Rui Alberto da Silva Remígio, conhecido por Rui Remígio, foi Supervisor de Áudio na Emissora Nacional (EN), na Rádiodifusão Portuguesa (RDP) e Técnico de Som nos Estúdios Musicorde Lda. Nasceu em 1945, em S. Pedro, no Funchal. Porém, nos primeiros anos de vida, residiu em Viseu e na Figueira da Foz, cidades de onde o pai e a mãe eram oriundos.
Na adolescência, frequentou o Curso de Formação de Serralheiros na Escola Industrial de Viseu. Entre 1964 e 1967, foi professor de trabalhos manuais e oficinas de serralharia na Escola Industrial e Comercial de Santarém. Foi nesta instituição que realizou a Secção Preparatória aos Institutos Industriais. Ingressou no Regimento de Infantaria nº 5, nas Caldas da Rainha, no dia em que completou 21 anos.
Três anos mais tarde, em 1969, foi enviado para Angola, onde esteve até 1971, cumprindo o serviço militar então obrigatório. A par das responsabilidades enquanto graduado, teve também tempo para se fascinar pela rádio através de um gravador com música em fita de ¼ de polegada. O gosto pela transmissão do conhecimento nasceu igualmente em Angola, quando tentou ensinar o abecedário a filhos de guerrilheiros locais capturados.
Em 1971, no regresso a Portugal, ingressou na EN, começando por desempenhar o cargo de Operador Auxiliar Estagiário. Volvidos dois anos, e mantendo funções na EN, iniciou atividade nos Estúdios Musicorde Lda. a convite de Alberto Nunes. Aí, acompanhou a transição tecnológica do registo monofónico para estéreo e também a evolução do formato multipista. É de destacar que, colaborando com o serviço de Teatro Radiofónico da EN, gravou atores destacados no panorama cultural nacional, sonorizando clássicos da literatura universal como Os Miseráveis, de Victor Hugo, Oliver Twist, de Charles Dickens e A Selva, de Ferreira de Castro.
Em 1976, a designação do serviço público de radiodifusão portuguesa – Emissora Nacional – alterou-se para RDP. Mantendo-se na equipa de sonoplastia, Rui Remígio desempenhou diversos cargos na RDP como o de Operador Radiotécnico (entre 1973 e 1993), Responsável pelo Núcleo Operacional da Antena 1 (em 1987), Operador Áudio Principal (entre 1988 e 1990), Supervisor Áudio (entre 1990 e 1993) e Responsável Técnico do Centro de Formação (em 1993). Ciente da importância da formação ao longo da vida, realizou vários cursos complementares como o de Operador de Radiodifusão da RDP ou de Sonoplastia e Suportes Sonoros na RTP. Na RDP, a partir de 1984, acumulou funções como formador nos diversos Emissores Regionais, tanto no continente como nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Foi também formador na RTP, na TSF e na Rádio Renascença.
Após 24 anos ao serviço da RDP, em 1995, reformou-se. Tal não significou, no entanto, o afastamento do universo da sonoplastia. Até 2014, ano de encerramento dos Estúdios Musicorde Lda., gravou publicidade, música, contos infantis, poesia, campanhas eleitorais, hinos, corais, tunas universitárias, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos e os álbuns de grupos musicais, ou intérpretes a solo como Fausto, Manuel Freire, Luís Cília, Pedro Barroso, Fernando Tordo e Paulo de Carvalho.
Em 1996, foi convidado para lecionar na Escola Preparatória de Música e Artes de Almada (EPMAA) e, seis anos depois, na Escola Técnica de Imagem e Comunicação (ETIC), instituições de ensino onde foi docente até 2020, ano em que se desvinculou por vontade própria.
Aos 75 anos, continua a ter dois pequenos rádios na mesinha de cabeceira. Por ser apaixonado pelo áudio – e, apesar de ser apologista das novas tecnologias e da inclusão destas no jornalismo radiofónico – teme que “a presença viva e humana, o respirar (…) mesmo que seja com algumas asneiras” desapareçam e, deste modo, se perca a magia propiciada pela comunicação humana.
Rui Remígio conversa com Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Registado e editado por Paulo Barbosa no Espaço Cultural do Cinema Europa, em Campo de Ourique, em Lisboa, a 14 de dezembro de 2018. A edição desta entrevista e da nota biográfica contou ainda com a colaboração de Maria Moreira Rato.
