José Pote Magriço – Parte 27 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.


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P Barbosa— Sr. Magriço, eu daqui dentro da lista cheguei ao fim,
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JP Magriço— Sim.
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P Barbosa— É, puxe lá pela memória para ver se há qualquer coisa que acha que seria interessante ficar registado, mas que nós não falamos. Mas que possa ter algum interesse…
0:00:22.490
JP Magriço— Sei, eu posso dizer que, portanto, isto é como abordagem final desta desta reportagem, o que eu gostaria que acontecesse é que ela tivesse algum proveito para pessoas que poderão vir eventualmente a necessitar de fazer algumas pesquisas, ou avaliação das situações. Eu não falei aqui da componente familiar, portanto, acho que não quero deixar de destacar que estas coisas e este desempenho profissional têm uma sobrecarga perante os descendentes e os pares, não é. A família, de certa forma, durante esses anos em que eu procurei desempenhar uma atividade profissional, quer ligado a uma empresa ou duas ou três, é, e durante este tempo houve uma subtração real da… da vida, do tempo de existência, o meu Duty Cycle de vida, e o repartir diário, o repartir mensal, o repartir anual da atividade profissional segmentou-me, digamos, de certa forma afetou também, de certa maneira, e deverá ter criado graus de, digamos, de redução, digamos, dos contactos humanos, porque estarmos num desempenho 12 ou 13 horas diárias com uma relação profissional acaba por se refletir depois nesse tal Duty Cycle da vida, diária, e, digamos, ao longo da vida. E naturalmente afetou e, portanto, eu quero deixar expresso também que talvez isto, mas isto é uma condição a que estamos sujeitos, que é uma condição do sal, salarial, mas que não dá para temperar a vida. Às vezes em excesso há sal a mais ou há sal a menos. Eu esperava não ter ficado insonso ao longo de todo esse tempo.
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P Barbosa— Deixe-me só puxar isto, voltando ao início da, das suas origens familiares. Os seus pais queriam que fosse estudar para a escola comercial para ficarem com o negócio da família. Os filhos do engenheiro Pote Magriço seguiram, de alguma forma, a sua profissão ou coisas parecidas ou também agora foram eles fazer outra guerra?.
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JP Magriço— no meu caso concreto, a minha mulher acabou por tirar o curso, eu não tirei o curso. Portanto ela acabou por reformar…
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P Barbosa— O Sr. Magriço casou em…?
0:03:07.799
JP Magriço— Casei-me, casei-me ainda numa fase em que o curso não estava concluído, tinha 23 anos, e a minha mulher também tinha 21, ainda estavam na fase de conclusão. Ela teve possibilidades de concluir o curso dela, e eu, por razões várias, que não vale agora aqui a pena estar a descrever, é, deixei-me prender também pelo encanto da eletrónica e não… fiz três anos no técnico, fiz algumas cadeiras relacionadas com aquelas nucleares, que eram as matemáticas, físicas e químicas, etc., e as outras associadas, design e outras coisas. Fiz as cadeiras e depois quando era para entrar na fase de ter que entrar na especialidade na área da eletrónica, acabei por não is… não concluir o curso. É, portanto, teve que ceder, eu tive que atribuir que o encanto da profissão talvez tenha colaborado um pouco mais, se eu não tivesse dado tanta importância possivelmente à profissão teria criado um esquema em que… mas já com filhos também, já havia a questão dos filhos, não é, já se tornou num bocadinho difícil. Os meus filhos entraram e enveredaram por um processo diferente, cumpriram tudo muito bem, bem estruturado, tinham capacidades para chegar ao nível superior, minha filha tirou o curso de Engenharia de Ambiente, e tentava um desempenho de gestão em empresas, digamos, relacionadas com a actividade do ambiente, de jardinagem, resíduos etc., portanto, está associada ainda. É, tem progredido, digamos, tem atingido um nível, digamos, de algum relevo dentro de estruturas desse tipo de empresas. Meu filho foi um bocadinho mais retardado no processo de conclusão do curso, mas tirou o curso de Engenharia de Informática, e, portanto, está associado a, digamos, à gestão dos serves bancários deste país, o que é um trabalho extremamente complicado, e tá já a reflectir-se também na vida dele, aquilo que eu digo, o Duty Cycle dele começar a ter já, a ser afetado. Mas, é, pronto, tenho dois filhos que, neste caso, estão em actividade, quase regular…
