Síntese:
– A função do Gabinete de Comunicação no pós-25 de Abril
– Instrumentos de comunicação à época
– A imprensa
– Importância do Expresso
– Ida para a Regiform
– Ida para a Inforjovem
– Importância da Inforjovem
– Ida para as Relações Internacionais dos CTT/TLP
– Instrumentos de comunicação
– Criação da Fundação Portuguesa de Telecomunicações
– Paging
– Trabalho como consultora
– A Publicidade na altura
– A não-utilização do termo Relações Públicas
— E o que é que esperava do gabinete do CTT/TLP neste pós 25 de abril?
— Fundamentalmente que conseguisse estabelecer uma boa relação com a comunicação social. Mais do que
qualquer outra coisa. Eu julgo que o resto das funções eram um bocadinho impostas por quem trabalhava lá.
Quero dizer, do ponto de vista da administração realmente a coisa importante era essa. Do ponto de vista de
quem trabalhava lá, havia a preocupação de ter uma única voz, de ter um estilo de comunicação e que fosse
comum a todas as zonas do país. O processo de decisão era muito lento, muito longo. Estamos a falar de…
imaginem… chamava-se uma pagela, que era uma espécie de um díptico. Cada vez que era inaugurada uma estação
de correios era feita uma coisa para distribuir ao público. E isto era… nós estávamos sentados na Rua de São
José em Lisboa, e portanto se abria uma estação de correios numa terra qualquer algures no nordeste não
fazíamos a mais pequena ideia, portanto era uma informação que nos chegava a dizer que ia acontecer.
Pedíamos alguns elementos, qual era a área, qual era a população, algumas fotografias, estamos a falar de…
se eu ainda me… se eu consigo lembrar-me como é que viriam as fotografias. Viriam pelo Correio, com certeza.
Deviam vir pelo Correio. Tinha… trabalhávamos com faxes. ois, eu própria já tenho muita dificuldade em em
pensar como é que era. Mas sim, nós recebíamos uns textos, portanto deviam vir por fax, com certeza. E
depois era…. depois escrevia-se, não é, depois havia alguém gráfico que fazia a montagem, depois ia para a
gráfica, depois vinham as ozalides, era preciso corrigir as ozalides, muitas vezes ir à gráfica. Eu sempre
gostei da parte técnica. Sempre, sempre… Quer na… quer na parte da tipografia, quer, quer depois da parte
das montagens, eu sou um bocadinho da ferrugem, gosto de perceber, gosto de estar lá, gosto. Toda a vida
estive lá a acompanhar as pessoas, o que também me permitiu ter muitas vezes uma boa vontade e uma
disponibilidade para fazer coisas que quem estava só nos gabinetes não conseguia. E portanto o processo era
um processo entre pensar, ou entre conceber uma destas, um destes folhetos para a inauguração de uma estação
e ele estar produzido, e estamos a falar de um díptico normalíssimo.. não sei, um mês, talvez, ou mais.
Porque tudo isto passava por correios que demoravam a chegar, 4, 5 dias, e depois alterações, depois iam
para trás, iam para frente. Quer dizer, não havia nenhuma maneira, não havia nenhuma maneira, a não ser
escrevendo um texto e a seguir mandando por fax e do outro lado, e mandarem um fax, e mandarem de volta com
as emendas, não é, portanto não estou, não me consigo lembrar de outra forma que não fosse isso… e o telex
nunca soube mandar na vida, nunca percebi como é que aquilo se fazia, mas fax sim. A gente conseguia meter a
folha e aquilo lá ia, encravava normalmente, demorava, aquilo tinha que ter uma… havia um recibo que dizia
se o fax tinha sido bem recebido ou não, portanto, muitas vezes dizia erro, era preciso mandar tudo outra
vez. Para os jornais a comunicação era feita exatamente na mesma maneira. Havia uma coisa engraçada, que
agora não vem nada a propósito, mas pronto, que era, isso já bastante mais tarde, que era… havia que ter a
noção… os jornais demoravam tempo a fazer, e provavelmente hoje em dia as pessoas não têm essa noção, mas o
jornal, por exemplo, o jornal… havia jornais diários de manhã e havia os vespertinos. Os vespertinos… Os
jornais diários da manhã eram feitos durante a noite. Os vespertinos eram feitos de manhã, mas quer dizer,
uma parte já estava fechada provavelmente na véspera, artigos ou coisas assim, as notícias e a primeira
página, a composição da primeira página era feita naquele dia. E os semanários, e agora vou dar um grande
