Aurélio Carlos Moreira

Aurélio Carlos Moreira nasceu no Porto a 4 de dezembro de 1938. Iniciou-se na rádio em 1955 com pequenas intervenções em teatro radiofónico nos Emissores Associados de Lisboa. No ano seguinte, candidatou-se a um concurso aberto pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI) para estagiar como locutor naqueles emissores. Seriam selecionados seis locutores. Como não tinha atingido a maioridade, não lhe foi possível oficializar a candidatura, tendo-se aventurado na produção do seu próprio programa “Viagem Musical”, que estreou na Rádio Peninsular (RP) a 4 de agosto de 1956. Aí se manteve de forma ininterrupta até 1971, acumulando com colaborações na Rádio Renascença (RR) e no Rádio Clube Português (RCP).

“Música para Jovens” (1958) foi um dos primeiros programas que dinamizou na RP, que daria origem um ano depois ao “Passatempo para Jovens”. Era, na altura, o único programa de rádio dirigido à juventude, onde se tratavam temas como música, teatro, cinema e desporto. O programa tinha uma revista mensal e realizava semanalmente espetáculos ao vivo no cinema Restelo. 

Em 1960, na RR, Aurélio Moreira e Pozal Domingues lançaram a primeira edição dos “Caloiros da Canção”, concurso que divulgava o rock em português. Esta iniciativa permitiu lançar as primeiras estrelas do rock nacional e aí se estrearam para além dos vencedores, Os Conchas e a solo Daniel Bacelar, vozes e grupos que viriam nos anos seguintes a ocupar lugar de destaque na música ligeira em Portugal. Este modelo de programa inspirou noutros semelhantes que existiam em Espanha e no Brasil e que terão sido importantes para lançar grandes nomes da música espanhola e brasileira. 

Ainda em 1960, integra, na mesma estação, a equipa do “Diário do Ar”, programa de Fialho Gouveia e Paulo Cardoso, cujo propósito era criar um novo estilo de fazer rádio: este espaço radiofónico era ocupado com música e reportagens de eventos nacionais e internacionais. Um ano depois, apresenta “Bom dia” das 9:00 às 12:00, com Victor Marques e Dora Maria. 

No ano seguinte, lança o “Páju”, na RP, que viria posteriormente a ser transmitido na RR, RCP e Rádio Clube de Cabo Verde. O mesmo deu origem a uma revista juvenil, a Passatempo Juvenil. A música era a principal temática da revista, ainda que com espaços dedicados ao teatro, cinema e desporto jovem. 

Em 1963, no RCP, faz parte da equipa do “Sintonia 63”, programa noturno produzido por António Miguel, Fernando Curado Ribeiro e Matos Maia. Esta edição inaugurou as emissões ininterruptas de 24 horas da estação. Era emitido entre as 3:00 e as 6:00, criando na altura o slogan “sempre no ar, sempre consigo”. O programa transmitia música de artistas portugueses, com discos pedidos via telefone. Já como responsável pela programação da Rádio Alfabeta (fusão da rádio Peninsular e da Voz de Lisboa) que, entretanto, tinha sido agregada, compondo assim 50% dos Emissores Associados de Lisboa, produz em 1968, com o diretor da estação Paulo de Medeiros, o “1-8-0”, programa noturno de música e informação, que se destacou no panorama radiofónico nacional, chegando a obter, em 1969, o prémio Casa da Imprensa para o melhor programa. Ao longo dos cinco anos de emissão, por lá passaram vários locutores. Entre eles, contam-se João Paulo Diniz, Maria Helena Falé, Nunes Forte, Simone de Oliveira, Júlio César, Carlos Pereira da Silva, Fernando de Almeida. O programa tinha ainda correspondentes em Londres (António Cartaxo), Horta e Costa (Paris) e Rodrigo Teles (Brasil).

Abandonou os Emissores Associados de Lisboa no início da década de 70, partindo, nessa sequência, para Cabo Verde, onde assumiu a responsabilidade pela programação do Rádio Clube de Cabo Verde (hoje Rádio Nacional) e aí se mantendo até 1973. Foi responsável por diversas iniciativas como são exemplo as primeiras transmissões desportivas em direto, o acompanhamento de figuras políticas em visita ao arquipélago e programas de rádio ao vivo. Teve também a seu cargo a formação e criação da primeira agência de publicidade naquele país. 

No retorno a Portugal, em 1973, volta à RCP e integra o programa “Carrossel em FM”, retomando a apresentação do “Páju”. Com o 25 de abril de 1974, mantém-se na estação, cujo slogan passa a ser “Rádio Clube Português, a rádio da liberdade”. As colaborações com esta rádio terminam um ano depois, em 1975, data do seu encerramento. Em fevereiro do ano seguinte, regressa a RR, prosseguindo com “Páju”, a que se juntaram outros programas como “Objetivo” e “Encontro de Madrugada”. 