[embedyt] https://www.youtube.com/embed?listType=playlist&list=PLG7KFsBvcf_710ByKwzw0HnNVmZYWt2Yi[/embedyt]1ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Transcrição por Maria Moreira Rato
0:00 – O início do percurso na Emissora Nacional e os seus mestres na rádio
05:00 – Notas sobre a evolução audiovisual durante e após a II Guerra Mundial
09:02 – Apresentação do entrevistado
11:31 – Educação e carreira militar: entre a Escola Industrial e Comercial de Viseu e o ingresso no Regime de Infantaria nº 5 das Caldas da Rainha
14:21 – De Luanda a Dembos: o início das responsabilidades militares e as memórias do bombardeamento com Napalm
18:14 – A luta pela tentativa de escolarização num cenário de guerra
23:32 – O início da paixão pela rádio e o choque cultural à chegada a Angola
31:15 – Ascensão na carreira militar em Luanda
34:30 – O esforço para conjugar a carreira militar com a finalização do Ensino Secundário
39:11 – Relato dos últimos dias na Guerra Colonial
2ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Transcrição por Maria Moreira Rato
0:00 – Da rádio como elemento de aprendizagem e lazer na infância à mesma enquanto profissão
09:04 – A relação estabelecida entre operadores técnicos e locutores na Emissora Nacional
16:43 – As especificidades do início do trabalho enquanto assistente técnico na Emissora Nacional
22:55 – A transição entre o apoio à emissão e o trabalho do som: da Rua do Quelhas à Rua de São Marçal
33:25 – Reflexão sobre a evolução da sonoplastia em Portugal e no mundo
3ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos Transcrição por Maria Moreira Rato
0:00 – A importância da formação ao longo da vida
02:25 – Do contrarregra ao sonoplasta: o enriquecimento da sonoplastia
08:37 – O surgimento da designação de operador sonoplasta
10:33 – A arte da captação de áudio
4ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Transcrição por Maria Moreira Rato
00:00 – A importância da mobilização de todos os sentidos na arte da captação de áudio
03:25 – O binómio digital-analógico na evolução da formação audiovisual em Portugal
09:25 – Reflexão acerca da migração do analógico para o digital
15:01 – As especificidades do registo de áudio e a manipulação destas no período que antecedeu o 25 de abril
23:04 – A amizade com nomes importantes das artes e pequenas experiências em teatro
28:45 – A experiência como elemento-chave do conhecimento: o caso da captação de música
5ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos Transcrição por Maria Moreira Rato
00:00 – Continuação: A experiência como elemento-chave do conhecimento: o caso da captação de música
09:50 – A rádio antes e durante da/a revolução do 25 de abril de 1974
19:01 – A rádio no período imediato ao pós-25 de abril de 1974: os saneamentos, a censura e o sindicalismo
27:23 – A relação entre a rádio e a política depois da Revolução dos Cravos: a censura e o trabalho de gravação dos spots dos partidos
6ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Transcrição por Maria Moreira Rato
00:00 – 03:36 – Saneamentos e reforço da segurança na RDP aquando do 25 de novembro de 1975
03:36 – 14:22 – De autodidata a formador: o surgimento da proposta de Reengenharia de Som e do Centro de Formação na RDP
14:22 – 28:14 – Do ensino do manuseamento de equipamento ao fim do jornalista passivo perante a captação e edição do som
28:14 – 31:16 – A efemeridade dos formatos de armazenamento de informação: o caso do áudio
31:16 – 37:20 – A arte da sonorização
37:20 – 41:33 – A captação de áudio no teatro: entre os textos subversivos ao regime e atos de generosidade da chefia
7ª Parte – Entrevista a Rui Remígio por Filipa Subtil e Francisco Sena Santos. Transcrição por Maria Moreira Rato
00:00 – 04:39 – Reflexão sobre a fusão da RTP e da RDP
04:39 – 08:51 – O declínio da popularidade da televisão e da rádio: as problemáticas
08:51 – 15:53 – Tecnologia versus Ser Humano: estaremos perante o fim da humanidade da rádio?
A referência bibliográfica desta entrevista deverá ser feita da seguinte forma: Subtil, F.; Barbosa, P.; Sena Santos, F. & Moreira Rato, M. (2021). Entrevista a Rui Remígio. Arquivo de Memória Oral das Profissões da Comunicação. Disponível em:https://amopc.org/rui-remigo/
