José Pote Magriço – Parte 7 de 27

Em comversa com Paulo Barbosa – Registado por Claúdia Figueiredo Lisboa 11 / Julho/ 2017.

A licenciatura de engenharia e a entrada na RTP – O carro de exteriores alemão de 1976 na Rua Francisco Baia.
Comissão da analise do projecto da 5 de outubro – Acordo com Robert Boch para financiamento da 5 de outubro.
A edição em Quantel e Abekas – Primeiros conversores digitais para telenovela em PAL M brasileiro
Formação na Alemanha para câmaras da bosh.


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PB — É, 1979, teria a volta dos 29 anos, estava a frequentar o curso de Engenharia, de eletrotecnia, eu tenho aqui no Instituto Superior Técnico, que era o técnico ou o ISEL…
PM — O Instituto Superior Técnico. Eu não passei para o ISEL.
PB — Portanto, da escola profissional da radiotecnia,
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PM — Sim, tive qualificação na altura, portanto, a escola da radiotecnia era o curso na altura, porque era aquele complementar que vinha do rádio montador, portanto, o rádio montador depois era um curso que tinha quatro anos, depois tinham mais dois anos de complementaridade. E já se chamava radiotecnia, está bem? Então curso complementar de radiotecnia. E daí eu transitei. Começo a trabalhar e começo a ir para o técnico, estudar.
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PB — Entretanto, em 1979, ainda a estudar, estava no terceiro ano desse curso, decide… Ou seja, conclui na RTP. Conte-me lá como é que foi essa aventura?
PM — Essa foi uma das fases em que tive que tomar decisões na minha vida, ao longo da minha vida, toda a gente toma decisões, é evidente, mas essa foi das mais difíceis. Porque o ter atingido dentro da função pública um determinado nível, o que na R o que na altura acontecia era se não fosse formado, não, tinha atingido o meu limite máximo, salarial, portanto. (as) carreiras eram definidas por letras, portanto havia um determinado letras, e quem fosse bacharel tinha um determinado nível, que poderia ser a letra H, já não me lembro bem quais são as letras, mas e a carreira superior, dentro da função do Ministério, estava de certa… inacessível, porque eu não tinha o curso completo, portanto tinha só a frequências, não dava. Então há que tomar uma atitude das duas uma ou continuava no Ministério e tentava tirar o resto do curso, ou ia lançado, ou ia ser atraído pela tecnologia da cor. E como a RTP começou a introduzir a tecnologia da cor, eu sentia-me em condições de poder transitar, em termos de conhecimentos era esse novo patamar profissional e técnico, acabei por tentar duas coisas: nesse momento derivei. Tinha a opção… salarialmente, ninguém me pagava mais, ou seja, a TAP foi um dos elementos que eu tentei também entrar, ingressar na TAP, mas a TAP dava pouco mais de 200 escudos, que eram não sei se vocês estão a ver o que era na época, o que podia atrair não dava para eu ganhar o suficiente, portanto, os salários na época eram da ordem, já muito elevados, pode-se considerar, já muito elevados. Os salários eram relativamente baixos, portanto e não dava para dar o salto e implicar as despesas de mudança do meu estilo de vida, já não, já não permitia por esse valor eu ser atraído, acabei por vir para a RTP ganhar menos de 200. Portanto vocês estão a ver que, para além do salário que tinha, aquelas coisas que se fazem na vida por opção e então vim iniciar uma nova carreira dentro da RTP.
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PB — Explique-me lá como é que foi o processo de concurso e recrutamento nessa altura, e formações?