salto, porque já estou a pensar no Expresso, estamos a falar de 79… 70 e não sei… e 4, é, o Expresso… o
Expresso fechava à terça-feira. E portanto uma das grandes preocupações com esta, com este domínio da
importância da comunicação social, qualquer notícia que a gente quisesse que saísse e que apanhasse o
Expresso, que era o grande “must””, tinha que ir para o jornal até terça-feira, portanto, conferências de
imprensa só se faziam às… segunda era mal dia porque era a seguir ao fim de semana e havia muitas notícias,
portanto terça-feira havia ali um horizonte temporal muito pequeno… era terça-feira, porque a quarta-feira
já não, portanto o jornal já estava cheio. E a mesma coisa em relação às horas, portanto, era preciso ter
isso em atenção, porque a partir das seis da tarde apanhava os jornais da manhã e outra coisa que era se, se
saísse nos jornais, se saísse nos jornais da manhã, os jornais da tarde já não pegavam. Portanto, se saísse
nos jornais da tarde ainda talvez o jornal da manhã do dia seguinte repescasse qualquer coisa. Mas o o resto
não acontecia, portanto… Porquê? Porque de facto as coisas não eram… a edição era uma coisa muito morosa,
portanto, a edição dos jornais, eu ainda me lembro de ir aos jornais ver, porque achava engraçado, e era
feita com letrinhas, com letrinhas… que eram feitas numa máquina e portanto eram assim uns, umas coisinhas
compridas, com aquilo. Depois se havia uma gralha, se o revisor detetava uma gralha tirava aquela letrinha e
punha outra, e portanto isto não era compatível com alterações de última hora. E portanto trabalhei aí
durante uma série de anos, eu trabalhei ao todo 17 anos naquele universo, mas mais ou menos de três anos e
meio em três anos e meio, fui mudando de funções. E portanto aquilo que eu achava uma coisa inconcebível,
que é como é que uma pessoa estava há tantos anos numa empresa, não senti muito. Portanto, a seguir a isso
fui fui pegar num projeto que era a Regiform, que era o Fórum Picoas.
— Mas ainda no CTT/TLP…
— Sim.
— Teve imensos cargos.
— Não.. quer dizer, tive mas… Eu estive no Serviço de Informação e Comunicação e saí do Serviço de
Informação e Comunicação para ir para a administração da Regiform, que era uma empresa dos CTT. E que ia, e
que ia pôr a funcionar uma coisa que tinha nascido torta que era o Fórum Picoas, e que nasceu para ser um
centro comercial, com tudo centralizado e as lojas todas a venderem tudo o que houvesse para vender. E
quando uma dia a administração descobriu o que que ia ter ali, que era um centro comercial, ficou muito
aflita e disse que nem pensar, e portanto nomeou-me à Administração para ir tomar conta daquilo. E esse teve
um projeto que não foi para frente… foi assim uma criança que eu não tive e que tenho muita pena, que era um
um projeto de divulgação científica… tecnológica e científica, portanto, havia essa lacuna. A Gulbenkian
tinha tinha apoiado ceder-nos, digamos assim, a parte tecnológica, porque eles tinham a parte científica mas
não… na parte tecnológica não estavam muito interessados, e portanto nós ainda tivemos reuniões com o
Azeredo Perdigão e com o Lobato Faria.
— E depois tivemos o apoio do Mariano Gago. Estamos a falar de 80, 82, 83, por aí. Portanto íamos ter uma
biblioteca, que seria a primeira biblioteca, e íamos fazer um projeto que tinha muito a ver com a escola e
com a divulgação de toda a parte tecnológica, porque os CTT tinham um acervo brutal, que tinham vindo a
guardar graças a uma diretora do museu dos CTT, que guardava tudo, dizia que não deitassem nada fora.
Primeiro passava pelo crivo dela poder guardar, e portanto realmente havia muito material que hoje está na
Fundação Portuguesa das Comunicações e no museu, na exposição permanente, e de facto é… quer aquilo que está
exposto quer o que está no acervo são peças lindíssimas e que valem realmente a pena ver. Porque as pessoas
já não têm a ideia nenhuma de como é que as coisas funcionavam. Esse projeto de divulgação cultural e
científica, não foi para a frente. Porque, como dizia o Mariano Gago, você não percebe que este projeto é só
seu, mais ninguém quer isto. Porque, porque julgo que era era muito cedo.
— Era comunicação de ciência avant la lettre, não é?
