José Pote Magriço – Parte 26 de 27

Entrevistado por Paulo Barbosa – Registado por Cláudia Figueiredo em Lisboa 11 Julho de 2017.


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P Barbosa— Como é que vê esta coisa que existe na televisão que é quem é nomeado para dirigir televisões são as pessoas que aparecem à frente do ecrã? Portanto, parece que há uma associação a dizer assim: quem sabe fazer televisão é a pessoa que aparece à frente da câmera.
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JP Magriço— Não é necessariamente assim.
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P Barbosa— Eu sei que não é assim, mas no facto quem está a dirigir são os que saem da frente da câmara. O que que lhes deu para associar quem está à frente da câmera que é a pessoa que é competente?
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JP Magriço— É assim. As imagens públicas são sempre distorções da realidade, daquilo que efectivamente está…o indivíduo pode ter… eu conheci indivíduos que tinham capacidades muito elaboradas na na relação, por exemplo, no jornalismo. Carlos Pinto Coelho, que era um dos fomentadores da… eu estou a referir só este nome mas pronto, mas existem mais. Mas ele era dos que mais dentro da empresa na RTP cultivava o jornalismo de uma forma bem experimentada, ou seja, havia sessões em que eu posso dizê-lo, não, não é segredo, em que ele se punha como pivô principal e agora ladeado de 4 a 5 de cada lado, outros pivôs também da própria empresa, porque havia mais. E portanto eles debatiam a relação que tinham com o culto da imagem. Fernando Balsinha, por exemplo, ou outro qualquer dos que existiam se destacavam mais pela sua presença ou pela credibilidade que criavam a notícia, está a ver?, isso era muito importante, mas isso era tudo treinado. Eu não estou a dizer isto aqui como uma forma negativa, mas era treinado, porque isso era ensaiado, eram, e cada um com seus talentos naturais e pela presença havia uns que criavam um estilo próprio. E ele também tinha um estilo próprio. E até os cómicos até às vezes brincavam com isso, não é, portanto, mas cada um tinha o seu estilo. E portanto, mas cultivavam e criavam entre eles, criando seu próprio estilo e esse estilo depois era reconhecido publicamente como sendo a pessoa que transmitia a informação e os conhecimentos e dava ênfase à informação, que era qualquer coisa que não era monotónica, não é, portanto, mas era cada um deles. Portanto, e isso eram ensaiados, eram tardes inteiras eles a ensaiar e a simular situações de notícias de vários tipo, desde as mais tragédias, as maiores tragédias, até as coisas mais cómicas e interessantes que poderiam existir. Para o final do telejornal. Não sei se havia uma preocupação de aliviar a tensão do espectador no final com qualquer coisa que aliviasse, de forma mais ligeira, de certa maneira, a impressão que se tinha ficado da…
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P Barbosa— Pois é, mas a minha pergunta era mais no sentido de: Carlos Cruz. Aparece à frente das câmaras e a certa altura aparece na direcção de programas.
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JP Magriço— Sim, sim.
0:03:25.510
P Barbosa— Maria Elisa, aparece à frente das câmaras, aparece depois na direcção e se a gente for ver as direcções é tudo pessoas que saíram da frente das câmeras. A minha dúvida é: quem estava atrás das câmaras é que estava a fazer televisão, aquilo era só o ator que ali estava. Por que que esta tendência de andar sempre a pôr a comandar uma instituição daquelas o que sai da frente da câmara?
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JP Magriço— Não, foi assim. Vamos admitir o seguinte: essas personagens que ascenderam ao nível de topo das coordenações, alguns teriam capacidade também de gestor de pessoas, algumas, não todas, porque alguns foram, para além de serem directores, atingiram através do pivô, através… a ascensão de alguém que vai por uma carreira da imagem, que apresenta-se publicamente, acaba por adquirir capacidade ao mérito para um desempenho de coordenação. Mas depois poderão ser um desastre na na gestão diária do próprio organismo. E não foi fácil, em nenhum deles, dos que eu conheço, as situações que eu conheço, de desempenharem de uma forma justa aquilo que se pretendia na própria empresa. Porque às vezes criaram distorções dentro da própria empresa. E criaram conflitos prolongados dentro da própria empresa. Coisas que não foram sequer noticiadas pela própria empresa, estão a ver, como é, isto depois tinha… o director de informação tinha um outro poder, tinha o poder de apresentar-se e simultaneamente ser o director, estão a ver, isto houve situações em que ele era o próprio director e na, e no comportamento nomeadamente durante o período de transição ou de afectação é, ou de afetação provocada pelo aparecimento das televisões privadas, está também. Foi no período mais intenso em que se criaram distorções na própria organização da informação, neste caso concreto, é que houve uma altura….