PM — Na Francisco Baía havia um centro de formação da RTP já na época e, portanto, já tinha os meios, que mais tarde transitaram para a 5 de outubro, posso falar sobre isso, havia uns meios que tinham vindo de um carro de exteriores, que tinha servido em 1976, nos Jogos Olímpicos de Munique. Portanto, tinha sido feito o desmantelamento desse carro de exteriores e tinha sido criado um estúdio na rua Francisco Baía, e portanto, já havia um estúdio de cores na RTP. Já em 76, portanto, não estava era a servir para as funções de emissão, mas a formação já era dada a esse nível e todo esses meios estavam disponíveis para iniciar um processo. Mais tarde esses meios vieram a ser colocados na 5 de outubro, no estúdio próprio da formação. E, portanto, o centro de formação foi desenvolvido nessa época, é, com o apoio da área de engenharia da época e era o local onde se fazia a seleção do pessoal técnico. A RTP iniciou um processo de renovação a nível de pessoal que se apresentava, as apresentadoras, não sei se lembram, na primeira fase a RTP recrutou um conjunto de caras bonitas, que serviam para fazer as apresentações dos programas e aí acompanhavam a emissão etc. Faziam uma série de tarefas associadas. E foi aí que se desenvolveu, nessa época, os cursos, esses cursos de formação para a, para a parte de apresentação. E também se fez aí a seleção do pessoal que mais tarde entrou na RTP já com estúdios incorporados na 5 de outubro. Pertenciam ao primeiro grupo de técnicos que, é receberam formação sobre televisão a cores, com pessoal especializado, pouco especializados ainda em cor, porque a RTP não tinha muita experiência nessa área. exceptua-se o engenheiro Carlos Alberto Henriques, que era um dos que mais conhecia, pra época, de televisão a cores, não estou a exceptuar todos os outros, mas era do que estava mais ligado à área da formação, o engenheiro Rio Tinto, o engenheiro Franco Dias etc., todos desses quadros que estavam associados à estrutura da formação técnica, e também à formação, davam cursos de integração profissional nessa área. Eu como tinha alguma facilidade também fiz com um bom desempenho esse curso de formação e, portanto, vim integrar a RTP nessa fase.

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PM — Mas na candidatura houve coisas assim diferentes. Uma delas, que eu tenho que descrever, é o seguinte: eu como já tinha, não quer dizer que isso tivesse validade, porque os cursos só valem pela sua conclusão. Eu quando concorri, concorri com aquilo que o me era exigida nas habilitações para entrar e ser admitido como um concorrente não é. Concorri com curso complementar, que era o tal 7º ano, que era o equivalente ao 7º ano. Só que passado algum tempo, quando concorri, deveria ter concorrido com isso, mas só que meti uma nota a dizer que tinha a frequência do técnico. É claro que fui excluído logo, de imediato, porque uma vez que aceitavam que eu tinha frequência técnica, o que que este elemento quer? Vem pra aqui, faz o curso e tira o curso, de, de, conclui o curso do de engenharia e apresenta-se aqui como um quadro superior dentro da empresa. E isso foi rejeitado. Até que depois eu tive a fórmula de concorrer à segunda vez, isto no decurso do próprio concurso, eliminando o texto que diz que eu estava no técnico. E acabei por ser aceite assim. Portanto, eu admito que uma vez escrito que eu digo que não tenho, não tenho efetivamente, mas no dizer que tinha a frequência já era o suficiente para me colocarem de fora e eu arranjei forma de isso ser, não considerá-lo, e acabei por entrar depois nesse curso de formação e integrar a parte técnica. Mas a minha carreira lá dentro não fiquei em compasso de espera durante muito tempo. Foi-me atribuído, passado algum tempo, sei lá, isso em 82, comecei a integrar a comissão de análise do anteprojeto daquilo que mais tarde veio a ser a 5 de outubro. Pertencia a um grupo, uma comissão, que estava distribuído por várias áreas tecnológicas em que se fazia uma apreciação técnica daquilo do tal projeto que o Proença de Carvalho tinha anunciado, como sendo a renovação tecnológica da empresa e, portanto, acabei por fazer parte desse conjunto. Era um conjunto alargado, de vários técnicos que estavam associados à RTP, na área de estúdios, na área da continuidade, na área do centro de emissão, na área do chamado car, o centro de aparatos room que era o local onde havia a maior concentração de equipamentos dentro da estrutura da própria 5 de outubro e havia várias áreas de vídeo e áudio, estúdios sonorizações, e outras áreas diferenciadas, áreas de edição, videotapes sistemas de emissão, já alguns digitais. Portanto, começou a haver… mas inicialmente era.. os digitais que estou a falar na época eram os de formação de caracteres, gerador de caracteres, mas eram digitais, está a ver, já havia uma questão digital. E, portanto, eu pertencia a esse grupo e quando se desenvolveu, eu tive a sorte, de certa forma, de acompanhar todo o projeto da 5 de outubro. É, o acompanhamento, a evolução tecnológica eu mantinha no Lumiar, a 5 de outubro estava a ser concebida ainda, nessa fase, depois com a interferência do governo da época, estabeleceram um acordo para financiamento da 5 de outubro. Era uma coisa que na altura se falava aí a volta de 2,8 milhões de contos, estamos a falar de contos, não é.
