A trajetória do radialista Ricardo Parreiras, nascido em 1929 no Brasil, se confunde com a história do rádio em Minas Gerais (Estado brasileiro onde nasceu e trabalha) e da Rádio Inconfidência, onde ele trabalha ininterruptamente desde 1948, quando a emissora completava 12 anos de funcionamento (a emissora foi inaugurada em 1936).
O primeiro emprego de Parreiras na emissora foi como cantor. Ao longo dos anos, o radialista exerceu vários cargos na emissora: foi radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Parreiras atuou também em agências de publicidade brasileiras, como diretor do Departamento de Rádio , Televisão e Cinema, dirigindo a produção publicitária audiovisual de tais agências. Também teve uma coluna de humor no jornal impresso O Diário da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006
Ricardo Parreiras foi entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017.
Parte 1 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 1 de 11 aos 0 M 8 S – —PARREIRAS:Bom, eu quero primeiramente, se me permite… RP parte 1 de 11 aos 0 M 12 S – GRAZIELA: Permito RP parte 1 de 11 aos 0 M 13 S – PARREIRAS:agradecer o convite de vocês e agradecer essa alegria que vocês estão me dando, você Graziela, você André, de vir aqui à Rádio Inconfidência, bater um papo comigo e eu fico muito feliz, sabe? Pra começar. E… você me pergunta… RP parte 1 de 11 aos 0 M 34 S – GRAZIELA: Nome completo. RP parte 1 de 11 aos 0 M 36 S – —PARREIRAS:O meu nome completo, nome que eu recebi na pia batismal RP parte 1 de 11 aos 0 M 42 S – GRAZIELA: sim RP parte 1 de 11 aos 0 M 44 S – PARREIRAS:José PARREIRAS de Oliveira. Esse é meu nome. Mas se você perguntar isso aqui dentro da rádio, ninguém vai saber quem é José Parreiras. RP parte 1 de 11 aos 0 M 52 S – GRAZIELA: e qual que é o Nome que o senhor é conhecido? RP parte 1 de 11 aos 0 M 55 S – —PARREIRAS:O meu, é… quando eu comecei no rádio, e fui assinar o contrato… aí eles: “como é que é o seu nome” e eu “José Parreiras”. Aí um dos elementos da direção da rádio, Paulo Nunes Vieira… “mas, Zé Parreiras…esse nome não é um nome de um cantor. Você se propõe a ser cantor romântico, cantor de músicas populares e Zé Parreiras é nome de tocador de sanfona. Eu acho que devemos criar um nome…” e eu fiquei até RP parte 1 de 11 aos 1 M 32 S – assustado. “Ué, mas, por que? Meu nome é esse…” “Não… no rádio a gente cria um nome, um pseudônimo mais bonito, mais radiofônico, mais artístico né?” “Mas como é que eu vou chamar?” “Ah, vamos fazer uma lista”. Ele pegou um papel lá e começou a escrever nomes, Roberto, Geraldo, não sei o que… quando chegou no Ricardo, eu falei assim “Pera aí, esse nome não me agrada” porque na época tinha um artista que fazia sucesso na época, RP parte 1 de 11 aos 2 M 8 S – se não me engano o nome dele era Ricardo Montalbán, e eu me liguei ao artista, falei assim: “Quem sabe Ricardo… Ricardo Parreiras, fica bonito?” “Tá bonito. Ricardo Parreiras é mais artístico, mais radiofônico” Então eu assinei o contrato: José Parreiras de Oliveira e entre parenteses Ricardo Parreiras. Então nasceu aí o Ricardo Parreiras, então eu prefiro até que me chame de Ricardo Parreiras que é mais novo que o José (risos) RP parte 1 de 11 aos 2 M 41 S – GRAZIELA: qual é a sua data de nascimento? RP parte 1 de 11 aos 2 M 45 S – PARREIRAS:(Eu) nasci em dezessete de janeiro… você vai assustar, você também, viu André… eu nasci em dezessete de janeiro de mil novecentos… aí eu costumo falar “de tantantan”, mas não, eu vou falar com vocês, porque eu quero ser sincero. Eu nasci em mil novecentos e vinte e oito. Tenho, portanto, oitenta e nove anos de idade. RP parte 1 de 11 aos 3 M 11 S – GRAZIELA: Parabéns RP parte 1 de 11 aos 3 M 12 S – —PARREIRAS:Aí você olha, fala assim “ah, mas você não parece, você é tão jovem…,” mas não, eu tenho mesmo. (risos) Mas é porque as pessoas geralmente falam isso comigo, mas falam pra me agradar, eu sei. RP parte 1 de 11 aos 3 M 23 S – ANDRÉ: Eu acho que o ar condicionado conservou o senhor mais novo. RP parte 1 de 11 aos 3 M 26 S – PARREIRAS:Hein? RP parte 1 de 11 aos 3 M 27 S – —ANDRÉ: O ar condicionado, acho que ajudou a conservar RP parte 1 de 11 aos 3 M 30 S – —PARREIRAS:(risos) Ah, será? Deve ser. Mas então, eu comecei na Rádio Inconfidência em mil novecentos e quarenta e oito. A Rádio estava nessa época fazendo doze anos de existência, e agora domingo, próximo domingo, dia três de setembro, estaremos celebrando os nossos oitenta e um anos de glória radiofônica, diria. RP parte 1 de 11 aos 4 M 7 S – GRAZIELA: Eu lembro do senhor na comemoração do ano passado dos oitenta anos lá no Palácio das Artes. RP parte 1 de 11 aos 4 M 13 S – —PARREIRAS:Ah sim, eu participei né. Sempre me levam, porque eu acabei ficando sendo o funcionário mais antigo da Rádio. Era o Jairo Anatólio Lima, o locutor esportivo e então… Chegou ali o Elias Santos, o grande, é o nosso diretor artístico, né, pessoa da maior qualidade. Pois então, em mil novecentos e quarenta e oito, a Rádio estava comemorando RP parte 1 de 11 aos 4 M 50 S – os seus doze anos e eu comecei ali. E eu não sei se eu vou adiantar muito, porque eu começo a falar e se você não me cortar eu vou falando. RP parte 1 de 11 aos 5 M 0 S – GRAZIELA: Pode falar RP parte 1 de 11 aos 5 M 1 S – PARREIRAS:Antes de Eu procurar a Rádio Inconfidência… porque você vai me perguntar, eu tenho certeza que você vai falar assim, “mas por que que cê começou na Rádio Inconfidência?” Porque havia mais duas emissoras em Belo Horizonte. A primeira emissora de Belo Horizonte foi a Rádio Mineira. Logo depois, também em mil novecentos e trinta e seis chegou a Rádio RP parte 1 de 11 aos 5 M 25 S – Guarani e a Inconfidência veio no dia três de setembro de mil novecentos e trinta e seis… então, eu sempre gostei muito de cantar e de falar… quer dizer, são certas coisas que começam a acontecer com a vida da gente e que a gente não sabe explicar. O meu pai nunca foi cantor, ele tocava uma sanfonazinha lá no interior… RP parte 1 de 11 aos 5 M 54 S – GRAZIELA: e qual que era a profissão dele? RP parte 1 de 11 aos 5 M 58 S – PARREIRAS:(o) meu pai era um funcionário da prefeitura de Bonfim, uma cidade pequena, uma cidade histórica aqui em Minas Gerais, e… RP parte 1 de 11 aos 6 M 5 S – GRAZIELA: e o senhor nasceu lá RP parte 1 de 11 aos 6 M 6 S – —PARREIRAS:e minha mãe era uma costureira, exímia costureira, eu gosto, tenho o orgulho de falar isso, ela costurava… então nós éramos uma família muito humilde, mas muito feliz. Era uma família pequena, eu mais dois irmãos, minha mãe e meu pai, então… Você vai me lembrando o que que eu devo falar, porque às vezes eu vou tergiversando… RP parte 1 de 11 aos 6 M 32 S – —GRAZIELA: Eles perguntam por exemplo, da formação do senhor… quais estudos que o senhor fez… RP parte 1 de 11 aos 6 M 40 S – —PARREIRAS:Olha, aí nós tivemos que vir para Belo Horizonte para procurar melhores condições de vida, porque no interior, numa cidade daquela, eu e meus dois irmãos… trabalhar como? Em que serviço? Fazer o que? Então nós viemos para Belo Horizonte para procurar emprego e conseguimos. Minha mãe corria atrás e conseguimos emprego. Meu pai comprou uma banca de frutas no Mercado, aí melhorou de vida né? Meu pai foi ser comerciante, RP parte 1 de 11 aos 7 M 16 S – tinha uma banca de frutas no Mercado Central de Belo Horizonte, e minha mãe continuou costureira. Ela… naquela época não tinha máquina elétrica não, ela tinha que pedalar a máquina e virava a noite para ajudar nas despesas da casa, ajudar meu pai e tal. E eu trabalhei em vários lugares. Fui ascensorista de elevador em prédio… RP parte 1 de 11 aos 7 M 44 S – GRAZIELA: qual prédio? RP parte 1 de 11 aos 7 M 46 S – —PARREIRAS:O Hotel… o Oeste Hotel, na Avenida Paraná, fui garoto de elevador, ascensorista. Eu trabalhei como contínuo, naquela época chamava contínuo, office boy depois. Eu vendi mexerica, laranja, ali no Barro Preto, eu ia lá pro lado do campo do Cruzeiro… eu pegava frutas com meu pai no Mercado, botava numa cesta e saía por ali “Oh, mexerica, docinha, quem vai querer?” Aí chegava… entendeu? E eu acho isso… RP parte 1 de 11 aos 8 M 22 S – GRAZIELA: é bonito RP parte 1 de 11 aos 8 M 24 S – —PARREIRAS:Eu conto isso com muito orgulho, porque eu fiz tudo isso né… porque muita gente não faz e não sabe o que que é isso, que é você subir a escada, porque tem uns que já põe o pé lá em cima e já nasce em berço de ouro e eu não… eu nasci, eu tive que lutar muito pra chegar onde eu cheguei e estou muito feliz da vida. RP parte 1 de 11 aos 8 M 45 S – GRAZIELA: e dava pra estudar fazendo isso tudo? RP parte 1 de 11 aos 8 M 48 S – PARREIRAS:(Mas) Aí em Belo Horizonte Eu comecei a estudar também. Eu entrei para a Faculdade Brasileira de Comércio. Eu não era bom aluno, lá no grupo escolar em Bonfim, eu não era um bom aluno de matemática, mas eu cismei, “eu quero estudar economia, eu quero ser um ” RP parte 1 de 11 aos 9 M 10 S – contador. Era o meu sonho isso, né? Mas o rádio acabou, graças a Deus, graças a Deus eu fui pro rádio. Mas aí então eu estudei na Faculdade Brasileira de Comércio, e não cheguei a formar porque quando eu fiz o primeiro… quando eu fiz o básico faltava três anos para eu me formar em… contador… RP parte 1 de 11 aos 9 M 36 S – GRAZIELA: Contabilista… RP parte 1 de 11 aos 9 M 39 S – PARREIRAS:Aí surgiu o rádio. Como surgiu o rádio? Eu tinha uns amigos no Barro Preto… tinha um em especial, que era o Jonas, ele me ouvia cantando no meio dos amigos, dos companheiros, e falou assim “você tem uma voz tão bonita, você canta bem”… Porque eu nasci… no grupo escolar eu era o escolhido para fazer o discursinho, eu era o escolhido para declamar uma poesia… eu declamei uma poesia agorinha mesmo num programa que eu RP parte 1 de 11 aos 10 M 18 S – estava gravando, de quem… de Djalma Andrade, um negócio assim… é Djalma Andrade, que inclusive o irmão dele foi presidente da Rádio Inconfidência, o Moacir Andrade. Djalma Andrade era um jornalista, poeta, tal e aí eu li uma poesia dele aqui agorinha mesmo… Mas a minha professora tinha o maior carinho comigo… “ô, Zezinho…” RP parte 1 de 11 aos 10 M 46 S – ANDRÉ: (risos) RP parte 1 de 11 aos 10 M 47 S – —PARREIRAS:era Zezinho…”Zezinho, declama uma poesia pra nós aí” e eu declamava… Então gozado, eu… não tinha ninguém da minha família que era levado a esse tipo de comunicação, mas eu nasci com isso, eu gostava de falar, eu gostava de aparecer… Eu ia lá pra frente, declamava e eles aplaudiam e eu ficava todo feliz da vida e ganhava muito ponto com as minhas professoras. E lembro muito da minha primeira professora. Gozado, a gente não esquece… RP parte 1 de 11 aos 11 M 20 S – ANDRÉ: (risos) é… RP parte 1 de 11 aos 11 M 21 S – —PARREIRAS:Dona Hilda… eu achava ela linda, era apaixonado pela dona Hilda e a dona Dodoca eu tinha pavor né… dona Dodoca era a diretora, e entrava na sala com uma régua na mão e batia na mesa assim e assustava. Aí que eu tomei raiva da matemática…falei assim “ah, mas eu vou mexer com isso aí”. Então aqui em Belo Horizonte eu fui pra Faculdade Brasileira de Comercio. Estudei um pouco, tal tal tal, mas aí surgiu o rádio. O Jonas me levou RP parte 1 de 11 aos 11 M 47 S – na Rádio Mineira… a Rádio Mineira tinha um programa de calouros, que chamava assim A Hora da Corneta… RP parte 1 de 11 aos 11 M 55 S – GRAZIELA: a Hora da Corneta… RP parte 1 de 11 aos 11 M 57 S – —PARREIRAS:A Hora da Corneta era o seguinte, era animado pelo radialista que depois entrou pra política também… Waldomiro Lobo. Ele depois foi presidente da associação, a associação virou sindicato dos radialistas aqui em Minas Gerais, e ele animava esse programa lá na Rádio Mineira, A Hora da Corneta… Você cantava… se você atravessasse o compasso ou desafinasse, a corneta (imita a corneta)… RP parte 1 de 11 aos 12 M 30 S – ANDRÉ: (risos) RP parte 1 de 11 aos 12 M 31 S – PARREIRAS:(era) o gongo. Aí você tava eliminado… e levava uma vaia do auditório. Aí o Jonas vamos lá e eu fui com ele na Rádio Mineira pra inscrever, fazer a inscrição. “Ah, então como que é o seu nome?” Aí ainda era o Zé Parreiras né… aí “José Parreiras”, “o que que você vai cantar?”, “mas tem que falar agora?”, “não, tem que falar agora”, aí eu falei assim “mas cantar o que?”, ele foi e virou falou assim “aquela que você cantou ontem lá na reunião, que nós tava lá…”, qual?, “Granada”. Agora você vê… você conhece Granada… RP parte 1 de 11 aos 13 M 13 S – ANDRÉ: Não… RP parte 1 de 11 aos 13 M 15 S – —PARREIRAS:Granada, não conhece? RP parte 1 de 11 aos 13 M 17 S – GRAZIELA: Não… RP parte 1 de 11 aos 13 M 18 S – PARREIRAS:é uma composição do… de um compositor espanhol, Agostín Lara. Agostín Lara… um grande compositor espanhol que depois, por problema político, mudou para o México e se apaixonou pela Maria Félix, grande estrela do cinema mexicano, e casou com ela… Ele era feio, ele tinha o rosto feio, tinha marcas no rosto… gozado né… e apaixonou-se por uma mulher mais bonita do cinema daquela época, no cinema mexicano. RP parte 1 de 11 aos 13 M 53 S – GRAZIELA: e o senhor falava espanhol pra cantar? RP parte 1 de 11 aos 13 M 56 S – PARREIRAS:é aqui que tá. Mal Mal falava o português, eu era um caipira. Tava vindo da roça… mas eu decorava a pronúncia… RP parte 1 de 11 aos 14 M 6 S – ANDRÉ E -GRAZIELA: Ah… RP parte 1 de 11 aos 14 M 7 S – PARREIRAS:(Eu) desenvolvi essa técnica. Eu ouvia e escrevia a pronúncia. RP parte 1 de 11 aos 14 M 13 S – GRAZIELA: o senhor nunca estudou línguas? RP parte 1 de 11 aos 14 M 14 S – —PARREIRAS:Vou te falar, eu cantava até francês e inglês… que eu pegava, vamos dizer… eu pego a Edith Piaf… e ela cantava em francês, aí eu botava o disco, aquele LP… tinha LP e tinha o de setenta e oito rotações também… eu botava a Edith Piaf cantando La Vie en Rose, por exemplo… e ela falava… Des yeux qui font baisser les miens… aí eu parava… “De…” aí eu escrevia “de ji qui san, de san, di san la man…. de ji qui fon bessê la mian…” (canta) “Des yeux qui font baisser les miens, nn rire qui se perd sur sa bouche, voila le portrait sans retouche, de l’homme auquel, j’appartiens…” RP parte 1 de 11 aos 15 M 5 S – E eu escrevia essas pronúncias. Agora, me pergunta o que que ela tá falando… hoje eu sei que ela conta a história da vida, que é a vida cor de rosa… RP parte 1 de 11 aos 15 M 12 S – GRAZIELA: o senhor estudou depois? RP parte 1 de 11 aos 15 M 15 S – —PARREIRAS:(canta) “Quand il me prend dans ses bras Il me parle tout bas”… e eu escrevia RP parte 1 de 11 aos 15 M 17 S – Can- dir – mé – parle – tu- ba. GRAZIELA: (risos) RP parte 1 de 11 aos 15 M 21 S – PARREIRAS:(Mas) não é uma técnica? GRAZIELA: sim RP parte 1 de 11 aos 15 M 24 S – ANDRÉ: Claro —PARREIRAS:”Can- dir – mé – parle – tu- ba”, RP parte 1 de 11 aos 15 M 27 S – ela falava assim… RP parte 1 de 11 aos 15 M 28 S – ANDRÉ: (risos) |