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P Barbosa— O José Eduardo Moniz, numa altura…
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JP Magriço— O José Eduardo Moniz, por exemplo, que é um caso. Eu não vou só referi-lo, isto é um caso, não é um paradigma, mas foi o indivíduo que teve maior número de conflitos com com a estrutura, porque criaram-se equipas de reportagem, 23 ou o quê, na altura, e estiveram meses parados na estrutura da empresa, meses em greve, de zelo, porque ele não quis reconhecer o as pretensões desses repórteres que iam… elaboravam a notícia, os que tendiam a ter estatutos de…
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P Barbosa— Questões salariais ou…
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JP Magriço— … estatutos de jornalistas, que depois mais tarde vieram a obter. O repórter em si, o repórter cameraman, também passava a ser incorporado como sendo um elemento da reportagem e de jornalismo, também colaborava, e portanto, e como não foi reconhecido na época, isto não tenho todos os pormenores, mas sei que ele houve um conflito e que deu origem, de certa forma, a que 23 equipas tivessem numa sala, uma sala, sem trabalho e a RTP a recrutar externos freelancers para fazer ao dobro e ao triplo do preço do que custavam os próprios internos. Porque era hora, era o dia, mas pagavam mais por isso, do que se tivessem desempenho, porque a RTP dos salários dos repórteres e dos elementos que estavam associados à produção da informação de reportagem recebiam menos. Relativamente. Não eram reconhecidos, não eram vedetas, está bem. Havia um jornalista ou outro mas que eram do mesmo nível salarial do próprio câmara ou do outro, praticamente não havia distinção, e que estavam no desempenho das funções e depois iam recrutar equipas externas, que já havia empresas que facilitavam a produção deste tipo de programa, com a inclusão de alguns jornalistas e outros até eram externos, faziam-se jornalistas, de certa forma, e que desempenhavam isso e tiveram tempo durante muito tempo.
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P Barbosa— Mas isso era uma luta entre um jornalista e operadores ou entre ele também os jornalistas que iam nessas equipas?
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JP Magriço— É assim, juntaram-se os repórteres o homem da reportagem, o cameraman, mais o repórter propriamente dito, aquele que ia…
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P Barbosa— O próprio jornalista também não era reconhecido…
0:08:16.870
JP Magriço— Também não era próprio, também não era reconhecido. Porque havia ali… era jornalista já, não era, já tinha essa função, só que não havia era melhoria das condições deles, está a ver? Havia uma decalagem tão grande entre os directores e os pivôs, que essa decalagem supunha que houvesse uma melhoria das condições genéricas dentro da redacção todos colaboravam como jornalistas, porque os jornalistas tinham várias funções lá dentro. Estavam segmentados de certa forma em áreas diferentes conforme o tipo de reportagem que se fazia na sociedade, ou na economia, ou em qualquer uma das outras áreas, da saúde etc, e portanto, e todos eles procuraram melhorar a situação. E houve um conflito durante bastante tempo, que se destacou mais por a presença destes repórteres, havia pessoal que fazia isso. Isso isso foi difícil, foi um período difícil como é que era possível que um desempenho de um diretor, pressionado naturalmente pela administração, só se põe isto, não foi por vingança dele, não sei, mas isso eu não posso estar a provar, não é. Mas sei é que houve este conflito, e portanto não… e que se manteve durante muito tempo.

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