Ricardo Parreiras – Parte 4 de 11

Ricardo Parreiras foi entrevistado por Graziela Vianna e André Melo Mendes em 30 de Agosto e em 13 de Setembro de 2017.

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-PARREIRAS:… Los Panchos, é… vinha muito artista aqui em Belo Horizonte.
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—GRAZIELA: Então o senhor foi… começou como cantor, rádio – ator, programa humorístico, programa musical, programa de… Hora do Cafezinho era variedades, né?
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—PARREIRAS:(a) Hora do Cafezinho era variedades
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—ANDRÉ: Como é que é essa… essa…
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—PARREIRAS:(Mas) não parou por Aí Não… -ANDRÉ: Parreiras, como era esse show na boate? Como que eram as boates naquela época?

-PARREIRAS:As boates de Belo Horizonte, como toda boate mesmo né… como se fosse um bar que tinha um palco, cortinazinha assim, aí abria e tal… “e agora…” aí parava de servir e abria o palco, entrava lá Orlando Silva…

-GRAZIELA: Ah…!

-PARREIRAS:(cantando) “Nada além, nada além de uma ilusão…”… Orlando Silva… eu sou orlandista desde menino hein… mas aí ele cantava na boate e tal… primeiro fazia a Rádio Inconfidência que era mais cedo… -ANDRÉ: Você cantou também na boate, não é isso que você falou?

-PARREIRAS:Ah, também fazia, eu cantava… de vez em quando o Levy me levava pra o lugar… e eu cantava…
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—ANDRÉ: Mas você não gostava muito não?

PARREIRAS: Não, porque eu ficava muito tarde… gostava não… eu gostava mesmo era de rádio mesmo, meu negócio é… me apaixonei com o rádio desde cedo, né? Mas aí então eu fui assistente de direção artística, fui… que mais? Ah, entrou um diretor pra… porque a Rádio Inconfidência é do governo do estado. Muda o governador, o governador muda o seu staff… e ser presidente da Rádio Inconfidência, ser diretor da Rádio Inconfidência é um cargo de confiança do governador, então ele substitui, põe as pessoas que ele conhece e confia e coloca… isso é normal…
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—GRAZIELA: e isso muda muito a rotina da Rádio quando muda?
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—PARREIRAS:Muda. E a Rádio já sofreu muita violência, de chegar diretor… até houve um diretor, eu não vou falar o nome… teve um diretor aqui e fez a maior burrice que eu já vi num rádio: tirar a programação do ar… tirar a programação do ar e botar uma chamada “aguarde a nova programação da Rádio Inconfidência”… pra fazer isso você não precisa tirar a programação do ar… ficar tocando música o dia inteiro e o prefixo da Rádio… isso foi de uma burrice bovina, como diria Nelson Rodrigues…
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—GRAZIELA: Nossa…

-PARREIRAS:Pois é, então a Rádio… de vez em quando entrava um cara que não sabia nada de rádio, nunca tinha passado perto de uma emissora de rádio e veio dirigir a Rádio Inconfidência. Isso era terrível, viu… e o cara então… a filha falava, ou a mãe “põe isso…” ou o outro amigo “ah, por que que você não põe isso na rádio?”… então aí ficava trazendo… e cada ideia maluca, né? Graças a Deus no momento nós temos gente que entende de rádio. Você conhece o Flávio Henrique que é um cantor, compositor, dono de estúdio de gravação, conhecedor de rádio, trouxe para a diretor artístico o Elias Santos, que foi a primeira… a primeira turma de formandos em Radialismo. Essa carreira eu acho que não existe mais… GRAZI: Não
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—PARREIRAS:(Ele) formou em Radialismo… não existe mais… o Elias Santos… então o Elias é um cara… que ele voltou e chegou aqui, todo mundo já conhecia o Elias… Elias é uma pessoa boníssima, gente da melhor qualidade, gente fina, né? Mas, veio gente ruim pra caramba, veio… veio gente boa como o doutor Murilo Rubião, que saudade do Murilo Rubião. Doutor Nei Otaviano Bernes… quem mais… Elzio Costa, que era jornalista, mas não sabia nada de administração “”mas aceita, Elzio, aceita, vamos pedir o governador, aceita Elzio…”” e ele aceitou e ele escondido começou a estudar administração e se tornou um dos maiores diretores que teve a Rádio Inconfidência, por que? Porque ele não parava na cadeira dele, ele não pilotava a mesa… ele andava pela rádio, conversava com a faxineira “”oh… tá limpinho, hein? Parabéns””… isso é muito bom! Chegar perto do cara, o cara tá batendo máquina e aí?