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PM — Era muito equipamento, era uma estrutura totalmente nova, e era financiado por uma instituição, acho que era Rádio Hamburgo, era uma entidade que já se dedicava à produção, claro que os bancos é que estavam associados a isto, não é, mas era, é uma entidade, e fazia parte desse grande projeto e do anteprojeto, e do projeto, a Bosch Ferneseh. portanto que era o Robert Bosch, da época, já com o novo nome, e que incluía a maior parte dos equipamentos. Havia uma área, duas ou três áreas que não eram fornecidas por Robert Bosch, na altura Robert Bosch tinha capacidade de fornecer todo e qualquer tipo de equipamento associado à produção de televisão, desde a captação, a mistura, distribuição, interna, edição também, porque era feita através dos sistemas BCN que já existiam na RTP, portanto já havia equipamentos desses no Lumiar. O telecinemas era da Rank Cintel, na altura, era no Lumiar que estavam residentes os Rank Cintel, mas os telecinemas eram modernos e tinham o sistema de Flying Spot, que é um sistema que permitia a leitura linha a linha da película, a alta velocidade, e portanto, havia umas certas tecnologias que a RTP adquiriu novos equipamentos da Bosch, portanto, praticamente todo o material era Bosch. A central, central, era dividida entre material Bosch e material que tinha origem na Siemens também a tirar… porque era a parte de áudio e a parte de vídeo, portanto, tudo que era matriz, tudo que era o sistema de monições e todo o sistema de controlo, todo o sistema de associação de identificação dos sinais, porque era uma coisa nova para época, era uma identificação por cada sinal, o sinal tinha um conteúdo que, no monitor ou num display, mostrava a origem do sinal. Por exemplo, era para identificação, era uma coisa muito importante na época e isto tudo tinha tecnologias que estavam associadas às matrizes de vídeo e áudio e aos estúdios propriamente dito, ao fornecimento de informação delegada para edições, ou para sonorização ou para outro qualquer sinal que circulasse dentro da estação era veiculada com identificação. Então complexidade que isto dava, principalmente, dos eixos dos percursos de origem dos sinais, as matrizes e todo o conteúdo de controlo, monição e controlo na central técnica, que se chamava central nodal, portanto, era o local onde tudo convergia para tudo divergir, portanto todos os sinais passavam por aquela entidade. Portanto, essas tecnologias estão associadas, foram… estou a falar de uma coisa do tal valor dos 2,8 milhões de contos na época. Portanto, eram compostos por três estúdios básicos, o estúdio 1 e o estúdio 2, de média dimensão, são estúdios da ordem, sei lá, de 300 metros quadrados, ou coisa assim do género, um estúdio internacional de dimensão menor, portanto havia as continuidades, portanto, para cada um dos programas, que na época era o canal 1 e o canal 2, portanto. E todo, e todo um outro conjunto de acessórios de produção, de edição, na época havia unidades de edição associadas, que estavam associadas à Quantel, portanto, essas tinham um nível de qualidade mais elevado, era o que havia de melhor na época, a AVID ainda não tinha entrado dentro do sistema, portanto, ainda só existia a Quantel, eram sistemas…
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PB — Equipamentos analógicos a trabalhar com gravadores…
PM — Não, aí já estamos a falar de coisas da ordem digital, não é, o processamento já era digital.
PB — Mas quando vocês montam o 5 de outubro, já havia pós-produção em formato não linear digital?
PM — Já, já, já. Era tudo, nessa fase que a Quantel passou a ser tudo… a conversão era,  havia a edição baseada na Abekas, não sei se lembra, a Abekas tinha o A34, que era uma unidade que permitia fazer a AB roll, ABCD roll, portanto, permitia inserir quatro máquinas para uma máquina, e nessas mesmos, na A34, Abekas A34, permitia a conversão dos sinais, quer tenham origem em RGB ou R menos Y/ B menos Y, portanto, o Y associado ora em componentes, conseguia-se fazer, mas o processamento interno e a conversão por efeitos, as cortinas e qualquer outra ação desenvolvida, por keys associados ao sinal era feita sempre por utilização de processamento digital. Portanto, e isso era comum a algumas das mesas que existiam… as mesas totalmente analógicas deixaram de existir, também com o aparecimento dos sistemas de conversão, por exemplo, ainda me lembro o primeiro, o primeiro equipamento que apareceu na RTP para converter telenovelas, vocês sabem que a telenovela teve origem, fundamentalmente, não era as nacionais, as de origem brasileira, que funcionava com o formato PAL-M necessitavam de uma conversão do frame rate e também do tempo de linhas, os tempos de linhas eram diferenciados e, portanto, para que não houvesse possibilidade de distorção na imagem, para, tinham que ser convertidos do PAL-M para o PAL normal, que era o nosso PAL BG, portanto, era assim que se fazia… E haviam equipamentos que recebiam os sinais e convertiam para o nosso sistema e eram gravados depois nos nossos formatos para a emissão. Portanto, essas tecnologias estiveram todas associadas à produção já da RTP. Também se pode falar da produção de legendas para a inserção de legendas.