Parte 2 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 2 de 11 aos 0 M 3 S – ANDRÉ: Aí o senhor ficou fera no francês? RP parte 2 de 11 aos 0 M 7 S – GRAZIELA: e o senhor chegou a estudar francês depois? RP parte 2 de 11 aos 0 M 11 S – —PARREIRAS:Não, depois estudei. Mas, especificamente sobre esse programa de calouros A Hora da Corneta… aí eu tinha que cantar, dei uma ensaiada bem em casa, cheguei lá… os candidatos todos tinham que dar uma passadazinha com o piano, era um piano que acompanhava a gente… então ele… Granada, Granada tal… aí eu “não, pode aumentar um tiquinho” então… (imita o som do piano (canta uma parte de Granada) “Granada, tierra sonada por mi /mi cantar” aí eu, ele ficou assim “tá bom, é isso mesmo, o tom é tal… lá maior e RP parte 2 de 11 aos 0 M 57 S – tal… vai pra lá. Ah, outro candidato…” tal. E chega, e começa o programa. E vai um candidato, e vai outro… e vai outro, e vai outro… “e agora… José Parreiras” aí eu entro, auditório lotado, meus joelhos tremiam. “Você vai cantar o que?” “Granada, de Agustín Lara” “Oh, vamos ouvir, Granada, bela composição de Agustín Lara… vamos ouvir… com vocês, José Parreiras”. Aí o pianista (imita o sim do piano) … aí eu entrei… (canta) “Granada, tierra sonada por mi/ Mi cantar se vuelve gitano /Cuando RP parte 2 de 11 aos 1 M 44 S – es para ti… /Mi cantar… hecho de fantasia /Mi cantar, flor de melancolia / Que yo te vengo a dar… / Granada /Tierra ensangrentada…”. E eu fui cantando esperando a corneta tocar… tocar a corneta… e meu joelho tremia e eu cantando aquilo numa tensão danada. Tirava o olhar às vezes assim… e eu fui até o final, a corneta não tocou e eu terminei, o Waldomiro Lobo “vamos aplaudir o novo astro que surge no cenário radiofônico mineiro” e o auditório… (aplaude). RP parte 2 de 11 aos 2 M 38 S – GRAZIELA: muito bem!E foi marcante porque o senhor não esquece até hoje… RP parte 2 de 11 aos 2 M 42 S – PARREIRAS:(Eu) fui o melhor da noite e ganhei de prêmio um corte de cashmere, uma garrafa de vinho revoltoso e um pacote de macarrão. (risos) RP parte 2 de 11 aos 2 M 54 S – GRAZIELA: e o contrato? RP parte 2 de 11 aos 2 M 55 S – —PARREIRAS:Eu fui correndo pra casa, ô Graziela, ô André… eu fui correndo pra casa com aqueles prêmios que eu ganhei e encontro minha mãe chorando “meu filho é um artista”, me abraçou, e eu “ó o que que eu ganhei de presente”, um corte de cashmere, você sabe o que é né, aqueles cashmere né… de terno… antigamente falava “opa…”, não comprava feito, tinha que mandar fazer… disse “vou mandar fazer uma roupa bonita pra RP parte 2 de 11 aos 3 M 17 S – mim” e tal… E isso aí me deu coragem, então eu entusiasmei com aquilo, então falei assim gente, então eu canto bem mesmo, aí o que que eu fiz… aí eu já fui sozinho… fui, procurei a Rádio Inconfidência que era a maior emissora, era a terceira maior, ela era a terceira, mas ela já nasceu grande, modéstia à parte, mas a Rádio Inconfidência nasceu grande, né, tem história essa rádio… Então, eu procurei a Rádio Inconfidência RP parte 2 de 11 aos 3 M 43 S – e falei assim “eu queria cantar num programa de calouros”… “Nós temos aqui um programa que chama Escola de Rádio. Esse programa é o seguinte, você… é um programa semanal, você vai cantando… você não ganha cachê, mas grande ensinamento. Você vai aprender a usar o diafragma, vai se colocar, aprender a colocar voz e tal, mas é uma vez por semana” aí eu “Não, tá… ótimo”… é uma escola de rádio, o nome do programa já indicava, RP parte 2 de 11 aos 4 M 19 S – e eu me inscrevi e passei a cantar, com o maestro… maestro… é… ô meu Deus… maestro… Elias Solamé, Elias Solamé, ele era o maestro. Elias tocava vários instrumentos, piano, violão, bandolim, esses negócios e eu fiquei amigo dele e ele me ensinava, reunia a turma, falava sobre como deve cantar… e foi muito legal. No final de seis meses que eu estava cantando nessa escola de rádio, houve uma seleção competitiva interna e eu participei claro… e eu fui classificado, primeiro lugar empatado com um outro cantor, RP parte 2 de 11 aos 5 M 18 S – que é o Paulo Marquez que está em atividade até os dias atuais no Rio de Janeiro… Paulo Marquez. E aí eu assinei o contrato, e aí já passei a ganhar dim dim, entendeu? RP parte 2 de 11 aos 5 M 30 S – GRAZIELA: Aí que vem o Nome Ricardo Parreiras… RP parte 2 de 11 aos 5 M 33 S – —PARREIRAS:Aí a gente assinava um contrato, um contrato que é… anual. Chegava no fim do contrato, ele se renovava automaticamente. E eu então comecei… aí começa minha vida profissional como radialista na Rádio Inconfidência. Aí, eu sou muito interessado, e fui… gostava de ver tudo… tudo ao vivo né? Fazendo o rádio teatro né, e eu ia ver como é que era o rádio teatro, ficava na cabine vendo operador fazendo a sonoplastia, com música, aquele negócio todo, vendo os contrarregras, os atores ali e tal, e eu fui achando aquilo RP parte 2 de 11 aos 6 M 26 S – tudo muito interessante e aos pouquinhos, toda oportunidade, se me oferecia eu pegava. Um dia, o diretor do rádio teatro, Seixas Costa, me falou assim “tem uma pontinha numa coisa assim… quer fazer uma pontinha? Você fica brincando aí falando aí uns negócios de rádio… quer fazer uma pontinha?” eu disse “quero” e fiz a pontinha… Ele gostou e passou de vez em quando a botar eu numa pontinha lá, fui fazendo pontinha até eu passei a fazer papel melhor. Nunca… a grande frustração… eu nunca fiz papel de galã… RP parte 2 de 11 aos 7 M 3 S – ANDRÉ E -GRAZIELA: (risos) RP parte 2 de 11 aos 7 M 5 S – PARREIRAS:porque minha voz não era voz de galã… RP parte 2 de 11 aos 7 M 7 S – ANDRÉ: Mas Como que é a voz de galã? RP parte 2 de 11 aos 7 M 8 S – PARREIRAS:não tinha a voz bonita… Galã tinha que ter a voz bem empostada, voz redonda né, e minha voz é um pouco taquara rachada, né? RP parte 2 de 11 aos 7 M 17 S – —GRAZIELA: Não! RP parte 2 de 11 aos 7 M 20 S – —PARREIRAS:Aí passei a ser radio ator também, e fazia papéis que nós chamamos de papéis centrais, que fazia, vamos dizer… escada para o galã. Mas não fiz galã… Pois bem… RP parte 2 de 11 aos 7 M 33 S – GRAZIELA: o senhor lembra de alguma Rádio novela… RP parte 2 de 11 aos 7 M 35 S – —PARREIRAS:Aí um dia me falaram “você não quer produzir um programa humorístico não?” eu disse “eu? Humorista?” “é… tenta escrever um programa humorístico aí” aí eu passei numa banca e comprei uma revistinha de piada… Tinha muito, não sei se ainda existe… RP parte 2 de 11 aos 7 M 53 S – —ANDRÉ: Tem, tem… RP parte 2 de 11 aos 7 M 55 S – PARREIRAS:Piadas… Eu pegava uma piada e espichava ela. Pegava uma piada, de três quatro linhas e fazia uma lauda. E botava nome no personagem e tal tal tal, aí o desfecho era aquela piada. Então dentro daquele contexto da piada eu escrevia um programa humorístico… RP parte 2 de 11 aos 8 M 20 S – GRAZIELA: e qual que era o programa? RP parte 2 de 11 aos 8 M 22 S – PARREIRAS:(Deu) certo e Eu continuei Como produtor humorístico. Então olha aí… cantor, radio ator, produtor humorístico, então aí… vem um diretor, gosta de mim… eu sempre muito prestativo, tal… modéstia à parte, eu procurava ser o mais simpático possível, né… o mais educado… minha mãe me ensinou isso, né? Tenho o exemplo da minha mãe, que era uma mulher maravilhosa… meu pai era um bronco, mas uma pessoa correta, uma pessoa muito querida na minha terra… e aqui também! Ele era muito querido no Mercado Central… trabalhou no Mercado Central até morrer, e morreu cedo, com cinquenta e nove anos. RP parte 2 de 11 aos 9 M 5 S – ANDRÉ E -GRAZIELA: Nossa! RP parte 2 de 11 aos 9 M 6 S – —PARREIRAS:Uma pena, uma hemorragia interna que deu numa cirurgia, mas fica a saudade dele… eu guardo com muito carinho a saudade do meu pai. Mas a minha mãe continuou ali fazendo as suas roupas… costureira, né… Mas eu, então, fui aceitando todas as oportunidades e fiz de tudo, ô Graziela. Eu só não fiz, a frustração, eu só não radiei futebol. Eu era doido com futebol, mas eu achava aquilo tão difícil, porque fala depressa, né? RP parte 2 de 11 aos 9 M 42 S – Bola pro fulano… e bla bla… e o Zé Augusto Toscano, por exemplo, que você ficou conhecendo… já me chamou várias vezes… vamos lá, você faz os comentários…, não, não vou não…, eu morro de medo. A única coisa que eu não fiz no rádio foi RP parte 2 de 11 aos 9 M 55 S – transmitir futebol, o resto eu fiz de tudo, Graziela… oh André… fiz de tudo. RP parte 2 de 11 aos 10 M 1 S – —GRAZIELA: Então, cantor, radio ator… RP parte 2 de 11 aos 10 M 2 S – —PARREIRAS:Cantor, radio ator, chefe dos locutores, é… produtor humorístico, produtor de musical… eu fazia musical também, inclusive eu fui o primeiro produtor da Clara Nunes quando ela ganhou o concurso A Voz de Ouro ABC, ganhou também em São… São Paulo ela não ganhou o primeiro lugar, ela ficou em terceiro lugar em São Paulo, em âmbito nacional. Era um programa que se chama assim A Voz de Ouro ABC, e a Clara Nunes, que tinha vindo do interior, RP parte 2 de 11 aos 10 M 31 S – lá de… perto de Paraopeba, por ali, ela veio pra Belo Horizonte pra trabalhar na fábrica de tecidos Renascença, essa menina tinha dezesseis anos… eu conheci a Clara com dezesseis anos, e um dia ela chegou lá na Rádio acompanhada de um amigo nosso lá, um compositor que trabalhava lá também… ele tocava violão e tocava com ela… ela começou a cantar numa igreja, numa igreja evangélica para aquele lado da Renascença, mas ela cantava bonito, aí o cara levou ela lá na Rádio e tal “vim aqui escrever ela aqui na Voz de Ouro ABC” e ela foi, se inscreveu e tal aí ficamos amigos… e eu fui da comissão julgadora, então de RP parte 2 de 11 aos 11 M 15 S – todos os candidatos… foi, foi um mês de apresentações, aí eliminando, eliminando, a Clara Nunes ficou no primeiro lugar. Eu sempre votei nela, eu falava com a turma… mas era uma meia dúzia de maestros… tinha maestro, tinha músico, tinha locutor… eu fazia parte dessa comissão “pra mim a melhor cantora é essa aí ó… essa tal de Clara Francisca aí”… RP parte 2 de 11 aos 11 M 39 S – GRAZIELA: Ela… RP parte 2 de 11 aos 11 M 40 S – PARREIRAS:Clara Francisca Nunes era o Nome dela. Aí “essa Clara, essa menina tem uma voz muito bonita. Eu voto nela”, também, no final todo mundo concordava que ela é realmente a melhor cantora que tinha. Ela ganhou o primeiro lugar em Belo Horizonte. Como o programa… RP parte 2 de 11 aos 11 M 58 S – GRAZIELA: e era ao vivo? RP parte 2 de 11 aos 11 M 59 S – —PARREIRAS:…era de âmbito nacional, todas as grandes emissoras do… tinha Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo… e ela foi pra São Paulo no dia da grande final, que juntava os candidatos das outras capitais e ela cantou uma música de Vinicius de Moraes e Tom Jobim… ah, não vou lembrar… não vou lembrar o nome da música e ela cantou e nós lá na Rádio, era onze horas da noite e nós lá… a Rádio era na Feira de Amostra, onde é hoje a Estação Rodoviária, e nós ficamos lá ouvindo e torcendo por ela né… RP parte 2 de 11 aos 12 M 41 S – e ela fica em terceiro lugar. O primeiro lugar ficou com um cara do Rio Grande do Sul que era um tenor, um vozeirão, aí ninguém ganhava dele, e a Clara ficou em terceiro lugar. Voltando, o nosso diretor (??) “vamos contrata-la”, me chamou “oh, Clara Nunes” aí eu “ô, Clara Nunes, nós ficamos aqui felizes da vida, vendo ao vivo você cantar, torcendo por você”, e tal… “Pois é, ela vai ficar com a gente aqui”, “Ah é?”, “vai ser nossa cantora aqui… leva ela pra sua sala lá…” e eu era assistente da direção artística e escrevia programa RP parte 2 de 11 aos 13 M 21 S – e tal, e ele falou assim “faz um… escreve alguma coisa sobre ela, e… pra gente lançar ela amanhã. E aproveita e faz a chamada também.” Então… “Amanhã, a estreia de Clara Nunes na Rádio Inconfidência…” fiz a chamada, o locutor gravou, e eu dei o seu nome, o nome do seu pai, Mané Serrador, “qual a sua cidade?”