Célia Metrass – Parte 3 de 6

Célia Metrass à conversa com Mafalda Eiró-Gomes e registada por Cláudia Figueiredo em 6-7-2017 no estúdio da escola superior de comunicação social no âmbito do projecto AMOPC

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— E o que é que esperava do gabinete do CTT/TLP neste pós 25 de abril?
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— Fundamentalmente que conseguisse estabelecer uma boa relação com a comunicação social. Mais do que qualquer outra coisa. Eu julgo que o resto das funções eram um bocadinho impostas por quem trabalhava lá. Quero dizer, do ponto de vista da administração realmente a coisa importante era essa. Do ponto de vista de quem trabalhava lá, havia a preocupação de ter uma única voz, de ter um estilo de comunicação e que fosse comum a todas as zonas do país. O processo de decisão era muito lento, muito longo. Estamos a falar de… imaginem… chamava-se uma pagela, que era uma espécie de um díptico. Cada vez que era inaugurada uma estação de correios era feita uma coisa para distribuir ao público. E isto era… nós estávamos sentados na Rua de São José em Lisboa, e portanto se abria uma estação de correios numa terra qualquer algures no nordeste não fazíamos a mais pequena ideia, portanto era uma informação que nos chegava a dizer que ia acontecer. Pedíamos alguns elementos, qual era a área, qual era a população, algumas fotografias, estamos a falar de… se eu ainda me… se eu consigo lembrar-me como é que viriam as fotografias. Viriam pelo Correio, com certeza. Deviam vir pelo Correio. Tinha… trabalhávamos com faxes. ois, eu própria já tenho muita dificuldade em em pensar como é que era. Mas sim, nós recebíamos uns textos, portanto deviam vir por fax, com certeza. E depois era…. depois escrevia-se, não é, depois havia alguém gráfico que fazia a montagem, depois ia para a gráfica, depois vinham as ozalides, era preciso corrigir as ozalides, muitas vezes ir à gráfica. Eu sempre gostei da parte técnica. Sempre, sempre… Quer na… quer na parte da tipografia, quer, quer depois da parte das montagens, eu sou um bocadinho da ferrugem, gosto de perceber, gosto de estar lá, gosto. Toda a vida estive lá a acompanhar as pessoas, o que também me permitiu ter muitas vezes uma boa vontade e uma disponibilidade para fazer coisas que quem estava só nos gabinetes não conseguia. E portanto o processo era um processo entre pensar, ou entre conceber uma destas, um destes folhetos para a inauguração de uma estação e ele estar produzido, e estamos a falar de um díptico normalíssimo.. não sei, um mês, talvez, ou mais. Porque tudo isto passava por correios que demoravam a chegar, 4, 5 dias, e depois alterações, depois iam para trás, iam para frente. Quer dizer, não havia nenhuma maneira, não havia nenhuma maneira, a não ser escrevendo um texto e a seguir mandando por fax e do outro lado, e mandarem um fax, e mandarem de volta com as emendas, não é, portanto não estou, não me consigo lembrar de outra forma que não fosse isso… e o telex nunca soube mandar na vida, nunca percebi como é que aquilo se fazia, mas fax sim. A gente conseguia meter a folha e aquilo lá ia, encravava normalmente, demorava, aquilo tinha que ter uma… havia um recibo que dizia se o fax tinha sido bem recebido ou não, portanto, muitas vezes dizia erro, era preciso mandar tudo outra vez. Para os jornais a comunicação era feita exatamente na mesma maneira. Havia uma coisa engraçada, que agora não vem nada a propósito, mas pronto, que era, isso já bastante mais tarde, que era… havia que ter a noção… os jornais demoravam tempo a fazer, e provavelmente hoje em dia as pessoas não têm essa noção, mas o jornal, por exemplo, o jornal… havia jornais diários de manhã e havia os vespertinos. Os vespertinos… Os jornais diários da manhã eram feitos durante a noite. Os vespertinos eram feitos de manhã, mas quer dizer, uma parte já estava fechada provavelmente na véspera, artigos ou coisas assim, as notícias e a primeira página, a composição da primeira página era feita naquele dia. E os semanários, e agora vou dar um grande salto, porque já estou a pensar no Expresso, estamos a falar de 79… 70 e não sei… e 4, é, o Expresso… o Expresso fechava à terça-feira. E portanto uma das grandes preocupações com esta, com este domínio da importância