e me satisfazia muito né, porque eu trabalhava como cantor no auditório e eu sentia o calor do auditório, a respiração do auditório. Você olhava vinha uma pessoa assim… e eu não gostava muito de olhar pra plateia assim, eu olhava lá pro fundo.
RP parte 6 de 11 aos 0 M 52 S – Porque eu aprendi com um profissional, do Rio inclusive, Paulo Gracindo e ele falava assim “quando você for falar pro auditório, não olha pra primeira fila não, que você vai encontrar alguém cochilando, você vai encontrar alguém com a cara ruim que não tá gostando, então você olha por cima da cabeça, olha lá no fundo. Você faz isso.” Então eu aprendi com Paulo Gracindo essa técnica.
RP parte 6 de 11 aos 1 M 18 S – GRAZIELA: Olha que interessante.
RP parte 6 de 11 aos 1 M 20 S – PARREIRAS: Né? Então você olha por cima porque você vai encontrar alguém sorrindo, você sente que ele tá gostando, mas cê vai ver gente que já tá… então você fazendo isso todo mundo sente que você tá olhando. E você fica com a cabeça mais alta.
RP parte 6 de 11 aos 1 M 40 S – GRAZIELA: Ótima técnica, adorei.
RP parte 6 de 11 aos 1 M 42 S – PARREIRAS: É uma boa técnica, né? Então eu gostei muito dessa fase. Mas foram… aquela sequência de outras funções, gostei muito de fazer humorismo. E fui chefe do humorismo. Nós tínhamos dezesseis comediantes, eu não vou fazer humoristas, mas comediantes. Porque era escrito, rádio é escrito.
RP parte 6 de 11 aos 2 M 7 S – Já o humorista, ele tem que improvisar e tal e isso aí eu fui fazer na televisão, que era decorado e tudo. Porque eu fiz também. Fazendo um parentesinho, porque eu trabalhava na Rádio Inconfidência, mas eu tinha outras funções por fora sem prejudicar os serviços da rádio, eu fazia outros serviços também para aumentar o rendimento, isso é muito bom, né. Porque é sem prejudicar o serviço.
RP parte 6 de 11 aos 2 M 36 S – Eu por exemplo fazia locução comercial pra televisão, para rádio, então foi uma época muito boa como cantor. Depois como comediante também, dirigir os comediantes e eu lancei comediantes… Mauro Gonçalves que foi para o Rio de Janeiro, foi para a rádio Excelsior. Ainda existia a rádio Excelsior no Rio de Janeiro.
RP parte 6 de 11 aos 3 M 3 S – Foi convidado eu, Mauro Gonçalves e Heloisa Malar. A Heloisa trabalhou com o Chico Anísio. O Mauro Gonçalves virou o Zacarias dos Trapalhões. E eu não quis ir porque eu já estava casado, já estava enraizado em Belo Horizonte, não quis sair de Belo horizonte, mas o Mauro fez muito sucesso como o Zacarias dos Trapalhões, né? Então foi uma fase muito legal também que eu gostava muito de fazer humor e eu chefiava essa turminha.
RP parte 6 de 11 aos 3 M 33 S – Nós tínhamos dezesseis comediantes. Tinha Mauro Gonçalves, Heloisa Malar, Mara Rangel, Arlete Resende, Souza… Santos… nem me lembro o nome. E eu trabalhava também. Além de dirigir eu trabalhava também e tal e era muito bom porque você… qualquer coisa que você falava o auditório ria, então às vezes era uma palavrazinha, o auditório ria daí a pouco eu repetia aquela palavra e o auditório ria, então eu pegava aquela
RP parte 6 de 11 aos 4 M 12 S – palavra como um mote pra mim sempre falar. Aí pegava.
RP parte 6 de 11 aos 4 M 17 S – GRAZIELA: Devia ser muito divertido.
RP parte 6 de 11 aos 4 M 20 S – PARREIRAS: Então são fases que eu passei, das quais eu tenho gratas recordações e me lembro, eu fui muito feliz em todas elas, depois eu fui também… em mil novecentos e oitenta e sete, eu fui transferido para a direção artística da rádio. Aí eu falei assim “eu vou, mas se você pedir o governador pra me nomear, porque daqui a pouquinho você me tira…” então… é a rádio do governo, os cargos de direção eram de responsabilidade do governador, tem que ser pessoas de confiança do governador.
RP parte 6 de 11 aos 5 M 3 S – O nosso presidente que na época chamava superintendente, ele foi ao governador “eu queria que você nomeasse e tal, o Ricardo Parreiras…”, o governador me conhecia, foi fácil que na mesma hora ele me nomeou e saiu publicado no diário oficial, mas eu já estava na função de direção. Essa foi a mais difícil, né… porque eu tinha que lidar com.… porque cargo de chefia é muito… eu não nasci para comandante, eu nasci para comandado.
RP parte 6 de 11 aos 5 M 35 S – GRAZIELA: risos
RP parte 6 de 11 aos 5 M 36 S – PARREIRAS: (risos) mas eu me dava bem porque eu usava o sentimental para chamar atenção de um funcionário. Um locutor, por exemplo, que tinha mania de chegar atrasado… eu não vou falar o nome dele não, ele chegava muito atrasado, ele apresentava o programa A Hora do Fazendeiro que é um programa que é o doce de coco da rádio, que é o programa que está desde da fundação da rádio. Ele chegava atrasado todo dia. Eu ia falar com ele e ele “bom, o senhor não ficou sabendo não? Virou uma carreta lá perto do Frango Assado, lá na estrada, então nós ficamos parados,
RP parte 6 de 11 aos 6 M 13 S – e eu tava no ônibus, fiquei parado lá, por isso que eu cheguei atrasado.” Aí eu ligava pro Frango Assado e assim “teve um desastre aí na porta?” e eles “não…” “dá uma olhada lá…” “não, teve desastre nenhum, tá fluindo o trânsito normalmente”. Então eu via que ele tava mentindo. Aí um dia ele repetiu de chegar atrasado, cometer essa inflação, eu chamei o Geraldo… falei o nome dele…
RP parte 6 de 11 aos 6 M 43 S – GRAZIELA: Escapou.
RP parte 6 de 11 aos 6 M 45 S – PARREIRAS: “Olha Geraldo, não faz isso mais não. Você tá falando mentira comigo. Você tá chegando atrasado e ainda fala mentira comigo. Você é um dos melhores amigos que eu tenho aqui na Rádio Inconfidência… pensa bem, eu ter que punir você. Porque eu sou obrigado a punir, porque eu sou diretor artístico, mas acima de mim tem o presidente, eu tenho que dar uma satisfação ao presidente, ele vai ficar sabendo que você
RP parte 6 de 11 aos 7 M 13 S – chega atrasado, quer dizer, ele vai achar que eu estou protegendo você, então não faça isso comigo.” Ele ajoelhava “ah, Parreiras, eu não vou fazer isso nunca mais, eu não vou chegar mais atrasado.”. Então eu usava o lado sentimental para chamar atenção porque é muito ruim você ter que punir um colega de trabalho, um amigo, né? Mas passou e aí mudou o governo…
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