… era… eu esqueço o nome dela… RP parte 2 de 11 aos 13 M 48 S – GRAZIELA: também não lembro… RP parte 2 de 11 aos 13 M 50 S – —PARREIRAS:Eu tenho tudo anotado aí, nesse livro aí tem tudo. Mas ela… aí ela… e eu escrevi o programa, quer dizer… então eu tenho esse orgulho de falar que eu fui o primeiro… não é produtor, eu escrevi uns textos lá… eu trabalhei com ela e fui amigo dela, gostava muito dela, e ela gostava muito de mim, porque a gente se dava muito bem, né… uma menina muito humilde, simples, né? Depois, logo depois a Rádio Guarani, que também tinha associados, era grande… ah, veio a TV Itacolomi… quando… a televisão, a televisão… todo mundo queria trabalhar em televisão… RP parte 2 de 11 aos 14 M 32 S – GRAZIELA: em que ano foi isso? RP parte 2 de 11 aos 14 M 33 S – PARREIRAS:Todo mundo queria patrocinar a televisão, os anunciantes… isso é uma outra história que nós podemos falar, esse negócio de anunciante. Ela… então ela foi pra Rádio Guarani e fazia Guarani e TV Itacolomi e ficou mais alguns anos aqui e depois foi embora para o Rio de Janeiro e no Rio de Janeiro ela conheceu Adelzon Alves, que deu muita aula pra ela sobre música… fez ela… porque ela cantava, sabe o que que ela cantava? Repertório de Emilinha Borba, aqueles bolerozinhos, aquele negócio, sabe… RP parte 2 de 11 aos 15 M 10 S – —GRAZIELA: Ah, sim RP parte 2 de 11 aos 15 M 11 S – PARREIRAS:(Mas) o Adelzon viu na Clara Nunes potencial, e achava… e ela era bonita. Ela fez algumas coisinhas na boca, tinha problema de gengiva e tal, ficou mais bonita e o Adelzon levou ela pro morro. Chegou lá no morro, mostrou pra ela Nelson Cavaquinho, Cartola… RP parte 2 de 11 aos 15 M 33 S – —GRAZIELA: Olha, que ótimo! RP parte 2 de 11 aos 15 M 35 S – —PARREIRAS:Aí ela viu aquilo e apaixonou, falou assim “ah, isso é a música brasileira”, e o Adelzon levou ela pra gravadora. Nunca tinha entrado tambores de escola de samba dentro de estúdio de gravação, mas ele brigou com ela e… (??) levou surdo, tamborim, pandeiro, esse negócio todo pra dentro do estúdio e ela gravou e foi o grande acontecimento na vida da Clara Nunes, porque ela começou então cantando samba… RP parte 2 de 11 aos 16 M 8 S – GRAZIELA: e na Rádio tinha auditório? RP parte 2 de 11 aos 16 M 10 S – PARREIRAS:aqui em Belo Horizonte? na Rádio Inconfidência? Tinha. Nós tínhamos dois auditórios, um pequeno, no quarto andar da Feira Permanente de Amostras… ah, era um grande… vocês não devem ter conhecido… era um prédio grande, onde é hoje a Estação Rodoviária, uma torre… a Rádio funcionava ali, tinha uma ala pra direita, uma ala pra esquerda com… Feira Permanente de Amostras e mostrava os produtos fabricados em Minas RP parte 2 de 11 aos 16 M 43 S – Gerais, as pedras preciosas, móveis, coisas… riquezas de Minas Gerais eram mostradas ali, madeiras, toras de madeiras, pedras preciosas, e a Rádio funcionava lá em cima e tinha também um jornal que pertencia… a Rádio é do governo, claro, você sabia? RP parte 2 de 11 aos 17 M 4 S – GRAZIELA: sim RP parte 2 de 11 aos 17 M 5 S – PARREIRAS:(a) Rádio é do governo. Podemos falar depois se você quiser… RP parte 2 de 11 aos 17 M 9 S – GRAZIELA: a gente Pode falar RP parte 2 de 11 aos 17 M 10 S – —PARREIRAS:… mas ali funcionava… a Rádio Inconfidência tinha esse auditório no quarto andar, para cento e poucas pessoas… dava mais ou menos umas cem pessoas, e a orquestra tocava toda noite… porque tudo era tudo ao vivo, tinha a orquestra, eu cantava, e tinha vários… nós tínhamos um casting de mais ou menos uns trinta cantores. A Rádio foi crescendo, sabe… e a gente era escalado. E a gente olhava na escala “você tá escalado pra cantar no programa tal”… RP parte 2 de 11 aos 17 M 43 S – GRAZIELA: Mas o senhor ia Todo dia à Rádio? RP parte 2 de 11 aos 17 M 47 S – PARREIRAS:Todo dia Eu ia à rádio. Porque… aí começou a surgir programas, por exemplo, eu comecei a apresentar programas também…Eu me lembro, o primeiro programa… o nosso presidente, o Elcio Costa, falou assim “nós estamos precisando… nós temos um horário meio morto aqui que é entre o jornal e o… não sei o que… que é mais ou menos sete horas da manhã, que eu tenho um nome que eu gostaria de fazer um programa com esse nome, e eu pensei em você Parreiras, você e o Roberto Nilton. Quem sabe vocês fazem?” RP parte 2 de 11 aos 18 M 29 S – Mas como é que é? Me dá uma ideia “Ah, vocês vão, chama-se A Hora do Cafezinho… Aí você dá uma notícia ruim, você diz ‘um café amargo pra ele…”um cafezinho bem docinho pra esse belo acontecimento’ e tal” e a gente ia mesclando o bate papo, colocava também horóscopo. Tinha um grande… como é que fala? O nome de quem mexe com horóscopo? RP parte 2 de 11 aos 18 M 57 S – GRAZIELA: Astrólogo RP parte 2 de 11 aos 18 M 58 S – PARREIRAS:Astrólogo? tinha um Astrólogo em Belo Horizonte famoso, ele ia, fazia o seu horóscopo… ele inventava aquilo… é só mudar o signo que é a mesma coisa, isso é muito interessante, né? O áries hoje é o peixes de amanhã… (risos) RP parte 2 de 11 aos 19 M 14 S – —PARREIRAS:Que me desculpe os astrólogos, ah, aliás tá meio desaparecido aquilo, né? Ninguém mais acredita… Mas… então o programa era assim, entremeado com música… era um programa de uma hora e a gente fazia A Hora do Cafezinho. E esse programa foi ficando, ficando, ficando, ficando e teve audiência. No aniversário, o primeiro aniversário, coincidiu com a presença de Carlos Galhardo em Belo Horizonte, que o nosso colega Levi Freire que além de diretor comercial, do departamento de publicidade da Rádio Inconfidência… |
Parte 4 de 11 |
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-PARREIRAS:… Los Panchos, é… vinha muito artista aqui em Belo Horizonte.
-GRAZIELA: Ah…! -PARREIRAS:(cantando) “Nada além, nada além de uma ilusão…”… Orlando Silva… eu sou orlandista desde menino hein… mas aí ele cantava na boate e tal… primeiro fazia a Rádio Inconfidência que era mais cedo… -ANDRÉ: Você cantou também na boate, não é isso que você falou? -PARREIRAS:Ah, também fazia, eu cantava… de vez em quando o Levy me levava pra o lugar… e eu cantava… PARREIRAS: Não, porque eu ficava muito tarde… gostava não… eu gostava mesmo era de rádio mesmo, meu negócio é… me apaixonei com o rádio desde cedo, né? Mas aí então eu fui assistente de direção artística, fui… que mais? Ah, entrou um diretor pra… porque a Rádio Inconfidência é do governo do estado. Muda o governador, o governador muda o seu staff… e ser presidente da Rádio Inconfidência, ser diretor da Rádio Inconfidência é um cargo de confiança do governador, então ele substitui, põe as pessoas que ele conhece e confia e coloca… isso é normal… -PARREIRAS:Pois é, então a Rádio… de vez em quando entrava um cara que não sabia nada de rádio, nunca tinha passado perto de uma emissora de rádio e veio dirigir a Rádio Inconfidência. Isso era terrível, viu… e o cara então… a filha falava, ou a mãe “põe isso…” ou o outro amigo “ah, por que que você não põe isso na rádio?”… então aí ficava trazendo… e cada ideia maluca, né? Graças a Deus no momento nós temos gente que entende de rádio. Você conhece o Flávio Henrique que é um cantor, compositor, dono de estúdio de gravação, conhecedor de rádio, trouxe para a diretor artístico o Elias Santos, que foi a primeira… a primeira turma de formandos em Radialismo. Essa carreira eu acho que não existe mais… GRAZI: Não
-PARREIRAS:”A garotada lá, tá tudo bem?” tá “ah, se precisar qualquer coisa fala comigo, hein”… -PARREIRAS:… isso é muito importante, o diretor ser amigo… ô gente, porque sem o profissional, por exemplo, eu sem o Aguinaldo do lado de lá eu não vou fazer o programa. Eu preciso do Aguinaldo. O Aguinaldo é que cria, eu nunca pedi o Aguinaldo bota música tal… ele escolhe as músicas para fazer background quando eu vou ler uma poesia, quando eu vou dar uma mensagem, ele escolhe a música… ele tem uma… ele é rápido no raciocínio. Eu começo a falar, ele já tem uma relação de músicas que servem de background, ele vai, joga no ar, faz um BGzinho e eu leio aquilo e tal, para emoldurar as minhas palavras… -PARREIRAS:Muito novinha! (risos) -ANDRÉ: Dessas profissões todas, qual que o senhor gostou mais? -GRAZIELA: Os encontros, né… os grandes encontros… -PARREIRAS:Pois é, discutindo com ela e eu falei com ela que não toco… ô gente, aquele pernambucano… que eu não tocava ele… Alceu Valença! Alceu Valença não tem… eu conheço o perfil dos meus ouvintes. Alceu Valença é música pesada. Não dá pra mim tocar. -GRAZIELA: Então, Parreiras, só pra entender… então assim, começou como cantor, depois rádio ator, programa de humor, programa de variedades… -GRAZIELA: Quem sabe… vamos pedir pra ele, né? -PARREIRAS:Primeiro, me ajuda aí… primeiro, quando eu comecei no rádio não existia escola de Comunicação. Então eu comecei no rádio, ninguém tinha cursado escola de Comunicação, não existia. Que mais que eu teria que falar? -GRAZIELA: Assim, hoje tem radialista que tem… -PARREIRAS:Hoje, hoje pra trabalhar no rádio você tem que ser radialista, você tem que ser radialista, tem curso superior, tem curso de Jornalismo, de Comunicação, ou talvez de Publicidade. E eu não tenho nada de… curso nenhum desses. Tenho assim… aqueles cursinhos que a gente faz, aquelas palestras, um congresso, um negócio assim e eu participava de tudo que vinha e eu participava, mas diploma nenhum. O único diploma que eu tenho é aquele diploma O Melhor do Ano, que às vezes eu ganhei… -GRAZIELA: Esse é o melhor! -PARREIRAS:Melhor humorista, melhor rádio ator humorista do ano… é… bom… -PARREIRAS:Magalhães Pinto! Meu amigo cinegrafista gente boa, ele sabe tudo… Magalhães Pinto, Magalhães pinto era governador do estado, obrigado hein, cara… Magalhães Pinto… o Elzio procurou o Magalhães Pinto e explicou pra ele como era a situação na Rádio Inconfidência. Nós não éramos radialistas, nós não éramos jornalistas, nós não éramos nada… não eram comerciantes, não eram comerciários, nós não tínhamos uma definição. Você ganhava cachê e pela renda industrial da rádio, porque a rádio faturava… e muito naquela época… dava pra pagar os funcionários… hoje infelizmente o governo é que paga tudo, a rádio fatura muito pouco, muito pouco. Mas não é culpa da rádio, é culpa de novos veículos, novos veículos. Eu até abro uns parênteses aqui, depois você me faz eu voltar lá… Só pra você ter uma ideia, o rádio era a grande vedete, eu já tinha falado no início, então todo comercio, a indústria, veiculava… qual o maior veículo de comunicação? Era o rádio, era o veículo de comunicação de massa, então eu tinha o meu produto e eu fabricava headphone, então eu levava esse headphone melhor, headphone do mundo tem um som estéreo, faz você vibrar… Entendeu, você tinha que levar isso pra onde? O veículo era o jornal, o jornal… mas o rádio você falava “”se este é o biscoito Aymorés…”” que hoje chama Uaimorés, né… esse é o biscoito Aymorés, gostoso, huum,
-PARREIRAS:Não tem imagem, a imagem, a televisão pode jogar você lá em cima, mas também em pouco tempo pode jogar você lá em baixo. Quantos nós já vimos que…pá… “”cadê o fulano””, “”ah…já não trabalha mais na televisão””… porque você, o rádio é hábito, você habitua com a voz do Ricardo Parreiras. Eu tô aqui apresentando o programa, a dona Maria que mora lá em Bicas, na zona da mata mineira, longe, nunca me viu, e ela me imagina, ela cria na sua imaginação aquele cara que tá falando ali, e ela imagina que ele deve parecer com o Brad Pitt, ele deve ser alto, moreno, não louro… e cria aquilo assim. E aquilo fica introjetado na sua memória, e ela tem sempre um Brad Pitt que está falando pra ela lá. Tem a outra que mora no Carlos Prates que nunca veio à rádio, não pode sair porque ela tem problema, e ela também tem problema de visão, mas me ouve toda noite e ela fala ele deve ser igual, me lembro quando eu enxergava… |