da comunicação social, qualquer notícia que a gente quisesse que saísse e que apanhasse o Expresso, que era o grande “must””, tinha que ir para o jornal até terça-feira, portanto, conferências de imprensa só se faziam às… segunda era mal dia porque era a seguir ao fim de semana e havia muitas notícias, portanto terça-feira havia ali um horizonte temporal muito pequeno… era terça-feira, porque a quarta-feira já não, portanto o jornal já estava cheio. E a mesma coisa em relação às horas, portanto, era preciso ter isso em atenção, porque a partir das seis da tarde apanhava os jornais da manhã e outra coisa que era se, se saísse nos jornais, se saísse nos jornais da manhã, os jornais da tarde já não pegavam. Portanto, se saísse nos jornais da tarde ainda talvez o jornal da manhã do dia seguinte repescasse qualquer coisa. Mas o o resto não acontecia, portanto… Porquê? Porque de facto as coisas não eram… a edição era uma coisa muito morosa, portanto, a edição dos jornais, eu ainda me lembro de ir aos jornais ver, porque achava engraçado, e era feita com letrinhas, com letrinhas… que eram feitas numa máquina e portanto eram assim uns, umas coisinhas compridas, com aquilo. Depois se havia uma gralha, se o revisor detetava uma gralha tirava aquela letrinha e punha outra, e portanto isto não era compatível com alterações de última hora. E portanto trabalhei aí durante uma série de anos, eu trabalhei ao todo 17 anos naquele universo, mas mais ou menos de três anos e meio em três anos e meio, fui mudando de funções. E portanto aquilo que eu achava uma coisa inconcebível, que é como é que uma pessoa estava há tantos anos numa empresa, não senti muito. Portanto, a seguir a isso fui fui pegar num projeto que era a Regiform, que era o Fórum Picoas.
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— Mas ainda no CTT/TLP…
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— Sim.
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— Teve imensos cargos.
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— Não.. quer dizer, tive mas… Eu estive no Serviço de Informação e Comunicação e saí do Serviço de Informação e Comunicação para ir para a administração da Regiform, que era uma empresa dos CTT. E que ia, e que ia pôr a funcionar uma coisa que tinha nascido torta que era o Fórum Picoas, e que nasceu para ser um centro comercial, com tudo centralizado e as lojas todas a venderem tudo o que houvesse para vender. E quando uma dia a administração descobriu o que que ia ter ali, que era um centro comercial, ficou muito aflita e disse que nem pensar, e portanto nomeou-me à Administração para ir tomar conta daquilo. E esse teve um projeto que não foi para frente… foi assim uma criança que eu não tive e que tenho muita pena, que era um um projeto de divulgação científica… tecnológica e científica, portanto, havia essa lacuna. A Gulbenkian tinha tinha apoiado ceder-nos, digamos assim, a parte tecnológica, porque eles tinham a parte científica mas não… na parte tecnológica não estavam muito interessados, e portanto nós ainda tivemos reuniões com o Azeredo Perdigão e com o Lobato Faria.
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— E depois tivemos o apoio do Mariano Gago. Estamos a falar de 80, 82, 83, por aí. Portanto íamos ter uma biblioteca, que seria a primeira biblioteca, e íamos fazer um projeto que tinha muito a ver com a escola e com a divulgação de toda a parte tecnológica, porque os CTT tinham um acervo brutal, que tinham vindo a guardar graças a uma diretora do museu dos CTT, que guardava tudo, dizia que não deitassem nada fora. Primeiro passava pelo crivo dela poder guardar, e portanto realmente havia muito material que hoje está na Fundação Portuguesa das Comunicações e no museu, na exposição permanente, e de facto é… quer aquilo que está exposto quer o que está no acervo são peças lindíssimas e que valem realmente a pena ver. Porque as pessoas já não têm a ideia nenhuma de como é que as coisas funcionavam. Esse projeto de divulgação cultural e científica, não foi para a frente. Porque, como dizia o Mariano Gago, você não percebe que este projeto é só seu, mais ninguém quer isto. Porque, porque julgo que era era muito cedo.
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— Era comunicação de ciência avant la lettre, não é?