No início dos anos 80, na mesma estação, realiza e apresenta com Rui Pêgo “Todos à Uma”, programa que obteve um prémio de popularidade atribuído pela revista TV Top. A convite de Ribeiro Cristóvão e Artur Agostinho, Aurélio Moreira passa a fazer parte da equipa de “Bola Branca”, um dos programas desportivos mais antigos da rádio em Portugal.

Em 1985, é convidado para constituir e formar as equipas dos regionais da RR, (Voz do Alentejo, Voz de Viseu, Voz de Leiria e Voz do Algarve), projetos que se tornaram uma referência no universo das rádios locais. Nesse ano, participou ainda no movimento das rádios locais, tendo colaborado na fundação da Rádio Pax, em Beja.

Na década de 90, dirigiu a programação da Voz de Almada e prosseguiu com a produção do “Páju”, com transmissão nacional em rádios locais de Norte a Sul do país. Além disso, assinou “Antena Ibero-Americana”, programa apresentado em mais de 250 rádios locais de toda a América do Sul. 

Na entrada do novo milénio, coordenou a programação da Voz de Lisboa, emissor regional da RR; a partir de 2008, junta-se à equipa fundadora da Rádio Sim, onde à data desta entrevista, realizava e apresentava o programa diário “Suave é a Noite”. 

Ao longo de várias décadas, para além da realização e locução de vários programas, foi enviado a vários festivais internacionais de música. Esteve em doze Festivais de Sanremo; quatro Festivais Midem; quatro de Eurovisão; quatro Festivais OTI (Madrid, com Paulo de Carvalho, Caracas (com José Cid, Buenos Aires, com Simone de Oliveira e em Lisboa; dois Festivais do Mediterrâneo (em Barcelona); Festival Split (na Jugoslávia) e ainda festivais em Aranda del Duero, Pontevedra, Andorra e Benidorm.

Teve também a oportunidade de realizar inúmeras reportagens radiofónicas desportivas quer em Portugal, quer no estrangeiro: a nível nacional, foi o responsável por reportagens em 23 voltas a Portugal em bicicleta e de diversos prémios de ciclismo, Campeonato de Europa de Hóquei em Patins (Lisboa, 1965), entre outros. No estrangeiro, fez reportagem no Campeonato da Europa de Futebol de Juniores (Suécia, 1999), Campeonato Fisec (Luxemburgo, 1963/64), – Campeonatos do Mundo de Ciclismo (Bélgica, 1970, Suíça, 1971), Taças Intertoto (Futebol) na Polónia, Holanda, Suécia, Dinamarca, Ex Checoslováquia (1970-1980), Taça Latina de Hóquei (Madrid, s.d.), Taça dos Campeões Europeus de Andebol (Madrid e Valência, s.d.).

Aurélio Moreira passou também pela televisão e pela imprensa. Em 1958, ingressou na RTP, como adjunto de Artur Varatojo, à altura Chefe dos Serviços de Publicidade, tendo ali produzido, entre outros programas, “Castelos de Portugal” e “Recantos de Portugal”. Na estação pública de televisão, colaborou ainda com Cidália Meireles em “Tu cá Tu lá” (1966); e participou, com Raúl Durão, no “Bom dia Portugal”, em 1982. 

Nos anos 90, na imprensa, dirigiu a Alentejo Ilustrado (década de 80) e o Jornal da rádio (década de s 90), tendo ainda colaborador das revistas Plateia – Rádio Televisão e Flama e do jornal Record.

Nas suas produções e realizações teve o privilégio de lançar ou acompanhar nos primeiros anos de atividade, muitos profissionais na rádio, Imprensa e TV, tais como Maria de Lurdes de Carvalho, João Paulo Dinis, Maria Helena Falé, Sena Santos, Carneiro Jacinto, José Leite Pereira, Rui Pêgo, Marcos André, José Candeias, Maurício do Vale, Nuno Figueira, Diniz de Abreu e Francisco Simões. Nos emissores regionais da RR, lançou figuras como Luís Aresta (jornalista na RR), Carlos Coutinho (na Rádio Voz do Alentejo), Fernando Correia, Pedro Vieira, Paula Costa (na RR), Luís Salgueiro (RR), João Fonseca, Carlos Dias e José Barata (jornalistas no desporto da RR), João Pedro Mendonça (RTP) e Fernando Santos.

À data da publicação desta nota biográfica (maio 2023), Aurélio Moreira continua aos microfones da RR, em FM e também em formato podcast com a rubrica “A música não tem idade”