Parte 5 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 5 de 11 aos 0 M 7 S – —PARREIRAS:… e ela tem o Ricardo Parreiras como um sósia do Arnold Schwarzenegger. Agora, tem aquelas que vem às vezes… têm coragem e vem me conhecer, chega aqui, vem pra ver o Brad Pitt e encontra essa merdinha aqui… RP parte 5 de 11 aos 0 M 23 S – ANDRÉ e -GRAZIELA: (risos) RP parte 5 de 11 aos 0 M 25 S – PARREIRAS:Esse carinha que vos fala… (risos) RP parte 5 de 11 aos 0 M 29 S – —GRAZIELA: Parreiras, o Gilson está me falando que a bateria tá quase no fim… vamos aproveitando, assim, mas a gente vai ter que marcar outro dia… Mas assim, só pensando ainda nisso, então o senhor falou que com o Magalhães Pinto… RP parte 5 de 11 aos 0 M 48 S – —PARREIRAS:Ah bom, aí resolveu o problema, nós passamos a ser funcionários públicos, nós passamos a ser funcionários do governo do estado de Minas Gerais, então nós recebíamos nosso pagamento com o MASP… RP parte 5 de 11 aos 1 M 5 S – —ANDRÉ: Tem uma inscrição estadual, né… RP parte 5 de 11 aos 1 M 10 S – PARREIRAS:inscrição estadual. Nós éramos ligados à Secretaria de Comunicação do governo, depois passou para a Secretaria de Cultura, hoje nós somos subordinados à Secretaria de Cultura do estado de Minas Gerais, que é o Oswaldo… RP parte 5 de 11 aos 1 M 29 S – GRAZIELA: Angelo Oswaldo RP parte 5 de 11 aos 1 M 32 S – PARREIRAS:Angelo Oswaldo!Que foi prefeito de Ouro Preto. Angelo Oswaldo, uma pessoa boa, bacana, teve aqui há poucos dias na Rádio Inconfidência. Gosta muito de mim e eu gosto muito dele. RP parte 5 de 11 aos 1 M 45 S – —GRAZIELA: E ele ouve muito a rádio, né… RP parte 5 de 11 aos 1 M 47 S – PARREIRAS:Hein? RP parte 5 de 11 aos 1 M 48 S – GRAZIELA: ele ouve muito a rádio… RP parte 5 de 11 aos 1 M 49 S – —PARREIRAS:Ouve, ouve a rádio e me ouve. Escutei você ontem, falo assim “oh, secretário… você tá querendo…” “Não, você falou isso, e isso assim..”, não é que ele ouviu mesmo? (risos) RP parte 5 de 11 aos 2 M 0 S – —GRAZIELA: Pois é, eu tava vindo pra cá outro dia, o Claudinê Albertini tava aqui… RP parte 5 de 11 aos 2 M 5 S – PARREIRAS:Claudine!Ele esteve aqui… é um dos fundadores da Brasileiríssima, a nossa emissora… porque nós temos suas emissoras aqui… é a AM, Rádio Inconfidência AM, e a Rádio Inconfidência FM, Brasileiríssima, que só toca… foi uma coragem do Albertini e de outros companheiros, Fernando Brant e outros mais, que fizeram uma rádio pra tocar somente música brasileira, e música brasileira de boa qualidade. Quando eu falo boa qualidade RP parte 5 de 11 aos 2 M 39 S – é (??) … Se eu te falar que não toca Roberto Carlos na rádio FM, você vai falar assim mas Roberto Carlos é popular, mas não tem o perfil da FM, a nossa FM é música RP parte 5 de 11 aos 2 M 50 S – muito escolhida, o cara pra programar tem que ter o espírito mesmo da nossa FM. É… tem muita gente que… Amado Batista nunca tocou e nem vai tocar um Amado Batista. GRAZIELA: Mas toca no AM… RP parte 5 de 11 aos 3 M 6 S – PARREIRAS:toca no AM!Eu não tenho uma cópia aqui do programa pra você ver os… RP parte 5 de 11 aos 3 M 13 S – GRAZIELA: e o que vai ser do AM quando migrar pro FM? RP parte 5 de 11 aos 3 M 18 S – —PARREIRAS:Vai continuar, vai continuar com a mesma programação, o meu Clube da Saudade… eu sempre falo isso “não assusta não..” vai acabar AM mas vai continuar a programação. Vai melhorar o som, vai melhorar o som, mas vai encurtar também o raio de ação, porque vai um pouco mais de cem quilômetros, porque a rádio FM é mais local. Mas nós já vamos falando e os ouvintes que moram longe, os meus ouvintes do interior de São Paulo, interior da Bahia, sul da Bahia, por exemplo… estado do Espirito Santo, no interior do Espírito Santo, inclusive Vitória, capital… Salvador! Eu tenho ouvintes em Salvador… No interior RP parte 5 de 11 aos 4 M 2 S – de São Paulo. Eu tenho aproximadamente mil oitocentos nomes de amigos que pedem, e os que não me escreveram, não me passaram e-mail, não pediram pra eu mandar abraço? Eles têm prazer em receber “meu abraço para minha amiga, fulana de tal”, eles adoram isso. Minha faixa etária gosta dessa coisa. RP parte 5 de 11 aos 4 M 22 S – GRAZIELA: Mas Aí Como que vai ser? porque o AM tem um alcance maior, né? RP parte 5 de 11 aos 4 M 26 S – —PARREIRAS:Certo, mas aí que nós vamos falando… eles vão ter que adaptar a ter o seu laptop na sua casa, vai ter o seu computador, então você vai assistir a Rádio Inconfidência, vai ouvir a Rádio Inconfidência através da internet. Concorda comigo, meu querido técnico Aguinaldo Silva? Nome de um compositor famoso. RP parte 5 de 11 aos 4 M 51 S – GRAZIELA: é… tinha que vir pro Rádio mesmo… RP parte 5 de 11 aos 4 M 55 S – —PARREIRAS:Aguinaldo, fala aí no microfone… eu falei alguma bobagem? Tô certo? Vai continuar a programação com qualidade e som melhor, mas o ouvinte lá, que mora nos grotões, vão ter que aprender a ter um aparelho. Como foi difícil começar a comprar aparelho de rádio. Inclusive nós devemos muito os japoneses que inventou, porque senão o rádio podia até, com o advento da televisão, podia ter acabado. Mas o japonês inventou uma pecinha que chama transistor, e aí o rádio sobreviveu. (risos) Ali, ali ouve, ali você ouve rádio, ouve tudo, vê televisão. E lá você vai ter um aparelhozinho, vai ter um tablet, pode ter um laptop, você vai assistir o Clube da Saudade, vai ouvir o Clube da Saudade… RP parte 5 de 11 aos 5 M 56 S – GRAZIELA: o senhor falou de ouvinte que manda e-mail para o senhor… o senhor tem ouvinte já pela internet? RP parte 5 de 11 aos 6 M 1 S – PARREIRAS:Tenho!E recebo muitos e-mails. Recebo muito e-mails. O meu e-mail eu aproveito até pra dizer pra você que o meu e-mail, mandar e-mail pra mim é fácil, é só botar ricardoparreiras@inconfidencia.com.br, aí chega nas minhas mãos, eu leio, agradeço… Muito raro chegar um, falar “não gostei… você falou tantantan”, muito raro. Porque eles gostam de agradar a gente, e eu faço tudo para agrada-los também. RP parte 5 de 11 aos 6 M 40 S – —GRAZIELA: É, é verdade. RP parte 5 de 11 aos 6 M 42 S – PARREIRAS:(a) recíproca é verdadeira. RP parte 5 de 11 aos 6 M 44 S – —ANDRÉ: Mas Ricardo, você abre o seu próprio e-mail? Ou alguém… RP parte 5 de 11 aos 6 M 47 S – —PARREIRAS:Eu tenho o meu próprio computador, cada funcionário aqui dentro… RP parte 5 de 11 aos 6 M 51 S – ANDRÉ: Quanto tempo você gasta nisso? RP parte 5 de 11 aos 6 M 54 S – PARREIRAS:Então Eu Vou chegando aqui de manhã e abro, vou lá no webmail, é… e vejo lá o que que tem pra… é alguém que ouviu o programa ontem, estava lindo, aquela poesia… “eu gostaria de ter uma cópia, é possível?” e eu vou empurrando com a barriga porque eu não vou mandar… eu não sou bobo. Eu vou mandar poesia pra eles? Eu quero é que eles me ouçam. Eu não mando… eu falo ah, quando eu tiver um tempinho eu vou mandar, e eu vou até esquecer, “me ouve aqui”, “mas eu queria ter essa letra”… mas eu não mando, porque… mas eu não vou maltratar, eu vou empurrando com a barriga, porque não é vantagem, RP parte 5 de 11 aos 7 M 42 S – eu vou mandar cópia, eles vão parar de me ouvir… “não, eu vou ouvir o Parreiras, porque de vez em quando ele lê uma poesia de Castro Alves, eu leio clássicos, eu leio poesia moderna, J G de Araújo Jorge, entendeu? Então eu procuro agradar de toda maneira e dou sempre uma inflexão mais carinhosa, mais coloquial. Eu procuro fazer isso, né? RP parte 5 de 11 aos 8 M 7 S – GRAZIELA: e o Facebook? porque a Rádio Tem Facebook, o senhor aparece no Facebook da rádio? O senhor deixa gravar o senhor com vídeo? RP parte 5 de 11 aos 8 M 13 S – —PARREIRAS:Tão sempre aí falando, sempre tem uma menina… essas meninas que mexem com audiovisual tá sempre fazendo isso aí… RP parte 5 de 11 aos 8 M 23 S – GRAZIELA: o senhor gosta disso? RP parte 5 de 11 aos 8 M 26 S – —PARREIRAS:Ah, eu não sou dono de mim. RP parte 5 de 11 aos 8 M 30 S – ANDRÉ: o senhor Tem uma conta? RP parte 5 de 11 aos 8 M 33 S – PARREIRAS:Hein? RP parte 5 de 11 aos 8 M 34 S – ANDRÉ: o senhor Tem uma conta no Facebook? GRAZIELA: um perfil no Facebook… RP parte 5 de 11 aos 8 M 36 S – —PARREIRAS:Não, não tenho não. RP parte 5 de 11 aos 8 M 39 S – —PARREIRAS:Ô, gente amiga, que coisa boa falar com você, eu tô conversando com a RP parte 5 de 11 aos 8 M 44 S – Graziela, com o André e não falei com você. Ouça o meu programa, toda noite, aqui… o Clube da Saudade da Rádio Inconfidência, oitocentos e oitenta. Eu tô sempre resgatando música do seu tempo, aquela música que marcou momento feliz na sua vida, né? Músicas que servem de trilha musical da sua vida, do dia a dia, né? Muito obrigado, viu? Um beijo para vocês. ((aplausos)) |
Parte 6 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 6 de 11 aos 0 M 7 S – GRAZIELA: Vou repetir a pergunta. Nessas funções todas que você exerceu no rádio, qual que você mais gostou? RP parte 6 de 11 aos 0 M 18 S – PARREIRAS: É uma pergunta difícil. Porque eu gostei de todas as… eu gosto do rádio em geral. Mas na época, eu como cantor, eu tinha muita alegria e me satisfazia muito né, porque eu trabalhava como cantor no auditório e eu sentia o calor do auditório, a respiração do auditório. Você olhava vinha uma pessoa assim… e eu não gostava muito de olhar pra plateia assim, eu olhava lá pro fundo. RP parte 6 de 11 aos 0 M 52 S – Porque eu aprendi com um profissional, do Rio inclusive, Paulo Gracindo e ele falava assim “quando você for falar pro auditório, não olha pra primeira fila não, que você vai encontrar alguém cochilando, você vai encontrar alguém com a cara ruim que não tá gostando, então você olha por cima da cabeça, olha lá no fundo. Você faz isso.” Então eu aprendi com Paulo Gracindo essa técnica. RP parte 6 de 11 aos 1 M 18 S – GRAZIELA: Olha que interessante. RP parte 6 de 11 aos 1 M 20 S – PARREIRAS: Né? Então você olha por cima porque você vai encontrar alguém sorrindo, você sente que ele tá gostando, mas cê vai ver gente que já tá… então você fazendo isso todo mundo sente que você tá olhando. E você fica com a cabeça mais alta. RP parte 6 de 11 aos 1 M 40 S – GRAZIELA: Ótima técnica, adorei. RP parte 6 de 11 aos 1 M 42 S – PARREIRAS: É uma boa técnica, né? Então eu gostei muito dessa fase. Mas foram… aquela sequência de outras funções, gostei muito de fazer humorismo. E fui chefe do humorismo. Nós tínhamos dezesseis comediantes, eu não vou fazer humoristas, mas comediantes. Porque era escrito, rádio é escrito. RP parte 6 de 11 aos 2 M 7 S – Já o humorista, ele tem que improvisar e tal e isso aí eu fui fazer na televisão, que era decorado e tudo. Porque eu fiz também. Fazendo um parentesinho, porque eu trabalhava na Rádio Inconfidência, mas eu tinha outras funções por fora sem prejudicar os serviços da rádio, eu fazia outros serviços também para aumentar o rendimento, isso é muito bom, né. Porque é sem prejudicar o serviço. RP parte 6 de 11 aos 2 M 36 S – Eu por exemplo fazia locução comercial pra televisão, para rádio, então foi uma época muito boa como cantor. Depois como comediante também, dirigir os comediantes e eu lancei comediantes… Mauro Gonçalves que foi para o Rio de Janeiro, foi para a rádio Excelsior. Ainda existia a rádio Excelsior no Rio de Janeiro. RP parte 6 de 11 aos 3 M 3 S – Foi convidado eu, Mauro Gonçalves e Heloisa Malar. A Heloisa trabalhou com o Chico Anísio. O Mauro Gonçalves virou o Zacarias dos Trapalhões. E eu não quis ir porque eu já estava casado, já estava enraizado em Belo Horizonte, não quis sair de Belo horizonte, mas o Mauro fez muito sucesso como o Zacarias dos Trapalhões, né? Então foi uma fase muito legal também que eu gostava muito de fazer humor e eu chefiava essa turminha. RP parte 6 de 11 aos 3 M 33 S – Nós tínhamos dezesseis comediantes. Tinha Mauro Gonçalves, Heloisa Malar, Mara Rangel, Arlete Resende, Souza… Santos… nem me lembro o nome. E eu trabalhava também. Além de dirigir eu trabalhava também e tal e era muito bom porque você… qualquer coisa que você falava o auditório ria, então às vezes era uma palavrazinha, o auditório ria daí a pouco eu repetia aquela palavra e o auditório ria, então eu pegava aquela RP parte 6 de 11 aos 4 M 12 S – palavra como um mote pra mim sempre falar. Aí pegava. RP parte 6 de 11 aos 4 M 17 S – GRAZIELA: Devia ser muito divertido. RP parte 6 de 11 aos 4 M 20 S – PARREIRAS: Então são fases que eu passei, das quais eu tenho gratas recordações e me lembro, eu fui muito feliz em todas elas, depois eu fui também… em mil novecentos e oitenta e sete, eu fui transferido para a direção artística da rádio. Aí eu falei assim “eu vou, mas se você pedir o governador pra me nomear, porque daqui a pouquinho você me tira…” então… é a rádio do governo, os cargos de direção eram de responsabilidade do governador, tem que ser pessoas de confiança do governador. RP parte 6 de 11 aos 5 M 3 S – O nosso presidente que na época chamava superintendente, ele foi ao governador “eu queria que você nomeasse e tal, o Ricardo Parreiras…”, o governador me conhecia, foi fácil que na mesma hora ele me nomeou e saiu publicado no diário oficial, mas eu já estava na função de direção. Essa foi a mais difícil, né… porque eu tinha que lidar com.… porque cargo de chefia é muito… eu não nasci para comandante, eu nasci para comandado. RP parte 6 de 11 aos 5 M 35 S – GRAZIELA: risos RP parte 6 de 11 aos 5 M 36 S – PARREIRAS: (risos) mas eu me dava bem porque eu usava o sentimental para chamar atenção de um funcionário. Um locutor, por exemplo, que tinha mania de chegar atrasado… eu não vou falar o nome dele não, ele chegava muito atrasado, ele apresentava o programa A Hora do Fazendeiro que é um programa que é o doce de coco da rádio, que é o programa que está desde da fundação da rádio. Ele chegava atrasado todo dia. Eu ia falar com ele e ele “bom, o senhor não ficou sabendo não? Virou uma carreta lá perto do Frango Assado, lá na estrada, então nós ficamos parados, RP parte 6 de 11 aos 6 M 13 S – e eu tava no ônibus, fiquei parado lá, por isso que eu cheguei atrasado.” Aí eu ligava pro Frango Assado e assim “teve um desastre aí na porta?” e eles “não…” “dá uma olhada lá…” “não, teve desastre nenhum, tá fluindo o trânsito normalmente”. Então eu via que ele tava mentindo. Aí um dia ele repetiu de chegar atrasado, cometer essa inflação, eu chamei o Geraldo… falei o nome dele… RP parte 6 de 11 aos 6 M 43 S – GRAZIELA: Escapou. RP parte 6 de 11 aos 6 M 45 S – PARREIRAS: “Olha Geraldo, não faz isso mais não. Você tá falando mentira comigo. Você tá chegando atrasado e ainda fala mentira comigo. Você é um dos melhores amigos que eu tenho aqui na Rádio Inconfidência… pensa bem, eu ter que punir você. Porque eu sou obrigado a punir, porque eu sou diretor artístico, mas acima de mim tem o presidente, eu tenho que dar uma satisfação ao presidente, ele vai ficar sabendo que você RP parte 6 de 11 aos 7 M 13 S – chega atrasado, quer dizer, ele vai achar que eu estou protegendo você, então não faça isso comigo.” Ele ajoelhava “ah, Parreiras, eu não vou fazer isso nunca mais, eu não vou chegar mais atrasado.”. Então eu usava o lado sentimental para chamar atenção porque é muito ruim você ter que punir um colega de trabalho, um amigo, né? Mas passou e aí mudou o governo… |