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— Era, era, era. Não havia ainda… não havia ainda grande grande sensibilidade para perceber que esta parte da sensibilização e da comunicação, quer sobre a ciência que vem a aparecer muito com Mariano Gago, quer sobre a parte da tecnologia que hoje em dia existe com o Museu do Conhecimento, não é… e eu fico muito contente de que lá esteja o Museu do Conhecimento. Entretanto o que aconteceu mais ou menos nessa altura em 83, eu acho que foi um bocadinho para me compensar da minha infelicidade de não ter conseguido levar aquele projeto pra frente, fui convidada pelo Secretário de Estado das Comunicações, que era o Raul Junqueiro, para fazer o lançamento de um projeto que foi o Inforjovem. Inforjovem era a divulgação, junto da juventude, dos computadores. Não é? E dos computadores estamos a falar de uma coisa que era o ZX Spectrum, que era uma coisinha deste tamanho, e que fazia pouquíssima coisa. E portanto eu trabalhei com ele e conseguimos… porque eu achei graça, e porque ele era realmente um visionário, o Raul Junqueiro era de facto um visionário da importância destas coisas. E eu fazia. E portanto isto isto surge porque porque alguém ofereceu, julgo que a empresa, já não lembro bem, ofereceu 30 equipamentos, e ele disse “então e se a gente conseguisse abrir centros Inforjovem no país inteiro e pôr uns equipamentos em cada sítio?”. E eu disse está bem. E conseguimos arrancar com os centros em Viseu, no Algarve e julgo que no Porto. E isso foi de facto uma bola de neve, porque a seguir foram sendo criados em todo o país e depois acabaram por passar para o Instituto da Juventude, que hoje é IPDJ, hoje em dia já nada disto se justifica porque as pessoas já têm todas, graças a Deus, computadores em casa, mas naquela altura os centros Inforjovem foram um… tiveram uma importância e um impacto brutal. Porque realmente foi levar este tipo de equipamentos a pessoas que nem sabiam que eles existiam não tinham capacidade econômica para os comprar, e portanto depois a partir daí criaram-se alguns alguns concursos e aquilo tinha monitores, as autarquias colaboraram, portanto, isto era feito em conjunto com as autarquias. E pronto, e depois saí do Fórum e o Inforjovem também, não sei, acabou… quer dizer, o Inforjovem continuou, mas o secretário de estado foi substituído e fui parar às Relações Internacionais, fui parar nas Relações Internacionais. Também CTT/TLP ainda, e fiz… e era responsável pela cooperação internacional, portanto, entre as relações internacionais havia várias coisas e apanhei muitos países de expressão portuguesa, países de expressão portuguesa. Numa, numa área que não era exatamente uma área nem de Comunicação nem de Relações Públicas, mas que passava também um bocadinho por ter esse tipo de abordagem, de aproximação, quer aos países, quer a…. uma coisa que eu não sabia sequer como é que funcionava, que é portanto os organismos internacionais e a parte da cooperação e das conferências de dadores, que são um bocadinho sui generis, [risos], com grandes implicações políticas e com com esquemas de funcionamento, que são esquemas de… não estou a falar de corrupção, estou a falar de procedimentos que são um bocadinho estranhos à partida para todos nós. E depois, depois voltei para as telecomunicações, voltei para as telecomunicações como assessora da… nem sei como é que se chamava altura, do diretor-geral das telecomunicações, portanto, já no CTT. Quer dizer, já tinha havido uma diluição dos Correios e das telecom… dos TLP e das telecomunicações e CTT. E depois fui parar… e aí as funções eram funções apenas para o setor das telecomunicações, mas muito ligadas à componente externa, portanto aí já havia campanhas, aí já havia comunicação de… portanto havia um centro de investigação que começou de alguma forma aí uma preocupação de enquadramento comunitário, portanto o Centro de Investigação de Aveiro que tinha um grande impacto nacional do ponto de vista científico e de emprego do ponto vista local, em Aveiro, portanto havia o peso da da do Centro de Estudos de Aveiro para a comunidade de Aveiro era muito grande, e portanto aí começou a haver abertura e apreciação da necessidade da empresa se abrir um bocadinho ao exterior. E portanto lá vamos buscar aquelas coisas que a gente aprendia do enquadramento comunitário, que agora se chama responsabilidade social, não é, mas que é praticamente a mesma coisa.