0:04:51.930,0:04:52.930
Tá produzindo? Ah, tô produzindo sim “”oh… beleza. Tudo tá bom. E em casa, como é que está?””… isso é importante.”
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—GRAZIELA: isso é bom.

-PARREIRAS:”A garotada lá, tá tudo bem?” tá “ah, se precisar qualquer coisa fala comigo, hein”…
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—GRAZIELA: e nessa época…

-PARREIRAS:… isso é muito importante, o diretor ser amigo… ô gente, porque sem o profissional, por exemplo, eu sem o Aguinaldo do lado de lá eu não vou fazer o programa. Eu preciso do Aguinaldo. O Aguinaldo é que cria, eu nunca pedi o Aguinaldo bota música tal… ele escolhe as músicas para fazer background quando eu vou ler uma poesia, quando eu vou dar uma mensagem, ele escolhe a música… ele tem uma… ele é rápido no raciocínio. Eu começo a falar, ele já tem uma relação de músicas que servem de background, ele vai, joga no ar, faz um BGzinho e eu leio aquilo e tal, para emoldurar as minhas palavras…
0:06:01.280
—GRAZIELA: e o senhor estava falando das formações…
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—PARREIRAS:Então Eu fui diretor artístico. Fui diretor artístico, isso que o Elias Santos é hoje, eu fui…
0:06:10.250
—GRAZIELA: em qual época?
0:06:11.250
—PARREIRAS:(em) mil novecentos e oitenta e sete. Eu fiquei em oitenta e sete, oitenta e oito, oitenta e nove, noventa… acho que três, três anos e meio, quatro anos como diretor artístico, aí nós já estávamos na rua Paraíba, ali na Savassi… lembra que a Rádio foi ali, rua Paraíba?
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—GRAZIELA: Já tô lembrando só na Raja Gabaglia… mais recente. Novinha né? (risos)

-PARREIRAS:Muito novinha! (risos) -ANDRÉ: Dessas profissões todas, qual que o senhor gostou mais?
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—PARREIRAS:(no) Rádio? Ah, do rádio… tudo do rádio é tudo muito bom e olha… no momento o meu xodó é o programa que eu faço… no momento… ele já tem mais de quinze anos que ele tá no ar… porque nós começamos aí porque tinha um apresentador que apresentava nesse mesmo horário às dez horas da noite, o programa assim O Tango, o Bolero e a Saudade… como é que é o nome dele Aguinaldo? (pequena pausa) Ubaldo Ferreira! Ubaldo Ferreira apresentava. Ele era da Rádio Guarani, veio pra Rádio Inconfidência e trouxe o programa. Esse programa já… olha, ele já tava com esse programa há uns vinte e tantos anos, mas ele adoeceu, foi pra o hospital, me pediram para substitui-lo e eu comecei a fazer O Tango, o Bolero e a Saudade do mesmo, na formatação dele, e eis que o nosso querido Ubaldo Ferreira subiu, não aguentou a doença e morreu e eles pediram “continua apresentando esse programa” e eu continuei apresentando o programa… com alguns dias, ou talvez um mês, a viúva do Ubaldo veio à Rádio e pediu a direção da Rádio se podia mudar o nome, que é um nome que ele vinha… que ele criou há muitos anos e tal e que ela ouve aquilo e que sente muita saudade dele, que machuca ela… Pra mim foi bom, porque eu me divorciei daquele nome, daquela formatação e fiz ao meu modo… quer dizer… tocando o mesmo tipo de música que ele tocava, eu toco tango, mas não obrigatoriamente, todo dia. Eu toco… vamos dizer… vinte e quatro músicas brasileiras, mais umas oito, nove, dez músicas estrangeiras, de preferência música latina. E eu procuro sempre música romântica… ontem mesmo eu discutindo com a minha neta… minha neta gosta muito de música, e ela falou que foi assistir ao show de quem… Elba Ramalho com Zé Geraldo… teve aqui em Belo Horizonte, os três…

-GRAZIELA: Os encontros, né… os grandes encontros…
0:09:08.990
—ANDRÉ: o grande encontro.
0:09:10.680
—PARREIRAS:Como é que é o Nome dos três? É a Elba Ramalho, Geraldo Azevedo… quem mais? GRAZI: Eu esqueci o terceiro nome