— Era, era, era. Não havia ainda… não havia ainda grande grande sensibilidade para perceber que esta parte
da sensibilização e da comunicação, quer sobre a ciência que vem a aparecer muito com Mariano Gago, quer
sobre a parte da tecnologia que hoje em dia existe com o Museu do Conhecimento, não é… e eu fico muito
contente de que lá esteja o Museu do Conhecimento. Entretanto o que aconteceu mais ou menos nessa altura em
83, eu acho que foi um bocadinho para me compensar da minha infelicidade de não ter conseguido levar aquele
projeto pra frente, fui convidada pelo Secretário de Estado das Comunicações, que era o Raul Junqueiro, para
fazer o lançamento de um projeto que foi o Inforjovem. Inforjovem era a divulgação, junto da juventude, dos
computadores. Não é? E dos computadores estamos a falar de uma coisa que era o ZX Spectrum, que era uma
coisinha deste tamanho, e que fazia pouquíssima coisa. E portanto eu trabalhei com ele e conseguimos… porque
eu achei graça, e porque ele era realmente um visionário, o Raul Junqueiro era de facto um visionário da
importância destas coisas. E eu fazia. E portanto isto isto surge porque porque alguém ofereceu, julgo que a
empresa, já não lembro bem, ofereceu 30 equipamentos, e ele disse “então e se a gente conseguisse abrir
centros Inforjovem no país inteiro e pôr uns equipamentos em cada sítio?”. E eu disse está bem. E
conseguimos arrancar com os centros em Viseu, no Algarve e julgo que no Porto. E isso foi de facto uma bola
de neve, porque a seguir foram sendo criados em todo o país e depois acabaram por passar para o Instituto da
Juventude, que hoje é IPDJ, hoje em dia já nada disto se justifica porque as pessoas já têm todas, graças a
Deus, computadores em casa, mas naquela altura os centros Inforjovem foram um… tiveram uma importância e um
impacto brutal. Porque realmente foi levar este tipo de equipamentos a pessoas que nem sabiam que eles
existiam não tinham capacidade econômica para os comprar, e portanto depois a partir daí criaram-se alguns
alguns concursos e aquilo tinha monitores, as autarquias colaboraram, portanto, isto era feito em conjunto
com as autarquias. E pronto, e depois saí do Fórum e o Inforjovem também, não sei, acabou… quer dizer, o
Inforjovem continuou, mas o secretário de estado foi substituído e fui parar às Relações Internacionais, fui
parar nas Relações Internacionais. Também CTT/TLP ainda, e fiz… e era responsável pela cooperação
internacional, portanto, entre as relações internacionais havia várias coisas e apanhei muitos países de
expressão portuguesa, países de expressão portuguesa. Numa, numa área que não era exatamente uma área nem de
Comunicação nem de Relações Públicas, mas que passava também um bocadinho por ter esse tipo de abordagem, de
aproximação, quer aos países, quer a…. uma coisa que eu não sabia sequer como é que funcionava, que é
portanto os organismos internacionais e a parte da cooperação e das conferências de dadores, que são um
bocadinho sui generis, [risos], com grandes implicações políticas e com com esquemas de funcionamento, que
são esquemas de… não estou a falar de corrupção, estou a falar de procedimentos que são um bocadinho
estranhos à partida para todos nós. E depois, depois voltei para as telecomunicações, voltei para as
telecomunicações como assessora da… nem sei como é que se chamava altura, do diretor-geral das
telecomunicações, portanto, já no CTT. Quer dizer, já tinha havido uma diluição dos Correios e das telecom…
dos TLP e das telecomunicações e CTT. E depois fui parar… e aí as funções eram funções apenas para o setor
das telecomunicações, mas muito ligadas à componente externa, portanto aí já havia campanhas, aí já havia
comunicação de… portanto havia um centro de investigação que começou de alguma forma aí uma preocupação de
enquadramento comunitário, portanto o Centro de Investigação de Aveiro que tinha um grande impacto nacional
do ponto de vista científico e de emprego do ponto vista local, em Aveiro, portanto havia o peso da da do
Centro de Estudos de Aveiro para a comunidade de Aveiro era muito grande, e portanto aí começou a haver
abertura e apreciação da necessidade da empresa se abrir um bocadinho ao exterior. E portanto lá vamos
buscar aquelas coisas que a gente aprendia do enquadramento comunitário, que agora se chama responsabilidade
social, não é, mas que é praticamente a mesma coisa.