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— Fundamentalmente com com a questão da abertura, os dias de porta aberta, estamos a falar de… tenho que fazer contas, não é…. estamos a falar de 87, por aí, 86, 87… sim, 87, por aí. Dias de porta aberta, ligação às escolas, apresentação também da parte do relacionamento internacional e muito das publicações também, publicações de caráter científico, e de alguma forma, é, internamente havia já um… sempre sem mexer na comunicação interna, sempre com uma comunicação interna só de cima para baixo, portanto isso é completamente tabu e eu acho continua, da minha experiência profissional, hoje ainda, continua a ser tabu. Mas um bocadinho já esta preocupação de abertura à comunidade, de abertura à comunidade.
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— Que instrumentos usavam?
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— Os dias de porta aberta, a produção de folhetos informativos, julgo que nessa altura também começaram a ser criadas alguns prémios, um bocadinho também para dinamizar e e prestigiar aquele centro de estudos trazendo os melhores alunos da da de algumas universidades, não é. Porque estamos a falar de um sítio onde as pessoas, para onde as pessoas iam trabalhar depois de terem acabado as suas licenciaturas, na altura as licenciaturas eram eram uma coisa um bocadinho mais compridas do que são hoje, não é. Portanto, equivalia aquilo que hoje em dia é o bacharelato e o mestrado de alguma maneira. E portanto havia, havia aí a preocupação de promover a qualidade do trabalho e o ambiente de trabalho, que era um ambiente muito laboratorial, de captar bons profissionais e bons alunos e também se começaram a fazer apresentações em algumas universidades, que era uma coisa que também antes disso não se fazia, não é. No sentido de… aí já não era só as pessoas à procura de emprego, era um bocadinho os grandes e os bons empregadores à procura dos dos melhores quadros para para trabalhar. E de facto o Centro de Estudos de Aveiro tinha um grande prestígio internacional e e essa preocupação era uma preocupação, era uma espécie de cartão de visitas das telecomunicações. E depois fui parar a… com a separação dos CTT e dos TLP, mas mais com a separação dentro do CTT da parte Correios e da parte Telecomunicações, fundamentalmente os Correios tinham um grande espólio. As Telecomunicações tinham mas não sabiam. Estava tudo perdido aí pelo país e coisas no lixo e coisas fechadas em armazéns, e portanto houve legislação que obrigava a que os CTT tivessem que manter e tratar todo o espólio que vinha da parte dos Correios, e estamos a falar de coisas que iam desde as carruagens da malaposta até, enfim, tudo aquilo que se possa imaginar nos Correios. A preocupação foi muito a partir daí. E como tinham que guardar e que tratar e que disponibilizar para estudo fundamentalmente, então foi decidido criar uma uma fundação, que ainda hoje existe, que é a Fundação Portuguesa das Telecomunicações, e fui parar à comissão instaladora da Fundação Portuguesa das Telecomunicações. E pronto, e depois saí para ir trabalhar em Telecomunicações, no setor privado, com o paging, que é uma coisa que já também ninguém sabe o que é, portanto, antes de haver… eu tive o… havia telemóveis, mas os telemóveis eram umas coisas fixas ou então os que andavam no carro. E portanto as pessoas saíam do carro e iam para o restaurante com… eu vou por para verem…era uma caixa mais ou menos assim que devia pesar o quê, três quilos no mínimo. Portanto, isto era o telemóvel. Fui trabalhar para o paging, que era um, que eram uns aparelhos que recebiam, portanto havia os mais simples, que eram… só recebiam mensagens numéricas e depois havia uns que eram considerados um luxo, que tinham mensagens alfanuméricas. Mas as mensagens não eram digitadas por nós, havia um centro de de operadores, ligava-se um determinado número, dizia-se o recado oralmente ao operador… portanto, elas viviam histórias, viviam histórias perfeitamente inarráveis, enfim, como podem imaginar com um bocadinho de boa vontade, não é… desde encontros a histórias várias em que as pessoas ligavam para lá, davam o recado e elas transformavam aquilo em caracteres que o outro pager do outro lado recebia em caracteres. A primeira grande obrigação que elas tinham, não era jurar sobre a Bíblia mas era quase, era o dever do sigilo, porque senão aquilo dava grandes sarilhos, como podem imaginar. Portanto os pagers alfanuméricos era um grande acontecimento e apareceu na altura o primeiro telemóvel que nós dizemos verdadeiramente portátil.