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PM — No Lumiar as legendas eram efetuadas ainda com o sistema de papel, não é. Portanto, escrevia-se analogicamente no papel, e, é, por key, ou seja, por um sistema de inserção, fazia-se a inserção da legenda sobre o filme, ou sobre o… passando sempre pelos processos de reprodução, inserção e nova gravação. Portanto, a RTP passou por várias fases de evolução tecnológica. Esta foi o salto de melhor qualidade pra época, que só teve precedentes com o aparecimento da SIC e da TVI. A SIC e a TVI já, quando apareceu, apareceu com uma tecnologia mista. Era, tinha estúdios em composto, chamado PAL, o normal, tinha estúdios em componentes, tinha alguns elementos em componentes e tinha uma parte já em digital. Não muito significativa. Ou seja, as matrizes, as entidades de edição, as que já na altura comportavam a conversão digital eram digitais, mas as origens como se sabe na maior parte dos sinais, quer sejam câmeras ou outra qualquer, excetuando-se o videografismo, porque já era um sinal logo digital, mas as câmeras e todos os outros elementos continuavam a ser analógicos, até ao período de 96, 97. A partir daí é que começou também, começaram também as câmeras a processar sinais e a converter sinais para uma gravação digital. Portanto, é, gravação também digital. Não era só analógica. E, portanto, esse processo que havia na 5 de outubro era um processo misto, baseado em PAL, fundamentalmente baseado em PAL, e sem a opção de componentes. Os componentes analógicas, ainda. Havia, excetuando-se alguns equipamentos que forneciam, que era o caso do gerador de caracteres, e outras coisas do género, que forneciam os sinais já analógicos. Suficientes para as mesas de mistura, para fazer o key nessa nessa área, sem passar pela conversão. Ou seja, o sinal tinha origem digital, porque na construção do dos caracteres, era feito por processamento digital, mas depois utilizavam os sinais analógicos para a inserção dentro da estrutura das mesas.
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PB — Nos estúdios, as mesas de mistura que vocês tinham eram em componentes, na 5 de outubro?
PM — Não, eram PAL. Eram PAL.
PM — Excetuando-se dois ou três casos, algumas unidades da edição. Por exemplo, a Abekas já utilizava… como as máquinas tinham a possibilidade de ter componentes, poderia-se optar por inserir sinais PAL se o sinal de origem fosse PAL. Ou componente se o sinal de origem fosse como é o caso de gerador de caracteres ou um gerador de efeitos, ou outro qualquer coisa que se quisesse se associar a imagem ou inserir tivesse origem em PAL, ou tivesse origem em componentes. Os componentes normalmente era RGB, no caso de gerador de caracteres, e se fosse uma outra unidade, que também gerasse componentes, mas em CAV, componente analógicas de vídeo, eram o Y, o R menos Y, o B menos Y. Era uma opcional, às vezes.
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PB — Mas então foram técnicos da RTP que projetaram a 5 de outubro? Aqui não foram gabinetes externos engenharia…
PM — É, assim, vamos lá ver, a colaboração efetuada pelos técnicos era… nós funcionamos como sancionadores, ou seja, havia uma proposta global e havia que racionalizar as propostas. Portanto, o fornecedor do serviço, que era a Bosch Ferneseh, como empreiteiro da obra, que iria inserir a estrutura técnica. E quem fazia a avaliação das necessidades de mais ou menos circuitos, de acordo com que, os objetivos que a empresa tinha, que atingindo aquele valor. Portanto não… tinha que se condicionar o que quantos feixes pretendiam, o feixe por exemplo, 10 feixes, 12 feixes, quer dizer, lá está 10, 12 feixes, vamos lá ver o que que é racional, as necessidades da casa, internamente, os circuitos que se estabeleciam, as linhas que se transferiam de um lado para outro, quer analógicas, quer com informação digital complementar. Toda essa informação, a origem era sempre analógica, está a ver?