— Fundamentalmente com com a questão da abertura, os dias de porta aberta, estamos a falar de… tenho que
fazer contas, não é…. estamos a falar de 87, por aí, 86, 87… sim, 87, por aí. Dias de porta aberta, ligação
às escolas, apresentação também da parte do relacionamento internacional e muito das publicações também,
publicações de caráter científico, e de alguma forma, é, internamente havia já um… sempre sem mexer na
comunicação interna, sempre com uma comunicação interna só de cima para baixo, portanto isso é completamente
tabu e eu acho continua, da minha experiência profissional, hoje ainda, continua a ser tabu. Mas um
bocadinho já esta preocupação de abertura à comunidade, de abertura à comunidade.
— Que instrumentos usavam?
— Os dias de porta aberta, a produção de folhetos informativos, julgo que nessa altura também começaram a
ser criadas alguns prémios, um bocadinho também para dinamizar e e prestigiar aquele centro de estudos
trazendo os melhores alunos da da de algumas universidades, não é. Porque estamos a falar de um sítio onde
as pessoas, para onde as pessoas iam trabalhar depois de terem acabado as suas licenciaturas, na altura as
licenciaturas eram eram uma coisa um bocadinho mais compridas do que são hoje, não é. Portanto, equivalia
aquilo que hoje em dia é o bacharelato e o mestrado de alguma maneira. E portanto havia, havia aí a
preocupação de promover a qualidade do trabalho e o ambiente de trabalho, que era um ambiente muito
laboratorial, de captar bons profissionais e bons alunos e também se começaram a fazer apresentações em
algumas universidades, que era uma coisa que também antes disso não se fazia, não é. No sentido de… aí já
não era só as pessoas à procura de emprego, era um bocadinho os grandes e os bons empregadores à procura dos
dos melhores quadros para para trabalhar. E de facto o Centro de Estudos de Aveiro tinha um grande prestígio
internacional e e essa preocupação era uma preocupação, era uma espécie de cartão de visitas das
telecomunicações. E depois fui parar a… com a separação dos CTT e dos TLP, mas mais com a separação dentro
do CTT da parte Correios e da parte Telecomunicações, fundamentalmente os Correios tinham um grande espólio.
As Telecomunicações tinham mas não sabiam. Estava tudo perdido aí pelo país e coisas no lixo e coisas
fechadas em armazéns, e portanto houve legislação que obrigava a que os CTT tivessem que manter e tratar
todo o espólio que vinha da parte dos Correios, e estamos a falar de coisas que iam desde as carruagens da
malaposta até, enfim, tudo aquilo que se possa imaginar nos Correios. A preocupação foi muito a partir daí.
E como tinham que guardar e que tratar e que disponibilizar para estudo fundamentalmente, então foi decidido
criar uma uma fundação, que ainda hoje existe, que é a Fundação Portuguesa das Telecomunicações, e fui parar
à comissão instaladora da Fundação Portuguesa das Telecomunicações. E pronto, e depois saí para ir trabalhar
em Telecomunicações, no setor privado, com o paging, que é uma coisa que já também ninguém sabe o que é,
portanto, antes de haver… eu tive o… havia telemóveis, mas os telemóveis eram umas coisas fixas ou então os
que andavam no carro. E portanto as pessoas saíam do carro e iam para o restaurante com… eu vou por para
verem…era uma caixa mais ou menos assim que devia pesar o quê, três quilos no mínimo. Portanto, isto era o
telemóvel. Fui trabalhar para o paging, que era um, que eram uns aparelhos que recebiam, portanto havia os
mais simples, que eram… só recebiam mensagens numéricas e depois havia uns que eram considerados um luxo,
que tinham mensagens alfanuméricas. Mas as mensagens não eram digitadas por nós, havia um centro de de
operadores, ligava-se um determinado número, dizia-se o recado oralmente ao operador… portanto, elas viviam
histórias, viviam histórias perfeitamente inarráveis, enfim, como podem imaginar com um bocadinho de boa
vontade, não é… desde encontros a histórias várias em que as pessoas ligavam para lá, davam o recado e elas
transformavam aquilo em caracteres que o outro pager do outro lado recebia em caracteres. A primeira grande
obrigação que elas tinham, não era jurar sobre a Bíblia mas era quase, era o dever do sigilo, porque senão
aquilo dava grandes sarilhos, como podem imaginar. Portanto os pagers alfanuméricos era um grande
acontecimento e apareceu na altura o primeiro telemóvel que nós dizemos verdadeiramente portátil.