Parte 7 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 7 de 11 aos 0 M 3 S – GRAZIELA: A gente tava falando de horário… no início da sua carreira no rádio como que era assim, você tinha também um horário definido igual os locutores têm e tal? Como cantor, como rádio ator… RP parte 7 de 11 aos 0 M 17 S – PARREIRAS: No início, você fala… tinha horário específico, tinha que assinar ponto né… RP parte 7 de 11 aos 0 M 24 S – GRAZIELA: E era todo dia que cê tinha que vir? Ou nos dos programas? RP parte 7 de 11 aos 0 M 27 S – PARREIRAS: Tinha, eu tinha que vir todo dia. Mas o meu ponto era flexível. Na hora que eu chegava… na época que eu estava apresentando um programa junto com o Nilton… Roberto Nilton… nós fazíamos um programa sete horas da manhã, eu tinha que assinar o ponto… era folha. Ah, depois inventaram o tal de relógio que você baixava a manivela assim e assinava o ponto. Não sei se você conheceu isso. Tinha um outro relógio de ponto que era aquele cartão que você enfiava e ele crau crau. RP parte 7 de 11 aos 1 M 3 S – GRAZIELA: Ah, esse eu lembro. RP parte 7 de 11 aos 1 M 4 S – PARREIRAS: Ah então. Naquela época então eu assinava ponto, mas eu chegava na rádio sete horas da manhã, fazia os programas, logo depois eu começava a produzir programas humorísticos, então eu tava acumulando funções, eu não ia em casa nem almoçar. Tinha um bandejão lá perto da feira de amostras, onde era a cede da Rádio Inconfidência e eu almoçava lá. E uma comida gostosa, uma comida era da prefeitura o bandejão, o famoso RP parte 7 de 11 aos 1 M 33 S – bandejão e eu almoçava ali, voltava pra rádio e ficava… eu ia sair lá pras dez, onze horas da noite porque eu era cantor também e eu tinha que cantar, tinha aqueles programas assim “No mundo das recordações”, não me esqueço… eram bons, o tipo desses programas, só que hoje eu faço com gravações, mas naquela época eu fazia cantado né… “No mundo das recordações”… cantava eu e cantavam outros cantores desse estilo de música que cantava valsas, canções, músicas românticas. RP parte 7 de 11 aos 2 M 4 S – GRAZIELA: Nossa, então você chegava na rádio sete horas da manhã… RP parte 7 de 11 aos 2 M 8 S – PARREIRAS: Saía dez da noite, onze horas… RP parte 7 de 11 aos 2 M 10 S – GRAZIELA: E valia a pena em termos de remuneração, materialmente assim…? RP parte 7 de 11 aos 2 M 13 S – PARREIRAS: Naquela época não. Naquela época passei muito aperto, mas depois foi ficando mais flexível e eu comecei a dar uma saidinha. “Olha, vou dar uma saidinha que eu vou fazer ” “uma gravação, vou lá no estúdio da Bemol, da HP, fazer uma gravação de um comercial.” Ah, tudo bem, vai, vai, tal, tal. Então eu comecei, fazia também comerciais para televisão, atuando. Eu fazia vários tipos de comerciais. Geralmente eles me procuravam mais pra fazer o comercial mais voltado para o humor. Porque eu sempre fui mais humorista, mais engraçadinho. RP parte 7 de 11 aos 3 M 0 S – GRAZIELA: Desde esse tempo, né? RP parte 7 de 11 aos 3 M 2 S – PARREIRAS: E teve uma época, não sei se eu devo falar isso agora, que eu fui convidado para ser chefe do departamento de rádio/televisão da Asa publicidade. Porque eu era amigo do Edgar Melo e do Helio Faria. Edgar infelizmente já subiu há uns dois anos, não sei se você deve ter conhecido. O Helio Faria, grande artista, diretor de arte e sócio né… porque eles abriram a Asa… você sabe o que quer dizer Asa? RP parte 7 de 11 aos 3 M 38 S – GRAZIELA: Eu não me lembro mais. RP parte 7 de 11 aos 3 M 43 S – PARREIRAS: After Six Agency, Agencia Depois das Seis. Mas eu fui convidado e eu conversei com a direção da rádio, “mas o dia todo não pode…”. Então nós combinamos o seguinte, eu trabalhava de manhã na rádio e a parte da tarde eu ia pra ASA. RP parte 7 de 11 aos 4 M 1 S – GRAZIELA: E como que era a função lá? Porque eu lembro de alguns diretores de RTVC (Rádio, Televisão, Cinema) que iam nos estúdios acompanhar… RP parte 7 de 11 aos 4 M 8 S – PARREIRAS: Você fala na ASA? Eu era o chefe do departamento, mas eu ia muito pouco nas emissoras. O Helio Faria me colocou um filho que é o Helinho, que hoje é publicitário, tem agência… me botou o Helinho como meu boy. RP parte 7 de 11 aos 4 M 26 S – GRAZIELA: Olha! RP parte 7 de 11 aos 4 M 28 S – PARREIRAS: Naquela época… era boy, contínuo, né. Aí eu tinha que mandar comercial pra televisão e o Helinho “corre lá na televisão, pra levar, corre. Vai lá no jornal levar RP parte 7 de 11 aos 4 M 42 S – esse anúncio”. Então eu tava ali cuidando disso. Eu raramente eu ia na emissora, só pra resolver algum problema mais sério. RP parte 7 de 11 aos 4 M 52 S – GRAZIELA: No estúdio também não? Pra acompanhar as gravações? RP parte 7 de 11 aos 4 M 54 S – PARREIRAS: No estúdio eu ia às vezes para acompanhar. Quando o Helinho por exemplo, ele foi adquirindo mais conhecimento, o Helinho fazia esse acompanhamento, mas no início eu é que ia acompanhar a gravação e dar… não, não é essa inflexão, é outra… “valoriza mais o produto, enfatiza mais essa frase!. Então eu tinha que passar, eu produzia,” eu e meus companheiros… no departamento de rádio/tv também trabalhavam os redatores de criação, como o jornalista Marcio Prado, o Roberto Drummond, grande Roberto Drummond, meu amigo, já subiu… RP parte 7 de 11 aos 5 M 54 S – GRAZIELA: Atleticano. RP parte 7 de 11 aos 5 M 56 S – PARREIRAS: Atleticano! Depois o Roberto Drummond, eu me lembro que o Roberto Drummond falou assim “eu não tô gostando de publicidade não…” Ele tinha entrado num concurso, que ele gostava de escrever e ele entrou num concurso lá no Paraná… um concurso de contos, se eu não me engano foi A Morte de D J em Paris, ele escreveu esse conto e mandou lá pro Paraná, para esse concurso de contos, e ele foi premiado, ganhou o primeiro lugar, aí ele entusiasmou “ah, eu quero ser é escritor, não quero trabalhar em publicidade, cê ter que falar ” ” bem de determinadas organizações que eu não gosto, cê ter que falar bem… Não” é que ele se tornou escritor e dos bons, não? Ele escreveu Hilda Furacão, que virou depois série, minissérie de televisão. Quanta coisa boa o Roberto Drummond… hoje tem a estátua dele aqui na Savassi, né? RP parte 7 de 11 aos 6 M 58 S – GRAZIELA: Eu ia dizer isso. RP parte 7 de 11 aos 7 M 0 S – PARREIRAS: Meu amigo, Roberto Drummond. E trabalhava também, o meu companheiro, o Jader de Oliveira, que estava também doido pra sair do Brasil. Ele tava conseguindo ir pra Londres trabalhar na BBC e eu ajudei ele muito, porque a ente terminava o expediente lá na ASA e a gente ouvia, ligava o rádio, sintonizava a BBC que entrava muito bem aqui em Belo Horizonte… não sei se ainda ouve, né… a onda curta, não sei… a onda curta, dezenove metros… RP parte 7 de 11 aos 7 M 42 S – isso aí… mas eu chegava no final, “olha como é que os locutores da BBC falam, tá vendo? Eles são mais retilíneos… você tem que fazer mais ou menos isso, então vamos gravar” e a gente gravava, então eu ajudei, de uma certa maneira eu dei uma pequena ajuda ao Jader de Oliveira, porque ele não era locutor, ele não era locutor, ele era redator, e dos bons! Pois bem, ele foi, fez o teste na BBC de Londres e passou, e passou a ser… RP parte 7 de 11 aos 8 M 20 S – ele falava inglês muito bem porque a irmã dele era professora, é ainda viva e é professora de inglês… então o Jader chegou lá na BBC, nadou de braçada porque ele fazia programa em português e falava tão bem o inglês que fazia programa para o inglês também, na língua inglesa também. Ele trabalhava comigo, pois bem… essa era a nossa equipe de coisa… e aí eu dirigia também os comerciais e organizava, montava, usava muito audiovisuais RP parte 7 de 11 aos 8 M 58 S – procê apresentar campanha… a gente apresentava campanha com audiovisual e quem que montava o audiovisual? Era eu. Os fotógrafos providenciavam os slides, a gente montava aquela…como é que chamava aquilo, gente? Carrossel! Carrossel. Cortava os slides, fazia locução… geralmente eu ligava para um locutor como Cid Moreira no Rio de Janeiro “ô Cid, aqui é o Ricardo Parreiras da ASA Publicidade” já tinha ficado amigo dele “eu vou mandar um texto pra você RP parte 7 de 11 aos 9 M 33 S – e tal…” Às vezes eu ia também lá no Rio… fiz gravação de audiovisual com o Cid Moreira, fiz com o Jatobá, Luis Jatobá, grande locutor Luis Jatobá. Fiz com Paulo Gracindo também. Eu dirigia eles, eles grandes, monstros sagrados da radiofonia, pois eu dirigia, pois eu sabia como deveria comunicar com o ouvinte mineiro. Eles eram de outros estados, então “eu queria que você falasse assim… outra coisa, puxa um tiquinho…” O Luis Jatobá um dia me respondeu mal. Eu falei assim “ô Luis, tá ótima, a sua locução tá muito boa, mas eu queria RP parte 7 de 11 aos 10 M 28 S – que você tirasse cinco segundinhos aí.” Porque no comercial você fala em segundo, né. “Tira cinco segundos”, aí ele não gostou, fechou a cara, mas me obedeceu e leu o texto novamente. “Olha, você tirou pouco, cê tem que tirar mais uns três minutinhos aí” aí ele falou assim “olha, vamos fazer o seguinte, é melhor você arranjar um outro locutor porque a minha maneira de falar é essa, eu não vou correr não, eu falo assim dessa maneira.” RP parte 7 de 11 aos 11 M 0 S – GRAZIELA: Nossa. RP parte 7 de 11 aos 11 M 1 S – PARREIRAS: Bom, eu não podia voltar de mão… “bom, então você vê o que que você pode ” tirar aí e eu vou levar desse jeito. E trouxe o spot estourando os segundinhos e a Rede Globo aqui em Belo Horizonte, que naquela época… não, já era a Rede Globo… já era, tava no início, a Rede Globo que funcionava aqui na rua Rio de Janeiro… Cê lembra? Trabalhou lá? RP parte 7 de 11 aos 11 M 27 S – GRAZIELA: Lembro, lembro. Não, mas eu soube do resultado do meu vestibular na porta da Globo, na rua Rio de Janeiro. Eu lembro que ela era lá. Parreiras, mas, e quando era o contrário? Porque você falou também que você mesmo fez como ator, e fez spots também, propaganda de tv. E quando um diretor falava assim “tira três segundos, tira…”… RP parte 7 de 11 aos 11 M 53 S – PARREIRAS: Aí eu sabia que tinha que tirar mesmo, aí eu fazia força e lia mais rápido e… eu sabia que… porque tem, cê tem que cumprir, você tem o texto, mas às vezes eu chamava também quem estava me dirigindo e falava assim “vamos fazer o seguinte, vamos ver o que que pode tirar aqui, porque tem palavra aqui… essa palavra aqui vai tirar essa palavra não vai mudar o sentido, então vamos tirar esses…” aí a gente tirava uma palavrinha, uma outra aqui, outra aqui “agora vai dar”, e a gente lia novamente e dava. RP parte 7 de 11 aos 12 M 29 S – GRAZIELA: E você se sentia mais realizado dirigindo os comerciais ou fazendo? RP parte 7 de 11 aos 12 M 36 S – PARREIRAS: Às vezes eu dirigia, ou às vezes eu era dirigido também. RP parte 7 de 11 aos 12 M 41 S – GRAZIELA: Mas qual, em qual função você se sentia mais realizado? Qual você gostava mais? RP parte 7 de 11 aos 12 M 47 S – PARREIRAS: Eu gostava muito de dirigir. Sobretudo quando o comercial tinha criança. Porque RP parte 7 de 11 aos 12 M 53 S – eu sempre gostei de criança, de lidar com crianças… RP parte 7 de 11 aos 12 M 57 S – GRAZIELA: E é difícil… RP parte 7 de 11 aos 12 M 58 S – PARREIRAS: É difícil, é difícil, mas eu tinha uma técnica. Eu tinha uma técnica. Vamos dizer, eu tenho que dirigir um comercial com crianças, vendendo um produto para crianças. O meu diretor, o dono da empresa ficava de longe olhando e gostava da minha maneira, mas ninguém me ensinou isso não, mas eu chegava assim “Meus amigos!” Tava lá com oito, dez crianças “Meus… aqui ó, meu nome é titio Parreiras, vamos lá todo mundo…” Titio Parreiras! Então tá, brincava… “eu trouxe bombom pra vocês, quem chegar ” primeiro aqui vai ganhar… e vinha todo mundo correndo e me abraçava, então… e eu primeiro fazia intimidade com as crianças, ficava amigo das crianças, então tudo que – eu falava com eles eles me obedecia, ah rolava no chão com eles e tal… antes de tudo, RP parte 7 de 11 aos 14 M 0 S – não tinha fotógrafo, não tinha cinegrafista, aí eu brincava com as crianças todas. Aí os diretores ficavam lá atrás vendo a minha maneira de lidar com as crianças… e o cenário montado, aí eu falava assim “olha, você, você vai fazer o seguinte, você vai… quando eu der sinal ou falar ‘atenção, luz…’, não é com vocês, é com o iluminador, e aí vai acender as luzes, quando eu falar ‘câmera’, a câmera vai começar a rodar, quando eu falar ‘ação’ é com vocês, você vai começar a fazer… você vai sair daqui, seguir, dar a volta pra lá e você vai falando ‘ah, porque o produto Itambé, o iogurte sabor morango, não sei o que…’ e vem até aqui, e você vai fazer aqui, vocês vão sair, pra dar o movimento nesse comercial, cê vai sair, vai dando o recado do iogurte e vocês RP parte 7 de 11 aos 15 M 0 S – vão passando por aqui e vai…” Entendeu? Aí eu fazia. Eu tava falando hipoteticamente, mas isso aí é bom porque eles me obedeciam em tudo, porque se você chega perto de uma criança com cara fechada… “oh, menino…” ô mãe, vamos embora, mãe… Porque geralmente a mãe leva, primeiro eu pedia a mãe pra não ficar dentro do estúdio. RP parte 7 de 11 aos 15 M 27 S – GRAZIELA: Boa técnica também. RP parte 7 de 11 aos 15 M 29 S – PARREIRAS: Ah, “a senhora não incomoda não? Deixa seu filho comigo aqui, fica do lado