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PB — Mas esse projeto foi construído e feito pelos alemães e vocês no fundo diziam era se aceitavam ou não…
PM — Era como se fosse um…
PB — Havia um padrão. Porque aquilo envolve muitos meios, não é. Portanto, tanto para além dos circuitos e dos percursos de interligação entre estúdios, monições, mesas de mistura, geradores de caracteres, e tudo que se quer criado dentro da estrutura do estúdio, para um sinal, ser fornecido para o exterior. Portanto, essa quantidade de linhas de ligação etc, tudo isso envolve custos e, portanto, havia que racionalizar e funcionávamos, os técnicos, de acordo com as necessidades já sentidas anteriormente no Lumiar, saber qual era a necessidade que se projetava para uma uma estação de televisão que pretendia ser a CNC, o Centro Nacional de Comunicações. Na época era assim que se pretendia que se tivesse essa designação. Depois generalizou-se, a RTP 5 de outubro mas havia a intenção de colocar ali um centro nacional de comunicações. Do que diz respeito às vias de ligação com a Eurovisão, satélite e outras que tinham origem já na época todos os sistemas de receção e de emissão para a Eurovisão. Portanto, tudo isso tinha os compromissos que tínhamos com a Eurovisão e que tinham que ser cumpridos. De certa forma porque estávamos ligados e éramos membros e somos não é. Portanto, havia necessidade de racionalizar todo um conjunto meios. Depois havia as ligações da RTP com os centros de emissão. Portanto, o centro era, neste caso, o Monsanto, que depois fazia a distribuição. A rede de feixes, a rede de ligações que se faziam para a RTP, para reportagens etc. Portanto, essas ligações recorria, se necessitavam de ter um racionamento lógico, não é. Portanto, o projeto tinha um… senão o projeto disparava.
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PB — Mas depois da Bosch fazer esse projeto, de ser modificado por vocês, a implementação da estrutura foi feita por pessoas da RTP ou vieram aqueles alemães?
PM — Foi, assim, havia uma equipa de alemães que vinham fazer a função de coordenação das tarefas que se tinham desenvolvido. Todo o projeto foi feito, e com antecedência, a piori, foi montada toda a estrutura na Bosch. Criaram um espaço idêntico, formataram, de certa forma, as necessidades, de acordo com a cabulagem. Na época, portanto, a numeração da cablagem, tudo o que tem a ver com a parte logística para a estrutura e concepção de um projeto daquela dimensão era extremamente exigente. E, portanto, os alemães montaram todas as racks, montaram todos os equipamentos, fizeram os ensaios finais e havia delegações da RTP que iam lá e dizia ê pá, é aqui talvez não se necessite desta redundância, ou aqui necessita-se de mais isto. De acordo com as necessidades que eles previam na época. Esse é o anteprojeto foi desenvolvido com um conjunto de equipas que se deslocaram, viram o sistema funcionar etc, e, portanto, estavam na 5 de outubro, deslocada nos estúdios lá deles, nos pavilhões deles. E depois havia outro tipo de ações, que eu colaborei em alguns deles, nomeadamente na ida à Inglaterra, a Basingstoke, a outros locais, para saber como é que faziam os sistemas de controlo remoto das câmeras, por exemplo, o pan e Tilt, e o zoom, e o foco etc., portanto, havia a necessidade de alguns fornecedores externos, que também estavam integrados no projeto de instalação, tinham necessidade de fornecer formação aos técnicos que viriam mais tarde a ser as pessoas que se dedicavam a isso. Por exemplo, as câmeras, todas as câmeras que foram instaladas na 5 de outubro eram de um modelo específico da Bosch, e portanto houve necessidade de levar uma equipa, aí fui eu e outro elemento, que fomos a Darmstadt, durante um determinado período, ou, sei lá, três semanas, por aí, e tivermos o a formação necessária para fazer os alinhamentos técnicos de fábrica. Era fundamental para a parte tecnológica da empresa ter pessoas com conhecimentos in loco, portanto, nos locais de origem, de como é que funcionava a estrutura e como é que era feito todos os procedimentos necessários, é, baseado nos princípios de que a Bosch tinha, tinha um protocolo, que estava a cumprir, que era era o fornecimento dos equipamentos com a formação dentro de cada equipamento. Portanto, nas mesas de mistura foi uma equipa, nos câmeras foi outra, na análise geral, os videotapes, já não havia muita necessidade, porque a RTP já tinha modelos anteriores, já tinha uma certa experiência nessa área, mas os técnicos de televisão nunca, nem no projeto, descuraram a questão da formação dentro de cada um dos modelos de equipamentos adquiridos.