— Eu tive um aparelho desses, que aliás oferecemos à Fundação Portuguesa das Comunicações, que era uma coisa
assim, deste tamanho, era uma torre, da Motorola, com uma antena também deste tamanho, e que era uma espécie
de um tijolo. E portanto a gente punha assim e tal, era uma coisa assim deste tamanho. Era o primeiro
verdadeiramente portátil, em comparação com os outros da mala do carro, este era verdadeiramente portátil. E
aí as minhas funções era de Diretora de Marketing e Comercial, e portanto, era administradora de uma outra
empresa também ligada a este setor, com… um bocadinho mais abrangente do que apenas… tinha a ver com vários
tipos de equipamentos ligados às telecomunicações, mas enfim, nas antenas e outros tipos de coisas. E
portanto as minhas funções já eram um bocadinho mais amplas do que apenas a parte da comunicação. De
qualquer maneira naturalmente, as minhas grandes preocupações, presentes em tudo e em toda a minha vida, é
sempre foram muito no sentido de fazer perceber as coisas, de que a informação fosse clara, que a
comunicação existisse… mesmo quando se tratava de funções de de gestão de uma forma mais geral. E e a partir
daí… a partir daí porque depois saí ao fim de 3 anos, enfim, o projeto, com os telemóveis, a partir do
momento em que passou a ser possível o envio… o falar, não é, portanto a voz, essa questão das mensagens
passou a ser… ficou completamente obsoleta. E portanto, mesmo… com os telemóveis a poderem mandar também
mensagens escritas e nós isso percebemos que ia ser o fim, que ia ser o fim daquela tecnologia, apesar de
que ainda hoje nos Estados Unidos, nos hospitais, sobretudo, e em determinados tipos de serviços, bombeiros
e assim, continuam a usar o pager para serem chamados, não percebo bem porquê, mas sim. E portanto a partir
daí comecei a trabalhar como consultora muito ligada ao setor das comunicações porque naturalmente faz-se
uma carreira numa determinada área, portanto é nessa área que somos conhecidos, é nessa área que se lembram
de nós, é nessa área que nos chamam. E portanto desde… em 2001 criei uma empresa, porque antes disso, desde
95 que comecei a trabalhar como consultora, em paralelo com outro projeto de índole comercial e muito pouco
interessante, a não ser pelas piores razões, e foi… e portanto a minha atividade em em consultoria…
consultoria no sentido de adviser, manteve-se até hoje, e em determinada altura começou a ser necessário a
execução de projetos, porque correspondiam a necessidades, no fundo quando, eu quando propunha um conjunto
de ações a um cliente, havia ações que passavam pela… pela execução de projetos. Sempre dentro duma duma,
sempre como uma peça de uma estratégia de comunicação. Mas que implicavam, sei lá, por exemplo, a
organização de conferências, a organização de exposições, ou de apresentação de produtos ou do que fosse. E
nessa altura era muito difícil encontrar isto no mercado. Portanto o mercado estava, hoje em dia as coisas
estão um bocadinho diferentes, realmente já há muitas, já há muitas empresas que fazem este tipo de
projetos. Mas naquela altura o mercado estava dividido entre agências de publicidade, que só faziam
publicidade, portanto se não fossem campanhas não sabiam do que que a gente estava a falar, mesmo peças de
comunicação tipo… não gosto muito dos folhetos, mas acabam por ser, um bom exemplo, já era difícil que uma
agência de publicidade tivesse sensibilidade, mesmo do ponto de vista da da linguagem… o estilo de
comunicação em publicidade e em informação é completamente diferente, portanto, era difícil que uma agência
de publicidade conseguisse perceber o que que era preciso fazer ou como é que se dizia uma coisa com com
características de comunicação, mas não de publicidade. Havia as agências, algumas poucas porque tinham
muito a ver com o lobby de, que hoje em dia ainda acontece, de relacionamento com a comunicação social,
portanto, estamos a falar… mesmo hoje em dia há, enfim, eu diria que a funcionar aí para aí três ou quatro,
não é. E portanto havia as agências de publicidade, havia estas empresas de comunicação que eram
fundamentalmente para o relacionamento com a comunicação social e depois havia as empresas dos eventos,
havia as empresas dos eventos que não tinham qualquer espécie… organizavam muito bem eventos, com certeza,
mas não tinham qualquer espécie de noção do que este evento, que continua a ser necessário numa estratégia,
mas que é uma peça de um puzzle. Não é um fim em si mesmo, não é. E portanto abri uma empresa.