-PARREIRAS:Pois é, discutindo com ela e eu falei com ela que não toco… ô gente, aquele pernambucano… que eu não tocava ele… Alceu Valença! Alceu Valença não tem… eu conheço o perfil dos meus ouvintes. Alceu Valença é música pesada. Não dá pra mim tocar.
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—GRAZIELA: Como que chama o programa do senhor?
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—PARREIRAS: Clube da Saudade. Eu faço um resgate das músicas do passado. Eu toco Orlando Silva, Nelson Gonsalves, Francisco Alves, Carlos Galhardo, Ângela Maria, Dalva de Oliveira…
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—GRAZIELA: tudo que o senhor gosta
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—PARREIRAS: é… Elizeth Cardoso… eu toco essas músicas que eu… porque a faixa etária que eu procuro me comunicar, procuro levar entretenimento a essas pessoas, momentos de saudade, é… eu conheço bem o perfil, são senhoras de… acima de cinquenta anos, senhores mais velhos também, taxistas, caminhoneiros… Eu tenho, até hoje mesmo falando “meu amigo, Carlos, do Vale do Jequitinhonha” e ele é caminhoneiro, chama-se Carlos, não me lembro o sobrenome, ele viaja pela… aí eu falo meu amigo Carlos… todo mundo é meu amigo… eu tenho amigos… todo mundo é meu amigo, chamo amigo “meu amigo… abraços especiais para meus amigos especiais… meu abraço para o Carlos, caminhoneiro que viaja pelas estradas do Brasil ouvindo meu Clube da Saudade…” e isso é muito bom… e eu aconselho a todos os motoristas de carretas e caminhões pelas estradas ouvir rádio, sobretudo ouvir rádio AM porque tem sempre uma pessoa falando, tem sempre um ouvinte que telefona e ele se sente acompanhado. Se ele estiver viajando na estrada e ouvindo só uma musiquinha, bota um pendrive lá, vai ouvindo uma musiquinha, vai dar sono, e ouvindo alguém falando, declamando uma poesia, mandando um abraço e tal… eu falo uma piadinha, um negócio qualquer que veio e tal… aí então ele acompanha sorrindo e dialoga com o rádio dele, então hoje eu mandei esse abraço pra ele, pensei, vai com Deus, que São Cristóvão te acompanhe.

-GRAZIELA: Então, Parreiras, só pra entender… então assim, começou como cantor, depois rádio ator, programa de humor, programa de variedades…
0:12:25.040
—PARREIRAS:Chefe de locutores… -GRAZIELA: … chefe de locutor, diretor artístico, apresentador e programa hoje… tem mais alguma coisa na rádio?
0:12:32.749
—PARREIRAS:(Mas) se surgir alguma coisa Aí eu… se surgir alguma coisa aí, chefe dos faxineiros também estarei aí com muito prazer. Se o Aguinaldo me ensinar a operar o som ali, aí eu vou querer. Eu vou ser aluno do Aguinaldo… Quem sabe, hein?

-GRAZIELA: Quem sabe… vamos pedir pra ele, né?
0:12:55.989
—PARREIRAS:Quem sabe Vai precisar de um auxiliar e eu trabalhar ao lado dele? Eu adoro isso, o trabalho dele é muito bacana. Eu acho, você conhece bem estúdio de gravação…
0:13:06.739
—GRAZIELA: Conheço…
0:13:07.739
—PARREIRAS:Né? Você já gravou no Studio HP, onde eu fui diretor artístico e padrinho, sou padrinho do Studio HP. Sou muito amigo do Paulo Joel… Paulo Joel Monteiro Bizarria… -GRAZIELA: É… vou fazer uma pergunta, o senhor fica à vontade pra não responder. Na verdade são duas, assim… Pra fazer isso tudo na rádio, o senhor precisa… porque a gente tem que falar, porque os portugueses não sabem… o senhor precisa de um registro como radialista? O senhor tem um contrato desde aquela época na rádio? O senhor pode ficar à vontade para não responder. É uma pergunta que eles fazem pra gente.

-PARREIRAS:Primeiro, me ajuda aí… primeiro, quando eu comecei no rádio não existia escola de Comunicação. Então eu comecei no rádio, ninguém tinha cursado escola de Comunicação, não existia. Que mais que eu teria que falar?