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PB — E não era uma formação para operar área, era uma formação para fazer a manutenção…
PM — Não, é assim. Tinha dois, duas componentes. Está implícito que se eu sei como é o conteúdo intrínseco dos meios, eu sei qual é as suas funcionalidades disponíveis por esse meio. Não era um operador, não era um utilizador do efeito zoom, isso não era muito importante, é relativo. O que era importante era saber quando o zoom não fazia a sua função, eu saber detetar o que que não estava bem. Ou quando a câmera não tinham os valores, ou os sinais obtidos de acordo com uma determinada característica, temperatura de cor, ou qualquer defeito de ordem tecnológica que a câmera manifestasse, eu estivesse apto a atuar junto dos módulos, ou das unidades que tivessem necessidade de serem corrigidas ou serem alteradas para garantir as especificações técnicas. E isto é sempre muito importante. E, portanto, a formação sempre pós, ou ante fornecimento de meios, pressupunha que estes ficassem técnicos conhecedores, por exemplo das tecnologias aplicadas aquele equipamento. E de acordo com as normas que estavam estabelecidas. E, portanto, esse técnico deveria também conhecer todos os procedimentos que a fábrica recomendava e todas aquelas que, todos aqueles procedimentos que eram, por testes, feitos pela EBU. Por exemplo, quais eram as recomendações que se deveriam fazer e as normas que se tinham que ser cumpridas, por exemplo, as tolerâncias dos sinais. Os sinais circulavam dentro da 5 de outubro com uma tolerância apertadíssima, para ter uma ideia, por exemplo, posso dizer que o desfasamento cromático entre componentes entre várias origens de sinal que chegavam à mesa de mistura, e que eram aplicados na mesa de mistura, não podiam ter um desvio superior a dois graus. Ora, estão a ver, o desvio de cromático 2 graus. Ora, nós só somos sensíveis de desvios da ordem de 10 a 12 graus, portanto. Mas a regra diz que é, o desvio máximo seria o tempo de um sinal a ser inserido e misturado com o outro não podia ter desvios temporais superiores a 200 nanossegundos, portanto. Não sei se têm noção do que é 200 nanossegundos, mas é um quinto do microssegundo. Para ter uma ideia, um quinto do microssegundo, não é. É uma coisa extremamente, é praticamente coincidente. E, portanto, há um rigor e havia, para além disso, os parâmetros de amplitude dos sinais não poderiam exceder ao longo de todo um percurso, imaginemos um estúdio, uma câmera, um estúdio e uma mesa de mistura, um distribuidor, a central técnica, o sinal é enviado para a gravadora, portanto, passando pela central técnica vai à gravadora, e a amplitude de desvio máximo que se admitia num sinal era 1{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374} a 2{eac6b5875ddae926700b2c4e8464bb0ece25601256fda3402f3cffca93cca374}, no limite. Esta tolerância, quando falo, de 2, estou a dizer mais 2 menos 2 por cento, estão a ver, é a tolerância admissível, um sinal em toda uma cadeia, um circuito mais complexo. Se for um sinal que tenha origem, por exemplo, do exterior que passou por um feixe foi a Monsanto e deu um salto aqui ou outro, aí há a necessidade de ter outro padrão e, portanto, é um grau de tolerância maior. Mas de qualquer forma o sinal ao entrar na estação, esse mesmo sinal, é corrigido automaticamente ou não automaticamente, porque pode ser das duas formas, e fica dentro daqueles valores de tolerância que são admissíveis. Portanto, os graus de exigência para o sistema analógico eram mais rigorosos na época do que agora nos digitais. Por quê? Não quer dizer que os digitais, os digitais têm uma, uma garantia, sendo a origem da câmera o sinal sai errado, vai continuar na cadeia errado, ao longo de toda a cadeia. O que se pretende é que ele não saia errado da origem. Porque como é um processamento digital, teria que se fazer procedimentos digitais para o corrigir. E, portanto, não interessa muito fazer isso uma vez que o sinal deve estar dentro dos padrões que estão estabelecidos pelas normas, portanto, também nisso essa questão não se coloca.

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