Célia Metrass – Parte 5 de 6

Célia Metrass à conversa com Mafalda Eiró-Gomes e registada por Cláudia Figueiredo em 6-7-2017 no estúdio da escola superior de comunicação social no âmbito do projecto AMOPC

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— Em termos de formação e em termos de… que é que acha que é fundamental hoje?
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— Eu acho que quer hoje, quer mesmo antes… as noções, o ter noção da organização das empresas é fundamental para um profissional de comunicação e eu acho que isso muitas vezes não está, não está presente. A noção dos mercados, a noção de… a parte da organização política… a questão da economia, a questão da economia e das interdependências e da da dos vários modelos de mercado,
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—a questão social, a questão social também acho que… a questão social do ponto de vista da sociologia, eu acho que são áreas que alguém que trata de comunicação tem que saber mais do que aquilo que muitas vezes transparece. Até porque eu acho que depois o que acontece as pessoas mesmo com a formação, e estou a pensar em alguns estagiários que que conheço, não é… é como se, é como se “sim está bem, eu estudei, eu aprendi”, mas, mas só para poder fazer, mas o meu objetivo agora é só comunicar, é só redigir, ou é só pensar numa estratégia, mas eu acho que se esquecem de que toda esta formação é uma formação que tem que, tem que estar presente e determina aquilo que pode ser uma estratégia, quer dizer… um profissional numa empresa, um profissional de comunicação numa empresa não pode propor uma estratégia a um conselho de administração, uma estratégia de comunicação a um conselho de administração, sem ter em conta qual é o mercado, qual é a situação internacional do mercado para aquele produto, para que país é que exporta, por exemplo, se for o caso, qual é a realidade desses mercados, porque não é igual… porque de facto a estratégia tem que estar imbuída de todo este trabalho anterior e de todo este conhecimento anterior. Porque eu ainda continuo a assistir a uma coisa que eu acho que também já vem de há 50 anos e que me põe doente que é “eu não gosto”. Que é “ah mas eu não gosto”. Não, “eu gostava mais”, mas isto continua a acontecer. Não é uma questão de gostar, é assim, está bem ou está mal. Atinge o objetivo ou não atinge o objetivo. Eu quero lá saber se eu não gosto de azul ou se… mas eu continuo a ter esse problema de vez em quando. Que é ”ah não se pode fazer verde porque não gostam de verde. Ou não se pode dizer não gosto, ”ah eu gostava mais ao contrário, eu gostava mais que fosse”… não tem que gostar mais. Mas o que acontece é que a maior parte das vezes, é, as pessoas não são capazes de explicar porquê. E portanto uma das coisas que eu defendo sempre é que quando se vai apresentar uma estratégia não se mostra nada. Não se leva… pode se levar papéis ou pode se levar uma apresentação, mas a primeira parte é só, é sem nada para distrair, porque a partir do momento em que se mostra um boneco, não é, porque as pessoas gostam é de ver bonecos, está aberta a porta para dizer não gosto.
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— E portanto… e começar do todo, não é, da big picture para o afunilar. E eu isso continuo a sentir todos os dias que as pessoas pensam sempre só no… não é sempre só, que horror estou sendo injusta… mas a tendência é: o que que diz o anúncio ou o que que… não! Assim, qual é o enquadramento, temos a falar de quê, qual é o objetivo, onde é que eu quero chegar, estou a falar para quem… e só depois disso é que se vai, portanto, esta noção da big picture e depois ir afunilando de maneira… e eu acho que é fundamental explicar isto desta maneira, porque quando se chega ao produto final já ninguém se atreve a dizer que não gosta. Ou atrevem-se menos, não é.
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— A dizer que gostava mais que o boneco fosse ao contrário ou outra coisa qualquer. E para isso eu acho que as pessoas têm que estar seguras e tem que ter formação. E a formação não é só… a formação não é só nesta especialidade, quer dizer, têm que ser capazes de ler o mundo em outras vertentes. Porque também não é admissível que uma empresa que tem como objetivo final o lucro, não é, portanto sejamos claros… se preocupa ou tem a noção, ou com várias outras questões, se não for obrigada… obrigada e de uma forma fundamentada a chegar àquela conclusão.
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— E realmente para isso eu acho que, como dizia há pouco, noções… noções não, quer dizer, ser capaz de primeiro fazer a análise, não é, onde é que estamos, qual é a nossa realidade, qual é o nosso mundo, é o que está à volta, como é que as coisas evoluíram, quem são os concorrentes que a gente percebe que são e os outros que a gente não percebe que são, mas que podem ter a ver com produtos que ainda nem sequer, que ainda nem sequer foram inventados, não é, que vão ser a seguir. E é fundamental porque porque há duas coisas… Há uma coisa que toda a gente acha que sabe fazer que é escrever, aprendeu na escola e fazia redações e portanto é muito difícil valorizar o trabalho de copy. A parte gráfica é um bocadinho, é, pronto, era um bocadinho mais fácil de vender, entre aspas, porque as pessoas não sabiam fazer bonecos. Hoje em dia toda gente sabe fazer bonecos com o computadores, e portanto, acham sempre que conseguem fazer.
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— E realmente além de serem coisas pavorosas, na maior parte das vezes… feitas por engenheiros normalmente, não cumprem os objetivos. E essa é que é a questão principal, porque realmente… aquilo não está lá o que é preciso estar, não foi pensado por alguém que é especialista desta área. Realmente… esse eu acho que também pode ser um problema ainda da profissão, que é o reconhecimento da especialização dos profissionais desta área. Porque de facto mexem com comunicação e comunicação é saber falar, saber escrever, saber pensar também convém, não é, antes, mas toda gente acha que sabe fazer.

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