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P Barbosa— Mas não seguiram a sua carreira…
0:05:20.810
JP Magriço— Mas não, não seguiram o processo. Eu, entretanto, em mil novecentos e…em 2005, quando saí da RTP, é, criei uma empresa que tem uma pequena história, alguns dos elementos técnicos da RTP nos anos 60 e tal formaram uma empresa para criar, digamos, para criar estruturas no Ministério da Educação que relacionassem com a produção da televisão. Foi a primeira empresa que produziu, digamos, de certa forma, os estúdios de televisão associados à, ao Ministério da Educação. É, e depois se desintegrou-se ao longo da vida e eu, ao pedir um nome para a empresa, lembrei-me dessa empresa desaparecida, para além dos nomes propostos para a formação de uma empresa, foi-me atribuído o nome dessa empresa, portanto. Com este interregno de certa forma eu readquiri a empresa Prosistel, que, de quem neste momento sou gerente, e os meus filhos já foram gerentes, agora sou eu actualmente o gerente, e vamos tentar ainda sobreviver com ela, alguns trabalhos, eu tenho uma actividade muito reduzida, também porque não tenho funcionários em actividade, digamos, a empresa na área da televisão não tá para crescer na área técnica e de manutenção, quer dizer, só associado a empresas que estejam no fornecimento de equipamentos. Aí é que poderá haver, de certa maneira, actividades de manutenção e assistência que neste momento não… Posso ainda, digamos, progredir, ainda pode ser uma grande empresa, não é o Bill Gates nacional, naturalmente, não é, mas, digamos, estas actividades relacionadas com a manutenção de estruturas e meios, electrónica e de actividade, agora mais da área do IT, portanto da área da informação, é, e as tecnologias estão associadas ao IT, é, vai exigir de certa forma um, digamos, um desafio maior para que possa no futuro ainda continuar, dado que as tecnologias que existem de manutenção são cada vez mais afectas à substituição de equipamentos, de estruturas e já não é bem o tipo de manutenção que ao longo do tempo a Prosistel ainda conseguiu fazer, e, portanto, daqui para o futuro ou há uma reconversão para os meios multimédia serem, digamos também, uma forma não de manutenção, mas comercial, e, portanto, aí a parte comercial é mais importante para a sobrevivência da empresa do que qualquer outra forma que se queira desenvolver.
0:08:25.620
P Barbosa— Mas então quer dizer que o seu filho, embora esteja na informática ligado a bancos, também colabora consigo nessa empresa, não é?
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JP Magriço— Sim, porque … é durante o período em que eu estive, digamos, no desempenho, quer em individualmente, quer através da empresa, colaborei, é, na na feitura, digamos, na instalação, na montagem e nos projectos relacionados com várias entidades. Comecei com a Telecine Moro, portanto, que foi a primeira que dei manutenção, o IMET, portanto, foi um estúdio criado por mim também, a Universidade Aberta, portanto o estúdio do IPE, na altura, que depois deu origem à Universidade Aberta, portanto, tudo são colaborações que eu fiz com equipa. A Escola Superior de Comunicação Social também foi uma delas e, ao longo de toda a atividade, estive sempre ligado à… quer no Ministério, no Ministério da Educação enquanto estive no Ministério da Educação, é, colaborei com um grupo, com uma empresa chamada Focus Escolar, que era uma empresa fornecedora de equipamentos e estruturas para o ensino, e com laboratórios de línguas. Na altura os laboratórios de línguas já estavam na linha, digamos, do microprocessamento, portanto, já eram elementos sofisticados dentro da estrutura… não era totalmente analógica, era já o controlo do sistema, para além de ser registo em cassetes normais, tinham controlo das funções todas do sistema, é, eram feitas através de uma entidade, unidades microprocessadas. Na altura o famoso 80/80 e 80/85, que era o CPU, digamos, básico, digamos, da estrutura. E depois mais tarde fiz instalações, portanto, por todo o país, portanto, todos os locais dos institutos politécnicos, Universidades do Porto etc. e outras derivadas em várias partes do país. Vila Real, por exemplo, Setúbal…
0:10:34.089
P Barbosa— Eram instalações de quê?