de fora, deixa só a gente que vai dirigir aqui, que vai trabalhar, os câmeras, né? Seus filhos, vou tratar bem os seus filhos.” Elas ficavam lá pra dentro… porque senão o filho vai toda hora querer olhar pra mãe, pra saber se.. e aquele negócio, e você fazer criança não olhar pra mãe é difícil. “Cê olha, pode olhar pra mim, eu tô aqui ” “na sua frente… esquece que tem uma câmera aqui e naquela época não era uma câmera” como essa pequena, moderna… naquela época era aquelas câmeras… Então pra eles não ficarem olhando pra câmera… “cê olha pra mim, não olha pra parte nenhuma, olha pra lá… olha pra cima, olha para o cenário e se tiver que olhar olha pra mim…” RP parte 7 de 11 aos 16 M 22 S – GRAZIELA: Parreiras, você me falou antes que você trabalhou em outras agências. E sempre foi na função de diretor? RP parte 7 de 11 aos 16 M 33 S – PARREIRAS: Sempre nessa função. Na ASA eu fui chefe de rádio/tv. Na LF eu fui com Simão Lacerda, com o Helio que saiu da ASA e… é, eu fui também chefe de rádio/tv, depois eu fui pra Fadson produções cinematográficas, aí eu fazia comerciais para televisão. Eram filmes. Aí eu fui convidado pra ir pra outra agencia, aí eu fazia roteiro, ah, eu escrevia roteiro, movimentos de câmeras, fazia tudo… os câmeras tinham que me obedecer também eu quero que você corta… e eu fazia questão… “eu quero ver… você me focaliza, mas eu quero ver… procura o seu melhor ângulo, agora eu quero ver… tá bom, mas cê pode aproximar um pouquinho mais… aí, fixa a câmera aí, tá bom, ok? e a gente ia…” Então eu gostava de dirigir tudo. RP parte 7 de 11 aos 17 M 41 S – GRAZIELA: Você dirigiu, fez roteiro, atuou… RP parte 7 de 11 aos 17 M 44 S – PARREIRAS: Fazia roteiro também, fazia o roteiro. Porque aquela técnica, não sei se ainda, se hoje você do lado do papel… você põe o movimento de câmera aqui e o texto aqui na frente. Então o movimento dessa câmera, o texto que a câmera vai pegar tá aqui na frente… tá… vídeo áudio, então você escrevia o áudio aqui, cê escrevia o áudio e aqui você botava o movimento de câmera. Então… foi muito bom, uma fase muito boa. Graças a Deus, nesse universo da comunicação eu fiz de tudo um pouco né… RP parte 7 de 11 aos 18 M 28 S – não tão bem, porque quando faz muita coisa alguma coisa não fica legal. Mas eu fiz rádio, televisão, teatro, fiz algumas peças de teatro, participei de algumas peças de teatro. Eu fiz televisão, falei né? Televisão, rádio e jornal, jornal impresso. RP parte 7 de 11 aos 18 M 54 S – GRAZIELA: É mesmo? RP parte 7 de 11 aos 18 M 55 S – PARREIRAS: Trabalhei em jornal impresso. Havia aqui um jornal em Belo Horizonte, chamava-se O Diário que é da cúria metropolitana de Belo Horizonte. E eu tinha uma coluna que eu escrevia Parreiradas, e escrevia umas piadinhas, piadinha que eu pegava de coisa, modificava e colocava a piadinha. E também fazia alguns desenhos, eu não falei que eu sou desenhista, eu sou desenhista… |
Parte 8 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 8 de 11 aos 0 M 0 S – GRAZIELA: Bom, essas funções todas, você sente que tem um reconhecimento, alguma é mais reconhecida? Pelos amigos, pelos familiares.. RP parte 8 de 11 aos 0 M 12 S – ANDRÉ: Com qual o senhor se identifica mais também. RP parte 8 de 11 aos 0 M 18 S – PARREIRAS:Ah, com o rádio né? O rádio é um negócio que todo mundo fala “rádio é uma cachaça” e é mesmo. Você vicia na cachaça e é difícil largar. Quem bebe, eu não bebo. Mas, você a trabalhar em rádio, você vicia no rádio, você começa a gostar do rádio. Porque o rádio… vou fazer o comercial do rádio… o rádio é sem dúvidas o maior veículo de comunicação inventado pelo homem, com a vantagem: não tem imagem. Eu tava falando em off que o rádio, eu gosto do rádio porque chega primeiro, o rádio é mais rápido, o rádio é esperto. O rádio com o advento da televisão, ele se adaptou, inclusive graças RP parte 8 de 11 aos 1 M 14 S – ao japonês que criou o transistor, e o rádio passou a ser um… do tamanho de um relógio, de uma caixa de fósforo e tal. Você vai para o estádio pra assistir o futebol, você leva o seu radiozinho porque você fica sabendo que vai haver uma substituição no time, então você tem o rádio como companheiro. E outra coisa que eu devo dizer… o rádio é mais rápido, rápido por que? Porque você tá passando na avenida Afonso Pena e você vê uma fumacinha, você para assim, tá começando um incêndio naquela casa, aí começa a chegar RP parte 8 de 11 aos 1 M 54 S – gente e tal, aí pega o seu celular, liga pra central da rádio e fala assim “me põe no ar aí porque…” isso há amizade, o companheirismo, o profissionalismo… “estou passando, tá começando a pegar fogo num prédio aqui na avenida Afonso Pena, me põe no ar, que eu vou fazer a reportagem daqui com meu celular.” E ele pegava o celular e falava “estou aqui a frente do Edifício, tá pegando fogo aqui … os bombeiros já estão chegando…” e você dava a notícia, você dava a informação do que tava acontecendo. A televisão ficava sabendo também, porque ligava pra televisão… oh, tá pegando fogo em tal lugar… e o RP parte 8 de 11 aos 2 M 42 S – que que acontecia? A televisão ia chegar atrasado e continua, chega atrasado, porque até pegar aquela parafernalha toda, a câmera, o rebatedor, outro aparelho, e não sei o que, medidor de distância, de iluminação, você já botou a notícia no ar e o fogo tá pegando na casa… “atenção, vambora, chama o motorista” o motorista liga o carro… cadê a repórter?, a repórter tá retocando a maquiagem, até ela chegar lá no local do sinistro, já se foi a casa, só restou a fumaça. Então o rádio chega primeiro. RP parte 8 de 11 aos 3 M 34 S – GRAZIELA: É, isso é verdade. Ô Parreiras, às vezes eu vejo… eu já vim aqui às vezes no programa do Elias e tal, aí eu vejo o Paulo Proença gravando imagem e aí coloca no Facebook, e coloca no… sei lá onde… como que o senhor acha que essas coisas mudam o rádio? O senhor acha que isso é fazer rádio? Porque aí, o rádio tem imagem, né? RP parte 8 de 11 aos 3 M 56 S – PARREIRAS: É a evolução do rádio, por exemplo… o rádio também agora vai acabar AM, mas ele coloca essas imagens que ele faz com entrevistados e algum evento que tá acontecendo… tem o Paulo Proença, tem a Maíra… Paulo Proença, Maíra… é, tinha um outro, o rapaz… filho do Chico Moraes, foi pra Rede Minas… tá aqui na Rede Minas. RP parte 8 de 11 aos 4 M 33 S – GRAZIELA: Pedro Moraes? RP parte 8 de 11 aos 4 M 34 S – PARREIRAS: Não é o Pedro não… então ele fazia também esses vídeos aí. Então a Maíra faz esses vídeos e coloca no Facebook… RP parte 8 de 11 aos 4 M 45 S – GRAZIELA: Mas aí muda o jeito do senhor fazer os programas? RP parte 8 de 11 aos 4 M 50 S – PARREIRAS: Não, não, não. Ela tá botando lá o rádio, ela tá botando o que tá acontecendo no rádio. E o cara vai assistir aquilo no seu computador. RP parte 8 de 11 aos 5 M 2 S – GRAZIELA: E você passou pelo fim do AM que vai acontecer… a Inconfidência tá em processo de migração já pro AM*(FM), eu conversei com o Elias… Que que você acha que vai mudar? Porque você tem vários ouvintes que ouvem pelo rádio mesmo, mesmo longe. Mas o AM tem um alcance maior. RP parte 8 de 11 aos 5 M 22 S – PARREIRAS: Eu acho que vai dar, no início vai dar… toda mudança dá um certo… dificuldade. Vai haver uma dificuldade, porque vai acabar a AM. Então vós vamos ter aqui a AM, que eu não sei como é que vai chamar. Por exemplo, AM Brasileiríssima, que nós temos aqui, tá no ar e só toca música brasileira, ela é brasileiríssima mesmo, vem a AM com a programação que nós temos aqui, o meu Clube da Saudade vai continuar. Talvez seja Inconfidência Popularíssima talvez… quem sabe? Eu vou até sugerir esse nome. Inconfidência Popularíssima, Inconfidência Brasileiríssima. Então essa Popularíssima, ela vai através da FM, então vai ter um som mais bonito, um som estéreo… vai chegar aquela voz que eu tenho, não vai RP parte 8 de 11 aos 6 M 29 S – melhorar minha voz, vai chegar lá no ouvido. Só que o problema: ela tem um raio de ação muito pequena. Ela vai no máximo uns cem quilômetros, cem quilômetros e pouco, daí pra frente você não vai pegar mais. Então o pessoal do interior, lá dos grotões, da cidade longe, do interior do Espirito Santo, interior da Bahia, interior de São Paulo, RP parte 8 de 11 aos 6 M 55 S – você vai ter que adaptar a ter na sua casa um computador, um laptop… ter um aparelho de computação pra você assistir o programa. Então nós já estamos começando a falar oh, vem aí tal…, mas ainda não tá maciço ainda, mas nós temos que massificar mesmo e ensinar o povo, a comprar o computador, ter computador e habituar, porque rádio é hábito, habituar a ligar o seu computador todo dia pra ouvir o Clube da Saudade com Ricardo Parreiras tocando músicas do passado e lendo poesia. RP parte 8 de 11 aos 7 M 39 S – GRAZIELA: E você acha que você vai muda alguma coisa no estilo de fazer o programa? RP parte 8 de 11 aos 7 M 45 S – PARREIRAS: Eu acho que não há necessidade não, né? Eu acho que não há necessidade, vai ouvir rádio através do computador… com qualidade de som, com melhor qualidade de som. RP parte 8 de 11 aos 8 M 0 S – GRAZIELA: Voltando ao exercício da profissão… mas eu queria falar no plural porque você fez coisas demais… eles perguntam nesse roteiro de perguntas se você foi sindicalizado… RP parte 8 de 11 aos 8 M 14 S – PARREIRAS: Olha, quando eu entrei pro rádio, não existia nada disso. Eu me lembro que a primeira associação de radialistas de Belo Horizonte quem criou isso foi o radialista Waldomiro Lobo. Foi um grande radialista naquela época, e ele acabou virando político… ele era político no rádio, virou político. Hoje tem associação Waldomiro Lobo, ele era muito querido, conhecido, todo mundo conhecia o Waldomiro Bolo e ele criou uma associação. Alugou uma casa na rua dos Carijós, ali no Centro e ali funcionava a associação dos RP parte 8 de 11 aos 9 M 7 S – radialistas de Minas Gerais. E a gente ia pra lá, batia papo, tinha uma cervejinha lá, tinha uma espécie de um barzinho… tomava uma cerveja, batia um papo, ele fazia alguma palestra, a gente batia papo… alguém… às vezes tinha um cantor de fora e a gente levava pra lá, dava uma cajazinha. Então era uma associação. E essa associação acabou virando um sindicato que está até hoje, né, o sindicato. Então no início eu me sindicalizei e continuo… às vezes vem aqui pessoal do sindicato, eu atendo, RP parte 8 de 11 aos 9 M 40 S – mas hoje eu sinceramente eu não tô com muita necessidade de sindicato não, eu mesmo faço meu sindicato aqui, mas eu me dou muito bem com todos os sindicalistas, todos aqueles que passaram… eu tive um locutor aqui que ele tava sendo mandado embora e eu pedir a direção pra não mandar ele embora que eu ia ensinar ele a falar. E eu dei muita aula pra ele e ele tornou-se um bom locutor, foi eleito deputado estadual aqui em Minas Gerais e foi também presidente do sindicato dos radialistas: João Barbosa. Está vivo até hoje. RP parte 8 de 11 aos 10 M 20 S – GRAZIELA: E você tem… você guarda a carteirinha… RP parte 8 de 11 aos 10 M 22 S – PARREIRAS: Eu fui sindicalizado, na época do João Barbosa eu fui sindicalizado, que havia alguns benefícios, né? Então eu fui sindicalizado, mas hoje não… hoje eu abandonei…Vem gente aqui, pede licença pra… aí eu dou, bate um papo com o sindical e “vamos unir não sei oq…” Porque sindicato tem trânsito livre em qualquer… É a rádio do governo mas o sindicato tem trânsito livre aqui dentro, não tem problema. RP parte 8 de 11 aos 10 M 52 S – GRAZIELA: E pensando nessa trajetória sua… a gente teve alguns acontecimentos políticos, alguns o senhor disse que não fica a vontade de comentar, né… assim, por exemplo, a ditadura militar, o golpe de 64… RP parte 8 de 11 aos 11 M 8 S – PARREIRAS: Você me falou e eu começo a arrepiar.. quando você fala “militar”… RP parte 8 de 11 aos 11 M 11 S – GRAZIELA: Por que? RP parte 8 de 11 aos 11 M 13 S – PARREIRAS: Ah, porque foi um negócio assim que eu não entendia bem por que que tava acontecendo, porque eu era tão voltando para a coisa, para artista, para a arte, para a música, para o teatro… depois eu vejo… militar… tem nada contra o militar, mas me assusta… RP parte 8 de 11 aos 11 M 36 S – GRAZIELA: Eles vieram parar na rádio? RP parte 8 de 11 aos 11 M 37 S – PARREIRAS: Naquela época, chega um dia na rádio… eu dou de cara com dois, três, sei lá… com militar fardado com uma espingarda, sei lá como se chama aquilo.. fuzil! Fuzil no ombro… E eu “o que é que tá acontecendo aqui?”