— Fui obrigada a abrir uma empresa porque eu precisava de subcontratar, e portanto quando eu propunha uma
coisa qualquer diziam está também, então agora quem é que faz?… e quem é que faz não havia quem. Enfim,
obviamente que não podia executar para as empresas que tinha aconselhado, mas portanto havia situações em
que trabalhava como consultora e e havia outras situações em que trabalhava como como fornecedora chave na
mão. E nessas… e nessa dupla vertente trabalhei com muita gente, trabalhei com muita gente, quer do ponto de
vista institucional, muito do setor das comunicações ou ligado, como disse há pouco, para o governo, vários
mistérios, várias áreas, coisas internacionais, com a União Internacional de Telecomunicações. E realmente
acaba por ser… acaba por ser um percurso em que hoje, isto hoje é completamente pacífico, a função… ninguém
chama relações públicas. É uma coisa engraçada, portanto, aquilo que era um óbice de facto acabou por morrer
de morte natural, digamos assim. Julgo que em Portugal o Public Relations também nunca nunca se conseguiu
afirmar muito. De facto aquilo que que existe nas empresas são áreas de comunicação, comunicação e
informação, só comunicação… e que acabam por, acabam por ter essas funções que vêm… que eram um conceito que
nós tínhamos e que nós aprendemos como Relações Públicas no INP em 1969. Portanto, de facto do ponto de
vista do conceito as coisas julgo que estão… estão bem, estão…a dependência, hoje em dia, a pacífica
dependência tem que ser do primeiro nível, portanto, o presidente do conselho de administração, quando ele
existe, ou do administrador que tem esta esta função. Comunicação interna e comunicação externa, o conceito
do stakeholders que não se usava na altura mas que de alguma maneira estava implícito, não se chamava assim
mas estava implícito, e hoje em dia eu acho que isso já é… já foi assimilado de uma forma geral, toda esta
parte da responsabilidade social que eu acho muito interessante, que naturalmente tem sempre aqui uma uma
preocupação de aproveitamento em benefício próprio, do ponto… próprio do ponto de vista da imagem. Mas de
facto hoje as empresas são muito conscientes, as empresas, as instituições e os órgãos de poder são muito
conscientes da sua imagem e de que têm que tratar da imagem… aquelas coisas que a gente aprendia da verdade
e tal e de comunicar com a verdade, informar com verdade… acho que continuam a ter alguns problemas de
aplicação.
— Talvez não tenham tantos porque hoje em dia, fundamentalmente com as redes sociais, é muito mais difícil
enganar ou mentir ou omitir porque porque acaba por, as coisas acabam por aparecer. Aliás, neste momento,
aquilo que é a minha a minha experiência atual é está-se, está-se mais uma, mais uma vez numa fase de
transição, com a o peso e o impacto das redes sociais, as empresas estão aterradas com as redes sociais.
Entre fazerem de conta que não existem ou acharem que têm que estar em todas, portanto, estão completamente
perdidas no meio disto, e acho que vai ser outra vez preciso estabilizar um bocadinho porque…. ou não, ou
não, realmente estamos nesta loucura, não é, ter o presidente Trump a gerir os destinos dos Estados Unidos
através do Twitter e e eu também tenho algumas empresas a quererem estar em tudo que é redes sociais… as
conhecidas, as que ainda não são conhecidas, as que aparecem mas vão morrer um dia destes. O que causa
muito… o que é muito difícil de gerir, não é, o que é muito difícil de gerir. Porque, da mesma maneira que
se verificou com a comunicação interna, aquilo que eu constato é que este discurso sobre as redes sociais e
sobre a presença das empresas e das instituições nas redes sociais é muito engraçado e está toda a gente
muito entusiasmada, mas depois a seguir, querem impôr tantas restrições, não é, de maneira que… quer dizer,
a identificação de tudo o que são normas de comportamento e palavras-chave que que devem ser… que levam a
que que o post seja banido ou que as pessoas sejam banidas, as tantas… de facto as pessoas não querem o
contraditório, as empresas não querem o contraditório. Eu acho, é realmente aquilo que eu sinto, é que não
querem. Esta coisa das redes sociais está a fugir bastante à possibilidade de controlo, não podem estar fora
e têm que estar dentro, mas estar dentro continua a ser… e não é fácil, eu percebo que não é fácil, eu
percebo que não é fácil.