0:10:34.089
JP Magriço— Era eram instalações de laboratórios de línguas, basicamente. E que fazia instalações de laboratório de línguas, ou seja, nessas entidades universitárias era necessário ter uma sala ou duas com, equipadas com vários equipamentos de estrutura da aprendizagem das línguas, inglês e outras, não é, em vários pontos do país, portanto. Talvez pra aí umas 12 a 14 unidades dessas foram instaladas por essa equipa.
0:11:03.430
P Barbosa— que relação é que isso tinha com a televisão?…
JP Magriço— É assim, eu mesmo quando estive sempre associado à televisão procurei, digamos, angariar, de certa maneira, trabalhos que, dado o meu conhecimento de eletrónica poderia abarcar e, portanto, e dispor, portanto. O laboratório de línguas desde 82 até os anos 95, 96 ainda foram, digamos, foi durante esse período que a maior parte das instituições portuguesas relacionadas com o ensino, é, necessitaram desse tipo de de… A Universidade Católica, por exemplo, é outra, precisaram de de laboratórios de línguas. E, portanto, e a empresa que as fornecia em Portugal era a Foco Escolar. E eu era o instalador mais outro, formava equipa com outro elemento e fazíamos a instalação por todo o país e dávamos a manutenção quando havia necessidade de substituir uma unidade etc., procuravam-nos. Durante o período de trabalho, normalmente fazíamos uma instalação nos laboratórios desses, envolvendo o sábado a partir das três da manhã, deslocávamos aos locais conforme a distância…
0:12:16.150
P Barbosa— Não tava com a família, estava…
0:12:22.630
JP Magriço— Sim, mesmo quando deveria estar com a família estava, digamos, sujeito a este tipo de trabalhos, que íamos lá, só marcávamos no hotel a hipótese de dormir, de dormir, mas não íamos dormir, já sabíamos que só se houvesse uma situação em que e sabíamos que a montagem do laboratório levava, para duas pessoas, eram 30 horas seguidas de trabalho e, portanto, aquilo era feito durante o fim de semana. E testado etc. E depois íamos dormir um bocadinho antes de virmos de regresso. Porque era assim que se fazia esse tipo de trabalhos na época. Mas não foi só isso. Portanto, os outros estúdios que foram feitos, de uma forma disponíveis, portanto, eram os que estavam mais próximos, não me lembro de ter instalado dois laboratórios de 64 (??) posições, que eram duas salas enormes, que o que na base aérea da xx(??), por exemplo, portanto, que eram utilizados xx(??). Não eram só os organismos, digamos, universitários que utilizavam, mas também as instituições militares, a aeronáutica também utilizou esses laboratórios e outros. Durante, eu nunca durante isto tudo, a atividade profissional, tive sempre, procurei sempre estar, para além da base, digamos, procurei sempre, digamos, angariar trabalhos fora dessa função, de maneira, portanto, por autossatisfação. Na altura, por exemplo, é, no laboratório da xx(??), requereram, por exemplo, é, um curso de formação sobre aquilo, portanto. Havia uma formação operacional sempre, não é, porque quando entregávamos um laboratório, para além de testado, ele era entregue a alguém, a uma equipa, a duas ou três pessoas que iriam utilizar, e, portanto, havia a formação operacional. Mas, por exemplo, a da xx(??) pediu-nos a formação de manutenção, portanto, era exigido um, digamos, a transferência para os os funcionários técnicos também internos, que pudessem eles depois continuar com a manutenção, digamos, dos equipamentos. E portanto aí tinha que ser uma formação mais elaborada e isso obrigavam-nos a um estudo, digamos, dos meios para transferir esse conhecimento para para esses técnicos. E depois nos laboratórios, e digamos todos os outros estúdios que fizemos, ao longo de, colaboramos em uma série deles, normalmente associados a instituições, ou seja, eu não trabalhei no privado. Privada para mim não foi assim muito, foi no início…
0:14:58.339
P Barbosa— Fala a televisão privada?