. Eu pego o elevador, quando eu chego lá no meu andar, no terceiro andar, tem militar, soldado pra lá, os caras com divisa, sargento, tal, tenente e aquilo me assustou… “que que tá acontecendo?” “Cala a boca, isso é a censura… isso aí é militar… eles tão fiscalizando… aqui é um veículo de comunicação de massa, então eles estão fiscalizando, nós temos que…”. Então foi uma época que nós passamos aperto e nós tínhamos que levar tudo que a gente escrevia pra… RP parte 8 de 11 aos 12 M 35 S – já expliquei no início do nosso papo, eu falei sobre levar texto para ser censurado, levava lá e eles tinham que olhar… “aprovado” ou então “censurado”. E foi uma época difícil, essa época atrapalhou um pouco a produção… você tá escrevendo e pensando “será que vai passar? Eu não posso…” Pra fazer humorismo… RP parte 8 de 11 aos 13 M 12 S – GRAZIELA: Tinha palavra proibida? RP parte 8 de 11 aos 13 M 13 S – PARREIRAS: Ah, então sofreu demais… a política é um bom prato pra fazer humor, né? Os grandes humoristas… Chico Anísio usava tanto isso, né? Quem mais? Jô Soares, né? O Gordo… falava, sabe? Eu me lembro, eu fui gravar um comercial com o Jô Soares uma época. numa época que ele fazia… RP parte 8 de 11 aos 13 M 37 S – ANDRÉ: Viva o Gordo RP parte 8 de 11 aos 13 M 38 S – PARREIRAS: Viva o Gordo! RP parte 8 de 11 aos 13 M 40 S – GRAZIELA: Nem era na Globo ainda. RP parte 8 de 11 aos 13 M 42 S – PARREIRAS: Eu fui ao Rio, ele saiu de São Paulo, encontramos no Rio, nós fomos gravar ali onde era o Cassino da Urca, aí tinha um estúdio ali e tal, funcionou também a rádio Tupi ali e eu tinha que fazer um comercial com o Jô Soares. Eu gravei o comercial com o Jô Soares e ele falou assim “cadê o contrato pra assinar?” aí vem clausulas “esse comercial será veiculado nas emissoras tais tais tais tais e eu tinha paralelamente um fotógrafo comigo para fazer a foto porque a iluminação para filmagem é uma e iluminação para fotografia é outra. Concorda, meu querido?’ Então acabamos de gravar o comercial e falei assim “agora nós vamos fazer a fotografia para o outdoor”, por que que não aproveitou? “que a luz é outra meu querido… pergunta o técnico aqui… é outro tipo de iluminação pra RP parte 8 de 11 aos 14 M 50 S – fazer o cromo, pra fazer…” Então ele ficou bravo comigo, só de demorar mais um pouco… ele era muito vedete demais, muito chato, continua até hoje. Ainda bem que acabou o programa dele. Muito chato. (risos) Quando ele viu lá que o outdoor ia ser veiculado em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Brasília, ele falou assim “Brasília não… eu conversei com aquele bigode…” o bigode era o Simão Lacerda, “eu conversei com aquele bigode ele não me falou que… Brasília eu não permito não”. Porque na época ele fazia um tipo que era o Delfim Neto, que era ministro da economia ou da fazenda, um negócio assim. RP parte 8 de 11 aos 15 M 51 S – E ele imitava o Delfim Neto e fazia, ficava igual e fazendo gozação, gozava o Delfim Neto e Delfim Neto morava onde? Brasília. É o homem de Brasília, né? O reduto dos políticos. “Em Brasília eu não autorizo não”, aí eu peguei o telefone… pedi licença, emprestou o telefone, eu liguei pra aqui, graças a Deus eu encontrei com Simão Lacerda, ele tava saindo pra almoçar. “Chama o Simão”, ele tá saindo pra almoçar… “chama ele depressa…” ele veio “Simão, o gordo tá criando caso aqui, ele disse que não combinou com você que… ele não permite colocar o outdoor em Brasília não…” “Parreiras, RP parte 8 de 11 aos 16 M 38 S – nessa altura faz o que esse gordo quiser, esse cara é um mala, é um chato…” Então… aí eu tive que riscar aquilo… “a clausula tal do presente contrato dica sem efeito, o comercial não será veiculado em Brasília.” tive que escrever pra ele assinar e eu paguei ele, cento e cinquenta mil réis, naquela época era não sei quanto. RP parte 8 de 11 aos 17 M 3 S – GRAZIELA: E acontecia o contrário? Por exemplo, os militares na rádio proibiam alguma voz de ir ao ar? RP parte 8 de 11 aos 17 M 9 S – PARREIRAS: Não me lembro. No ar não… não me lembro no ar não. Porque todo mundo tinha muito cuidado né, por ser emissora do governo, mais ainda. Você tinha que andar no caminho certo. Uma rádio particular ainda pode criar um casinho, mas a rádio do governo vai prejudicar a pessoa muito mais importante, que é o governador, não é isso? RP parte 8 de 11 aos 17 M 37 S – GRAZIELA: E eu fico pensando que uma das figuras importantes do movimento de redemocratização foi Tancredo Neves que era mineiro. RP parte 8 de 11 aos 17 M 44 S – PARREIRAS: Ah, Tancredo Neves! RP parte 8 de 11 aos 17 M 47 S – GRAZIELA: E qual foi o papel da rádio? e o que que mudou na rotina da rádio… RP parte 8 de 11 aos 17 M 53 S – PARREIRAS: Ah, graças a Deus aí, os militares… cai a ditadura e aí volta tudo ao normal, o Tancredo Neves era um cara que gostava muito da rádio… Outro que gostava muito da rádio, não sei se foi antes ou depois…. era o… do Banco Nacional lá, o… foi governador de estado de Minas Gerais… RP parte 8 de 11 aos 18 M 25 S – GRAZIELA: Magalhães Pinto? RP parte 8 de 11 aos 18 M 27 S – PARREIRAS: Magalhães Pinto! Magalhães Pinto adorava a Rádio Inconfidência. JK era… o xodó dele era a Rádio Inconfidência, a gente saía com o JK aqui… a gente tinha uma turma… uns dois, três cantores, mais o regional, nós íamos lá… mas a gente fazia isso… A gente ia à Diamantina, terra dele, pra fazer serenata. E é o cenário mais apropriado para uma serenata, é exatamente Diamantina, com aqueles sobrados… porque a serenata tem um ritual a serenata… você canta aqui pra mulher que tá lá no terceiro andar, ou a família que tá lá no terceiro andar… então você tá cantando aqui em RP parte 8 de 11 aos 19 M 9 S – baixo e… ouve a luz piscar três vezes, dando sinal que tá ouvindo e tá gostando… aí você cantava… (canta) “ô Deusa da natura, ouve a minha prece, protetora dos amantes por que me esquece?” Você cantava aquilo bonito né… aí abria a janela, um pedacinho assim, você via a silhueta de uma mulher, a gente ficava emocionado. E às vezes ela descia uma garrafazinha assim… era uma pinguinha ou então um wiskyzinho… e tinha outros que deixavam na soleira… sabe o que que é soleira da janela? Tinha a soleira da janela, cê encontrava uma garrafa de café… |
Parte 9 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 9 de 11 aos 0 M 0 S – PARREIRAS: (…) a gente rodava Diamantina porque não é tão grande né, então a gente subia ladeira, descia ladeira e cantando… era… Djalma… que era o flautista… ô meu Deus…Juvenal Dias. Juvenal Dias tocava flauta e fazia parte do conjunto. Hoje é nome de sala, sala do Palácio das Artes. Ele tocava flauta muito bem, era exímio, um grande músico. Tinha Bento de Oliveira no violão de sete cordas, tinha Zinho no violão de seis cordas, tinha o Nico na clarineta, então a gente chamava ele de príncipe, ele tinha apelido de ‘príncipe’. Mas cê já pensou emendar príncipe, Nico? RP parte 9 de 11 aos 0 M 53 S – GRAZIELA: (risos). Custei cinco segundos pra entender. RP parte 9 de 11 aos 1 M 0 S – PARREIRAS: (risos) Ele sempre de príncipe ”ô Nico!” “ô Príncipe!”, cê não podia emendar “ô Príncipe Nico!”, [a cacofonia criada pela emenda das palavras ao serem ditas cria a palavra penico] mas era sempre… isso aí você conta se você quiser. RP parte 9 de 11 aos 1 M 13 S – GRAZIELA: Mas, voltando, então a gente falou rapidamente sobre o golpe militar de sessenta e quatro, o processo de redemocratização, movimento…. Teve cobertura pelas Diretas Já do movimento pelas Diretas Já na Rádio Inconfidência? O senhor lembra disso? RP parte 9 de 11 aos 1 M 32 S – PARREIRAS: Não. A rádio não participou… Às vezes transmitia alguma coisa, mas eu… Porque ela… a rádio é a rádio do governo, não podia… sair pra rua gritando “Diretas Já”. Eu ia, particularmente eu…. porque eu tava doido pra vias as Diretas. E veio né? RP parte 9 de 11 aos 1 M 57 S – GRAZIELA: E no processo de afastamento da Dilma, então, assim… como que foi a participação da rádio? O senhor participou? RP parte 9 de 11 aos 2 M 4 S – PARREIRAS: Não, na rádio a gente dava notícia, né? A gente noticiava o que estava acontecendo, um show, tal lugar assim, favor das Diretas… RP parte 9 de 11 aos 2 M 15 S – GRAZIELA: E mais recentemente no caso da Dilma… RP parte 9 de 11 aos 2 M 18 S – PARREIRAS: Cê dava como fato jornalístico, não como participante, como se estivesse participando daquilo. Não estava vinculado à aquilo. Entendeu? RP parte 9 de 11 aos 2 M 27 S – GRAZIELA: É, eu tava pensando em tudo que aconteceu no país no ano passado… porque eu ouvi alguns programas na rádio um pouco mais críticos em relação. RP parte 9 de 11 aos 2 M 43 S – PARREIRAS: É, hoje as coisas mudaram, está mais liberal. Também, a rádio que não divulgar o que tá acontecendo com o Brasil hoje vai ficar pra trás. Ela tem que falar que o seu Lula vai depor… quarta-feira, às tantas horas lá na Policia Federal, que o seu açougueiro lá, como é que ele chama… o… JBS… açougueiro, começou como açougueiro mesmo. Mas ele fez tanta coisa errada que virou essa grande potência mundial, um açougueiro que começou com… o Zezé Perrella começou como açougueiro também. Zezé Perella comprou um frigorífico que estava falido… O nome dele não é Perrella, o nome dele é outro, mas ele comprou um frigorífico de nome Perrella e ele manteve o nome Perrella e acabou adotando RP parte 9 de 11 aos 3 M 46 S – Perrella no nome e todo mundo se você falar o nome dele, o nome dele é Zé Perrella e virou deputado… ou senador? Senador. Foi presidente do Cruzeiro, foi bom presidente do Cruzeiro naquela época. Eu sou cruzeirense, ah… eu sou cruzeirense. Ah! Cruzeiro… eu gosto e eu gosto muito do América também, o Gilson é Cruzeiro também? Parabéns! Bom gosto. Um time bonito, né? A camisa mais linda do Brasil! Azul cor do céu, cor do manto de Nossa Senhora, com as estrelas, aquelas estrelas tão no brasão da república, então… a camisa do Cruzeiro é a mais bonita. Se você analisar, é o uniforme mais bonito. Agora, o hino é muito ruim, né? Cá pra nós… e quem compôs foi um grande amigo meu, cara… nossa… RP parte 9 de 11 aos 4 M 59 S – GRAZI: E como que ele chama? RP parte 9 de 11 aos 5 M 2 S – PARREIRAS: (canta) “Nós somos campeões…” não, esse é do Atlético… mas esse também…vou te contar… esse (canta) “Nós somos campeões do gelo…” Sabe o que aconteceu? O Atlético conseguiu fazer um jogo na Alemanha, então… ele não tinha um time forte, então ele arrumou um goleiro do Siderúrgica, se não me engano, arrumou um meio de campo que era do time lá do… então ele fez um esquetezinho e foi jogar nesse time lá, contra esse time de uma fábrica de cerveja. Eles foram jogar contra um time de uma fábrica de cerveja, ganhou, e voltou falando assim “nós somos campeões do gelo…” Que campeões do gelo o que! Tava fazendo um frio danado, mas… era verão, verão… não faz tanto frio. Pelo contrário, verão na Europa é um calorão bravo… eu sei porque eu tive lá. RP parte 9 de 11 aos 6 M 11 S – GRAZIELA: O pessoal de Portugal também sabe disso. Bom, então assim, vamos fechando… Eu perguntei, mas eu não lembro se o senhor respondeu, se o senhor sente que o trabalho do senhor é conhecido e reconhecido por colegas, por chefias, pela família, pelos amigos. RP parte 9 de 11 aos 6 M 31 S – PARREIRAS: Graças a Deus. É reconhecido sim. RP parte 9 de 11 aos 6 M 35 S – GRAZIELA: Como locutor? Seja alguma função que era mais reconhecida… RP parte 9 de 11 aos 6 M 40 S – PARREIRAS: Ah sim… Ah, mas um momento, dizendo, no momento atual por exemplo, você chegou e você encontrou o chefe do esporte brincando comigo ali… O cara tem maior carinho comigo, é meu amigo. E toda… eu chego lá no departamento de jornalismo, todo mundo “oh Parreiras, Parreiras…” todo mundo… “ô Parreiras, Parreiras, Parreiras”. E outros falam assim “vem cá… adivinha quantos anos tem o Parreiras” “ah, ele deve ter uns cinquentas e poucos anos” “ah, é mais ou menos isso! Eu sinto que é só isso, mas eu tenho muito mais que isso, muito mais RP parte 9 de 11 aos 7 M 13 S – que isso”. Eu me sinto bem, me dou bem com todo mundo, todos me gostam… eu chego aqui, já de cara eu estaciono meu carro e já encontro com os motoristas da rádio, e da tv Itacolomi… ô Parreiras, ô Parreiras… Eu chego na minha sala “ô Parreiras, ô Parreiras… bom dia, bom dia…” Eu chego, a menina do café, a faxineira… “ô seu Parreiras!”