-GRAZIELA: Assim, hoje tem radialista que tem…

-PARREIRAS:Hoje, hoje pra trabalhar no rádio você tem que ser radialista, você tem que ser radialista, tem curso superior, tem curso de Jornalismo, de Comunicação, ou talvez de Publicidade. E eu não tenho nada de… curso nenhum desses. Tenho assim… aqueles cursinhos que a gente faz, aquelas palestras, um congresso, um negócio assim e eu participava de tudo que vinha e eu participava, mas diploma nenhum. O único diploma que eu tenho é aquele diploma O Melhor do Ano, que às vezes eu ganhei…

-GRAZIELA: Esse é o melhor!
0:14:49.540
—PARREIRAS:(Tem) um que Eu guardo com muito carinho, que foi o Ary Barroso me entregando, tem ele, a fotografia dele me entregando uma, um diploma de melhor do ano… -GRAZIELA: Incrível, porque o Ary Barroso era muito bravo

-PARREIRAS:Melhor humorista, melhor rádio ator humorista do ano… é… bom…
0:15:06.980
—GRAZIELA: e Tem um contrato com a Rádio desde aquela época?
0:15:13.319
“—PARREIRAS:é… depois… a Rádio Inconfidência é o seguinte, você fazia o contrato… a rádio era do governo, né? Você assinava o contrato, é como eu disse no início, aquele ia renovando, até que o… na gestão do Elzio Costa e quem era o governador do estado era.. aquele que é dono do Banco Nacional… o… meu Deus… me ajuda aí Aguinaldo… VOZ: Magalhães Pinto

-PARREIRAS:Magalhães Pinto! Meu amigo cinegrafista gente boa, ele sabe tudo… Magalhães Pinto, Magalhães pinto era governador do estado, obrigado hein, cara… Magalhães Pinto… o Elzio procurou o Magalhães Pinto e explicou pra ele como era a situação na Rádio Inconfidência. Nós não éramos radialistas, nós não éramos jornalistas, nós não éramos nada… não eram comerciantes, não eram comerciários, nós não tínhamos uma definição. Você ganhava cachê e pela renda industrial da rádio, porque a rádio faturava… e muito naquela época… dava pra pagar os funcionários… hoje infelizmente o governo é que paga tudo, a rádio fatura muito pouco, muito pouco. Mas não é culpa da rádio, é culpa de novos veículos, novos veículos. Eu até abro uns parênteses aqui, depois você me faz eu voltar lá… Só pra você ter uma ideia, o rádio era a grande vedete, eu já tinha falado no início, então todo comercio, a indústria, veiculava… qual o maior veículo de comunicação? Era o rádio, era o veículo de comunicação de massa, então eu tinha o meu produto e eu fabricava headphone, então eu levava esse headphone melhor, headphone do mundo tem um som estéreo, faz você vibrar… Entendeu, você tinha que levar isso pra onde? O veículo era o jornal, o jornal… mas o rádio você falava “”se este é o biscoito Aymorés…”” que hoje chama Uaimorés, né… esse é o biscoito Aymorés, gostoso, huum,

0:17:42.139,0:17:52.350
que delícia… então você transmitia ao ouvinte, com a sua inflexão, você transmitia a gostosura daquele produto, você levava ao ouvinte… a voz tem esse poder, né? Eu costumo, eu vou tergiversando, você depois você edita, você faz o que você quiser… porque eu tenho que aproveitar do que eu me lembro, porque eu costumo falar que o rádio é o maior veículo de comunicação inventado pelo homem, com uma vantagem… não tem imagem. Concorda? Não sei…”
0:18:24.590
—GRAZIELA: Eu costumo falar isso para os meus alunos
0:18:27.820
“—PARREIRAS:Hein? -GRAZIELA: Eu falo isso para os meus alunos, nas minhas aulas

-PARREIRAS:Não tem imagem, a imagem, a televisão pode jogar você lá em cima, mas também em pouco tempo pode jogar você lá em baixo. Quantos nós já vimos que…pá… “”cadê o fulano””, “”ah…já não trabalha mais na televisão””… porque você, o rádio é hábito, você habitua com a voz do Ricardo Parreiras. Eu tô aqui apresentando o programa, a dona Maria que mora lá em Bicas, na zona da mata mineira, longe, nunca me viu, e ela me imagina, ela cria na sua imaginação aquele cara que tá falando ali, e ela imagina que ele deve parecer com o Brad Pitt, ele deve ser alto, moreno, não louro… e cria aquilo assim. E aquilo fica introjetado na sua memória, e ela tem sempre um Brad Pitt que está falando pra ela lá. Tem a outra que mora no Carlos Prates que nunca veio à rádio, não pode sair porque ela tem problema, e ela também tem problema de visão, mas me ouve toda noite e ela fala ele deve ser igual, me lembro quando eu enxergava…
achava tão bonito o Arnold Schwarzenegger…

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