0:15:02.929
JP Magriço— A televisão privada. Trabalhei na Telecine Moro durante uns anos e pronto. Mas todos os meus contactos com actividades relacionadas com as instituições sempre foram mais consideradas por mim, portanto, e projetos também de maior dimensão que havia, porque os privados existiam mas normalmente pediam um pacote ao fornecedor dos equipamentos, pediam também um pacote de instalação, portanto, eu não tinha capacidade de me interpor. Poderia era colaborar nalgum pontualmente, mas não… Por exemplo, um que eu colaborei durante desde 98 para cá, até 2008, por aí, ou 2011, desculpa, 98, foi uma instituição que progrediu tecnicamente, que foi o Cenjor. E o Cenjor, portanto, inicialmente estava em Campo dos Mártires da Pátria, portanto, ali na parte em Lisboa junto à Universidade de Medicina, é, e, digamos, precisou de várias remodelações. Em dois… em 98 sofreu uma pequena remodelação, depois em 2000 já se incorporou outros equipamentos e deu-se uma alteração, e depois quando foi transferido atingiu o seu máximo tecnológico ainda nessa, nessas instalações, e depois quando mudou acho que para a Escola Marquês de Pombal, para umas estruturas que existiam que a área das oficinas, portanto, da Escola Marquês de Pombal, as instalações mudaram em 2008 e eu transferi todo esse equipamento, mas com a remodelação do estúdio, portanto, é um estúdio de média dimensão, à volta de 80 metros quadrados, que inclui a redacção, não sei se alguma das pessoas já o visitaram, tem uma redacção com 14 posições, digamos, de trabalho do formato da avid,  avid media composer, é todo esse processo, todo esse sistema de instalação, a transferência de tudo, portanto, desse estúdio, que é um estúdio PAL e com a possibilidade de PAL, digamos, de formato 16 por 9, portanto já tinha essa possibilidade.
0:17:20.429
P Barbosa— Ds mas em 16 por 9
0:17:20.429
JP Magriço— Já tinha essa hipótese nessa época, até 2008 foi feita essa remodelação e substituição de alguns, colocação de infraestruturas, de iluminação etc., dando umas condições técnicas que foram excepcionais para a época, na altura, já era tudo digital, portanto, as câmaras e os sistemas de… tinham opção analógica digital, componentes analógicas ou digitais, mas era toda em processo digital já, e foi feita essa instalação até dois mil e…concluída, de certa forma, com os equipamentos até 2010. E, portanto, esse foi um dos projectos que eu assumi integralmente e unicamente, com a colaboração dos meus filhos. Portanto, os meus filhos, quando eu necessitava de da sua intervenção para fazer a distribuição ou feitura da cablagem, por exemplo, coisas que são extremamente comp… laboriosas, em termos de tempo e de preparação dos meios, eram as que eles colaboravam comigo e ajudavam-me em todas as tarefas que eram necessárias para a instalação de um estúdio.
0:18:29.220
P Barbosa— E o Pote Magriço como patrão paga tão bem como os…
0:18:34.760
JP Magriço— Neste momento demos um prémio. Não, não lhe paguei salário porque isso obrigava, de certa forma, um registo financeiro, mas dei-lhes um prémio por um dividendo da empresa, porque a empresa tem possibilidades de distribuir dividendos. E portanto é uma forma de, portanto, na altura eles eram estudantes, portanto, ainda não… já não eram estudantes, já podiam colaborar nestas actividades ao fim de semana e portanto conseguimos fazer … e não foi só esses trabalhos. Quer dizer, esse é com algum volume. Em 94, tinha feito a Escola Superior de Comunicação Social, portanto,
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P Barbosa— Já com essa empresa?
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JP Magriço— Não. Não, não era empresa, era actividade individual, só em 2005 é que saí para formar a empresa. Portanto, até ali era o único processo.

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