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— Eu tive um aparelho desses, que aliás oferecemos à Fundação Portuguesa das Comunicações, que era uma coisa assim, deste tamanho, era uma torre, da Motorola, com uma antena também deste tamanho, e que era uma espécie de um tijolo. E portanto a gente punha assim e tal, era uma coisa assim deste tamanho. Era o primeiro verdadeiramente portátil, em comparação com os outros da mala do carro, este era verdadeiramente portátil. E aí as minhas funções era de Diretora de Marketing e Comercial, e portanto, era administradora de uma outra empresa também ligada a este setor, com… um bocadinho mais abrangente do que apenas… tinha a ver com vários tipos de equipamentos ligados às telecomunicações, mas enfim, nas antenas e outros tipos de coisas. E portanto as minhas funções já eram um bocadinho mais amplas do que apenas a parte da comunicação. De qualquer maneira naturalmente, as minhas grandes preocupações, presentes em tudo e em toda a minha vida, é sempre foram muito no sentido de fazer perceber as coisas, de que a informação fosse clara, que a comunicação existisse… mesmo quando se tratava de funções de de gestão de uma forma mais geral. E e a partir daí… a partir daí porque depois saí ao fim de 3 anos, enfim, o projeto, com os telemóveis, a partir do momento em que passou a ser possível o envio… o falar, não é, portanto a voz, essa questão das mensagens passou a ser… ficou completamente obsoleta. E portanto, mesmo… com os telemóveis a poderem mandar também mensagens escritas e nós isso percebemos que ia ser o fim, que ia ser o fim daquela tecnologia, apesar de que ainda hoje nos Estados Unidos, nos hospitais, sobretudo, e em determinados tipos de serviços, bombeiros e assim, continuam a usar o pager para serem chamados, não percebo bem porquê, mas sim. E portanto a partir daí comecei a trabalhar como consultora muito ligada ao setor das comunicações porque naturalmente faz-se uma carreira numa determinada área, portanto é nessa área que somos conhecidos, é nessa área que se lembram de nós, é nessa área que nos chamam. E portanto desde… em 2001 criei uma empresa, porque antes disso, desde 95 que comecei a trabalhar como consultora, em paralelo com outro projeto de índole comercial e muito pouco interessante, a não ser pelas piores razões, e foi… e portanto a minha atividade em em consultoria… consultoria no sentido de adviser, manteve-se até hoje, e em determinada altura começou a ser necessário a execução de projetos, porque correspondiam a necessidades, no fundo quando, eu quando propunha um conjunto de ações a um cliente, havia ações que passavam pela… pela execução de projetos. Sempre dentro duma duma, sempre como uma peça de uma estratégia de comunicação. Mas que implicavam, sei lá, por exemplo, a organização de conferências, a organização de exposições, ou de apresentação de produtos ou do que fosse. E nessa altura era muito difícil encontrar isto no mercado. Portanto o mercado estava, hoje em dia as coisas estão um bocadinho diferentes, realmente já há muitas, já há muitas empresas que fazem este tipo de projetos. Mas naquela altura o mercado estava dividido entre agências de publicidade, que só faziam publicidade, portanto se não fossem campanhas não sabiam do que que a gente estava a falar, mesmo peças de comunicação tipo… não gosto muito dos folhetos, mas acabam por ser, um bom exemplo, já era difícil que uma agência de publicidade tivesse sensibilidade, mesmo do ponto de vista da da linguagem… o estilo de comunicação em publicidade e em informação é completamente diferente, portanto, era difícil que uma agência de publicidade conseguisse perceber o que que era preciso fazer ou como é que se dizia uma coisa com com características de comunicação, mas não de publicidade. Havia as agências, algumas poucas porque tinham muito a ver com o lobby de, que hoje em dia ainda acontece, de relacionamento com a comunicação social, portanto, estamos a falar… mesmo hoje em dia há, enfim, eu diria que a funcionar aí para aí três ou quatro, não é. E portanto havia as agências de publicidade, havia estas empresas de comunicação que eram fundamentalmente para o relacionamento com a comunicação social e depois havia as empresas dos eventos, havia as empresas dos eventos que não tinham qualquer espécie… organizavam muito bem eventos, com certeza, mas não tinham qualquer espécie de noção do que este evento, que continua a ser necessário numa estratégia, mas que é uma peça de um puzzle. Não é um fim em si mesmo, não é. E portanto abri uma empresa.