. Então graças a Deus eu sou uma pessoa muito querida! Eu sinto que sou uma pessoa muito querida e minha família não precisa nem dizer… eu sou o bom geral… o patriarca… eles me adoram, né… RP parte 9 de 11 aos 7 M 54 S – GRAZIELA: A sua esposa é viva? RP parte 9 de 11 aos 7 M 57 S – PARREIRAS: Não, infelizmente subiu. E eu não quis arrumar outra porque não ia nunca encontrar outra igual. RP parte 9 de 11 aos 8 M 2 S – GRAZIELA: Ai, que lindo! RP parte 9 de 11 aos 8 M 4 S – PARREIRAS: Eu tenho muita saudade dela, foi uma grande companheira. RP parte 9 de 11 aos 8 M 7 S – GRAZIELA: E ela gostava, mesmo quando o senhor ficava até tarde na rádio? RP parte 9 de 11 aos 8 M 11 S – PARREIRAS: Gostava e tinha orgulho! As vezes ela ia… ela era muito católica, muito religiosa… RP parte 9 de 11 aos 8 M 19 S – GRAZIELA: Como que ela chamava? RP parte 9 de 11 aos 8 M 20 S – PARREIRAS: Inês. Maria Inês Teixeira Neves. Mas ela… é da parte da mãe, ela era Grimaldi. Família Grimaldi, que veio de Morigerati, na Itália, e veio para o Brasil, e chegando em Belo Horizonte avó da minha mulher era considerada a rainha Felicia, Felicia Grimaldi, que veio da Itália… Na época que Belo Horizonte ainda era Curral Del Rei, e ela ajudou a construir Belo Horizonte, porque ela trouxe parentes, famílias tradicionais em Belo Horizonte, essas famílias… A grande maioria veio através da Felicia, chamavam ela de rainha Felicia. Então ela era muito querida. A minha mulher era descendente dela, e… RP parte 9 de 11 aos 9 M 16 S – GRAZIELA: Ela ouvia o senhor no rádio? RP parte 9 de 11 aos 9 M 18 S – PARREIRAS: Ela ouvia no rádio, pedia… eu tava falando que ela era muito religiosa… havia um terço todo mês lá em casa, ela telefonava pra mim “Dá pra você chegar um pouquinho mais cedo hoje? Tem terço aqui, eu queria que você cantasse pra minhas amigas…” Ela tinha orgulho. Aí eu chegava mais cedo… “Agora o Parreiras vai cantar uma canção pra nós’. Aí eu cantava uma canção, eles me aplaudiam… Então ela ficava feliz da vida, emocionada com o marido. Então a gente vivia muito bem, ela era muito brincalhona, às vezes eu tava sentado assim, ela passava, atrapalhava meu cabelo, às vezes eu tava com a perna cruzada assim, ela puxava minha perna. Então nós tivemos uma vida muito ” boa. Então eu achei que se eu… eu sentia assim, se eu casar com uma outra, eu tô traindo ela. Não é… claro que não era, mas eu não quis. Claro que eu arranjei algumas namoradas, “e tal… o rádio facilita as coisas, né…a comunicação, mas casar… eu namorei uma senhora aí, que ficamos alguns tempos juntos, assim… namorando, de passear junto, à Caldas ” “Novas, sei lá, fazer umas viagens, e ela ia ao meu sítio, mas eu nunca entrei na casa dela, ela nunca entrou na minha. Nós ficamos alguns anos juntos, nunca entrei na casa dela e ela nunca entrou na minha casa e a gente namorava. Porque a gente respeitava. ” “Era o respeito que a gente tinha pela finada. ” a menina. Tem duas que mora em Brasilia, netas, RP parte 9 de 11 aos 11 M 30 S – né… tem uma que mora no México, tem outro que mora em Boston… então, os que moram aqui, meus filhos que moram Belo Horizonte, eles tão todo domingo lá fazer lanche lá em casa. Porque lá virou a casa matriz, por causa do que? Por causa da dona Inêsinha. Que era a mãe, então eles vão lá pra continuar, a mãe morreu, mas ficou o pai, então eles RP parte 9 de 11 aos 11 M 9 S – ” GRAZIELA: E o filhos do senhor, os netos… eles te ouvem no rádio? ” RP parte 9 de 11 aos 11 M 9 S – ” PARREIRAS: Ouvem! E praticamente todos os domingos eles estão lá em casa. Os que moram em Belo Horizonte. Porque eu tenho neto… eu tenho duas netas e uma bisneta em Brasilia. A bisnetinha… ô biso..””, uma gracinha” vão todo domingo, eles vão lá em casa, faz um café, toma… minha filha que mora comigo faz um pão de queijo delicioso, faz uma broa de milho também… Então eles vão lá comer um pão de queijo, comer uma broa de milho, tomar um cafezinho e bater um papo, todo… e às vezes fazer um sacolão, porque eu trago do sítio ovos…a última vez agora, semana atrasada e trouxe quinze dúzias de ovos. Eu tenho que distribuir com eles, eles levam pra casa, o Paulinho leva, a Márcia leva… RP parte 9 de 11 aos 12 M 43 S – GRAZIELA: Tô achando que a gente marcou a entrevista no lugar errado. Tinha que ter sido na casa do senhor… RP parte 9 de 11 aos 12 M 52 S – PARREIRAS: (risos) Mas é muito legal, a gente trás muita verdura também… Quando chega lá que a couve não tá legal, a gente jogo pras galinhas. As galinhas tão comendo alface, tão comendo couve, que eu planto lá no meu sítio. A gente trás um bocado e joga o resto pras galinhas. VOZ: Alguém seguiu sua carreira? Alguém da família? RP parte 9 de 11 aos 13 M 14 S – PARREIRAS: Gozado… ninguém seguiu a minha carreira. Ou seja, de rádio não. Ah não… perdão… o meu neto Guilherme fez estágio com o Elias Santos, com o Pacífico, lá na rádio da universidade. Ele fez um estágio lá… o Guilherme. RP parte 9 de 11 aos 13 M 37 S – GRAZIELA: Ah, eu conheci, eu conheci ele. RP parte 9 de 11 aos 13 M 39 S – PARREIRAS: Conheceu? Meu neto, Guilherme. Muito bonzinho, muito educado, muito gentil, né? Mas ele não seguiu. Ele formou em Comunicação, mas não gostou. O pai também não tava gostando. Ele foi, fez Engenharia Química, e formou em Engenharia Química. Então ele é formado em Comunicação e em Engenharia Química, o Guilherme que você conhece. E o outro é formado em Engenharia e está morando em Boston, trabalha em uma empresa de Engenharia e estuda também, estudava… ele continua estudando porque tem que estudar, porque só trabalhando, daqui a pouco o seu Trump lá… o mister Trump vai mandar ele embora. Ele, como estudante, não pode. RP parte 9 de 11 aos 14 M 31 S – GRAZIELAS: Ô Parreiras, e que que você gostaria tanto os seus filhos, os seus netos, mas também os ouvintes, as pessoas em geral recordassem do seu trabalho? RP parte 9 de 11 aos 14 M 46 S – PARREIRAS: Ah, eles gostam muito que eu canto, todas reuniões eles podem pra mim “ô vô, canta aquela…” aí eu canto… “mas eu canto música do passado, vocês não…” “não, mas é tão bonito”… Eu tenho uma neta, que eu ensinei a ela a gostar de Cartola, de Nelson Cavaquinho… a Fernanda, a Fernanda adora Noel Rosa, ela tem no aparelho dela músicas do Cartola, ela sabe porque que o Cartola compôs O Mundo é um Moinho. Eu contei pra ela a história, que quando a filha falou eu vou sair de casa, o Cartola “minha filha, mas você vai sair de casa? Você não conhece o mundo, você não sabe onde você vai pisar… o mundo é um moinho…” e ele compôs essa música. Triste com a saída da filha de casa. Ensinei ela ouvir Cartola, Nelson Cavaquinho que é um cara que nunca cursou um banco de RP parte 9 de 11 aos 15 M 54 S – escola, vivia nos bares e que compunha no guardanapo sambas maravilhosos como “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor…” Oh que coisa linda… nem Carlos Drummond de Andrade escreveu uma coisa dessa. Você pega o Cartola “as rosas não não falam, simplesmente exalam o perfume que roubam de ti”, olha que coisa bonita… e ela, a Fernanda adora isso. É claro que ela gosta de música de vanguarda também, mas ela tá curtindo muito Cartola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa… porque Noel Rosa era o, pô.. Noel Rosa nos anos 30 ele compôs músicas, as que falam assim “a sirene da chaminé de barro vem ferir os meus ouvidos” e rima “chaminé de barro” com a “buzina do meu carro”, ele era um gênio. RP parte 9 de 11 aos 17 M 4 S – GRAZIELA: Mas pensando, hipoteticamente, que os… |
Parte 10 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 10 de 11 aos 0 M 0 S – GRAZIELA: O que que o senhor gostaria que as pessoas recordassem do seu trabalho na rádio? RP parte 10 de 11 aos 0 M 10 S – PARREIRAS: Ah, sei lá.. bom, os mais novos recordaram o que eu faço no momento que é um programa voltado para as pessoas de idade avançada. Eu faço isso com muito carinho e eles aprovam e acham isso muito bom, e às vezes ouvem. “Eu tô tocando músicas do Cartola hoje, ouve! Eu vou falar sobra Cartola…” Entendeu? Então eles ouvem… é claro que não é todo dia, mas de vez em quando eu falo “dá uma ouvidinha no vovô lá…” e eles “Ah, eu ouvi o senhor ontem”, isso é bom, eu fico tão feliz, muito feliz. RP parte 10 de 11 aos 0 M 50 S – GRAZIELA: E pensando assim, pro futuro, o que que você acha sobre o futuro da profissão no sentido do desenvolvimento da profissão pensando nessas coisas que chegam, nessas coisas que acabam, por exemplo o AM que vai sair do ar, a internet… O que que o senhor acha que esse futuro… o que que esses jovens comunicadores que estão chegando no rádio agora, como o senhor um dia chegou, podem esperar desse futuro? RP parte 10 de 11 aos 1 M 23 S – PARREIRAS:É… eles vão visitar um museu de imagem e de som e vão ver.. “ah, era assim que era o rádio?” Ah, o que que é isso? Eu me lembro uma vez, né muito tempo não, nós estávamos ainda na Avenida Raja Gabaglia, recebi umas meninas, umas crianças, uns jovenzinhos de uma escola, pra mim… eu tô sempre fazendo palestra pra eles, batendo papo com eles, e um dos meninos lá falou assim “que que é isso?”, apontou para uma máquina de escrever. RP parte 10 de 11 aos 1 M 58 S – ANDRÉ e GRAZIELA: (risos) RP parte 10 de 11 aos 1 M 59 S – PARREIRAS: Ele não conhecia máquina de escrever. Eu falei assim “isso aqui, você faz assim…” “Ah! Uai, mas não é computador não?” Não, computador é aquele lá ó.. Só tinha um na sala… “isso aqui, a gente escrevia…”… RP parte 10 de 11 aos 2 M 13 S – GRAZIELA: E já saía impresso, pronto na hora. |
Parte 11 de 11 Ricardo Parreiras, nasceu em 1929 em Minas Gerais Brasil e trabalha na rádio Inconfidência desde 1948. O radialista exerceu cargos de radioator, chefe dos locutores, produtor de programa de humor, produtor de programas musicais e diretor artístico. Atualmente, apresenta e produz o programa ‘Clube da saudade’, transmitido todas as noites na Rádio Inconfidência desde 2006Entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017 |
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RP parte 11 de 11 aos 0 M 7 S – PARREIRAS: Depois veio disquete, depois veio mais o que, ô querido… os CDs, aí veio o CD e hoje nós temos saudade do LP viu… eu tenho. Eu sempre achei, nem todos concordam comigo, eu sempre achei que o som do LP é mais puro, é melhor, é mais encorpado que o CD. Eu acho o som do CD muito metálico e o som do LP mais encorpado. O CD novinho, tem o som mais bonito, aquela caixa e tal, mas o CD… Mas nos Estados Unidos estão fabricando, aqui no Brasil também… tá voltando, tem RP parte 11 de 11 aos 0 M 55 S – muito… já tem fábrica de LP. Lá na Amazonas tem… Manaus, né? E nos Estados Unidos está voltando os LPs. Tomara que volte mesmo. RP parte 11 de 11 aos 1 M 5 S – GRAZIELA: Tomara! Eu tenho vários. RP parte 11 de 11 aos 1 M 8 S – PARREIRAS: Tem né? Guarda, guarda porque aí… RP parte 11 de 11 aos 1 M 10 S – GRAZIELA: Eu guardo! RP parte 11 de 11 aos 1 M 11 S – PARREIRAS: Você tem aparelho? Então guarda, guarda, é bom. RP parte 11 de 11 aos 1 M 15 S – GRAZIELA: Bom, só pra fechar, eles perguntam sobre observações ou então críticas que o senhor faria, que ocorrem ao senhor sobre o atual estado da profissão, de ser radialista hoje. RP parte 11 de 11 aos 1 M 34 S – PARREIRAS: É… o… é muito difícil. A minha vivência de rádio é Inconfidência. É uma rádio estatal, então que eu conheço mesmo é a Rádio Inconfidência, mas é uma rádio que eu acredito seja igual a uma outra qualquer… Quando você chegou você não viu uma faixa branca lá na porta, uma placa branca dizendo aqui é uma emissora oficial, não é?… anos aqui, nesse prédio nós temos a TV Minas, e nós temos a Rádio Inconfidência, mas nós vamos ter que conviver com isso e não sei o que vem depois, se vem… RP parte 11 de 11 aos 2 M 31 S – Nós vamos ser lembrados com o que está sendo acontecido hoje e eu me sinto muito bem com a direção da rádio, sou muito amigo do presidente da rádio, sou muito amigo do diretor artístico, antes de ser diretor artístico foi meu colega… Quantas vezes eu já falei com o Elias “ô Elias, não faz isso não… você tá fazendo um negócio que não convém…” porque eu tinha muita liberdade com ele “faz assim, assim…”, então eu dei umas coisas… hoje ele é meu diretor, e eu o respeito como tal. Aquele tratamento que eu tinha com ele eu não tenho mais. Oi Elias tudo bem? Tudo bem… e tal. Mas dar um tapinha nele eu não vou dar mais. RP parte 11 de 11 aos 3 M 16 S – GRAZIELA: Pode dar, não tem problema não… RP parte 11 de 11 aos 3 M 22 S – PARREIRAS: Então nós conversamos sobre o rádio, conversamos sobre a Rádio Inconfidência, e leva o meu agradecimento por ter lembrado desse velho comunicador para bater um papo com você, falar sobre rádio… o pouco do… não é conhecimento… da vivência minha no rádio de muitos anos. Eu estou completando sessenta e nove anos de Comunicação, né… nesse universo da Comunicação. E eu falando que tô com sessenta e nove anos nesse universo, você vai falar assim “o homem é um Matusalém”, e eu falo com muito prazer que eu tenho oitenta e nove anos. RP parte 11 de 11 aos 4 M 14 S – GRAZIELA: Com muito orgulho… RP parte 11 de 11 aos 4 M 15 S – PARREIRAS: Com muito orgulho. E estou aqui à disposição daquele lá em cima. Porque no rádio tudo é plugado. Computador é plugado, microfone é plugado. Eu estou plugado. Tanto tempo que eu estou plugado… quando Deus achar que chegou a hora ele puxa o fio, me despluga e eu subo. RP parte 11 de 11 aos 4 M 38 S – GRAZIELA: Eu espero que o senhor fique plugado conosco mais tempo. Muito mais tempo. RP parte 11 de 11 aos 4 M 45 S – PARREIRAS: Sempre. De coração para coração, todos vocês… RP parte 11 de 11 aos 4 M 48 S – GRAZIELA: Ô Parreiras, eu que gostaria de agradecer, da sua disponibilidade tempo, de conversar conosco, e eu sempre… eu trabalhei no estúdio HP, a gente gravou juntos lá… e eu sempre tive notícia da sua carreira e eu quis muito registrar isso porque às vezes as histórias se perdem por aí, então eu fico muito feliz do senhor ter nos dado essa oportunidade de contar essas histórias, fico feliz de verdade. RP parte 11 de 11 aos 5 M 23 S – PARREIRAS: Muito obrigado. Eu que tenho que agradecer. Muito obrigado. RP parte 11 de 11 aos 5 M 27 S – GRAZIELA: Então assim, não foi por um acaso que a gente escolheu o senhor. Foi por essa trajetória maravilhosa, no rádio, na Comunicação, o senhor continua aí trabalhando lindamente, os ouvintes te adoram, a Ana Clara Viana, aquela estudante que teve aqui mais cedo fez a transcrição do senhor… Ela, apesar do senhor falar assim pros mais jovens com uma certa ironia… ela ouve o senhor, eu acho que o senhor já mandou um abraço pra ela no ar, então ela é muito fã, então eu acho que os seus ouvintes e escutantes, como o Elias costuma dizer, acho que eles também gostam muito do senhor, dessa trajetória, dessa carreira que passou por tantas coisas, tantas funções… por isso que a gente quis gravar, não um outro radialista… não era exatamente sobre a Rádio Inconfidência, era sobre você mesmo. Muito obrigada. RP parte 11 de 11 aos 6 M 33 S – PARREIRAS: Eu que agradeço e continuo aqui à sua disposição. Venha não para trabalhar, para visitar, para bater um papo comigo, a casa está sempre…venha tomar uma aguinha comigo e bater um papo, ok? RP parte 11 de 11 aos 6 M 49 S – GRAZIELA: Pode deixar! Muito obrigada, viu? |