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— Fui obrigada a abrir uma empresa porque eu precisava de subcontratar, e portanto quando eu propunha uma coisa qualquer diziam está também, então agora quem é que faz?… e quem é que faz não havia quem. Enfim, obviamente que não podia executar para as empresas que tinha aconselhado, mas portanto havia situações em que trabalhava como consultora e e havia outras situações em que trabalhava como como fornecedora chave na mão. E nessas… e nessa dupla vertente trabalhei com muita gente, trabalhei com muita gente, quer do ponto de vista institucional, muito do setor das comunicações ou ligado, como disse há pouco, para o governo, vários mistérios, várias áreas, coisas internacionais, com a União Internacional de Telecomunicações. E realmente acaba por ser… acaba por ser um percurso em que hoje, isto hoje é completamente pacífico, a função… ninguém chama relações públicas. É uma coisa engraçada, portanto, aquilo que era um óbice de facto acabou por morrer de morte natural, digamos assim. Julgo que em Portugal o Public Relations também nunca nunca se conseguiu afirmar muito. De facto aquilo que que existe nas empresas são áreas de comunicação, comunicação e informação, só comunicação… e que acabam por, acabam por ter essas funções que vêm… que eram um conceito que nós tínhamos e que nós aprendemos como Relações Públicas no INP em 1969. Portanto, de facto do ponto de vista do conceito as coisas julgo que estão… estão bem, estão…a dependência, hoje em dia, a pacífica dependência tem que ser do primeiro nível, portanto, o presidente do conselho de administração, quando ele existe, ou do administrador que tem esta esta função. Comunicação interna e comunicação externa, o conceito do stakeholders que não se usava na altura mas que de alguma maneira estava implícito, não se chamava assim mas estava implícito, e hoje em dia eu acho que isso já é… já foi assimilado de uma forma geral, toda esta parte da responsabilidade social que eu acho muito interessante, que naturalmente tem sempre aqui uma uma preocupação de aproveitamento em benefício próprio, do ponto… próprio do ponto de vista da imagem. Mas de facto hoje as empresas são muito conscientes, as empresas, as instituições e os órgãos de poder são muito conscientes da sua imagem e de que têm que tratar da imagem… aquelas coisas que a gente aprendia da verdade e tal e de comunicar com a verdade, informar com verdade… acho que continuam a ter alguns problemas de aplicação.
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— Talvez não tenham tantos porque hoje em dia, fundamentalmente com as redes sociais, é muito mais difícil enganar ou mentir ou omitir porque porque acaba por, as coisas acabam por aparecer. Aliás, neste momento, aquilo que é a minha a minha experiência atual é está-se, está-se mais uma, mais uma vez numa fase de transição, com a o peso e o impacto das redes sociais, as empresas estão aterradas com as redes sociais. Entre fazerem de conta que não existem ou acharem que têm que estar em todas, portanto, estão completamente perdidas no meio disto, e acho que vai ser outra vez preciso estabilizar um bocadinho porque…. ou não, ou não, realmente estamos nesta loucura, não é, ter o presidente Trump a gerir os destinos dos Estados Unidos através do Twitter e e eu também tenho algumas empresas a quererem estar em tudo que é redes sociais… as conhecidas, as que ainda não são conhecidas, as que aparecem mas vão morrer um dia destes. O que causa muito… o que é muito difícil de gerir, não é, o que é muito difícil de gerir. Porque, da mesma maneira que se verificou com a comunicação interna, aquilo que eu constato é que este discurso sobre as redes sociais e sobre a presença das empresas e das instituições nas redes sociais é muito engraçado e está toda a gente muito entusiasmada, mas depois a seguir, querem impôr tantas restrições, não é, de maneira que… quer dizer, a identificação de tudo o que são normas de comportamento e palavras-chave que que devem ser… que levam a que que o post seja banido ou que as pessoas sejam banidas, as tantas… de facto as pessoas não querem o contraditório, as empresas não querem o contraditório. Eu acho, é realmente aquilo que eu sinto, é que não querem. Esta coisa das redes sociais está a fugir bastante à possibilidade de controlo, não podem estar fora e têm que estar dentro, mas estar dentro continua a ser… e não é fácil, eu percebo que não é fácil, eu percebo que não é fácil.

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